Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1

Capítulo 1: Nascimento

Ano 2006.

Já era dia, mais um em que Blacko não havia percebido seu início. Sentado na terra, sob uma jabuticabeira que começava a dar frutos novamente, permanecia perdido em pensamentos, encarando a mata à sua frente.

Pássaros cantavam enquanto o vento balançava suas roupas feitas de seu sangue preto, junto com as folhas das árvores naquele lugar tranquilo, um pouco distante da pequena cidade de Jequitibá, em Minas Gerais.

Conhecida por seu calmo lago no centro, cercado por palmeiras altas, com uma pequena ponte de grades azuis ligando a uma casa de paredes de pedrinhas amarelas mescladas com paredes brancas e um telhado vermelho. Um belo lugar, onde mais de cinco mil pessoas vivem e o admiram diariamente.

Blacko não se movia, nem mesmo piscava, apenas olhava fixamente para a mata, até que ouviu um grito vindo de dentro da sua casa:

— M-mãe... Mãe! — Uma mulher grávida tentava andar em seu quarto quando começou o processo de parto.

Blacko despertou, seus olhos se arregalaram, e ele se virou, olhando para a casa ao ouvir os choros de sua mulher.

Rapidamente, se levantou e correu, passando por uma porta azul entreaberta que adornava as paredes brancas da residência.

— Alice!

Passou pela sala e entrou em um corredor repleto de quadros com fotos de paisagens que Alice havia tirado em suas viagens pelo mundo. Ao perceber a porta do quarto aberta, aproximou-se e viu sua sogra ajudando Alice a se deitar na cama para dar à luz.

Blacko deu um passo à frente, entrou no quarto, e naquele momento, sua sogra o olhou com seriedade.

— Saia.

— Ma...

— Saia!

Em silêncio, ele observou Alice, molhada de suor, apertando com força os lençóis, os olhos cheios de lágrimas. O Primordial sentia dor só de ouvir o som da respiração ofegante de sua amada, que sofria.

Virou-se de costas e saiu do quarto, obedecendo sua sogra.

Alice olhou para as costas daquele ser de mais de dois metros, vestido de preto da cabeça aos pés, enquanto ele saía do quarto.

Uma lágrima escorreu de seus olhos — ela queria pedir desculpas pela reação que teve ao descobrir o que ele havia feito.

A dor que ela sentia naquele momento se intensificava com o peso da culpa por ele ter passado uma semana sem lhe dirigir uma única palavra.

Mas esse não era o verdadeiro motivo de Blacko ter ficado daquela forma — ele nem sequer sabia quanto tempo havia passado imerso em sua mente.

O verdadeiro motivo era o medo, pela primeira vez em sua vida, ele estava com medo de um ser cuja raça ele mais desprezava.

Blacko saiu e fechou a porta atrás de si, sua mente destroçada após tanto tempo tentando imaginar uma forma de mantê-las seguras. Sem forças para mais nada, ele se sentou no chão, encostando as costas na parede, e abaixou a cabeça.

Com os sons que vinham do quarto, sua única reação foi cobrir o rosto com as mãos — seus dedos rígidos e curvados pareciam garras, suas unhas naturalmente pretas cresceram como as de um animal selvagem.

Scrrrrechh!

Blacko começou a se coçar, rasgando a própria pele, com seu sangue pingando em sua calça, apenas para ser absorvido de volta à medida que seu corpo se regenerava instantaneamente.

Seus olhos tremiam, as marcas em ambos os lados de seu pescoço brilhavam em um preto mais vivo, reagindo a algo.

Depois de um longo tempo ouvindo os gemidos vindos do quarto, o silêncio finalmente se instalou, e seu corpo se arrepiou ao sentir a presença de um pequeno ser lá dentro.

Levantando-se, jogou o corpo contra a porta, esquecendo-se de como ela funcionava. Crec! A tranca quebrou com o impacto, e ele entrou, vendo sua sogra segurando uma criança nos braços, enrolada em um pequeno tecido verde-azulado.

Ele esqueceu como se andava, o que sentia era tão avassalador que seu rosto não conseguia expressar.

Ela olhou para ele e se aproximou, entregando-lhe o bebê.

