Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 2

Capítulo 19: Onde Estou?

Ano 120. 

O grito de Nino ecoou por toda a floresta, atraindo a atenção de dois seres.

Uma garota de longos cabelos brancos e olhos azuis estava em sua casa de barro naquela tarde, se alimentando de uma fruta roxa. Sua casa era minúscula, com apenas dois cômodos. Em um deles, havia uma cama de madeira com um colchão de penas; ao lado, uma janela, e à frente da cama, uma pequena mesa com dois assentos de chão, também de madeira. O segundo cômodo era um espaço pequeno, onde ela armazenava alimentos congelados.

Ao escutar o grito de Nino, ela parou de comer e olhou pela janela, vendo pássaros imensos voando assustados na direção de onde o som veio.

Entre as árvores daquela floresta densa, sombras pretas passaram voando rapidamente de árvore em árvore, dirigindo-se ao local do grito. Animais, pequenos monstros, pássaros, toda a vida que habitava ali, se afastaram assustados, não das sombras, mas de Nino.

Nino se levantou, olhando ao redor. Aquela não era a floresta amazônica onde ele já esteve; ele sabia disso, mas apenas começou a andar, tentando sair dali.

O tempo passou, e ele não encontrou absolutamente nada além de mato e árvores. A tarde deu lugar à noite, e o lugar foi ficando cada vez mais escuro. À sua frente, havia uma árvore com raízes expostas. Nino a chutou, e enquanto um pedaço da raiz voava, ele a segurou, e a ponta começou a queimar como uma tocha, emitindo uma chama azul. Sem perder tempo fazendo uma fogueira para passar a noite, ele continuou a caminhar naquele novo lugar.

A noite caiu completamente. Ele não conseguia ver nada, e a tocha iluminava muito mal. De repente, ele ouviu um pequeno som. Com receio de que fosse uma aranha, Nino virou o corpo, apontando a tocha para o lugar de onde o som veio, mas não havia nada. Quando voltou a tocha para a frente — Fuuuu! — uma sombra soprou sobre ela, apagando-a completamente.

Nino se assustou e, sob seus pés, abriu-se um buraco. Duas sombras o seguraram pelas pernas, puxando-o para uma dimensão onde a gravidade era zero. Nino flutuava, sendo espancado e cortado por lâminas de sete sombras diferentes. A cada corte que sofria, ele se regenerava; não sentia dor, apenas raiva.

Uma das sombras percebeu a marca no pescoço de Nino. Mesmo que aquele lugar fosse completamente preto, ela hesitou em tentar devorá-lo e avançou com sua espada para perfurar o coração dele. Mas não funcionou. Nino olhou diretamente para a sombra, e embora ela não tivesse rosto, apenas uma boca com uma língua triangular cheia de dentes, se encheu de medo.

Nino sorriu para a sombra que tentava empalá-lo. CRECK! Segurou seu braço e o quebrou, puxou a sombra para si e mordeu seu pescoço. CRUNCH! Quase o arrancando completamente do corpo. Aquela sombra morreu tendo seu coração principal destruído, e Nino tomou posse de seu poder. Ele inverteu a situação; usando a dimensão, ele a destruiu.

As outras seis sombras que estavam atacando Nino reapareceram ao seu redor na floresta. Nino girou em 360 graus, lançando fogo escuro que queimava em chamas roxas para todos os lados, e finalmente ele pôde ver; dentro daquele círculo de fogo, ele podia ver quem estava enchendo seu saco.

Sua marca começou a escorrer sangue, brilhando intensamente com um preto absoluto. Nino deu um passo à frente, com um sorriso aterrorizante no rosto, e as seis sombras avançaram. Uma delas atacou, mas Nino desapareceu, usando a dimensão. Surgiu logo em seguida, rindo como seu pai, pulando de um buraco sob a sombra que o atacava. Shkrunch! Cortando-a ao meio.

Ploch!

Ainda no ar, ele arremessou uma espada de sangue conectada a uma corrente na cabeça de outra sombra. Com o impacto, sua cabeça foi atravessada, mas Nino transformou a espada em um gancho de escalada, cujas quatro lâminas se cravaram em sua cabeça. A sombra começou a queimar em chamas roxas enquanto permanecia em pé, sendo controlada pelo sangue de Nino que adentrava seu corpo.

