Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 41: Acorda

Não demorou muito para que Nino, do alto da montanha, avistasse as carroças saindo pelo portão.

Sentado com as pernas cruzadas, observava preguiçosamente a direção em que seguiam, percebendo que se dirigiam para o deserto onde ele estava.

Eram cinco carroças, cada uma guiada por um subordinado a cavalo. À frente de todos, Azul cavalgava em um cavalo criado a partir de seu próprio sangue, visivelmente entediado por ter que transportar os humanos daquela forma.

"Nhe... Parece com o Verde, deve ser fraco." Nino suspirou, levantando-se com preguiça. — Vou ser breve.

Azul sentiu algo estranho e olhou para a direita, avistando uma silhueta no topo de uma montanha. Quando piscou, a silhueta havia desaparecido.

— Hã?

Cr-r-runch!

Nino avançou rapidamente, rasgando o deserto, cortando o pescoço de cada subordinado tão rápido que os panos cobrindo as carroças voaram.

Após eliminar o quinto, Nino saltou, mirando sua espada no coração de Azul.

CRUNCH!

No entanto, Azul percebeu o ataque e segurou seu braço, puxando-o e destruindo-o enquanto o arremessava para longe.

Nino rolou vários metros, e no momento em que foi arremessado, o cavalo de Azul desapareceu, e ele avançou na direção de Nino.

Diminuindo a distância entre os dois, Azul avançou com uma espada, mas durante uma das cambalhotas de Nino, ele virou o rosto e, com um olhar desinteressado, murmurou:

— Idiota.

PL-L-LOCHH!

Espinhos de pedra surgiram do chão, perfurando o corpo de Azul e tingindo o chão com seu sangue azul.

BAAM!

Nino parou de capotar e, no meio da ação, bateu o pé no chão, saltando para frente em um mortal, e acertou a nuca de Azul com um chute de calcanhar. CRAAASHH! Os espinhos foram destruídos, e o corpo de Azul foi arremessado ao chão, onde Nino havia criado uma dimensão escura.

Submerso na escuridão daquele lugar, Sh-sh-shk! Azul começou a ser mutilado por diversos clones de Nino, sofrendo cortes que não tinham a intenção de matá-lo, mas apenas de prolongar sua dor.

Shk-shk-shkr-r-runch!

Enquanto perdia membros e se regenerava, Azul olhava desesperado para a saída iluminada pelo sol, que parecia ficar cada vez mais distante.

Nino caminhava lentamente, com as mãos nos bolsos, em direção às carroças.

Azul, sofrendo e irritado, tentou gritar em um momento de desespero:

— RAGN...

No entanto, um olho gigante se abriu na escuridão à sua frente, paralisando-o de medo.

Ploch!

Um dos clones de Nino finalizou a breve tortura, perfurando o coração de Azul com uma espada.


Anna havia colhido algumas frutas que apelidou de "Momi". Como sua fruta favorita não tinha um nome, quis batizá-la com algo que a lembrasse de sua mãe.

Sentada à mesa de casa, Plaki-plaki-plaki! batia as mãos com ansiedade, até que a empregada lhe entregou o suco pronto. Nesse momento, Clarah entrou na sala de jantar.

— Clarah, você viu a Nina por aí?

— ...Eu também estava procurando por ela. Fui até o Roberto ver se ela estava ajudando por lá, mas ele disse que não. No entanto, a viu saindo bem cedo com o Jaan em direção ao centro da floresta. Disse que ela parecia animada; Jaan comentou que encontrou frutas gigantes e pediu a ajuda dela para trazê-las para a vila.

— Ah, beleza.

Clarah se espreguiçou e começou a subir as escadas.

— Vou dormir mais um pouquinho.

— Boa dormida.

Clarah riu, parando na escada para olhar para Anna sentada de costas na cadeira.

— Nunca ouvi isso antes.

— Não sei como se diz... "Boa noite" não é. "Bom descanso", talvez?

— Deve ser. — Clarah riu novamente e, enquanto continuava a subir as escadas, respondeu: — Boa noite.

— Boa noite.

Depois que Clarah subiu, Anna sentiu uma leve coceira no pescoço; de ambos os lados, uma marca muito fraca havia surgido.


Nino continuou caminhando preguiçosamente em direção às carroças.

Depois que seu clone matou Azul, desfez a dimensão, e a fumaça azul começou a desaparecer no ar.

Chegou até as jaulas, onde todas as crianças o observavam em silêncio. Abriu todas elas, mas as crianças continuaram olhando para ele, sem dizer ou fazer nada.

Ao abrir a última jaula, que continha apenas meninas que aparentavam ter cerca de 11 anos, falou em tom de comando:

"Têm pernas, não é?" — Já que não querem voltar andando, preciso de quatro voluntárias para guiar cada cavalo até o reino.

Quatro meninas saíram da jaula; três delas pareciam apavoradas, mas obedeceram. Nino as ajudou a subir nos cavalos, uma por uma.

— É bem fácil, é só...

— Eu sei andar a cavalo.

Nino a olhou com uma careta de desdém.

"eU sEi AnDaR a cAvaLo, mimimi. Não perguntei nada, sua praga."

Enquanto Nino voltava com as crianças, o palácio se encontrava bem agitado.

Grimore chegou ao quarto real e entrou sem cerimônia.

— Majestade?

Matilda se aproximou, Mwah! e o beijou. Ele a acariciou, e, após algum tempo, fizeram uma pausa.

