Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 132: Confeiteira

Ainda na sexta-feira, após a finalização da nomeação, o quarto esquadrão foi liberado, assim como o terceiro. Não era necessário que ficassem na escola o dia inteiro como suas supervisoras. Só era necessário estarem lá nas manhãs em que suas supervisoras marcassem uma reuniãozinha.

Podiam passear, ficar em seus apartamentos, podiam tudo, mas assim que recebessem uma mensagem ou ligação alertando de uma missão, tinham que ir imediatamente. Devido a isso, era praticamente obrigatório sempre estarem com o equipamento oficial — o sobretudo, sua pistola e espada.

Helena chegava próxima ao refeitório. Estava fechado naquele dia. O silêncio daquela área da escola era o contrário da área mais próxima do Allianz. Os passos ecoavam com tranquilidade. Olhar baixo. O sobretudo bronze balançando, quando escutou passos mais fortes e apressados vindo de trás.

Olhou.

Era Vinícius... e ele parou na sua frente, com cara de coitado.

— Desculpa por ontem. Eu estava sem cabeça. Estou tendo muitos pesadelos recentemente. Eu tinha acabado de sair de um. Me perdoa mesmo. Não devia ter tratado você daquela forma. Eu juro. Eu juro pela minha vida. Eu nunca mais vou tocar naquele assunto. Nunca mais deixar você irritada ou zangada com isso.

Helena escutava o desabafo em silêncio, olhando-o com expressão indiferente.

— Eu chorei ontem. Tive medo de você não me perdoar mais. Por favor. Por favor. Eu te amo. Me dá mais uma chance. Uma última chance. Prometo que não vou fazer igual. Prometo que não vou deixar minhas vontades passarem por cima das suas inseguranças e preocupações.

Vinícius se ajoelhou, olhando-a no rosto. Sua expressão era de arrependido. Segurava a mão direita dela, mas a menina não dizia nem expressava nada. No final do corredor, atrás, Manoela vinha, pois seguiu o menino. Quando viu a cena, se escondeu e observou de cantinho, sem a possibilidade de escutar.

— Por favor... me dá só mais uma chance, e eu não vou desperdiçá-la...

— Só mais uma — murmurou, mantendo-se firme.

Vinícius se ergueu. O rosto dela estava mais calmo agora. Receptivo, vendo o sorriso do namorado. Mwa... seus rostos se aproximaram, junto de um abraço meigo e calmo... Manoela aborreceu-se e foi embora.


O casal passou um tempo juntos, mas Helena arrumou uma desculpa para ir embora por volta das 12h — depois de comerem um cachorro-quente de uma barraca que se aproveitou da grande circulação de pessoas nas ruas daquela manhã para assistir à conclusão do evento. Queria fazer um doce para comemorarem a nomeação.

Voltou sozinha para o apartamento e nem perdeu tempo. Tirando o sobretudo, o coldre com a pistola e a bainha com sua lâmina fria, começou a preparação do mousse de maracujá que idealizara no caminho.

Com um sorrisão e seus olhos bem abertos, abriu o armário.

— Vamos nessa!

Para não ficar perdida, procurou primeiro o que iria usar para a ganache: chocolate meio amargo e uma caixinha de creme de leite. Pegou uma cumbuca de vidro, Prprprrp... e colocou, medindo com o olho, 300 gramas. Plob... abriu e despejou o creme de leite. Com uma espátula de silicone, misturou tudinho, Tlac... Trac Pi, Pi, Piiii... antes de levar ao micro-ondas para derreter por cerca de um minuto, antes de retirar, misturar e voltar para o aparelho, até que tudo estivesse derretido, homogêneo e consistente na cor marrom chocolate.

Deixou o recipiente de lado e foi buscar o liquidificador para começar a preparação da mousse. Pa-Pa-Pa cortou três maracujás frescos e separou a polpa, colocando-a dentro do aparelho, Pl-Plr... Shua... Vrrrrrnnnm... Colocou um pouquinho de água para facilitar a mistura e ligou.

Desligou instantes depois, e com uma peneirinha metálica retirou o excesso de sementes. Usou um copo medidor para ver se com três maracujás seria suficiente para o gosto que queria e deu 200 ml de polpa batida. Estava bom. Hora de preparar tudo.

Lavou rapidinho o copo para retirar o grosso e as sementes, e, Plo-Plob... jogou dentro duas caixinhas de creme de leite, uma lata de leite condensado, Shiii... cerca de 150 g, medindo no olho, de leite em pó, e os 200 ml de polpa de maracujá.

Vrrrrrnnnm...

Cerca de um minuto depois, desligou e percebeu que a mistura já estava homogênea e linda como queria. Faltava pouco agora. Mas nesse pouco... a pior parte. Caminhou até o armário e buscou uma travessa de vidro. Voltou para a mesa e pegou o recipiente com ganache.

Com uma espátula, fez uma fina camada no fundo do recipiente e algumas marcações nas laterais, como marcas de zebras, dando um charme ao vidro que logo iria contracenar com o mousse, dando água na boca de qualquer pessoa para experimentar aquele chocolate em contato com o elemento principal.

Com uma espátula limpa, para não sujar aquela cor e brilho imaculado da gostosura dentro do liquidificador, despejou na travessa. Já estava um tanto consistente, firminha, mas ainda assim não no ponto certo. Faltava cerca de um dedo para a mousse chegar na borda da travessa, dedo esse que seria decorado mais tarde.