Atacado por trás, Nino desviou das duas espadas e prendeu os braços das sombras simultaneamente, segurando-os como se não fossem nada. Ele enrolou os corpos delas na corrente que havia criado. Outra sombra o atacou, e ele usou a corrente para bloquear; encarando aquela face plana e preta, Nino a derrubou com uma rasteira. Cr-runch! A corrente então se transformou em uma grande lâmina, cortando as sombras presas a ela, e atacou a que acabou de derrubar.

Enquanto caía, a sombra viu a lâmina descendo em sua direção. Um buraco surgiu abaixo dela, e ela entrou na dimensão escura de sua raça antes mesmo de atingir o chão. Dentro da dimensão, a sombra começou a correr, tentando modificá-la para sair em um ponto distante da floresta — queria voltar para o ninho.

Mas Nino apareceu à sua frente e a segurou pelo pescoço. A sombra se debateu, tentando se libertar, emitindo um grito estridente de sua boca, mas apenas seres da sua própria raça podiam ouvi-lo. Tsssssss! Seu pedido de socorro era agonizante enquanto sua carne era carbonizada pela raiva de Nino, manifestada em uma mistura de fogo e sua magia escura. Porém, ninguém viria salvá-la, ninguém queria ir e ser torturado pelo Primordial Preto.

Nino soltou o pescoço da sombra e encostou um dedo em seu peito. BOOM! Ele a arremessou com magia escura dentro da dimensão; apenas uma parte de seu torso restou, mas a sombra ainda estava viva. Ela possuía mais de um coração, e o último, ainda pulsante, era o principal e estava em sua garganta. BAM! Enquanto seu corpo rodopiava pela dimensão escura, Nino surgiu abaixo dela e a chutou para cima, abrindo uma saída. Shkrunch! Ela voltou para a floresta, e Nino apareceu no ar atrás dela, cortando-a com sua lâmina.

Assim que a matou, Nino, olhando de cima, viu a última sombra correndo, tentando fugir. Ele estendeu o braço na direção dela, puxou o outro para trás e criou uma flecha de magia escura, iluminando aquela parte sombria da floresta com tons de roxo e preto intensos. BRRROMM!! A flecha foi disparada, obliterando tudo em seu caminho até atingir a sombra, que encontrou o mesmo fim.

Nino aterrissou de pé, ao lado dos restos de uma das sombras.

— O que é... is...

Pah...

Nino se sentiu tonto e caiu no chão.

Após escutar o grito, a garota passou a tarde inteira observando Nino, pensando se deveria matá-lo ou não. Quando a noite caiu e ela viu que ele conseguiu matar as sombras, decidiu ajudá-lo, pois ele não era tão fraco quanto ela havia imaginado. Ao vê-lo caído entre os restos de corpos, ela o ergueu com um braço e o colocou sobre suas costas.

Nino não estava com a marca naquele momento, já que costumava escondê-la enquanto dormia, e ali não foi diferente.

Enquanto estava desacordado, Nino teve um sonho. Ele se encontrava em um quarto que mais parecia um lugar infinito, completamente branco. Lá, viu novamente a mulher vestida de preto. Desta vez, ela estava mais próxima, e ele pôde notar mais detalhes: era baixa, com cabelos que lembravam os de Nina, mas, desta vez, ela não estava sobre uma espada preta; estava dançando sozinha. Ela olhou para ele e o chamou:

— Venha dançar comigo.

Nino olhou para os olhos roxos daquela mulher, sem sentir seu corpo reagir, indo automaticamente até ela. Ele segurou suas mãos, e os dois começaram a dançar. Ela mantinha os olhos fechados enquanto cantarolava o ritmo da dança que lhe foi ensinada. Após alguns passos, apenas seguindo os movimentos que ela mostrava, Nino quebrou o silêncio com sua curiosidade:

— Quem é você?

Ela abriu os olhos e o olhou profundamente.

— Eu sou a Morte.

