Volume 2 – Arco 5
Capítulo 60: Viagem pelo Rio da Criação
Coração da região de ||LHASA||, nos arredores do ||PORTO DE STRONGHOLD||...
PLAYER: [Juniorai]
— Ainda vai demorar muito?!
— Como você reclama, garoto! Seria mais rápido se você viesse e me ajudasse.
— Já se esqueceu que tô algemado, desgraça? — reclamei, levantando os pulsos bem alto para que ela visse.
— E eu com isso? Suas mãos estão algemadas, não quebradas.
Ainda estamos no ||PORTO DE STRONGHOLD||, penando para arrumar as coisas para sair. Foi uma surpresa enorme encontrar a Letícia naquele fim de mundo, justo quando perdi a única pessoa que eu conhecia e que podia confiar.
Já a Letícia eu conheço, mas sem as memórias, não posso confiar.
— Temos que chegar em ||LACUNA|| o mais rápido possível e você está me atrasando! Ainda não entendo o que a General quer tanto com você.
— A Thays? Ela que te mandou vim atrás de mim?
Letícia se aproximou de uma vez e agressivamente, me jogando contra a parede. Esqueci que, para a nação de onde eles vieram, a Thayslânia é praticamente uma deusa a qual se deve dar todo o respeito caso você queira manter a cabeça colada ao corpo.
— Para você, é General Thayslânia. E ela disse que queria que levássemos você sim, mas não foi por isso que vim.
— Imagino que você não vá me contar também, não é?
— Garoto esperto — rebateu Letícia, me empurrando para o barco. — Agora anda. Não temos muito tempo.
Deixamos o porto e o barco seguiu o fluxo do rio que, segundo meu mapa mental, tinha o nome de ||RIO DA CRIAÇÃO||, exatamente no centro de todo o grande mapa do continente. Literalmente dividindo-o ao meio.
Durante a viagem, Picker não parava de se mexer um segundo debaixo da brafoneira, à beira de um colapso. Aproveitei a calmaria da viagem para voltar a chegar minha ficha de status.
FORÇA: 170(100) CONSTITUIÇÃO: 120(80)
DESTREZA: 50(0) SABEDORIA: 70(20)
ESPÍRITO: 95(35) HP: 1190 / 1250
- Lv.39 - MP: 320 / 320
<SEM STATUS ADICIONAIS>
(...)
<EFEITOS NEGATIVOS:
—
Além dos níveis adicionais, e de ter me livrado da fome que lentamente drenava meu HP, nenhuma mudança drástica nos meus atributos foi feita. De item, uma //POÇÃO DE CURA (G)//, alguns //SINALIZADORES//, //CORDA VELHA//, //DISPOSITIVO DE RETORNO(DR)//, //BARRA DE VULCARION ENERGIZADA//, //INSTRUÇÕES DE BJORN//.
Além, é claro, do //FRAGMENTO DA ALMA//.
Depois de ter conferido todos os itens, minha mente ficou largada, viajando longe. Uma hora eu pensei em tudo o que tinha acontecido em ||BASIN-C||, sobre nosso encontro com a mulher de capuz misteriosa com um dos fragmentos.
E também, seu aviso travestido de ameaça, o qual se impregnou na minha cabeça.
Daqui a exatamente um mês, todo esse continente irá ser destruído e algo novo irá renascer! Um paraíso governado pela Deusa Salvadora!
O que vai acontecer em um mês que vai causar a destruição do continente? Isso tem a ver comigo e com os meus amigos? Quem seria essa tal de Deusa Salvadora?
Perguntas, perguntas, perguntas...
Bom... a única forma de obter respostas para elas seria voltar a contatar o Coruja, mas... como fazer isso? Será que eu tinha que passar por mais uma experiência de quase morte como foi em ||BASIN-C||?
Não adiantava pensar nessas coisas, principalmente depois que Arthur foi levado por uma nação rival. O que eu tinha que resolver agora era como manter minha própria pele à salvo por tempo o bastante para salvar a dos outros. É isso que eu tinha que pensar agora.
— Que foi, tá enjoado? — Letícia se aproximou, vindo pelo convés.
— É... mais ou menos.
— Quando chegarmos a ||LACUNA||, você ficará em uma cela até que recebamos ordens para leva-lo para ||AMINAROSSA||.
— Ou seja, vai decidir se sou perigoso ou não, útil ou não.