Blacko segurou seu filho e, ao olhar para o rosto do pequeno, viu-o sorrir com uma risada suave. Com isso, abriu um sorriso genuíno, que quebrou sua face egoísta, apática e sedenta por sangue e sofrimento.

Com aquele sentimento diferente, raro em sua vida, ele não percebeu o que acontecia ao redor.

Ouviu um leve som de choro enquanto olhava para o seu bebê. Levantou o olhar e viu sua sogra chorando; não entendeu de imediato, mas quando olhou para o lado e viu Alice com os olhos fechados, percebeu que ela havia morrido.

Não demonstrou reação alguma, apenas ficou parado alguns segundos, encarando-a.

Olhou para seu filho e o colocou cuidadosamente sobre a cama, que estava praticamente limpa de sangue. Ela não havia perdido muito sangue e apenas um único lençol ficou levemente manchado.

A sogra tentava se conter, passando as mãos para enxugar as lágrimas sem dizer uma palavra.

Após colocar o filho na cama, Blacko levantou sua mulher nos braços e começou a andar em direção à porta.

Com cuidado, ele a virou para evitar que batesse a cabeça na quina de uma pequena cômoda velha de madeira amarelada, bastante gasta nas extremidades. Sobre a cômoda, havia um porta-retrato com uma foto dos dois juntos — ela sorrindo e ele em pé, como um poste, sem entender como aquilo funcionava.

Fora de casa, ele caminhou até onde havia estado mais cedo, sob a jabuticabeira que Alice tanto amava.

Enquanto ainda a segurava, sangue de seus pés começou a entrar no solo, que se abriu formando uma cova.

Ele a olhou uma última vez, Mwa... deu um beijo em sua cabeça e um acontecimento raro aconteceu — uma lágrima se formou em seus olhos. Blacko a colocou na cova, seu sangue a cobriu e, em seguida, ele retornou para dentro.

Foi até o quarto onde a sogra ainda estava com o bebê. Entrou em silêncio e, após alguns segundos, começou a procurar algo na mesma cômoda onde permanecia o porta-retrato.

Sem entender o que ele estava fazendo, a sogra apenas pegou o bebê e o levou para a sala, onde havia deixado um antigo berço de madeira, cheio de mantas que havia costurado.

Procurando nas últimas gavetas, Blacko encontrou o material escolar antigo que Alice guardava. Rasgou uma folha de um caderno, pegou uma caneta e começou a escrever uma carta com uma expressão desanimada. Ao terminar, dobrou a carta e, notando que não havia ninguém no quarto, foi até a sala.

Ele ouviu um som vindo da cozinha — a sogra pegava um copo d'água — mas não se virou para olhar.

Algo chamou sua atenção: ao olhar para o berço, percebeu que seu bebê tinha três braços.

— Hãm?

Colocou a carta no berço, um pouco afastada do bebê, e então o segurou. Ao puxá-lo levemente para o lado, o bebê se dividiu em dois: um menino e uma menina. Ambos tinham olhos roxos, herdados de Alice, e um cabelo extremamente preto, como o de Blacko.

O menino tinha uma marca fraca no pescoço à direita, enquanto a menina tinha a marca à esquerda.

Os bebês sorriam para o pai, e Blacko, tomado novamente por um sentimento intenso, sorriu de volta. No entanto, sua expressão logo voltou a ser séria e sombria.

Enquanto escutava passos se aproximando, Blacko pegou a carta e a estendeu para a sogra, que estava mais calma após beber água. Ela olhou para o papel, segurou-o e o virou frente e verso sem abri-lo. Blacko se virou e apoiou as mãos na borda do berço, continuando a observar seus filhos.

— O que é isso?

— ...Um pedido de desculpas.

Franzindo um pouco as sobrancelhas após escutar aquilo, ela respondeu:

— E isso é hora...

Blacko virou um pouco o rosto para olhá-la. Ela não conseguia acreditar que ele havia pedido desculpas por algo, mas ao ver a expressão dele, soube que era verdade.

— Entregue a eles quando estiverem maiores.

— Não faça isso.

— Preciso tentar, Marta — ele nem mesmo a olhou enquanto respondia, apenas continuava observando seus bebês, cujos bracinhos se misturavam.

— Você está muito fraco.

— Eu sei.