Gritos de dor, agonia e desespero começaram a invadir sua mente, como se incontáveis pessoas clamassem por piedade ao mesmo tempo. Nino tentou soltar as mãos dela, mas era impossível. Ele olhou para baixo, sentindo como se seu corpo estivesse derretendo, e ao erguer o olhar novamente:

— Fuuu!

AAAAAAAHH!

Ela soprou seu rosto, e Nino acordou gritando desesperado na cama da garota. Ela estava ao seu lado, comendo na mesinha. O grito de Nino a assustou, fazendo com que derrubasse um pouco do suco feito de sua fruta preferida.

— Quer me matar do coração, desgraça?! Tá doido?!

— Me desculpa...

Ela o encarou, emburrada.

— ...E-eu estou em São Paulo?

— O que é isso?

— Hãm? — Ele fez uma careta, sem entender, piscando duas vezes e inclinando um pouco o rosto. — Que planeta é esse?

— O que é planeta?

Nino olhou para ela com uma expressão extremamente confusa.

— Achei que os demônios pretos tinham sido exterminados.

— Pera. Como sabe o que eu sou?

— Você bateu a cabeça, é? — Ela deu um gole no seu suco de um copo de madeira.

— Eu sou filho do Blacko. Sabe qu...

Pfffft!

A garota cuspiu o suco no rosto dele, rindo.

— Filho do Blacko? O Primordial? — Ela riu mais ainda. — Melhor não falar isso por aí, vão querer te matar.

— Eu sou filho dele. — Nino ficou meio emburrado, todo molhado.

— Prove.

Nino ativou sua marca e virou seu corpo para mostrá-la.

— ...Você realmente é filho do Primordial? Mas como, se ele foi mandado para outro mundo?

— Planeta você não sabe o que é, mas mundo você sabe, é?

— Pelo que sei, as marcas são dos dois lados. Por que só tem de um?

— Tenho uma irmã gêmea, ela tem a marca do outro lado.

"Isso é possível?" — Uhum. Mas isso não explica ele ter ido para outro mundo e você estar aqui.

— Eu vim do mundo em que ele estava. Fui teletransportado pra cá.

— Uhum...

— Eu sou um demônio preto, assim como você disse. Mas e você, é o quê?

— Sei lá... Sou um demônio também, nasci numa vila pequena e, desde criança, estou sozinha por aí. Mas minha mãe sabia magia de água e me ensinou. Ela gostava de me chamar de Lua... —  Enquanto falava, a voz dela foi ficando cada vez mais baixa, e ela abaixou a cabeça, visivelmente triste ao se lembrar do passado.

— Aconteceu algo?

— Não é da sua conta. Não vai sair da minha cama, não?

— Tá, tá... — Nino se levantou da cama. — Tem como me contar algo sobre meu pai? Tudo é uma incógnita para mim.

— Não.

— Por favor... — Ele implorou, segurando as mãos dela e aproximando seus rostos.

— O problema é que eu não sei a verdade. Mas sei que, quando ele foi expulso, uma Deusa também foi selada neste mundo. Dizem que ela foi presa numa espada com a palavra "Purgatório" gravada na lâmina. Provavelmente isso tem a ver com ele ter sido expulso do mundo. Todos que foram atrás dessa espada nunca voltaram, segundo a lenda. Minha mãe me contou isso quando eu era criança. E, pra completar, todos os descendentes da linhagem preta foram mortos. Não todos, já que você está vivo.

— Só sabe isso?

— Como assim "só sei isso"?

— Sua mãe não disse mais nada?

— Você que deveria saber dele, não minha mãe.

— Ele morreu no dia que eu nasci.

— Problema é seu, eu hein.

— Por favor. Se sua mãe disse isso, você deve saber mais alguma coisinha.

— ...Só sei que no dia em que ele foi expulso foi o mesmo em que eu nasci. Minha mãe não me contava muito, geralmente começava a falar algo e depois parava. Principalmente sobre um livro que ela tinha. Depois que eu disse que conseguia ler, ela nunca mais deixou eu chegar perto dele.

— Não entendi, sua mãe era... ruim?

— Longe disso, só queria me proteger de algo relacionado a aquele livro, mas sei lá. Tanto faz.

