Volume 1
Capítulo 1: frio
Mal me recordava dos bons tempos.
“Eu rezei por salvação quando não podia lutar por mim mesmo, rezei quando eles tiraram meu lar, minha mãe e meus irmãos de escudo, agora eu amaldiçoo deus.”
(...)
Tudo rodava ao meu redor, neve caía sobre minha pele me lembrando do frio. O som do metal chocando-se e os rugidos distantes formaram uma sinfonia caótica.
Tentei compreender meus arredores, corpos se estendiam por toda a imensidão congelada, a brisa salgada me revelou uma figura enorme, envolta em pele de urso e segurando um martelo de guerra.
O ar gélido estava dilacerando meus pulmões, eu lutava para respirar; o aroma de sal e ferro só intensificaram a dor. O sangue escorria das inúmeras feridas, acentuando o frio cortante. Em meio ao caos ensurdecedor, pude compreender algo: odeio frio.
Minha cabeça foi colocada no lugar. Tentei me erguer, porem uma silhueta em minha frente me golpeou, esmagando minha armadura e costelas. O impacto brutal fui arremessado a metros de distância, deslizando pelo gelo traiçoeiro.
Passos lentos e pesados anunciaram meu fim, arrastando seu martelo de guerra. Sua expressão, era neutra, sem dor, ódio ou medo; eu não era digno de tais emoções.
Jogado ao gelo, lutei para me levantar, engasgando com meu sangue varias vezes, tentando consumir o pouco de sonho que me restava.
— K… a… y… — lutei para falar entre engasgos.
Esse deveria ser meu fim. Eu Não tinha força sequer para gritar; como tantos outros soldados, seria esquecido; minha dog tag enterrada entre corpos. Estava pronto para abraçar a morte, no entanto, algo se recusava a ceder.
Encarei o martelo que descia; um instante eterno esticou-se como horas, entrelaçando o desespero pela vida e o pavor da morte. Um manto feito de chamas carmesim me envolveu, aquecendo minha alma. O golpe que deveria ter destroçado minha cabeça foi detido, como se houvesse colidido com uma parede impenetrável.
— y tân yn amddiffyn [armadura de agathys]. — cuspi sangue a cada letra.
Fui atingido com violência, no entanto, não senti a dor; as chamas da armadura se apagaram saltando sobre a parede de músculos, o forçando a recuar alguns passos.
A adrenalina me invadiu como uma maré brusca, mas logo retrocedeu. A cada piscar, minhas pálpebras pareciam chumbo, a parede, agora chamuscada, aproximava-se, engolindo a tudo com sua sombra.
Seria esse o fim? Apenas um vazio eterno me aguarda?
— KENSHU!!! Não te dei permissão para morrer aqui! — Uma voz imponente tomou toda a atenção para si.
Sem dúvidas, era Kay. O capitão veio em meu auxílio, empunhado uma espada grande com as duas mãos. Seus movimentos foram ágeis e precisos; ele saltou rachando o gelo. Sem misericórdia alguma, o crânio do brutamontes foi aberto.
O lampejo de bravura do capitão fez com que meu corpo finalmente cedesse ao descanso; mesmo à beira do colapso, posso deixa tudo sob os cuidados do único humano digno de respeito.
(…)
Acordei com meu coração martelando contra o peito; num instante pulei sobre um pedaço de madeira, segurando com firmeza, levantando-me bruscamente e examinado os arredores escuros, buscando o perigo em cada canto. À medida que minha visão se ajustava a escuridão, soltei minha “arma” e desabei.
— Sempre o mesmo — resmunguei.
Apenas esse maldito campo de batalha permanecia constante em minha
mente.
— Que frio nê? — joguei minha pergunta ao nada.
Desmoronei em meu colchão sujo, Coçando Minhas cicatrizes na tentativa de
aliviar a dor. Mesmo após tanto tempo, elas persistiam. A lama fria sobre a qual eu estava não ajudaria.
— Será que temos cerveja sobrando? — falei para o nada, esperando uma resposta.
Enquanto encarava o lugar onde o céu azul deveria estar, somente as mesmas Nuvens negras que me acompanhavam desde que me entendo por elfo. — Sempre me perguntei, Lua não nos vê? Ou apenas nos ignora? O que acham… — após um breve intervalo me virei para o lado.
Olhei para o meu braço onde estavam, 2 dog tags… se eu pudesse dar meu corpo para mudar minhas escolhas, faria sem medo.
— Acordem soldados! — a voz repulsiva de Kay encheu o ambiente.