— Vejo que entende as coisas rápido. Ótimo. Vai facilitar muito nossa dinâmica. — Suas palavras saem duras e diretas.
— Eu não sou uma ameaça à sua nação, se quer saber — declarei, aumentando a voz.
Ela me olhou por cima do ombro, sem se dar ao trabalho de virar-se, e encerrou aquela breve conversa, dizendo:
— Isso não sou eu quem decide. — Letícia volta para a cabine do capitão.
Suspirei, Picker conseguindo uma brecha para sair debaixo da brafoneira e voar ao meu redor como um besouro desorientado e louco. Sua asa de anjo despenou conforme tentava se manter no ar.
— Wiiwiwiwiwiii!! Wiwiwi!!
— Que foi, Picker?! Infelizmente, o cara que te entendia foi embora, então não adianta apitar no meu pé do ouvido que eu não vou entender nada.
Picker piscou várias vezes até disparar um raio em uma das paredes de madeira do convés, projetando imagens diversas. Me encolhi no canto do convés, desejando que nenhum dos marujos reparasse naquele data-show com asas.
Decorrido isso, uma mensagem pinga na minha cabeça, o famoso e claro sinal sonoro de que o jogo reservava algo para mim — e quase nunca era algo bom.
|– MENSAGEM DO SISTEMA –|
– NOVA [MISSÃO PRINCIPAL] DISPONÍVEL! –
– SOBREVIVA À EMBOSCADA! –
|– VOCÊ NOTOU MOVIMENTAÇÕES ESTRANHAS? SIM (x) NÃO () –|
—
|– MAIS DETALHES... –|
E-e-emboscada?! Vamos sofrer uma emboscada e o jogo tacou isso na minha cara, sem mais nem menos?! E que tipo de condição é essa? Seria mais uma escolha que demarcaria uma rota dentro da lore daquele mundo? Pelo SIM negrito, confesso que eu tinha medo de seguir essa orientação.
Me lembrei de vários casos parecidos com a situação atual. Na ||CIDADE DOS COMERCIANTES|| e em ||BASIN-C|| mais recentemente. Escolhas as quais eu não poderia fugir.
Escolhi o sonoro SIM.
A princípio, nada pareceu mudar. Comecei a raciocinar rapidamente, me dando conta de que ainda estava algemado e sem minha arma, tendo somente à minha disposição uma bola olhuda e dourada com asas para arremessar.
Estávamos em um barco, no meio de um rio que mais parecia um oceano dentro do continente, longe qualquer margem de um lado ou outro. Por onde seríamos emboscados?
— Ah, merda. Picker, a gente tem que avisar a Letícia...
Quando pensei em levantar, prestei atenção em alguns dos marujos que passavam pelo convés, aparentemente, fazendo coisas comuns. Alguns deles me lançavam olhares suspeitos e outros cochichavam.
Droga! Será que é o Culto Manju de novo? Ou...?
Não tive tempo para pensar antes que a cabine do capitão explodisse. O clarão me fez desviar o rosto e eu rolei pelas tábuas do convés até bater as costas em um barril. A proa do barco emergiu alguns centímetros da água com o sopapo da explosão.
— Essa não! Letícia! — gritei.
— Wiwiwiwiwiwiiii!! — Picker piruetou ao meu redor, assombrado.
Entretanto, para a minha surpresa, as chamas se dissiparam de uma vez e, no lugar, um imenso pilar de gelo cresceu, alcançando a vela maior do navio. Os marujos, assustados com o que aconteceu, deixaram as aparências de lado e vieram para cima de mim.
— Droga!
Olhando para eles rapidamente, consegui ver o que eram agora.
TIPO DE MONSTRO: SOLDADO DE VANGUARDA ANDRALINO
NÍVEL: 50
HP: 15000/15000
HABILIDADE: IMOBILIZAR
Soldados Andralinos! Os mesmo que levaram Arthur e, agora, pensando que somos Aminarosianos, estão fechando o cerco. Que hora péssima para ser emboscado no meio dessa guerra!
O primeiro sacou sua espada afiada que reluziu a centímetros do meu rosto. Desviei dos dois primeiros golpes até o terceiro, vindo de outro soldado atrás, armado agora com uma lança, raspar na minha costela.