— Eles vão precisar de você.

— Eu sei.

— Blacko!

— EU SEI, MARTA! — Ele a encarou, sua expressão revelava sua verdadeira natureza.

Se não fosse Marta, ela já teria sido morto há muito tempo.

— ...

Após o grito ensurdecedor, o medo que Marta sentiu ao vê-lo pela primeira vez voltou um pouco mais forte, mas ela ignorou, sabendo que ele não a machucaria.

Ainda a encarando, Blacko aliviou sua expressão e voltou a se focar nos gêmeos.

— Eu sei... — murmurou, cabisbaixo.

Marta respirou fundo e tentou novamente convencê-lo:

— Por favor.

— ...Se eu ficar e nos encontrarem, meus filhos serão mortos. Se eu os matar primeiro, não haverá mais ameaça.

— Mas se você não voltar, eles não terão um pai.

Ele não conseguiu responder, apenas virou lentamente o rosto, encarando-a. Marta tentou manter o contato visual até abaixar a cabeça, frustrada por saber que não adiantaria implorar.

— ...

— Acha que consegue? — perguntou, com a cabeça baixa.

— É tudo... ou nada.

— Tsc... — Marta, estressada, não conseguiu conter a frustração e fez um pequeno som de risada nervosa. — Entendi. Faça o que achar melhor — levantou o rosto e olhou para Blacko, que a observava, e suspirou fundo antes de continuar: — Já decidiu os nomes?

— ...Será Nino e Nina.

— Entendi... — Ela balançou a cabeça afirmativamente, tentando segurar as lágrimas. — Diferente.

O Primordial saiu e foi até o quarto, onde pegou um grande lençol marrom, velho e rasgado, para cobrir parte do corpo e do rosto. Não queria ser visto, principalmente por causa da marca no pescoço que ele não conseguiria esconder com sangue enquanto lutava enfraquecido naquele lugar onde não pertencia.

Foi até os gêmeos para olhá-los uma última vez. Fez carinho nos rostos dos dois e, em seguida, cobriu completamente seu corpo com o lençol enquanto se dirigia à porta da cozinha.

Ao tocar a maçaneta, ouviu uma voz trêmula:

— Eu nunca vou perdoar você se não voltar.

Ainda com a mão na maçaneta, ele abriu a porta e respondeu:

— Eu sei.

Após a porta se fechar, Marta não conseguiu conter as lágrimas e caiu em prantos diante do berço dos gêmeos.

Ele saiu da casa enquanto o vento balançava o lençol.

Do sangue que escorria de seus pés, formou-se um círculo no chão com oito marcas conectadas. Assim que o círculo se completou e ele pisou nele, desapareceu, indo para o lugar onde o medo em sua alma surgiu — o lugar onde ele dizimou cerca de 900 mil pessoas, completamente trituradas em cortes — próximo à Praça Sete de Setembro, em Belo Horizonte.


Um homem de longos cabelos pretos e lisos, que caíam abaixo do peito, caminhava pelos corredores de uma escola enquanto falava ao telefone com seu irmão.

Ele vestia um sobretudo dourado com as inscrições: "Louis" "25" "1" "A" "A" no peito, acompanhado por uma calça social cinza-escura e uma blusa cinza-clara.

— Como estão as coisas? — perguntou ele, com a voz ecoando pelo corredor.

— Vamos sair daqui a pouco... — respondeu o irmão, abaixando um pouco a cabeça enquanto observava seu esquadrão terminar de arrumar as coisas para a patrulha. — Estou com medo.

— Hã? — Louis parou de andar, cheio de dúvidas. — O quê?

— Hamm... Não é medo de lutar. É medo de a anomalia já ter saído daqui — ele coçou a cabeça, visivelmente preocupado. — E acabar fazendo outra chacina por aí... E se não for só uma?

— Relaxa... — mesmo preocupado, Louis tentou encerrar o assunto para não se angustiar mais. — Tenho algumas coisas pra fazer aqui. Se a encontrar, me ligue na hora que eu vou com a garota.

— Ok, Louis — disse o irmão, virando-se para seu esquadrão. — Galera! Estamos saindo.

— Boa sorte, Luan.