Um som de trombeta rasgou o ar, anunciando para todos. Hoje será o fim. Me levantei com os olhos secos, entrando em posição, observei o capitão.
— Todos em formação! Hoje será um grande dia! Tratem de sobreviver! — ordenou o capitão.
— Te odeio… — cocei a cicatriz em minhas costelas.
— SIM, SENHOR! — o grito do regimento ecoou entras as cadeias de montanhas.
— Será uma luta gloriosa e todos seremos heróis! — um dos humanos falou com um sorriso em seu rosto.
— Venceremos onde nossos ancestrais falharam!
— O que faram depois? — um homem jovem falou com um sorriso no rosto.
— Vou voltar para o campo, minha esposa estava gravida quando sai de casa.
— Casa…
— Continuarei servindo! Garantirei que esses seculos de guerras nunca mais aconteçam.
— Arrogância… tipico — Minha voz escapou com um tom amargo.
Finalmente eu vou poder ser feliz? Sem lutar guerras de outro… me perdi
em devaneios.
(…)
— Marchávamos em direção ao fim com um sorriso no rosto; ninguém se preocupou de se lembrar de nossos nomes.
— Senhor — disse uma voz cansada.
— Depois de todo aquele sofrimento, cortei os poucos laços que tinha como soldado e agora vivo apenas por min.
— Senhor…
— Fui um grande soldado; durante a guerra, lutei por esse reino. Mereço mais, não acha?
— Senhor! Não posso alugar um quarto por menos que 1 peça de ouro — Balbuciou O velho dono de uma pousada xexelenta.
— Merda! Isso é um absurdo! Essa pousada não vale tanto. — Sai da estalagem, um sol laranja de fim de tarde ofuscou meus olhos.
— Volte quando tiver dinheiro! Seu elfo pé-rapado! — gritou o maldito velho.
— Esse e o estado do grande “herói”?
Agora reduzido a um pé-rapado. Após essa guerra de merda, o que pensaram que faríamos? O que eu pensei? Não sobraram muitos lugares para nós…
— Humanos nojentos se achando donos de tudo. — amaldiçoei até seus filhos em um tom baixo.
(…)
Ao vagar sem rumo e Sozinho com meus pensamentos, avistei uma
pequena taverna. Voltarei quando conseguir algumas moedas.
Observava as pessoas seguindo suas rotina: mães com seus filhos, guardas marchando e mendigos pedindo esmolas, alguns exibindo dog tags em seus pescoços, já outros tinham a mostra braços e pernas completamente escuros, uma marca da maldição.
Ao olhar melhor, percebi que as coisas poderiam ter sido muito piores; observei as 3 pequenas placas de metal em meu braço esquerdo. Tudo que pude fazer foi sorrir e fechar meu rosto logo em seguida.
— Sinto falta de vocês — murmurei.
Permaneci imóvel por alguns instantes, encarando meu braço enfaixado. Afastei o tecido ligeiramente, revelando um braço escuro e magro, tocando-o levemente, meus pelos arrepiaram e uma dor gélida percorreu meu corpo.
— Preciso beber e queimar sonho…
Me distanciei da multidão, indo para a parte nobre da cidade, os prédios começaram a ficar espalhados, grandes casas com fachadas reluzentes e jardins bem cuidados.
Um pouco de álcool seria bem-vindo, porem preciso das belas moedas prateadas para isso, certo Kenshu, vamos pensar… uma pequena maça rolou até meus pes.
— Ah, minha lua — disse uma voz fraca e cansada.
Uma senhora em roupas simples, estava caída no chão, ao seu lado diversas sacolas com frutas e legumes, escoria humana… meus olhos se fixaram em uma pequena bolsa de couro.
— Segure minha mão, lady — forcei um largo sorriso e ajudei a pobre velha a se levantar.
— Muito obrigado, meu rapaz — ela disse em uma voz rouca.
— Permita-me ajudar.
Me ajoelhei preenchendo as sacolas com as frutas que haviam caído, as entreguei para a humana ainda com meu sorriso esticado. Meus dedos ligeiros guardaram a bolsa de moedas em meu bolso. Eu quase senti pena dela.
Duas pequenas coisinhas de cabelos encaracolados surgiram, auxiliando a velha, segurei a sacola com força. Coloquei a bolsa em uma das sacola e a entreguei para as crianças. Ambos me olharam confusos, mas antes que pudessem falar sumi em meio as ruas tortas.
Antes de sumir completamente, pude ver um sorriso gentil e verdadeiro no rosto das crianças.
Kenshu kenshu, isso não é bom para os negócios. Retirei um papel do meu bolso. “Nobre local sendo traído pelo padeiro” uma informação quentinha.
(…)
Chegando a uma praça, observei o monumento ao “rei bastardo”. Uma grande estatua de mármore se erguia ao centro; o tolo possuía feições delicadas e era magro, como se pudesse se quebrar ao menor sopro de vento. Certeza que suas mãos nunca tocaram em uma arma.
— Racinha patética. Onde nosso rei está? — cocei minhas cicatrizes e encarei a estátua por um instante.
Olhem para o herói: bolsos furados, caduco, e para piorar, meu cantil está sem uma gota de álcool. Minha atenção é roubada por um homem Vestido com roupas azuis, poderia sentir seu perfume do outro lado do reino.
— Pontual como estava escrito.
Sua aparência batia com a descrição que ouvi pelas ruas: rosto redondo, gordo e bigodudo. O anel de casamento em seu dedo ajudou a confirmar minhas suspeitas. Sem perder tempo, levantei-me, andando em sua direção, calmo e sorrateiro. Vamos ao trabalho.
— Licença, meu senhor, você seria o marido da madame… nossa, o nome me fugiu. — o cumprimentei me curvando levemente.
— Alice? — o homem falou, me olhando da cabeça aos pés.
— Exatamente. Sabe, não gosto de seguir boatos… — abri um sorriso largo de orelha a orelha.
— Boatos? Desembuche elfo — o homem exigiu.
— Quando ouvi falar que sua esposa estava se envolvendo com um homem de classe menor. Traindo um homem tão respeitoso, senti a necessidade de alertá-lo.
— Isso é impossível… com quem ela poderia fazer isso? — o nobre começou a tremer.
— Foi Claramente o padeiro, aquelas mãos servem para muitas coisas.
— Isso não pode ser verdade… Maldito Baker! — os olhos do homem iam de um lado a outro.
— Se desejar, posso seguir sua esposa e confirmar ou negar esses boatos, é claro, por uma pequena taxa.
— Aqui estão 5 moedas de prata; se confirmar, pagarei mais! — o homem enfiou a mão em seu bolso deixando as moedas caírem no processo.
— Farei um trabalho magnífico, meu senhor. — Mordi as moedas de prata para confirmar sua veracidade.
Andei pela cidade e a noite caiu, um lugar me chamou a atenção: a pequena
taverna. Talvez uma caneca ou duas e, em seguida, ao trabalho.
(…)
Abrindo as portas, meu olfato captou o aroma terroso misturado com
grãos digno de minhas moedas, andei com minhas pernas impacientes, tomei uma mesa ao canto.
Uma mulher elfa usando um longo vestido branco e verde se aproximou.
— O que deseja senhor?
— Talvez você, mas por enquanto algumas cervejas.
— Hihi. — a doce elfa se afastou buscando canecas com o elixir da vida.
— Passaram a aceitar cachorros nessa taverna? — disse um humano com um rosto quadro.
— Aqui estão suas bebidas. — minha atenção se voltou para a deliciosa bandeja com 3 canecas.
— Obrigado docinho, que horas esta livre?
— Hihi… — sua doce risada foi interrompida.
— Ei! Cadela elfica! Nos sirva! — um grupo de humanos berrou como animais loucos.
— Com licença… — com um olhar baixo, a elfa caminhou até a mesa.
— Deixe-me lidar com esses baderneiros — dei uma piscada e fui em direção à mesa dos porcos.
— Senhor?
— O que foi? — os humanos me encararam.
— Queríamos a elfa bonitinha, não você! — disse o humano de rosto quadrado.
— Racinha medíocre, vocês não merecem ficar aqui.
— Haha! Olhem pro… — o interrompi
Saquei minha espada e a pressionei levemente contra o peito do homem de rosto quadrado. Estava me preparando para as glórias que iria receber, porem recebi um tapa em meu rosto.
— Por favor se retire… — a elfa segurou minhas roupas, me encarando.
— Ninguém quer você aqui! — os outros humanos da taverna gritaram.
— Elfo nojento!
— Escoria!
— Mas eu… eu… — antes que pudesse falar, copos começaram a ser jogados em min.
Apressadamente me retirei da taverna, o frio da noite me abraçou. Pus-me a vagar novamente, talvez eu devesse começar meu trabalho, mas outra taverna se colocou em meu caminho. Meu rosto ainda ardia, cerrei os dentes e uma fumaça vermelha escapou da minha boca.
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