Estalei a língua e agachei, sentindo meu joelho debilitado trincar com a manobra, me arrancando um grunhido. Girei o tronco e estendi a outra perna, dando uma rasteira no soldado com a lança.
Um terceiro soldado veio deslizando pelos cabos da vela maior e mergulhou com a espada apontada para minha cabeça. Dei um curto salto para trás para escapar dele, mas acabei trombando num caixote de mariscos atrás e desequilibrei.
Merda! É muito difícil ter qualquer noção de espaço e localização quando o próprio chão embaixo de você está se mexendo, pra cima e pra baixo. No chão, eu era uma presa fácil para eles.
O soldado andralino veio pra cima, seu rosto exalando pura maldade e brutalidade. Ele levantou a espada para dar o golpe de misericórdia quando algo atravessou bruscamente seu peito, empurrando de leve se corpo pra frente.
U-uma... flecha? De gelo?
Outra e mais outra vieram zunindo no ar, cada uma acertando um dos assassinos e os abatendo facilmente. O projétil cristalino se estilhaçava momentos depois de atravessar o alvo, deixando somente um buraco sangrento no lugar.
Olhei rápido para cima. Letícia veio deslizando pelas cordas e cabos, até aterrissar graciosamente no convés destruído. Mesmo com a explosão inicial, ela estava inteira. Seu HP cheinho e imaculado.
— Aí, que susto, desgraça! Eu quase...
— Você armou isso? — Letícia veio pra cima de mim com sangue nos olhos.
— Eu?! Eu quase morri também!
— Então, como eles descobriram a nossa...?
— Acho que vai ter que descobrir isso depois! Olha! — Joguei o queixo para o lado.
Mais duas embarcações emparedaram com a nossa, um pela direita, outra pela esquerda. Ambos os navios estavam entupidos de soldados até a proa. Na lateral dos cascos, bocas de canhões miravam nosso navio.
— Merda! Temos que sair daqui ou então...
— Eu cuido deles.
— Você o que?
Ela puxou a corda imaginária de seu arco de gelo, uma flecha cristalina gigantesca se formando ao lado enquanto a temperatura do ambiente em volta caia e caia.
— |MÍSSIL CRISÁL...|
Eu a empurrei com o peso do corpo para o lado. Quase ao mesmo tempo, a parte do convés onde estávamos, quase chegando na proa, explodiu. Vários pedaços de madeira queimada saíram voando e, se eu não tivesse empurrado ela, não seria só tábuas que iriam pelos ares.
—Qual o seu problema?! Eu ia cuidar disso! — berrou ela.
— Ia uma porra! Eu te salvei! — gritei de volta, mostrando os pulsos unidos por fitas metálicas resistentes. — Agora me solta e me dá me arma para eu poder lutar também.
Pontes de madeira foram plantadas entre as amuradas dos barcos. Os soldados fizeram fila para invadirem o nosso. Letícia se preparou para a luta e Picekr voou o mais alto possível.
Bola olhuda cagona!
— Ei! Me desamarra logo, vai!
— E se você tentar fugir?
Outro impacto acertou violentamente o navio, fazendo nós dois cair. Pelo outro lado, quatro soldados já pulavam para o navio, suas espadas em riste. Eu já podia sentir nossa embarcação desacelerando.
— Se você não fizer isso, vamos acabar capturados ou pior... mortos! Então, você tem que confiar em mim!
Letícia apertou os olhos e mordeu o lábio inferior, olhando para os soldados invadindo o barco que estava sendo afundado. Com mais uma explosão, essa explodindo boa parte do casco, Letícia me deu sua resposta.
— Tá! É melhor não tentar nenhuma gracinha ou vai se arrepender, ouviu?
— Certo! Anda logo com isso!
Letícia me desamarra, desfazendo rapidamente os nós e procuro minha //WINGSLASH//, repousando dentro de um barril tombado. O machado vibrou quando o uso para aparar um golpe de espada que veio do primeiro soldado andralino.
Para a minha sorte, tanto eles quanto nós estávamos sem apoio nenhum e por isso foi muito fácil desarmá-los com uma arma maior. Usei o |REDUZIR CARGA| para diminuir a pressão do giro de uma arma grande como aquele machado e manter meu equilíbrio durante a troca de golpes.
Letícia aproveitou as janelas de um contra-ataque e outro, uma esquiva e um bloqueio para atirar suas flechas congeladas e abater os soldados. Aqueles, diferente dos que fingiam ser marujos em nosso navio, usavam armaduras reforçadas, então um tiro não foi suficiente.