Louis desligou o celular e continuou caminhando pelos corredores, observando de longe algumas crianças que chegavam na escola pelo portão principal. Ele se virou e seguiu até a sala dos professores.

Após poucos minutos, chegou e entrou pela porta, que tinha uma pequena placa de metal indicando que era a sala certa.

Ao entrar, teve um pequeno susto ao ver uma mulher sentada de costas, lendo alguns relatórios em frente a um computador antigo, meio branco e meio bege, com um grande monitor de tubo.

Um pouco receoso, ele tentou se afastar silenciosamente, mas ao olhar para a porta, percebeu que não podia simplesmente ir embora. Voltou-se novamente para ela, engoliu suas preocupações e perguntou:

— Mirlim, você viu a Alissa por aí?

Mirlim, ao ouvir a voz, fez um pequeno movimento brusco nos ombros, claramente irritada.

Seu rosto continuou neutro enquanto ela se virou parcialmente para ter certeza de quem estava falando — ela estava com um pirulito na boca. Confirmando a identidade, encarou Louis com um olhar desinteressado e voltou a ler, ignorando-o completamente.

— ...Te fiz algo?

Mirlim continuou digitando no computador com mais força, Tlec-trak-tlak! a ponto do teclado quase criar vida e pedir piedade com os altos estalos dos toques.

Ela respondeu sem olhar para ele:

— Nasceu.

— ...Te dou um saco de pirulitos em troca da resposta.

— Está me devendo uns cinco, não tem vergonha na cara?

— Eu juro.

— Desde quando sua palavra vale algo?

— Nossa! Pega esse monitor e taca na minha cabeça de uma vez então.

Mirlim lançou um olhar irritado para ele, seus olhos visivelmente agitados enquanto o palito do pirulito se movia junto com seu crescente ódio.

— Claro! — Ela se levantou, tentando arrancar o monitor da mesa. Louis rapidamente segurou seus braços para evitar um possível assassinato.

— Eu estava brincando.

— Eu não — Mirlim respondeu com firmeza.

— ...

— Paga o que me deve, caloteiro.

— Prometo... Mas é sério, preciso dela para ajudar lá em BH. — Louis, vendo que Mirlim não estava mais inclinada a atacá-lo, a soltou e se afastou por precaução.

— Não vai dar, ela saiu em uma missão. Outra calamidade.

— Quê?

— Não é da mesma magnitude que a de BH, mas as informações que tenho indicam que três exterminadores não oficiais já morreram tentando matá-la. — Mirlim fez uma expressão irônica, gesticulando com as mãos levantadas. — Então não dá pra ignorar, né?

— Três...? — Louis abaixou a cabeça momentaneamente em respeito. — Entendi. Obrigado.

— Obrigado nada, pague o que me deve.

Louis, com um olhar cansado, a encarou e murmurou:

— Vou ir buscar.

— Tem 15 minutos.

— ...

— 14,56... 14,55...

— Você é insuportável.

— Aham, aham. — Mirlim voltou a se concentrar em seus relatórios. — Vai lá, vai.

Louis saiu da sala, fechando a porta atrás de si.

No corredor, uma jovem garota aguardava, escutando a conversa desde o início.

Ela também usava um sobretudo dourado, com as inscrições: "Katherine" "9" "1" "A" "A" na altura do peito. Seu cabelo comprido e branco realçava seus olhos azuis.

Tentando esconder seu ciúme, Katherine perguntou:

— O que está procurando?

— Por Alissa, mas ela não está aqui. Fique pronta para uma emergência. Caso o tio Luan ligue, nós vamos sair imediatamente para ajudá-lo. Seu poder é essencial.

— Por que estava procurando a Alissa então?

Louis, percebendo o tom estressado na voz de Katherine, tentou aliviar a barra:

— Era apenas para ter mais força na missão. — Colocou a mão na cabeça dela, fazendo cafuné. — Não se preocupe.


Luan caminhava por uma rua, observando aquele cenário estranho, como se uma cidade inteira tivesse sido subitamente abandonada.

Carros novos, prédios e lojas permaneciam intactos, como se tudo tivesse sido deixado para trás. Apenas alguns edifícios destruídos sugeriam uma possível luta entre anomalias.

