Volume 1
Capítulo 42: Roubo e Furto
Xu Yun pegou o manuscrito, com seus gestos tingidos por um senso de ironia desesperada. — Tempos desesperados exigem medidas desesperadas — murmurou para si mesmo.
A ideia de que um estudante de uma faculdade de artes pudesse resolver o complexo problema dos cristais de gelo era tão absurda quanto imaginar Van Gogh consertando uma máquina de litografia. Mesmo assim, Xu Yun ajustou os óculos e começou a examinar o manuscrito com atenção intensa.
A princípio, achou que o jovem apenas tinha feito uma pesquisa boa. No entanto, à medida que se aprofundava, sua expressão ficava cada vez mais séria.
— Ele entende isso? Como chegou a essa conclusão? — Xu Yun murmurou, incrédulo.
Limpou sua mesa de laboratório abarrotada, colocou o manuscrito bem à sua frente e se sentou ereto, pronto para mergulhar nos detalhes mais minuciosos.
— Falta algo aqui... — murmurou, intrigado. — Como ele chegou a essa conclusão? O processo parece um pouco desconexo, mas de alguma forma se encaixa.
O manuscrito parecia fragmentado e um tanto incompleto. Ele o folheou com cuidado, verificando se alguma página foi colocada fora de ordem ou se algo faltava. Não encontrando nada, coçou a cabeça e continuou sua análise.
Gotas de suor começaram a surgir na testa do Xu Yun conforme prosseguia. — Este manuscrito... é realmente extraordinário!
Como profissional experiente, ele reconheceu logo nas primeiras páginas que, apesar dos saltos lógicos e algumas falhas, esse era um trabalho legítimo de pesquisa. Não era uma invenção ou coisa de amador; havia dados experimentais e parâmetros científicos reais sustentando cada parte.
A primeira parte do manuscrito era simples, cobrindo conceitos básicos. Mas, nas seções seguintes, apareceram ideias inéditas que Xu Yun jamais tinha considerado.
Virando outra página, ele se deparou com seções densas em equações químicas, fórmulas, estruturas moleculares e dados experimentais; esse era o tesouro que ele vinha buscando!
Sem hesitar, Xu Yun entrou em ação. Esvaziou a mente e começou a seguir meticulosamente os dados experimentais e os procedimentos descritos no manuscrito. Ele encontrou parâmetros detalhados e fórmulas de reação, o que permitia uma replicação direta.
Embora algumas equações parecessem desconexas e tivesse lacunas no método, o conhecimento profundo do Xu Yun na área lhe permitia preencher essas falhas intuitivamente.
Não demorou para ele preparar a substância anticristal de gelo, supostamente capaz de se ligar profundamente às moléculas de água. Xu Yun ajustou o microscópio e a câmara de congelamento, pronto para conduzir um experimento com células vivas.
Respirando fundo, deu início à redução de temperatura na câmara de congelamento.
3 °C, -8 °C, -17 °C, -27 °C...
Conforme a temperatura despencava, o coração do Xu Yun disparava. Cristais de gelo começaram a se formar nas paredes de vidro da câmara, mas as células vivas sob o microscópio permaneciam ativas. O citoplasma ainda fluía lentamente, sem sinais de congelamento ou cristalização.
Xu Yun ficou atônito. — Tragam o nitrogênio líquido! — exclamou, para logo lembrar que não tinha assistente. Correu até a sala de armazenamento, pegou uma garrafa de nitrogênio líquido e o introduziu cuidadosamente no sistema.
O nitrogênio líquido, com temperatura em torno de -200 °C, representa um frio extremo que poucas substâncias conseguem suportar. Ao incorporá-lo ao sistema, a temperatura na tela do computador despencou.
-87 °C, -156 °C, -187 °C...
Finalmente, estabilizou em -191 °C. No microscópio, as células vivas quase não se moviam, mas ainda não estavam congeladas. Movimentos minúsculos eram detectáveis, e o fluido intracelular não apresentava sinais de cristalização; fluía muito lentamente.
— Sem cristais de gelo... sem cristais de gelo! — Xu Yun exclamou, quase incoerente de tanta emoção. — A -200 °C, as células ainda estão ativas sem formar cristais de gelo!
Dominado pela emoção, Xu Yun desabou no chão. Anos de frustração, incontáveis fracassos e uma década de isolamento profissional invadiram sua mente. Pensou na filha, frágil e acamada.
— Yi Yi... papai finalmente conseguiu...
Levou alguns instantes para se recompor. De pé novamente, segurou o manuscrito do Lin Xian como se fosse um texto sagrado. O experimento tinha validado sua veracidade.
— Resolver o problema dos cristais de gelo significa que estamos a um passo de aperfeiçoar o fluido da câmara de hibernação. — Percebeu com entusiasmo. — Este manuscrito resolveu o problema dos cristais em apenas duas páginas... o restante deve conter a fórmula e o método para preparar o fluido da câmara.
Mas uma questão maior pairava na sua mente.
— De onde veio este manuscrito?
Xu Yun sabia sem sombra de dúvida que Lin Xian, o rapaz que entregou o manuscrito, não era o pesquisador original. Era sofisticado demais para alguém apenas transmitir informações.
— Lembro que... o nome do rapaz era Lin Xian?
Lembrando da conversa que teve com ele.
— Você entende de tecnologia de hibernação?
— Só o básico...
— Onde conseguiu essas informações?
— Isso eu não posso revelar.
— Não pode revelar?
Xu Yun andou de um lado para o outro no laboratório, imerso em pensamentos. Lin Xian jamais disse que o trabalho era seu e até admitiu seu conhecimento limitado.
Logo, o manuscrito só podia ter vindo de outra fonte.
— Lin Xian deve ter recebido isso de alguém! — Xu Yun especulou.
Considerou duas possibilidades:
- Lin Xian foi encarregado por alguém de entregar o manuscrito.
- Lin Xian tinha copiado ilegalmente dados confidenciais de um instituto de pesquisa estrangeiro.
— Ambas as hipóteses parecem improváveis.
Xu Yun franziu o cenho, ainda tentando entender. Sabia que, no país, ninguém além dele mesmo estava pesquisando tecnologia de hibernação. Se um cientista de ponta quisesse ajudá-lo, por que fazer isso de forma tão indireta?
E quanto a roubar segredos de um instituto estrangeiro? Lin Xian não era um espião capaz de tamanha façanha.
Por ora, esse mistério permanecia sem resposta.
Xu Yun voltou sua atenção para o manuscrito, concentrando-se nas fórmulas químicas e moleculares. Se seguisse os passos exatamente como descrito...
— Será que eu realmente consigo criar o fluido da câmara de hibernação de primeira?
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