— Vamos para o navio da direita! — gritei.
— Quê!? Pro meio deles? Tá louco?
— Esse navio vai afundar daqui a pouco! É a nossa única chance de escapar!
A contragosto, ela aceitou. Abrimos caminho por uma das pontes que levavam ao navio inimigo da direita. Enquanto corria na frente, Letícia me dando cobertura atrás, usei o |REPELIR| para formar uma onda que arremessasse quem estivesse na frente na água.
Dessa forma foi relativamente fácil chegar até o outro navio. Cercados por inimigos, o objetivo era chegar ao lugar mais alto de lá: O castelo da popa.
— Me ajuda aqui!
— Tá. Espero que saiba o que está fazendo!
— Eu tô... improvisando! Hunf!
— Quê?! Você vem me dizer só agora, desgraçado?
Conversávamos casualmente enquanto trocávamos golpes com os soldados inimigos, desviando, bloqueando, atacando. Uma dinâmica bizarra que eu não esperava ter com ela, mesmo se ela estivesse com as memórias.
Superamos as escadas que levavam à tolda e o leme estava logo à frente. Enquanto movemos os barcos na direção da margem, Letícia usou uma de suas habilidades para ganhar tempo.
— |ESQUIFE DE GELO|!
Um paredão cristalino se formou quando a flecha atingiu a madeira. Soldados foram congelados, outros saíram voando. Os pilares de gelo se levantaram bem no meio de uma das duas escadarias que conduziam ao castelo da popa, então isso comprou muito tempo pra gente.
— Lá! Lá está a margem! — Letícia aponta para a faixa marrom surgindo entre a neblina aquática do rio.
Essa era a nossa deixa! Eu saltei em cima da amurada, me apoiando em uma das velas e olhei para ela atrás, de sobrancelhas franzidas, um misto de raiva e surpresa.
— Que está fazendo?
— Vamos saltar!
— Você é louco sabia?
— Já me falaram isso. Anda! Ou quer ficar pra trás com esses caras?!
Sem alternativas, Letícia se juntou a mim.
— Segura a minha mão — disse.
— Pra quê?
— Só segura logo! Pula no três.
Os soldados deram a volta e chegaram perto de nós, um deles quase nos atingindo com uma lança.
— Três!
— Quê?! AAAAAAHH!!
— PICKER!!
Um batido de asas. Picker veio voando dos céus e enroscou sua cauda ao redor do cabo da minha arma. No mesmo instante, gritei:
— |REDUZIR CARGA|!
Com nosso peso reduzido, Picker conseguiria nos transportar até a margem com facilidade e segurança. Letícia se grudou em mim como um gato escaldado, segurando o mais forte que conseguia quando se deu conta de que estávamos voando.
— O-O quê?
— Conseguimos. Consegui... Aaah?!
De repente, uma flecha zuniu e atingiu a asa de demônio do Picker em cheio, vindo de um dos navios. Picker tremeu e, quando percebemos, estávamos caindo sem que conseguimos tempo para chegar até a margem do rio.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!
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A alguns quilômetros dali, na ||FLORESTA DO BAFO||, às margens do rio lendário.
PLAYER: [Kildery]
Estava bem perto. Eu podia sentir se aproximando. O rastro que persegui desde ||REN DO SUL|| e que me levou até ||LHASA||, parecia mais perto do que nunca!
No meio do caminho fui dando algumas paradas, fazendo alguns lanchinhos rápidos e pá, mas sem perder de vista o prato principal. O que me levou a vim dos confins do continente até aqui foi aquela mana tão especial. Aquele poder sem limites.
Algo que finalmente iria aplacar minha fome.
Mas aquele diabo de floresta parecia não ter fim! Fazia dias que estava perdido naquela floresta malcheirosa, de arvores altas e monstros que brotavam até do chão. Isso tudo era um grande pé no saco!
— Isso não acaba nunca! Não aguento mais devorar [DRAGONOIDES]! Eles têm um gosto terrível! Pior que anões!
Só que meu sofrimento chegou ao fim quando alcancei a encosta de um morro. Lá, ao longe, uma vila podia ser encontrada se eu seguisse naquela direção. Eu não consegui sentir nenhuma grande presença vindo daquele lugar. Somente pessoinhas comuns.