Segundo as análises feitas pela polícia, uma anomalia havia sido encontrada brutalmente destroçada, sem os braços e com um buraco no peito, de onde o coração havia sido arrancado.

Enquanto andava pelas manchas de sangue, sem qualquer vestígio de roupas ou algo que indicasse que aquilo um dia foi humano, Luan levou um leve susto ao ouvir os latidos de um cachorro.

Curioso por ainda haver alguma vida naquele lugar, foi verificar a razão do animal estar tão agitado.

Grrrrr, au au!

Chegando lá, ele viu de longe, enquanto se aproximava, um ser que se assemelhava a um homem no centro da avenida, cortando quatro caminhos cercados por prédios e árvores nas calçadas. O vermelho não vinha apenas do detalhe abaixo do obelisco no centro ou das faixas de pedestres, mas também das manchas de sangue dos milhares de corpos que deixaram de existir.

Sobre aquele grande obelisco cercado por quatro pequenos postes de luz, bem velhos e em tom de cinza, estava Blacko, com a ponta de uma espada feita de seu sangue cravada na ponta do obelisco.

Ele se equilibrava agachado sobre a espada, com uma perna esticada para baixo e outra dando apoio à espada. Seu corpo permanecia coberto, mas era visível uma cabeça e uma perna, o que fez Luan ter uma dúvida, mas ele ignorou — o medo de apenas olhar para aquilo já era o suficiente.

— Isso não é um humano. — Rapidamente, ele colocou a mão no bolso, tirou o celular e comunicou seu esquadrão: — Ele tá aqui! Venham para a Praça Sete de Setembro.

Não demorou muito e seu esquadrão chegou até lá, vindo de direções diferentes — estavam cercando o obelisco de todos os lados, mesmo que inicialmente esse não fosse o plano.

Quando percebeu o esquadrão chegando, Luan se lembrou de Louis e ligou para ele.

Brrr!

Louis, andando com Katherine o seguindo pelos corredores, sentiu seu celular vibrar e o pegou no bolso.

"Luan...?" atendeu e colocou no ouvido. — Lu...

— Encontrei ele! Está na Praça Sete de Setembro.

— Mande uma foto — Louis se animou.

Katherine percebeu e segurou bem forte no sobretudo dele, puxando levemente para baixo.

Luan afastou o celular da orelha, apressado com tudo, abriu a conversa com seu irmão e tirou uma foto de Blacko naquele lugar. Assim que apertou para enviar, enquanto carregava, ele olhou para o obelisco e percebeu que a anomalia não estava mais lá.

Uma mulher do esquadrão de Luan berrou desesperada, apontando para as costas dele: — LUAN, ATRÁS! — Todo o corpo de Luan se arrepiou com aquele grito.

Olhando com um medo profundo nos olhos, ele tentou desviar se jogando para o lado de algo que nem sabia de onde estava vindo.

Ele não conseguiu.

Crunch!

Blacko o cortou ao meio, e o corpo dividido apenas caiu sem vida ao lado do celular, se enchendo de sangue e enviando a foto para o irmão.

Blacko começou a andar em direção aos outros, apontando a espada para o chão.

Um dos amigos de Luan, muito alterado ao ver seu amigo morto, com suas mãos para baixo, começou a emanar fogo. Ele girou o corpo esticando a mão como se estivesse arremessando algo físico, e a magia de fogo atingiu Blacko, que nem quis se mover.

BOOM!

A reação em cadeia fez todas as vidraças dos prédios ao redor se quebrarem, produzindo muito barulho e uma fumaça alta que tirava a visão deles de Blacko.

A fumaça não demorou para começar a se dissipar.

Todos estavam com suas lâminas empunhadas, esperando que Blacko aparecesse — o medo que ainda sentiam era verdadeiro demais para acharem que a anomalia que foram atrás teria morrido para aquilo.

Quando a fumaça se dissipou completamente, Blacko não estava mais lá.

Grr, au au au au!

O cachorro ainda latia incessantemente.

Todos começaram a olhar ao redor, e um homem, com sua identificação no peito revelando seu nome como Taylor, não percebeu a chegada de Blacko, indo contá-lo ao meio com a lâmina.

Taylor não percebeu, mas Danilo sim.

Tinn!

Danilo conseguiu bloquear o golpe de Blacko, e Sabrina atacou rapidamente as costas dele.

