Volume 1 – Arco 3
Capítulo 38: A dama de capuz
Estávamos de frente para ela, com uma grande tensão pairando no ar. Não consegui ver grandes traços do seu rosto e nem discernir se era alguém da Galerinha do Anime ou não, mas fiquei em choque ao ver que ela tinha um //FRAGMENTO DE ALMA// — até porque, até agora eu pensava que eu era o único que tinha um.
— Hihihi...
— Qual é a graça? Tem algo engraçado aqui? — perguntei em afronta.
De repente, a visão ia ficando mais difícil. Como se estivesse embaçada. Sua silhueta ia distorcendo na minha visão, como se eu estivesse alucinando.
— ...!
— Junior — Arthur grunhiu atrás de mim. — O ambiente...
Ele estava certo. Eu não havia usado nenhuma das minhas habilidades gravitacionais, mas era como se o lugar tivesse ficado com uma aura mais densa do nada. O ambiente era opressor; estava difícil de ver e respirar ali. Meu corpo estava mais pesado que o normal.
Seria a aura assassina dela? Algum debuff aplicado pelo seu instinto homicida ou sua habilidade?
O nevoeiro ficou mais denso e nos obrigou a ficarmos juntos para não nos separarmos. Claro que isso facilitaria ela nos acertar com qualquer skill, mas ainda não conhecíamos suas habilidades. Era uma aposta.
— Engraçado o quão inocentes e bobos vocês são — ela enfim respondeu. Lentamente seu corpo ia se perdendo no meio da neblina. — O que acham que podem fazer para mudar um mundo perdido?
— E quem é você para determinar isso? — retruquei, petulante.
— Acha que vamos apenas ficar parados e deixar você agir como quer? Há muitas pessoas e anões sendo mortos nesse exato momento! Tudo por sua causa! — disse Arthur, irritado.
Ela estalou a língua. Seu corpo... está se misturando com a névoa?! Eu via aquela cena, mas não pude acreditar. Ela literalmente estava sumindo no meio da neblina!
— O que?!
— Sim. Vocês podem pensar o que quiserem; “Você é a culpada” ou “Nada disso teria acontecido se não fosse por você”, mas eu digo que estão errados, queridos — E então sua imagem desapareceu em fumaça. Sua voz espalhada pelo ambiente continuou: — Posso dizer, com toda a certeza, que tudo isso ainda teria acontecido mesmo que eu não estivesse aqui. Se não percebem algo tão simples, são uns idiotas.
— Ah, vai à merda — Extravasei mesmo. Aquele papo já estava me deixando mais puto do que deveria. — Você só está dando desculpas para tirar o seu da reta! Se não tivesse envenenado os ouvidos de muita gente com suas histórias, isso não teria acontecido!
Ela soltou outra risada maquiavélica. Meu corpo estremecia toda vez que ela fazia isso. Quem era essa mulher, afinal?
— E quem disse que fui eu quem fez isso? — rebateu com outra pergunta.
— O que?! Como assim?
— Relaxa, Arthur. Ela só não quer assumir o próprio B.O. Toda vilã é assim. — disse tocando no ombro dele e o impedindo de avançar. — É isso o que ela quer. Não dá cartaz, não.
Ela continuou rindo em um tom de deboche que me deixava irado. Se ela continuasse com isso, daqui a pouco era o Arthur que teria que me segurar. Eu já estava tão irritado que eu sentia um aperto no peito, minha perna...
Hm...?! Minha perna?
S... sss... ss... sss...
— EITA, PORRA! — Eu olhei pra minha perna esquerda e tinha uma cobra enrolada nela!
Eu dei um salto com o susto e caí no chão, rolando e batendo a perna no solo seco de barro. Arthur se assombrou com o meu grito e veio me ajudar.
Enquanto isso, ela continuava tagarelando:
— Você disse que eu sou uma “vilã”, mas quem definiu isso? Não seriam seus “corações envenenados”, cheios de definições e verdades sobre bem e mal?
— TIRA ESSE NEGÓCIO DE MIIM! TIRA, TIRAAAAA!
— Calma, Junior! Fica parado, inferno!
— Eu não “envenenei” ninguém com historinhas. Eles mesmos já tinham esses sentimentos dentro do coração deles o tempo todo. Só os ajudei a serem sinceros consigo mesmos e colocarem tudo pra fora.