Helena pegou a travessa e levou-a até a geladeira. Queria uma consistência melhor para fazer isso sem que a ganache entrasse no mousse. O tempo passou. Cerca de dez minutos. O mousse ficou mais firminho e foi possível "finalizá-lo" até então.

Despejou a ganache por cima e deslizou com a espátula, deixando as ondas de chocolate iguais a um mar calmo. Tranquilo, sereno, uniforme, lisinho. Com cuidado, levou-o novamente até a geladeira para o último passo... esperar por horas até que aquilo chegasse ao ponto ideal.


21:16.

Passaram-se mais de oito horas desde que havia colocado sua deliciosa receita na geladeira. Estava ansiosa para ver a reação do namorado. Tinha muitas expectativas. No fundo, havia medo de que tudo o que o jovem disse fosse mais uma mentira. Mais uma vez prometendo algo e não cumprindo.

Durante todo o tempo de espera, lembrava-se de todas as conversas com a melhor amiga. Decidiu que aquela de fato seria a última chance. Se Vinícius tentasse de alguma forma apressá-la nisso, seria o fim do relacionamento, mesmo que ficasse muito mal e, no primeiro momento, não conseguisse superar bem aquilo.

Buscou a mousse e, para finalizar tudo, despejou granulado nas bordas da travessa.

Sorriso no rosto. Delícia na mão. Brilho nos olhos. Tudo ficou pronto.

Instante depois, abria a porta do apartamento do namorado.

— Viiiní?

Diferentemente do dia anterior, as luzes da sala e cozinha não estavam desligadas.

Chamou, deixando transparecer ansiedade e expectativa na voz. Colocou com cuidado a travessa no balcão e Vinícius surgiu apressado na cozinha. Estava sem camisa, suado. Rosto um tanto cansado. Ofegava... outro pesadelo?

— Outro pesadelo? — perguntou ela, se aproximando. Ergueu a mão direita, indo até o cabelo molhado do jovem grudado na testa. Afastou, vendo-o ainda ofegante, balançando a cabeça em um "sim". — Você tá fedendo xixi — brincou, com um riso.

Vinícius abaixou o rosto, concordando com a cabeça:

— Acho que me mijei... foi horrível.

— Fiz um mousse pra gente comer! — comentou ela, enquanto ia até os armários buscar duas cumbucas para pegar um pedaço para ambos.

Vinícius puxou um banco e sentou-se.

— Por que gosta tanto de fazer essas coisas? — questionou... mas sua pergunta a machucou um pouco. Ela o olhou.

— Esqueceu que eu queria ser confeiteira?

— Não! Não! Não é isso... é que... Eu fui um otário com você ontem. Eu não mereço isso.

Helena franziu a testa.

— Você me prometeu que vai mudar. Eu te entreguei uma última chance, assim como pediu. Esquece o que aconteceu. Vamos superar isso.

Vinícius olhava-a com olhos abertos, boca entreaberta, meio sem jeito. Sorriu. Fechou os olhos e concordou com a cabeça.

— Desculpa mais uma vez. Prometo que será diferente.

Helena virou-se, pegando as cumbucas.

— Amor...

— Oi?

— Quer sair comigo amanhã? Faz tempo que não fazemos isso.

Helena o olhou bem curiosa.

— Não vai treinar ou algo assim?

— Queria passar um tempo com você... Mesmo que agora em todo momento estamos em horário de trabalho. Tem algum lugar que quer ir?! Dá pra arriscar ir sem os equipamentos, qualquer coisa exterminamos uma possível anomalia que surgir só na magia.

Tac-ac

Colocou as cumbucas sobre o balcão.

Ah... podemos ver isso amanhã. Só de andar por aí juntos já é suficiente pra mim — confessou, colocando o doce nos recipientes enquanto mantinha um rosto meigo e voz suave.

— Tá!

Sentou-se ao lado dele, e ambos se deliciaram com o doce.

— Gostou? — perguntou com muita expectativa.

— Sim! — respondeu sorrindo. — Queria poder te abraçar, mas estou todo suado.

Mwwwah!

Helena avançou com um beijo. Vinícius foi pego de surpresa, mas fechou os olhos aceitando o momento. Pouco tempo depois do beijo sem língua, carinhoso e prolongado, Helena se afastou, ficando de pé.

— Vai tomar um banho então. Amanhã eu quero o meu encontro! — brincou com uma expressão raivosa.

— Amanhã, depois da reunião, nós saímos então, tá? — sugeriu.

— Ok!

Abriu a porta e olhou o namorado uma última vez na noite. O jovem dava mais uma colherada generosa, e ela sorriu com um risinho, fechando com suavidade a porta... Feliz, puxou o celular e, enquanto caminhava contente, mandou um áudio para Manoela.

— Ele cumpriu o que disse! Tô muito feliz!


Brr...

O celular vibrou sobre a cama, mas Manoela estava alheia. Em pé, no quarto de Vinícius, escutou-o voltando e, quando o jovem apareceu...

— Ela já foi? — murmurou, um pouco receosa de que a menina fosse até lá.

— Já! Mwaarrnnn! — respondeu, segurando-a pelas coxas, erguendo-a em sua cintura enquanto as pernas dela o prendiam como uma píton em uma árvore em seu corpo. Beijou-a como um selvagem, sua língua conquistando espaço na boca dela... Houve uma pausa.

Arf-rr...

Hff... O que ela queria? — gemeu arfadamente.

— Trouxe um mousse pra gente comer — respondeu sorrindo, o suor deixando o corpo brilhante.

Manoela sorriu, rindo, Mwaarrhnn... e logo voltaram a se pegar com vontade naquela noite.

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora