Volume 1
Capítulo 24 — Víbora
Todos os cômodos foram revirados de cima a baixo, mas o caderno não foi encontrado. Essa constatação, simples e devastadora pairava no ar da casa, como um cheiro metálico. T caminhava de um lado a outro, murmurando que ele mesmo não poderia ter errado. Ele tinha certeza que Light era um Kira.
Os policiais informaram T que encerraram ali a busca. Gavetas vazias. Paredes mudas. Nenhuma prova. Nenhum caderno com o nome das vítimas.
— Você acha mesmo que isso acaba aqui? — T cuspiu as palavras, aproximando-se de Light outra vez. — Eu sei quem você é!
O capitão dos guardas pediu gentilmente para que T se acalmasse, já que sua atitude poderia complicar a investigação ou causar problemas legais. O detetive notou seu próprio descontrole e deu as costas para respirar fundo e coçar a cabeça.
— Vocês não encontraram nada. Por que só não vão embora? — Mia cutucou o braço do namorado.
— É! Eu já falei que não sei de nada sobre o Watani.
Essas palavras reacenderam o fogo de T que tentou partir para cima do casal, mas os policiais o seguraram. Naquele momento, James e seu advogado correram para o resgate dos jovens.
Light e Mia se afastaram ao ver aqueles senhores discutindo sobre processos e que mesmo ele sendo um grande detetive, T não tinha o direito de ameaçar ou bater em alguém menor de idade, ainda mais sem provas de tais acusações.
A discussão aumentava a cada minuto e T borbulhava de raiva.
— Não importa o motivo, senhor ultrapassou todos os limites legais possíveis e abusou de sua autoridade, isso é ultrajante para meu cliente — disse o advogado.
Enquanto isso, afastados alguns metros, quase invisíveis àquela arena de ameaças, Light e Mia se inclinavam um para o outro.
— Tyler Dempster — murmurou Mia, com os olhos avermelhados — Já temos o nome e o rosto dele. A gente tem que ir.
O relógio vibrou suavemente em seu pulso. Ela o olhou. Depois, olhou para Light.
— Está na hora.
Light concordou e juntos se moveram sem alarde para o carro, se aproveitando da distração. O motor do carro de Mia ronronou baixo antes de explodir em movimento.
O som chamou atenção tarde demais.
— EI! — T virou-se a tempo de ver o carro arrancar. — PEGUEM ELES!
Ele correu, empurrou um policial, arrancou as chaves de uma viatura e entrou como um animal acuado. A perseguição começou sem ordem, sem protocolo — apenas instinto.
Mia dirigia como se a cidade fosse extensão de seu corpo. Curvas fechadas, desvios rápidos, faróis cortando a noite.
— Ele mandou o endereço? — A garota perguntou enquanto abusava de suas habilidades de direção.
Light olhou o celular da garota e estava lá, o parque à beira-mar.
Atrás deles, T avançava como um míssil sem cálculo pelas ruas de Seattle. Latas de lixo voavam. Uma parada de ônibus foi despedaçada. Pessoas gritavam e saltavam para fora do caminho.
A cada batida, T gritava e batia no volante do carro como um animal descontrolado.
No carro do casal, eles riam e trocaram beijos cheios de adrenalina. Quando finalmente perderam a visão das viaturas, receberam mais uma mensagem informando o próximo passo do plano.
O veículo parou bruscamente próximo ao parque. Estava fechado, então pularam rapidamente o muro e correram para o interior da casa dos horrores.
Esqueletos de plástico enfeitavam o ambiente junto a com correntes e o que deveriam ser fantasmas no teto. Entre os corredores, com passos rápidos e tentando não se perder no labirinto, encontraram um sarcófago, onde repousava o Death Note.
— Bem como eu escrevi — Mia comemorou — deu tudo certo como ele disse, Light!
— Espera, Mia. Você tem certeza que a gente pode confiar naquele cara?
— Light, a gente já chegou até aqui — tocou o rosto dele — Vai dar tudo certo — o beijou, puxando pelo colarinho da camisa.
Em um último gesto, eles encostaram suas testas por alguns segundos, antes de Light escutar alguém chutar a porta da frente.
— Tô indo — Murmurou para ela.
Mia assentiu.
Light tocou seus lábios entre as sobrancelhas da garota e partiu em direção a entrada, enquanto ela correu na direção oposta. As manchas de sangue falso se estreitaram pelos corredores frios e escuros.
O jovem viu a luz de uma lanterna e ergueu os braços ao encontrar T com a arma em punho.
— Acabou, Light — T disse, a voz tremendo de ódio e exaustão. — Acabou agora. Me dá o Death Note.
— O que é Death Note? — Light perguntou, com uma inocência ensaiada até a perfeição — Você está cometendo um erro. Eu não sei de nada. Eu juro!
— Não mente pra mim! — sua respiração estava pesada — Watani tá morto… Esse caderno tirou tudo de mim, PELA SEGUNDA VEZ! Me dá a droga do caderno, Light.
Silêncio.
O coração de T se acalmou e sua inexpressividade fez Light franzir o cenho, confuso com a mudança repentina de atitude.
T puxou o gatilho.
Light lentamente abaixou sua cabeça. O sangue escorria de seu peito. A bala perfurou seu coração.
O garoto desabou no chão, tossindo sangue pouco a pouco.
T engatilhou a arma novamente e disparou contra si. Sua cabeça bambeou ao ser atravessada pela bala, antes de cair com a face no chão e misturar o sangue de ambos em uma poça.
Em poucos instantes a polícia invadiu o local e encontrou seus corpos estirados.
Mia corria pelas sombras para fora do parque. As sirenes das viaturas estavam cada vez mais distantes. Seu riso de satisfação ao abraçar o caderno era como a lua minguante que se revelava no céu.
Um carro preto estacionado com a porta entreaberta era o sinal que ela esperava. Ela adentrou o automóvel suspirando fundo.
— Consegui…— Disse ela ao fechar a porta rapidamente.
— Parabéns, Mia — disse Ryuk, sentado a seu lado
— Agora eu sou a dona do caderno, não é?
— Sim, sim. Você conseguiu. Tudo conforme o plano.
Mia agradeceu o homem no banco do motorista e ele retribuiu com um simples aceno com a cabeça sem se virar.
— Você é muito diferente do que eu pensava, senhor “Pacifist”.
Mishima deu um leve sorriso e encarou o relógio.
— Não esperava que você iria fazer isso com o Light, Mia — Ryuk riu — Você foi malvada.
— Sacrifícios são necessários. E Light era fraco — Mia abriu o caderno e começou a escrever o nome de James Turner — igual o pai dele. Fala de justiça mas não querem sujar as mãos.
Ao terminar de escrever, fechou o caderno e o deixou de lado no banco.
Seu rosto ficou inexpressivo. Desceu do carro e começou a correr na direção oposta ao veículo que partiu.
Antes de dobrar, “Pacifist” observou Mia sendo atropelada por um caminhão que fazia a curvaq e não demonstrou qualquer reação.
Não demorou muito até ele adentrar uma casa qualquer que estava com a porta destrancada. Com as mãos enluvadas, colocou as chaves do carro em um dos três corpos estirados ao chão e se sentou ao sofá.
Tirou uma das luvas e tocou diretamente no Death Note de Mia.
Puxou o ar com força enquanto sua boca se abria, suas pupilas contraiam e suas memórias retornavam como um tornado de informações.
Com respiração pesada e enxugando uma gota de suor da têmpora, um cumprimento revelou um ser que estava ali o tempo todo, mas impossível para ele enxergar até então.
— Olá, Ryuk.
— Gostei do visual — gargalhou — é uma homenagem?
O celular do homem tocou e ele prontamente atendeu.
— T morreu — disse a voz distorcida do outro lado.
— Te falei pra parar ele.
Silêncio.
— Onde você está, Ryuzaki? Precisamos pensar em um novo plano.
— Estou no Japão, como você mandou, Near.
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