— Entendi... Quando fui teletransportado pra cá, minha irmã estava muito machucada. Eu sinto que ela está viva, mas não sei se está bem. Preciso achar ela.

— Não vi ninguém lá fora além de você. E primordiais têm regeneração instantânea. Se você sabe que ela está viva, com certeza ela está bem.

— Como assim? Você não tem regeneração?

— Não. Só os primordiais têm regeneração instantânea. Outras raças têm, mas demora muitos anos para um membro perdido crescer de novo.

— Falando nisso, o que eram aquelas coisas ontem à noite?

— Eu as chamo de homens-sombra. Geralmente matam quem passa pela floresta ou por perto.

— E onde estamos?

— Na Floresta do Desespero. É um lugar seguro, já que muitos têm medo de vir até aqui, então ninguém me incomoda.

— Mas... por que morar aqui? E essas sombras?

— ...Não sei. Me escondendo de algo, talvez. Já essas sombras, elas têm medo e nem chegam perto de mim.

— Elas tem medo de você e de mim não? — Nino perguntou, com o rosto sério e meio desanimado.

— Você é fraco.

Nino a encarou com uma expressão séria, levantando as sobrancelhas.

— Eles usam uma espécie de veneno que faz a presa desmaiar. Não tinha como você saber. Não sei ao certo o que são, mas sei que sentem prazer em devorar a presa ainda viva. Já ouvi gritos à noite, enquanto riam e matavam alguém. Então decidi caçar todos. Pelo visto, não exterminei essa praga por completo, mas fazia muito tempo que não via nenhum.

— Você viu pessoas morrerem assim?

— Sim, assisti um pouco.

— Hãm?

— Pessoas que traem merece.

— Hãm?

Anna suspirou fundo.

— Esquece. — Ela se levantou. — Bom, vou arrumar meu cabelo.

— Pra quê?

— Dar uma volt...

— Está tão lindo assim.

Ela não esperava isso e ficou sem reação por um momento, mas logo o encarou com uma expressão séria, enquanto ele mantinha um sorriso no rosto. Depois de um tempo, ela se virou, mantendo a mesma expressão, e foi fazer suas coisas. Quando ela saiu, Nino olhou para suas roupas destruídas, as tirou e criou novas usando seu próprio sangue.

Anna saiu de casa e trocou a roupa de sangue, que usava para dormir, por algo mais usual. Vestiu um shortinho branco e um vestidinho azul-claro, da mesma cor de seu sangue, que mal passava do short — igual ao que sempre via sua mãe usar.

Após se trocar, ela arrumou o cabelo, sentindo a leve brisa de mais um dia. Nino saiu da casa e a viu de costas. Quando ela se virou, seus cabelos brancos brilhavam ao sol, e seus lindos olhos azuis o encaravam com um sorriso. Nino ficou encantado, mas logo percebeu que aquele sorriso estava apenas em sua mente.

— Que que você está olhando?

Ele olhou para ela e viu sua expressão real: um olhar levemente para cima, com os olhos semicerrados.

— ...Qual é o seu nome?

— Anna.

— Anna? Que nome bonito. — Ele sorriu, e ela o encarou séria novamente.

Anna começou a andar, e Nino ficou parado, observando-a.

— Não consegue pensar sozinho? — Ela se virou, olhando para ele. — Anda logo!

Nino correu para alcançá-la e começou a caminhar ao lado dela.

— Não vai falar qual é o seu, não?

— Ah... é Nino. E o da minha irmã é Ni...

— Nina.

— Sim!? Como sabe?

— Talvez porque você deu um BERRO ontem à tarde.

— Ah. Deu para escutar, é?

— Você é meio burro, né?

— Tô começando a achar. Minha irmã diz isso toda hora e agora você, que eu nem conheço, também diz.

— Sua irmã sumiu. Acha mesmo que sair gritando o nome dela por aí vai ajudar a encontrá-la? Você nem tem ideia de onde ela esteja. Capaz dela começar a procurar você, e vocês irem para lados opostos, como dois perdidos.

— O que você sugere?

— Sei lá.

— Você disse que, se descobrirem que eu sou o filho de Blacko, ou no caso, o Primordial Preto, eles vão vir atrás de mim, certo?

