Volume 1
Capítulo 23 – Asfixia
Rester pediu a atenção de Near para a tela do computador. O detetive caminhou descalço pelo chão frio sala, largando seus brinquedos espalhados. Gevanni e Lidner também se aproximaram, curiosos pelo chamado inesperado.
Na tela, tudo estava normal. Ayumi Sato e Takashi Morita apresentando o plantão de notícias da sakuraTV:
— Na reunião da União das Nações Unidas a mensagem de L foi clara e direta: “Vou capturar você, Kira.” — Ayumi anunciou.
— O detetive deixou bem claro que não quer ajuda de outros detetives, mesmo com a ONU exigindo que “I”, outro detetive renomado, se junte a ele para darem um ponto final na investigação.
— Até onde sabemos, I e L já trabalharam juntos à alguns anos, em alguns casos.
Takashi tossiu e Ayumi continuou.
— E longe do que todos esperavam, I anunciou publicamente que não fará parte da investigação. Por meio das contas oficiais da Interpol. I também afirmou que não quer se envolver no caso.
— O fato é que, algumas falas polêmicas de representantes de algumas nações, os índices de suas popularidade de Kira e o sua forma de matar que continua sendo um mistério para a população, amedronta a maioria dos homens — Takashi afrouxou levemente a gravata — O que leva a mais uma preocupação: “O quanto Kira realmente é adorado hoje em dia?”
— De acordo com o gráfico, os templos de adoração a Kira têm sido cada vez mais procurados nas últimas semanas, não só no Japão, mas principalmente na França, onde ocorreu o ataque mais devastador, até então.
Takashi começou a respirar um pouco mais pesado, mas tentou disfarçar o suor frio.
— Algumas celebridades digitais estão evitan… — ele se calou, estático, com os olhos fixos para a câmera.
— Takashi-san...? Você tá bem? Você está... — tocou no pescoço de seu companheiro de tela — quente... Alguém liga pra…
Takashi começou a gritar de um jeito estranho. O som lembrava um único nome. A voz se propaga por todo o cenário enquanto os produtores se aproximam para acalmar o homem.
— NIAAAAH! NIAAAAH! NIAAAAAHH!
O repórter convulsionou e as chamas explodiram de seus olhos e boca. O som é seco, abrasador. Ele se contorceu, caindo da cadeira e vomitando uma mistura de fogo e sangue. As labaredas o consumiam.
Já aqueles que assistiam no escritório da SPK, ficaram em choque. Nenhum deles ousou pronunciar uma única palavra. A sala parecia ainda mais fria com aquele leve soar das teclas de piano que o programa os proporcionava.
Com a garganta seca e olhos confusos, todos se viraram para Near, mas ele estava apático. Os seus olhos ainda estavam grudados na tela, mas sua mente estava longe, pensando em qual o motivo dos ataques diretos.
Ele quer me desestabilizar? J-Kira continua se mostrando um seguidor de Light Yagami e abusando das regras do caderno. Ameaçar ele está sendo um erro. Preciso mudar de tática.
Sem tempo para pensar, outra notícia foi anunciada:
— O pai adotivo de “T”, Senhor Watani, foi encontrado morto no quarto que estava hospedado em Seattle — disse Lidner — De acordo com a autópsia, foi parada cardíaca.
Lidner entregou o tablet a Near com a imagem de Watani já sem vida, com a testa encostada na parede.
— O S-Kira tentou mandar ele para algum lugar — devolveu o tablet e se sentou.
Rester mostrou um mapa que se expandia do ponto da morte do homem e traçava uma linha reta na direção em que ele possivelmente estava se direcionando. A linha passou por diversos locais aleatórios, até atravessar o mar e chegar à Inglaterra.
— Wammy's House — sussurrou Lidner.
— O S-Kira tentou fazer Watani conseguir o nome de T — Near começou a digitar rapidamente no computador.
— Existia algum arquivo na Wammy’s que poderia conter o nome de T?
— Não. E por isso ele morreu na parede, olhando para a direção de onde lhe foi descrito para ir.
Near ligou para T, mas ele não atendeu. Então pediu para que a equipe o rastreasse e fossem direto até ele o mais rápido possível.
Todos assentiram e estavam prestes a sair, porém Lidner questionou Near, se ficaria tudo bem ele ficar ali sozinho. Tecendo o cabelo entre os dedos ele respondeu que alguém precisava lhes dar os comandos certos e vigiar as câmeras de segurança.
— T é impulsivo. Ele vai atrás de Light Turner e colocará tudo a perder. Vão e cuidem de tudo.
