Volume 18
Capítulo 1812: Banida da Lua
Desde a destruição do Reino Divino do Mar do Sul e a invasão dos diabos da Região Divina Sul, o outrora pacífico Reino das Sete Estrelas tornara-se, pouco a pouco, um território de caos e violência.
Ainda que os céus estivessem apenas envoltos em trevas e a verdadeira calamidade não houvesse caído, o pânico havia revelado mais uma vez o lado feio da natureza humana.
A loucura e o mal que corromperam os corações das pessoas começaram a dissolver a lei e a ordem. O medo e o crime se espalharam pelo mundo como uma praga, degradando a sociedade num ritmo cada vez mais rápido… e, se continuasse assim, o colapso seria inevitável.
Durante esse período sombrio, sete criminosos andavam pela região, massacrando todos os cultivadores fracos que encontravam. Caçavam-nos como sete lobos famintos por carne. Talvez buscassem acumular recursos suficientes para fugir até a distante Região Divina Oeste, ou talvez apenas estivessem aproveitando o caos para liberar os desejos sombrios e podres que jaziam em seus corações.
Afinal, até os Reinos Reais haviam se ajoelhado diante dos diabos — por que, então, eles ainda precisariam manter a máscara da justiça e da retidão?
Entretanto… naquele dia, essa matilha de lobos escolhera o “alvo” errado.
Em uma noite ainda mais silenciosa e desolada do que o comum, uma mulher emergiu lentamente das sombras.
Ela vestia uma túnica simples de tom ciano-claro. As mangas, feitas de um tecido translúcido e sedoso, deixavam entrever, de modo provocante, lampejos tentadores de seus braços finos e alvos. O cinto de seda verde-água que lhe envolvia a cintura sussurrava de forma sedutora a cada passo gracioso que dava.
Seu rosto… era tão belo que a lua e as estrelas empalideciam diante dele. Sua pele era tão branca quanto a neve recém-caída; seus traços, esculpidos como o mais puro jade; e seus olhos, límpidos como lagoas de água cristalina.
Apesar da simplicidade de suas roupas, da ausência de qualquer ar ameaçador e do leve toque de fragilidade e dor em seu olhar, havia nela uma nobreza indescritível — algo que jamais poderia ter sido gerado por um pequeno reino estelar como aquele.
Nos braços delgados, ela carregava uma garotinha de oito ou nove anos. A criança se assemelhava a ela: o rosto delicado, de jade, era adorável. Segurava-se com força à jovem, como se se escondesse em seu próprio e pequeno mundo.
Os sete lobos malignos que aguardavam nas sombras ficaram em silêncio, atordoados, diante daquela visão etérea. Uma beleza que só existira em seus sonhos agora estava ali, diante deles.
Quando finalmente recobraram o sentido e correram para cercá-la, todo pensamento sobre saques e cristais profundos desapareceu. Restaram apenas seus desejos bestiais e impuros. Queriam profanar e manchar aquela beleza efêmera que o destino lhes havia colocado à frente.
A jovem, porém, não demonstrou nervosismo nem medo. Moveu suavemente seus dedos brancos como jade no ar.
Os sete homens gritaram baixo e, no instante seguinte, tombaram no chão — vivos, mas incapazes de se mover.
Ela não tivera coragem de matá-los diante da irmã mais nova. Mesmo tendo usado apenas um toque mínimo de seu poder naquele breve momento, a energia que emanara de seus dedos… era o poder de um Mestre Divino.
— Irmã mais velha, por que tem aparecido tanta gente má ultimamente? — perguntou a garotinha. Seus olhos não mostravam nem traço de medo; era evidente que aquela não era a primeira vez que se via em tal situação.
A moça de túnica ciana balançou a cabeça e respondeu com voz suave:
— Sempre houve muita gente má neste universo. Mas Wei’er não precisa se preocupar. Ninguém pode nos ferir aqui.
— Sim! — assentiu a pequena, virando-se para sorrir com todo o brilho que possuía. — Não importa quantos homens maus existam, eles nunca vencerão minha irmã mais velha! Eu não tenho medo!
— Ah, é mesmo — continuou animada —, ontem vi o vovô preparando a arca profunda, e também ouvi o papai dizer que iríamos tirar umas férias nos reinos inferiores por um tempo. É verdade?
— Hm, parece que você já descobriu — disse a jovem, sorrindo docemente. — Bem, não se preocupe. Não importa para onde formos, sempre…
Tudo se escureceu subitamente.