— Sim.

— Talvez ela também escute meu nome por aí e acabe me achando.

— Se fizer isso, todos os primordiais vão tentar matar você, animal.

— Então é melhor que eu mate eles antes.

Ela olhou para o lado e o viu animado.

— Você é meio doido.

— Eu não sou doido. Você não está cansada de se esconder nesse lugar? Eu só quero uma vida em paz, ter a liberdade de fazer o que eu quero sem ser perseguido. Já vivi no outro mundo por muito tempo escondendo quem eu sou.

[ — Minha Lua, corra e não olhe para trás, apenas corra o mais longe que conseguir.

— Mas mãe... ]

O som do telhado sendo destruído, a correnteza de água que sua mãe criou para afastá-la de lá, o último sorriso de sua mãe antes de criar uma foice de água e se virar de costas. A chuva naquela noite, iluminada por uma lua azul que ela sabia quem havia feito. Tudo passou pela mente de Anna em um instante, e a raiva tomou conta dela ao se lembrar do Primordial Vermelho.

— Vamos treinar — murmurou, com a cabeça baixa. Nino não escutou e se virou para ela.

— Hãm?

— VAMOS TREINAR, AGORA!

Anna atacou Nino. BAAAM!! Mesmo bloqueando a foice de água que ela criou, ele foi arremessado para trás, colidindo de costas em uma árvore. Anna avançou novamente, e Nino, ágil, desceu seu corpo para desviar da lâmina. O que deveria ser um treino virou uma luta desesperada pela sobrevivência.

Nino não conseguia espaço algum para atacar; Anna o pressionava constantemente, atacando de todos os lados.

"Não consigo entender o que você vai fazer."

PLOCH!

Nino, depois de minutos sendo jogado para longe e desviando dos ataques, finalmente decidiu se deixar ser atingido. Com a foice enfiada em sua barriga, ele a abraçou forte.

— Se acalma! — disse, com uma voz calma. Anna voltou do seu estado de raiva. Ele a soltou, e ela desfez a foice de água.

— Desculpa.

— ...Se quiser, eu escuto tudo que aconteceu.

— Não quero falar sobre isso... Deixe o treino para outro dia. Esconda sua presença, vou te ensinar uma coisa que acho que você não sabe.

— ...Como assim, esconder?

— Não sabe esconder sua presença?

Nino olhou para ela com cara de bobo. Anna o encarou séria e, após uns segundos, suspirou.

— É bem fácil. Feche os olhos. — Ele obedeceu. — Imagine uma bola de magia em sua cabeça, se concentre ao máximo, colocando toda sua magia nessa bola, e diga "detecção". Se conseguir, você mapeará a área e sentirá a presença de cada ser vivo por perto.

"Detecção."

Nino conseguiu. Sentiu como se um radar emanasse de seu corpo, revelando a presença de cada criatura ao redor. Ele detectou alguns animais escondidos em tocas, pássaros nas copas das árvores, vários insetos estranhos, mas nada que se parecesse com uma aranha, o que o tranquilizou. No entanto, ele não sentiu a presença de Anna.

Ele abriu os olhos, e ela estava bem na sua frente o tempo todo.

— Consegui, mas eu não senti a sua.

— Você não me viu porque eu escondi minha presença. Pra fazer isso, é só fazer o contrário da detecção.

Nino fechou os olhos e tentou, mas não estava conseguindo. Ele forçou ainda mais, sua expressão se contorcendo de tanto esforço. Depois de alguns segundos, Anna, o observando, comentou:

— Abaixou um pouco...

Nino, exausto, parou de forçar.

— Puta que pariu, abaixou só um pouco? Quase botei um ovo. Era pra ser fácil?

— Agora voltou ao normal... Eu aprendi a esconder totalmente com três anos.

— ...

— Ah, deixa pra lá. Nos próximos treinos você vai tentando usar detecção de olhos abertos e diminuir sua presença. Mesmo que afaste monstros por ela ser forte, vai atrair coisas que você não vai conseguir derrotar.

— Está me chamando de fraco?

Anna, já de costas, voltando para casa, respondeu:

— Estou afirmando.

Nino fez uma careta emburrada e a seguiu.



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