Os agentes partiram em direção ao aeroporto, onde o jato já os aguardava.
Near continuava a tentar rastrear os movimentos de T e tendo suas ligações ignoradas até notar que o mandado de busca que pediu, nunca chegou até ele. Nenhum e-mail ou informação.
Near inclinou levemente a cabeça, como quem aceita uma derrota microscópica.
Tendo absoluta certeza de onde T iria, puxou as imagens das câmeras da rua na frente da casa onde Light Turner estava à mesa, com sua namorada, Mia e seu pai, James. Taças erguidas, vozes sobrepostas, uma felicidade tão banal que chegava a ser ofensiva diante do mundo em chamas.
A campainha tocou e James se levantou para atender a porta. T estava ali. Não havia apresentação formal, nem distintivo exibido com respeito. Apenas presença — invasiva, elétrica, faminta.
Ele olhou para Mia primeiro.
— Oi. É um prazer te conhecer. Agora saia.
O silêncio que se seguiu foi denso. Mia olhava para Light e James sem saber o que fazer.
— Como é que é? — James deu um passo à frente. — Quem você pensa que é pra entrar assim na minha casa?
T não respondeu de imediato. Olhava para Light. Estudava cada micro-expressão como se procurasse rachaduras num espelho. — Temos um assunto urgente pra resolver.
A porta se abriu completamente atrás dele. Policiais entraram em sequência, ocupando o espaço com botas, vozes e ordens curtas. Gavetas começaram a ser abertas. Armários, revirados. A casa, violada.
James se colocou à frente instintivamente.
— Vocês não podem fazer isso!
T ergueu um papel.
— Eu tenho um mandado de busca. — Respirou fundo — Watani morreu.
— E o que diabos isso tem a ver com a minha casa?! — James berrou, a voz carregada de autoridade e desespero.
T virou-se de súbito e gritou:
— LIGHT É O KIRA, JAMES!
A frase fez pai e namorada olharem para o garoto em dúvida. James questionou o quão sem sentido essa afirmação era, mas o detetive insistia. Mia não tirava os olhos de T por um segundo.
— Eu não consigo entender como você nunca somou dois mais dois e percebeu que o Kira não te matou porque ele é o seu próprio filho!
— E-eu… eu sinto muito, senhor. Eu não sei do que ele está falando. — Light estava com o rosto pálido.
Não houve tempo para mais palavras. T saltou em fúria para cima do rapaz.
O movimento foi rápido, descontrolado, mas James reagiu antes que o corpo do filho fosse alcançado. O instinto falou mais alto que a razão. Em segundos, T estava com o corpo sobre a mesa, imobilizado pelo pescoço.
— VOCÊ TEM SORTE QUE NÃO POSSO TE TE PRENDER AGORA, LIGHT! MAS EU JURO QUE VOU ACABAR COM A SUA RAÇA!
— CHEGA! — Berrou James
Light estava com um olhar aterrorizado com a cena insana de T babando, derrubando os talheres e logo em seguida os policiais empunharam suas armas para apartar a discussão.
— Afastem-se! — ordenou um dos agentes. — Todos para fora enquanto a busca continua!
T se levantou e gritou enfurecido: — Revirem tudo! Cada armário e cada gaveta! Encontrem o caderno! — enquanto ele se afastava de costas, Mia, tremendo e com a respiração funda, puxou a mochila procurando algo.
— Oh, merda… — Light pegou a mochila e ajudou a garota.
Um dos policiais se aproximou e pediu para ela lhe entregar a mochila.
— Espera um pouco! — Light achou a bombinha dela e a ajudou a usar. — Ela tá tendo uma crise de asma!
T desconfiou da ação do casal e ele mesmo pegou a mochila para jogar seus pertences no chão, mas nenhum deles era o Death Note.
— Onde tá? — berrou e puxou Light pela gola da camisa — ONDE TÁ O CADERNO?
— Que caderno? — perguntou Light com uma voz assustada enquanto seu pai afastava bruscamente T.
— Chega! Procura o que quiser na casa, mas não encosta a mão no meu filho!
Uma troca de olhares entre T e Light enquanto Mia puxou o garoto para longe, evitando mais um conflito. James acompanhou logo atrás, puxando o telefone e acionando o advogado.
No lado de fora, Light olhou para a própria casa enquanto ela era desmontada peça por peça e escutou o som de portas sendo abertas, objetos caindo, a intimidade sendo estraçalhada por mãos estranhas.
Ele não disse nada, mas o sorriso de satisfação nos rostos dele e de Mia já diziam tudo.
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