Arthur concentrou uma pequena chama na ponta de uma de suas garras para queimar a cobra, mas assim que ele a tocou, o menino ficou paralisado e depois caiu, os olhos assustadoramente petrificados.
A cobra queimou e desapareceu como névoa enquanto ele ficou lá, parado.
— Arthur?! Arthur, tá me ouvindo?! ARTHUR!
— Todos aqueles que querem proteger algo, nem que sejam a si mesmos, acabam tomados por sentimentos irracionais como o medo e o ódio. Um sentimento tão forte que estão dispostos a tudo, até mesmo sacrificar a própria liberdade e empatia em troca de uma segurança efêmera.
— Cala a boca, porra! Não sei o que você fez com ele, mas vai parar agora! — gritei.
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Enquanto isso, dentro da mente de Arthur...
Som de brasas queimando.
Hm... O que...? Por que...?
Uma mulher estava caída na frente de Arthur; sangue escorria de sua boca e algo como uma lâmina negra enorme atravessava seu peito.
Ma... mãe...?!
Arthur se ajoelhou em frente ao seu corpo, em estado de choque. O corpo dela lentamente era tomado pelas chamas e ia se afastando. Um espaço enorme começou a se abrir entre eles, com o rapaz nunca conseguindo chegar ao cadáver por mais que tentasse correr.
Você... se culpa?
— Não! Para! Não posso... deixar ela aqui! NÃO, NÃO!
Arthur no meio da sua corrida inútil acabou tropeçando e caindo no mesmo lugar que estava. Quando ergueu a cabeça, estava em outro lugar do monastério onde cresceu. A sua frente, outro corpo.
Dessa vez era do seu mestre.
— Não... Mestre... Honfuu... — Arthur murmurava meias palavras, os olhos arregalados de medo quase saltando da sua cara.
Duas figuras imponentes se mostraram no fundo do ambiente. Seres escondidos pelas sombras criadas pelo fogo que consumia todo o lugar. Um era enorme e outra estava sentada em seu ombro, bem pequena comparado ao parceiro.
Os dois focaram sua atenção assassina no rapaz caído.
Morra!
— Droga... Mestre...!
Fuja de tudo que te causa dor...
E de repente, era como se a realidade que estivesse ali fosse remanejada, enrolada como uma pergaminho velho. Tudo se foi e ficou apenas uma sombra. Uma sombra que formava sua própria imagem. Ele olhava para Arthur com desdém, longe de sentir algum tipo de simpatia por alguém tão fraco.
— Patético.
— O que você quer? — Arthur perguntou, entre pigarros e soluços.
— Ainda tem alguém que você precisa vencer. Já que vai demorar um tempo para você se recuperar, vou tomar seu lugar por hora. Fique aí e não atrapalhe. — disse a sombra, seco.
— Espera...
—...?
— Eu... ainda posso...
Como se ele pudesse imaginar um sorriso, a sombra soltou uma risadinha de desdém.
— Não se preocupe. A minha hora ainda vai chegar, mas por enquanto...
Deixe que eu cuido de tudo, já que é tão incapaz...
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Nesse meio tempo, Juniorai luta contra sua inimiga sozinho, abraçado por uma névoa de incertezas.
PLAYER: [Juniorai]
— Merda...
Eu empurrei a Arthur o mais forte que consegui. Seu corpo começou a arder com labaredas altas e eu tive que sair de perto para não virar churrasco. Por um momento, algumas das chamas dele arrancaram um pouco do meu HP, mas nada que eu não pudesse recuperar sozinho.
— Hihihi... No fim, o coração dele estava cheio de ressentimentos também. ♥
Foi só um susto. A verdadeira preocupação estava em algum lugar daquele túnel.
Era hora de avaliar minha situação real; estava bem difícil de enxergar e eu não conseguia ver claramente nada que estava ao meu redor, então ela poderia usar disso para me atacar. Considerando que tudo ali era uma arma para ela — até criar cobras de névoa ela estava criando! — eu já estava em uma desvantagem fodida.
— Temerosos... magoados... ressentidos... É tão fácil manipular corações assim! Todos eles são apenas peças para que um jogo maior se desdobre entre as linhas da história.