Ploch!

Blacko desapareceu antes que Sabrina pudesse perceber — ele era rápido demais para aqueles humanos. No entanto, o medo estava limitando Blacko, o receio de deixar seus filhos sozinhos pesava demais — e Sabrina acabou enfiando a espada no peito de Danilo.

Olhando para Danilo sangrando, Sabrina começou a tremer, suas lágrimas caíam. Danilo, olhando para ela, não conseguiu dizer nada naqueles poucos segundos que seus olhos se encontraram.

— Desculpa... Desculpa, eu nã...

Shk!... Pah-pah...

Sem conseguir terminar a lamentação, Blacko cortou o pescoço dela, e sua cabeça caiu no chão, fazendo um barulho abafado e estranho que abalou a mente de todos os amigos dela. Danilo, empalado, olhou para Sabrina e teve sua cabeça cortada ao meio com um corte tão limpo que a parte superior deslizou até desgrudar completamente.

Taylor, junto de mais dois, tentou atacar Blacko nesse meio-tempo. Imbuindo suas espadas com magia de água e fogo, o metal das lâminas mudou para as cores dos elementos, enquanto eles avançavam.

Um manipulador de fogo avançou com um corte diagonal. Blacko colocou sua espada na frente, mas a lâmina foi cortada. Sua espada de sangue não foi suficiente, e o manipulador percebeu que havia quebrado a defesa dele.

Ao menos ele achou.

Bamcreck!

O Primordial girou o corpo contornando o corte da espada em chamas e acertou um soco na nuca com a mão esquerda. O corpo daquele homem caiu mole no chão. Ele não estava morto, mas seu crânio estava destruído — ele perdeu completamente o controle e ficou caído de rosto no chão, produzindo um som contínuo de pura agonia.

— Aaaaaargh...

Após derrubar um dos exterminadores, uma lâmina imbuída de água tentou cortar a cabeça de Blacko. Ele não se moveu, retomando sua confiança habitual. A lâmina o acertou, mas seu sangue era duro demais para ser cortado.

Tinn!

A espada bateu e tiniu como se ele fosse feito de metal.

A única coisa que Taylor conseguiu cortar foi um pequeno pedaço do tecido do lençol marrom próximo ao pescoço.

Blacko sorriu sadicamente — Taylor viu um pouco daquele sorriso através da transparência do lençol e se assustou. O som que o homem caído no chão produzia era música para os ouvidos do demônio.

BAAM!

Ele acertou um soco na barriga de Taylor, fazendo-o dobrar o corpo sobre o braço antes de ser arremessado para longe, deixando sua espada para trás.

Ainda com a espada no ar, Blacko a segurou calmamente, percebendo o segundo manipulador de fogo avançando em suas costas.

Cr-r-runchh!

Enquanto esperava o ataque, o corpo de Taylor girava no ar em alta velocidade devido ao arremesso. Do chão emergiram espadas finas feitas de magia de pedra, decepando cada parte do corpo dele.

Com a dor do soco que destruiu diversos ossos de seu abdômen, ele agonizava. Em um instante, quando a primeira espada decepou sua mão, ele foi sendo mutilado até que seu corpo virou um quebra-cabeça de membros e carne humana.

Blacko desviou inclinando seu corpo para a direita, virando-se para o homem enquanto seu ataque errava, iluminando os dois com um tom de vermelho ardente e amarelo.

Cr-runch!

Antes de voltar sua lâmina para mais um ataque no Primordial, seus pulsos foram cortados e Blacko soltou a espada, segurando o pescoço enquanto ria e escutava os sons prazerosos de dor, choro e sofrimento vindo daqueles humanos.

— AAaAarghh! UuNnghh!

Tssss!

A palma da mão de Blacko começou a queimar, e a dor do homem se intensificou em berros de agonia enquanto seu corpo se debatia.

— AAAAAAAAAARRGHH!!

O Primordial Preto começava a sentir prazer e queria muito mais.

O homem, ainda se debatendo, mesmo sem suas duas mãos, tentou desesperadamente se libertar, colocando o que restava de seus braços no braço de Blacko. Pah... Blacko o soltou no chão e ele caiu deitado com os olhos cheios de lágrimas.