O semblante da moça mudou drasticamente — o terror relampejou em seus olhos. Ela empurrou Wei’er para longe e gritou em desespero:
— Wei’er, corra! Rápido! CORRA!
A menina foi lançada para longe, rolando pelo chão até parar. Virou-se, atônita, e viu a irmã pálida e imóvel diante de um homem cuja presença era fria e sombria como um abismo. Ao lado dele, havia uma jovem vestida de preto.
A luz da noite parecia murchar diante da aura opressora e aterradora que emanava daquele homem. Todo o mundo parecia encolher, tomado pelo medo.
— Jovem… Mestre… Yun… — murmurou a moça, como se estivesse presa em um sonho — ou talvez em um pesadelo.
— Jin Yue. — A voz de Yun Che soou fria e áspera. Um sorriso letal se formou em seus lábios. — Quem diria que eu te encontraria num lugar como este… viva e bem. Que surpresa… agradável.
Essas palavras geladas a arrastaram de volta à cruel realidade.
O homem diante dela já não era o gentil Jovem Mestre Yun de outrora — aquele cujo olhar suave fazia seu coração disparar. Agora era o Mestre Diabo do Norte: o homem que destruíra o Reino Divino Lunar, espalhara sua família pelos ventos, matara a própria Imperadora Divina Lunar e mergulhara todo o Reino Divino em trevas e terror.
Seus olhos e corpo tremiam sem controle. Ela se colocou à frente da aturdida Wei’er, envolvendo a menina com os braços trêmulos, e suplicou com voz dilacerante:
— Mestre Diabo… ela é apenas uma criança. Por favor… deixe-a ir. Não precisa se preocupar comigo… eu mesma tirarei minha vida assim que ela estiver a salvo.
O sorriso cruel de Yun Che se alargou. Ergueu a mão direita, e uma névoa negra começou a girar em sua palma.
— Morra — disse, em tom baixo e glacial.
Jin Yue, Lian Yue e Yao Yue — as três servas pessoais da Imperadora Divina Lunar, Xia Qingyue. Entre elas, Jin Yue fora a mais próxima.
Ele havia testemunhado pessoalmente a destruição do Reino Divino Lunar. O poder que o devastara só poderia ser resistido por um verdadeiro Deus da Lua — como, então, Jin Yue, uma Mestra Divina de nível intermediário, conseguira sobreviver?
A menos que… ela não estivesse no Reino Divino Lunar naquele momento!
Mas pouco importava a razão. Agora que a encontrara… ela devia morrer!
Seu ódio por Xia Qingyue e pelo Reino Divino Lunar não conhecia limites. Como poderia poupar Jin Yue — aquela que recebera o maior afeto de Xia Qingyue? Mesmo que, antes da tragédia, ela lhe tivesse deixado uma boa impressão.
— N-não! — Jin Yue apertou ainda mais a irmã e ajoelhou-se, lágrimas enevoando seus olhos. — O Mestre Diabo pode fazer o que quiser comigo… mas imploro que poupe minha irmãzinha. Ela é apenas uma criança inocente!
— Inocente? — O tom de Yun Che tornou-se gélido. Seu semblante se distorceu em ódio. — Tua família é inocente… mas a minha… merecia morrer!?
As palavras a deixaram muda.
A garotinha, tremendo de medo, conseguiu escapar dos braços de Jin Yue e se pôs diante dela, braços abertos.
— Homem mau! — gritou. — Não machuque minha irmã! Não machuque minha irmã!
Seus olhos marejados brilhavam com uma coragem obstinada.
Por um breve instante, algo pulsou no coração de Yun Che… mas desapareceu tão rápido quanto surgira. Com um movimento, ele golpeou suavemente a nuca da menina, que desabou inconsciente nos braços da irmã.
Jin Yue, desesperada, canalizou seu poder protetor no corpo da pequena enquanto suplicava mais uma vez:
— Mestre Diabo, se estiver disposto a poupar Wei’er… Jin Yue lhe servirá como escrava por toda a vida!
Yun Che não respondeu. A escuridão começou a uivar ao redor dele. Mesmo sendo apenas uma Mestra Divina intermediária, matá-la exigiria certo esforço.
— Irmão mais velho Yun Che!
A voz suave ecoou. Sua mão foi subitamente agarrada por Shui Meiyin.
Yun Che voltou o olhar e encontrou os olhos brilhantes dela.
— Pode… perdoá-las? — pediu ela, com doçura.
Ele hesitou por um breve momento.
— Você sabe — respondeu enfim — que os problemas precisam ser arrancados pela raiz, ou voltarão para te assombrar. Além disso, ela não é uma simples sobrevivente do Reino Divino Lunar.