Ela continuava com seu monólogo doente — e céus, como falava! De vez em quando eu prestava atenção para pegar alguma lore ou informação que me fosse útil, mas estava mesmo concentrado em encontrar uma forma de revidar.
E então uma das barras de ferro que repousavam em um dos vagões encarrilhados voou na minha direção e quase me acertou em cheio no pescoço. Fiquei com falta de ar do susto que eu tomei e caí de bunda no chão ao me desviar dela.
Se tivesse pego na garganta naquela velocidade, era Hit Kill. Sem conversa, sem cerimônias.
Droga... não acho ela em lugar algum!
— Não vai acha-la mesmo desse jeito — a voz de Arthur, só que mais rouca e grossa veio de trás de mim.
Ele se levantou com um semblante mudado. Seus olhos estavam vermelhos, o cabelo estava um pouco mais armado que o normal e o cristal que repousava no peito de sua mão estava brilhando em um tom carmesim brilhante.
— Você é...
— Não sou o patético do seu amigo — Realmente era Salamandra e não Arthur que falava comigo. — Mas não era pra se preocupar com isso. Tenho uma ideia para encontrá-la.
— Ah... E qual é? Posso saber?
— |NINHO DO DRAGÃO DAS CHAMAS|!
A Relíquia Hospedeira criou uma esfera de chamas com um sopro e então gritou:
— |EXPANSÃO DAS CHAMAS|!
— ...!
A esfera de fogo se expandiu em um grande fogaréu que se espalhou por todo o túnel. As chamas dançantes voaram em praticamente quase todos os cantos e eu tive que me jogar no chão para não ser atingido.
O ar daquele espaço ficou quente o bastante para acabar com qualquer umidade que ainda tivesse em um espaço tão apertado. Estava quase insuportável fica ali, principalmente agora com o fogo se espalhando e esquentando as paredes do túnel.
A névoa que cobria todo o lugar desapareceu e, quando abri os olhos ao me levantar, só havia restado nós três.
Deve ter funcionado já que um pouco do HP dela fritou e estava parada com boa parte da manga de seu braço esquerdo queimada e com um rosto quieto e observador.
— F-F-funcionou? — perguntei, tropeçando um pouco na palavra.
— Parece que agora você não tem mais onde se esconder, humana — disse Salamandra com um sorriso maligno. — Pare de joguinhos e venha nos enfrentar de verdade!
Ela respondeu com outro sorriso de orelha a orelha, tão assustador quanto.
— Que criaturinha atrevida! Mas eu já esperava que tivesse que lidar com você.
— |ZONA IMOBLIZADORA|!
— O que? — O corpo dela pendeu pra baixo, quase a derrubando.
Usei minha habilidade bem rápido e consegui prendê-la. Não tinha como ela criar ilusões com uma prensa invisível de vários quilos sobre seu corpo.
Preparei o machado para um golpe certeiro e avancei rápido em sua direção.
VUUP!
O machado passou cortando o ar e acertou o ombro direito da mulher, de cima para baixo, em um golpe transversal.
— Arf! Arf! E aí? — disse, arfando.
Por debaixo do capuz consegui ver seu olho esquerdo se revirando e se lançando contra mim em uma cena especialmente macabra.
— ...?!
VUIIIIISH!
Em vez de espirrar sangue, um jato de ar soprou do buraco do ferimento bem na minha cara e me jogou para trás. Seu corpo começou a sumir como antes, virando uma névoa fina.
— De novo uma miragem? Que humana mais irritante! — resmungou Salamandra.
— Boa tentativa, querido. Mas vai ter que fazer melhor do que isso se quiser me atingir. ♥
— Droga! Você tá fazendo isso como hein, desgraça?! É com o //FRAGMENTO DE ALMA// por acaso?
— Fufufu... tão bobinho. Você nem ao menos sabe pra que isso serve, não é? — Ela mostrou sua pedrinha roxa novamente, brincando com ela entre os dedos.
— Hã?! E como você saberia? — retruquei, brandindo o machado para ela.
— Esse //FRAGMENTO DA ALMA// que você tem aí não passa de uma cópia. Uma imitação barata, meu bem.
— O que disse?