A marca da mão de Blacko estava gravada na carne derretida do pescoço do homem, que, do chão, viu seu amigo caído à sua frente, ainda vivo, babando, agonizando e esperando pela morte.

— Fel...

CRUNCH!

Blacko pisou na cabeça do amigo, esmagando-a e sujou o rosto do homem com sangue.

Completamente paralisado e incapaz de gritar, Blacko segurou o pescoço e o levantou novamente.

Seus amigos, de longe, olhavam com medo de agir.

Creck!

O homem teve o mesmo destino dos outros: seu pescoço foi esmagado e seu corpo foi descartado no chão como se fosse pão para pombos.

O Primordial voltou a andar em direção aos outros, e a cada passo que dava, os últimos dois davam um passo para trás.

Grrr! Au! Au!

O cachorro ainda latia sem parar com latidos graves que acabaram irritando muito Blacko. Ao se aproximar muito do Primordial, o mesmo deu um triste fim ao cachorro.

Ploch!

Querendo gastar o mínimo de suas forças restantes para enfrentar seu medo de frente, criou uma lança de pedra que emergiu do asfalto e penetrou o coração do cachorro.

Não deu tempo nem de chorar pela rápida dor que passou pelo se sistema nervoso; ele apenas ficou mole pendurado na lança com seu sangue escorrendo.

A lança, assim como as espadas de pedra, desapareceu. Pahf...O corpo do cachorro caiu no chão e emitiu um som aterrorizante abafado que ecoou na mente dos últimos dois humanos presentes naquele lugar.

Distraídos com a morte do caramelo, Alan e Eduardo não perceberam a lança de pedra emergindo em direção aos olhos de Alan.

No susto, com o corpo arrepiado, ele moveu a cabeça e recebeu apenas um corte um pouco profundo na bochecha. Com a adrenalina a flor da pele, ele nem sentiu; o fato de estar vivo era o que importava naquele momento.

Alan e Eduardo recuaram, escutando sons extremamente baixos antes de cada sequência de lanças que surgiam e logo desapareciam. Era uma distração, e eles não haviam entendido.

Após um segundo sem nenhuma lança atacá-los, olharam para frente e viram um brilho preto com roxo vindo na direção dos dois — uma flecha de magia escura.

Sem reação para desviar do ataque, os dois apenas esticaram os braços para frente com os olhos bem abertos de medo. Alan utilizou magia de vento com fogo e Eduardo, magia de gelo.

BOOOM!!

As duas magias se misturaram e colidiram com a magia escura de Blacko, formando uma imensa explosão com uma fumaça sombria e tenebrosa que dividiu Blacko da dupla.

Era mais uma distração, utilizando o mínimo possível para alcançar o que precisava.

A fumaça densa se dissipou quando Blacko a atravessou com uma espada de sangue formada em sua mão, indo em direção à cabeça de Alan.


Cinco segundos antes, a foto do celular especial da ADEDA — Associação De Exterminadores De Anomalias — de Luan foi enviada.

Louis olhou para a foto e, apressado, soltou o celular, deixando-o cair, enquanto juntava as mãos rapidamente.

Clap!

De São Paulo, Louis e Katherine se teletransportaram para a Praça Sete e, assim que apareceram, viram Blacko indo em direção a Alan e Eduardo.

Katherine estendeu sua mão, e Blacko passou seu corte no pescoço de Alan, mas sua espada havia desaparecido. Juntamente com o desaparecimento, seu corpo ficou extremamente cansado.

Um olho se abriu no mesmo instante sobre a marca do lado direito de seu pescoço, mas logo foi reprimido, assim como todos os poderes de Blacko.

Eduardo puxou Alan para trás, tentando salvá-lo do corte quando viu Blacko surgir, e avançou.

Shhk!

Decepou o braço do Primordial e rasgou uma parte do lençol com um corte vertical de baixo para cima.

Eduardo sentiu e viu um brilho passar por trás dele.

BOM!

Entendeu rapidamente o que era, desviou para o lado direito, e a magia de fogo misturada com vento de Alan passou por ele, atingindo e explodindo no peito de Blacko, arremessando-o de volta para perto do obelisco.

Sccrrrchh...