— Faça uma coisa por mim — disse ela, com um olhar malicioso, encarando os olhos dele.

— Qualquer coisa.

— Engravide Aurora para que ela seja impura e não possa herdar o trono.

Morf permanecia ajoelhado ao lado da cama desde a noite anterior. Ao ouvir isso, gritou desesperado com toda a sua força, mas seu corpo não reagiu; permaneceu imóvel, enquanto sua alma, presa dentro daquela prisão, chorava de angústia.

— Eu convoquei todos para o salão. Você vai ter tempo de sobra... E depois, eu faço o que você quiser...

Grimore colocou a mão no rosto dela, e ela começou a chupar um dedo dele.

— Entendi. Vejo você mais tarde, então. — Ele saiu do quarto, ainda abalado com a noite anterior, mas sem se importar tanto. Esse era o relacionamento deles, afinal de contas. Ou pelo menos, no que havia se transformado.

Momentos depois, Morf e Matilda já haviam chegado ao salão com vários oficiais.

— O que está acontecendo? Por que estão entregando crianças para um primordial? — perguntou Jonas, com raiva.

— Esse era o tratado. O que você prefere: ter o reino dizimado ou entregar crianças para eles quando mandarem? — retrucou Matilda friamente.

Jonas se irritou ainda mais com ela.

— Vo...

THOOM!

Nathaly entrou no salão, abrindo as duas portas com brutalidade. Jonas, ao vê-la, foi ao seu encontro.

— Você já sabe o que está acontecendo?!

Nathaly falou em voz baixa:

— Sim... Relaxa, tá tudo sob controle. Só ganha tempo conversando com essa traidora do reino.

— O que vocês estão conversando? — perguntou Morf.

— Nada de mais — respondeu Jonas, virando-se para o trono.

— Qual o motivo dessa reunião? "Não tô vendo o general."

— Avisar sobre o Tratado de Paz — respondeu Matilda.

— Avisar depois de simplesmente implementar? Que piada.

A rainha se levantou, furiosa.

— MAIS RESPEITO!

— Abaixe o tom de voz pra falar comigo, ou acha que me importo de queimar você até a morte? — Nathaly a encarou com um olhar ameaçador, e Matilda se sentou, recuando.

— Majestade... Olhe o que ela está dizendo!... — reclamou, tentando se defender.

"Ele nem reage mais. Já deve ter virado um boneco." Nathaly pensou, observando Morf.

— Por favor, vamos nos acalmar. Eu deveria ter avisado sobre o tratado antes... A culpa deste mal-entendido é minha — disse, sem expressar qualquer emoção.

"Fala isso sem expressar literalmente nenhuma reação, obrigando ele a assumir a culpa? Essa é a tua?"

Enquanto todos os oficiais do reino permaneciam distraídos no salão real, Grimore aproveitou para cumprir o pedido da rainha. Sabendo onde ficava o quarto de Aurora, foi até lá e entrou silenciosamente, já que tanto o quarto real quanto o da princesa haviam deixado de ter guardas há muito tempo — caprichos de Matilda.

Aurora não trancava a porta, pois as servas constantemente iam até lá para cuidar dela. Grimore fechou a porta e a trancou com cuidado. Observando o quarto infantil, repleto de pelúcias e travesseiros enormes, viu Aurora entre as cortinas brancas de sua grande cama com dossel.

Tlec!

Enquanto caminhava em direção a ela, pisou em um pequeno pente de prata que não notou no tapete.

O estalo fez Aurora despertar lentamente.

A luz do sol entrava pelas grandes janelas, iluminando todo o quarto, mas, mesmo com aquela luz, o ambiente parecia envolto em escuridão. Aurora viu Grimore subindo na cama, engatinhando em sua direção.

Pah.

Assustada, recuou até cair da cama, continuando a se arrastar até o limite do quarto.

— Calma, princesa... Prometo que será rapidinho, nem vai doer muito — ele disse, abrindo um sorriso. — Pode confiar em mim.

Aurora começou a chorar enquanto Grimore se levantava da cama e dava passos lentos até ela, como se quisesse prolongar o medo antes de abusá-la.

Tremendo, Aurora abaixou a cabeça e viu sua sombra ao lado.

Reunindo toda a coragem que tinha, ela gritou:

— NINO, SOCORRO!!

BAM!

Da sombra, surgiu a silhueta de Nino, que acertou um soco na barriga de Grimore, arremessando-o contra a porta.

BUM!

Grimore explodiu a parede, batendo contra a do corredor e voando por ele.

BAM-BAM!... BAAM!

A sombra deu mais dois chutes, mantendo-o no ar, e um terceiro chute o lançou pelos corredores.

BUUMM!

Até colidir violentamente contra a porta do salão real.

Um dos guardas que a vigiava foi esmagado, morrendo instantaneamente, enquanto Grimore caiu diante do trono, com o corpo dilacerado, cuspindo sangue e cheio de raiva.

A sombra ficou em pé no meio de todos, olhando para baixo.

O segundo guarda, vendo o que aconteceu, ficou em choque, completamente paralisado.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?! — Matilda se levantou, berrando.

Aurora apareceu na porta do salão.

Ela abaixou a cabeça, soluçando e chorando, ainda assim gritou:

— P-papai... E-e-ele... T-tentou... Me ABUSAR!

Nathaly lançou um olhar mortal para Grimore. A Hero apareceu em suas mãos, queimando como nunca, acompanhando o fogo sagrado que brilhava em seus olhos.



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