E o rastro do peixe grande se distanciava, mas não tanto. Isso indicava que o que eu procurava devia estar indo na direção contrária, rumando para o leste. Esse eterno jogo de gato e rato estava me cansando e minha vontade era de devorar uma região inteira, mesmo se isso me desse indigestão.
— Aff... fazer o que né? — Dei de ombros.
Mas não só monstros encontrei em minhas andanças até ||LHASA||. Por algum motivo, exércitos inteiros marchavam pelas estradas, ocupando as campinas e criando acampamentos em platôs e perto dos rios. Até por esse motivo, escolhi vim pela floresta.
Quando observei a cidade de longe, alguns outros vilarejos menores e o reino distante estavam com pilares negros subindo de suas casas. O que quer que fosse que estivesse acontecendo, iria atrapalhar minha caçada até o fim. Saco, saco, mil vezes!
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Na margem sul do ||RIO DA CRIAÇÃO||, nos arredores do ||VILAREJO MANA||...
PLAYER: [Letícia]
— Arf! Arg! Cof! Con-Conseguimos…
Eu e Juniorai conseguimos voltar para a margem à duras penas, quase morrendo no processo. Foi praticamente um milagre dos deuses conseguirmos superar a correnteza forte do ||RIO DA CRIAÇÃO||.
Sentei na porção seca de areia, resfolegando como um cavalo de batalha depois de cavalgar por dias. Me sentia tonta pelo esforço brutal que tive que fazer para nadar e trazê-lo junto comigo. Olhei discretamente para ele durante essa pequena pausa.
Esse Juniorai... apesar de ser um louco e inconsequente, o plano dele nos salvou de sermos capturados pelo inimigo. Isso devia creditar o que ele disse quando nos encontramos na ||PASSAGEM DE ANSUS||.
— Você tá bem, Letícia? — perguntou ele.
— Vou ficar. Só preciso... de uma pausa.
— Deu certo.
— É..., mas a gente... arf, arf... quase morreu! — repreendi, me esforçando para regular a entrada e saída de ar dos pulmões.
— Bah! Besteira. Isso já virou rotina para mim! — gabou-se.
— Wiwiwiiii! Wi.. wi...!
— É, amiguinho. Fez bem sua parte, agora vai ter um descanso merecido. Tem que recuperar essa asa aí.
— Wiwiii... wiwiwi.
— Você entende... essa coisa?
— Não, mas sei que ele tá com dor. — Juniorai o segurou na mão esquerda, o colocando-o debaixo de sua armadura de ombro. — Agora não vou poder contar com a ajuda dele por enquanto.
Arqueei as sobrancelhas e a conversa morreu ali. Minutos depois, ouço alguns sons estranhos além do pequeno bosque que cercava um vilarejo perto dali. Estranhei.
— Está ouvindo isso?
— Na verdade, não.
— Shiu! Escuta.
Sons horríveis; gritos; cascos de cavalo esmagando a terra em uma marcha de morte. E a cara de paisagem dele continuava. Essa era a parte nele que me preocupava em tê-lo ao meu lado naquela viagem.
Se bem que me lembrava de uma certa ladra que virou Alta-Sacerdotisa.
— Não pode ser... o ||VILAREJO MANA|| está sendo atacado? Será os andralinos?
Juniorai cruzou os braços e suspirou.
— É bem provável. Se eles nos cercaram no rio, vai saber até onde eles avançaram na região.
— Mas esses vilarejos deviam estar sob a proteção de ||LACUNA||! Como os andralinos conseguiram chegar até aqui? — Um sentimento terrível fez meu peito apertar, cortando minhas palavras. — A não ser que...
— Que...?
Virei o rosto e Juniorai pôde ver o terror palpável em meus olhos. Creio que dessa vez, ele deve ter entendido a gravidade da situação atual. E do risco que estávamos correndo estando ali.
—... que ||LACUNA|| não exista mais.
— Mas o que vamos fazer então? Não estávamos indo para lá? E não tem como você contatar a Thayslânia e pedir reforços para vir até aqui.
— Tem razão. Não tenho. O que quer dizer que só tem uma coisa que podemos fazer agora.
Juniorai fez uma careta.
— Não tô gostando desse olhar. O que tá pensando?
— Vamos ter que voltar ao ||RIO DA CRIAÇÃO|| mais uma vez.