Jin Yue ficou pasma. Por que Shui Meiyin estava intercedendo por ela? Seu próprio pai fora mutilado por Xia Qingyue, e ela mesma fora aprisionada nas profundezas da Prisão Lunar por anos. Ela deveria odiar aquele Reino tanto quanto ele.
— Eu sei — disse Shui Meiyin, com olhar trêmulo. — Mas a verdade é que a irmã mais velha Jin Yue já não pertence ao Reino Divino Lunar. Ela e todo o seu clã foram desterrados de lá pela própria Imperadora Divina Lunar.
Jin Yue arregalou os olhos. Como… ela sabia disso?
Yun Che estreitou os olhos, zombeteiro.
— Desterrada? — murmurou. — A mais querida serva de Xia Qingyue… expulsa por ela mesma? Diga-me, Jin Yue, o que você fez para merecer tamanha “recompensa”?
As lembranças amargas voltaram como lâminas: o olhar frio de Xia Qingyue, suas palavras cruéis… e aquela bofetada que lhe ferira a alma.
— Foi um mal-entendido… — murmurou Jin Yue, a voz embargada. — Eu nunca a traí… jamais fiz nada que a decepcionasse…
Yun Che riu com desdém.
— Um mal-entendido? Que pena. Então vá para o inferno limpar seu nome.
— N-não!
Mais uma vez, Shui Meiyin agarrou sua mão, os olhos marejados em súplica. Para Yun Che, ela era a única pessoa neste mundo a quem ele não conseguia negar nada.
— Meiyin… — disse ele, intrigado — teu pai foi ferido por Xia Qingyue, e tu foste aprisionada por ela por anos. Por que proteger alguém ligada a ela?
— Porque… — Shui Meiyin mordeu o lábio e murmurou: — Durante meu cativeiro, a irmã Jin Yue foi muito boa comigo. Eu realmente… gosto dela.
Yun Che a fitou, incrédulo. Mas Jin Yue estava ainda mais chocada. Ela jamais falara com Meiyin durante o cativeiro… e ainda assim, a garota dizia aquilo para salvá-la.
— Além disso — continuou Shui Meiyin —, minha Alma Divina Imaculada pode enxergar a essência das pessoas. Sei que ela só pensa na família. Nunca será uma ameaça. — Seu sorriso suave cintilou. — Alguém disposta a morrer por proteger a irmã… valoriza a paz mais que tudo. Como poderia ser uma ameaça futura?
A intenção assassina de Yun Che começou a se dissipar. Ele suspirou fundo.
— Muito bem… não a matarei. Apenas destruirei sua força profunda. Seja grata por isso.
— N-não! — Shui Meiyin o segurou novamente, balançando o braço com leveza manhosa. — Já que vai perdoá-la, perdoe por completo! Se tirar o poder dela, ela será intimidada onde quer que vá! A irmã Jin Yue é tão bonita…
Yun Che suspirou pesadamente.
— Você realmente está impossível hoje, Meiyin. Está fazendo isso de propósito?
Ela sorriu docemente, olhos marejados.
— Pode me deixar ser teimosa… só desta vez?
Yun Che sorriu, rendido.
— Se eu estragar o humor da minha preciosa Meiyin por causa de uma desgraçada do Reino Divino Lunar… seria burrice da minha parte.
Ela riu, aliviada — e sua risada soou como sinos cristalinos. Jin Yue, trêmula, mal podia acreditar que sairia dali viva.
Mas então a voz fria de Yun Che ressoou outra vez:
— Ainda assim… ela precisa pagar.
Ele moveu a mão, e uma rajada de vento a arrastou até ele. Jin Yue apenas teve tempo de empurrar a irmã para longe antes de ser lançada contra Yun Che.
Ele a agarrou pelo pescoço, os dedos afundando em sua pele gelada.
E então — rip! — suas vestes se desfizeram em pó.
A pele de Jin Yue, tão alva quanto jade polido, tremia sob o toque gelado e impiedoso de Yun Che. Ela não gritou — seus olhos, contudo, refletiam o desespero de quem via o próprio fim se aproximar. O vento noturno cortava como lâminas, mas o que congelava o ar era a aura sombria que o cercava.
A força demoníaca em seu corpo estava prestes a ser liberada, e qualquer um com um mínimo de sensibilidade sentiria que bastava um pensamento dele para apagar completamente a existência daquela mulher.
— Isto… — a voz de Yun Che soou rouca, tingida de ódio e algo mais profundo — é o preço por ter servido àquela mulher.
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