Blacko, caído e sem conseguir se regenerar, olhou para Katherine sem entender absolutamente nada.

"Você é igual a ela, mas você não é ela... O que essa garota fez?"

A exaustão aumentou. Sua respiração estava extremamente pesada e seu rosto começou a suar. Com o peso de seus olhos, ele os fechou por alguns instantes.

A imagem dos gêmeos com um sorriso surgiu em sua mente, com seus rostinhos fofos rindo.

Nesse momento, Alan e Eduardo avançaram sobre Blacko, e Louis teve uma visão do futuro, vendo os dois morrerem ao atacar a anomalia.

Assim que a previsão acabou, Louis berrou desesperado:

— SAIAM DAÍ!

Já era tarde demais; o grito apenas fez Blacko acordar de seu sonho acordado.

Levantando-se rapidamente, os dois atacaram Blacko ao mesmo tempo.

O Primordial, sem um de seus braços, desarmou Alan, desviando a espada dele com a mão e o usou como escudo.

Ploch!

No instante em que Eduardo enfiou sua espada, pensando ter acertado a anomalia, acabou atingindo Alan.

Nem deu tempo de notar isso; nos poucos milissegundos em que a espada foi tomada e Alan foi penetrado pelo amigo, Blacko o soltou e cortou as duas cabeças com um movimento de espada.

Louis ficou sem reação, enquanto Katherine continuou com a mão estendida na direção dele.

Blacko começou a andar cambaleando em direção a Louis. O tecido do lençol estava completamente ensanguentado — apenas com o sangue de suas vítimas — e pegando fogo, enquanto sua roupa de sangue preto começava a se desfazer.

Sem conseguir usar sua magia, isso não importava mais.

A cada passo que dava, demorava mais para o próximo. Blacko estava morrendo.

Pahff...

Sem conseguir se regenerar devido ao poder de Katherine, caiu morto no chão, se desfazendo lentamente como uma fumaça preta, restando apenas o velho lençol marrom em chamas.

Louis correu em direção aos corpos e olhou cada um, extremamente abalado, com milhares de pensamentos passando por sua mente.

A única coisa que queria naquele momento era acordar e descobrir que tudo não passava de um pesadelo.

Ele encontrou os restos mortais de todos, mas esqueceu de um.

— Louis...

— Oi? — Ele caminhou até Katherine enquanto enxugava as lágrimas.

Depois de alguns segundos, percebeu que o corpo dividido ao meio à sua frente era de seu irmão.

Pahff...

Ele desabou.

— Não... não, não.

Katherine sentou-se ao seu lado e segurou sua mão.

Enquanto ele chorava, ela o olhava, triste por não poder fazer nada.


Já era noite naquele mesmo dia.

Marta ainda aguardava o retorno de Blacko, muito preocupada. A todo momento, olhava em direção à porta da cozinha, mas depois de um bom tempo, se sentou em sua cadeira de balanço em frente à televisão de tubo e a ligou. Estava passando uma matéria no jornal.

— Nesta manhã, na Praça da Sete de Setembro em Belo Horizonte, houve a morte de oito dos nossos queridos Exterminadores de Anomalias enquanto nos protegiam. Entre eles: Leonardo Teixeira, 19 anos; Sabrina Ribeiro, 22 anos; Taylor Rocha, 17 anos; Alan Queiroz, 17 anos; Felipe Israel, 21 anos; Danilo Souza, 18 anos; Eduardo Valle, 19 anos; e Luan Cardoso, 24 anos. Que Deus conforte o coração de todas as famílias. — O apresentador suspirou, visivelmente abalado, e continuou: — A morte deles foi supostamente causada pela mesma Anomalia que matou cerca de 900 mil pessoas em Belo Horizonte na semana passada. A Anomalia, apelidada de Espada Negra, classificação Calamidade 4, foi derrotada pelos nossos heróis. — Com uma pausa, ele abaixou a cabeça e prosseguiu: — Peço a todos que orem pelas fa...

Marta desligou a televisão enquanto chorava e soluçava, sem reação.

Os gêmeos dormiam no berço ao lado dela, e a marca que estava em Blacko passou para eles, surgindo com sangue preto escorrendo pelos seus pescoços, brilhando da mesma forma que brilhou no pescoço do pai no início do dia.



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