— É isso mesmo... — De repente, sua voz muda de lugar e eu a perdi de vista em um piscar de olhos. A maldita reapareceu atrás de mim, enquanto dizia: — A verdadeira está com a nossa Salvadora.
—...?! Sua...!
Ela moveu o braço e uma onda invisível de força me arrastou pra longe, me jogando longe e me fazendo rolar alguns metros. — Argh! Urgh! Aaargh! — Quantas vezes o já tinha beijado o chão daquela forma?
— Desgraçada! Vai pagar por essa insolência, humana. — Foi a vez de Salamandra atacar.
— Ué. E quem disse que poderia se mover, querido? — Com aquele sorriso sombrio, ela ergueu a mão aberta contra Salamandra e, alguns trilhos que passavam por baixo dos pés dele se transformaram em cordas vivas e o prenderam. — De joelhos, agora.
— Se acha que eu...
TADADADAM!
— Urgh!
Os cabos fizeram ainda mais pressão e o derrubaram no chão, de joelhos. Ele estava completamente imobilizado.
— Eu disse... de joelhos!
— Sua... m-m-miserável...!
— Melhor assim. ♥
Eu estava um pouco longe deles e Picker saiu debaixo da minha armadura de ombro, zonzo com a queda. Por um momento, tive uma ideia. — Picker, ei... Será que você não tem nada que você possa fazer pra localizar a verdadeira? — sussurrei perto dele.
Ele se virou pra mim com aquele olho grande e brilhante e depois semicerrou o olho, lembrando uma expressão determinada.
— Wiwi! — Eu deveria interpretar aquilo como um “vou tentar”?
– MENSAGEM DO SISTEMA –
|- Nova |HABILIDADE DE APOIO|, DESBLOQUEADA! -|
CUSTARÁ [PONTO DE HABILIDADE] – x25
-
DESEJA ADQUIRIR? Sim ( x ) Não ( )
E outra mensagem tatuou minha visão de repente. Já vi outras vezes mensagens sobre melhorar habilidades, mas era a primeira vez que aparecia esse termo de |HABILIDADE DE APOIO|. E de novo, como na vez que fiz a escolha na ||CIDADE DOS COMERCIANTES||, uma das opções estava destacada.
Estava bem claro o que eu tinha que fazer. Optei pelo sim — diferente de antes, eu não tinha muita liberdade para “trollar” agora. Só fiquei chorando pelos pontos que estava guardando pra mais tarde.
Só que se eu morresse ali, não teria um “mais tarde”.
Então ele saiu do ombro e voou. Arregalando seu olho, um feixe de raio vermelho, cobriu todo o lugar como se fosse um scanner com o asas. Um contador de dois minutos no canto superior direito da minha visão foi mostrado e começou a correr.
Que merda é essa? Imaginei ao ver aquela cena bizarra. Passado a ação, informações pipocaram na minha cabeça. — Imagens residuais... não, são tipo... clones? — dizia comigo mesmo, pensativo.
Eram realmente clones. Porque eu não consigo vê-los então?, questionei, comparando o scan tirado por Picker com o que eu estava vendo. E não era só ela, mas tudo que estava no corredor também tinha sido clonado.
Será que é a própria habilidade dela?
Ao redor daquela que eu via na frente de Salamandra, mais quatro silhuetas idênticas eram mostradas. Considerando que a que eu enxergo seja a verdadeira, seu eu ataca-la como foi da outra vez, ela só vai trocar de lugar com algum desses clones? Era uma complexa pergunta que eu tinha que responder e rápido.
Talvez um poderoso ataque em área seja o suficiente para dar cabo de todas essas imagens falsas. Se todas elas forem pegas ao mesmo tempo, a verdadeira não vai ter tempo de criar mais imagens para trocar de lugar, raciocinei enquanto lembrava da |EXPANSÃO DAS CHAMAS| que Salamandra usou para causar um pouco de dano à ela. — Isso deve funcionar!
00:59 e contando... Eu me movi rápido, pegando o machado para lança-lo contra ela.
— Arthur! — gritei, chamando a atenção dos dois.
...?!
— |REDUZIR CARGA|! — //WINGSLASH// foi lançado como uma vareta.
00:49...
Desativei a habilidade assim que a arma atingiu o peito dela com tudo. Como imaginei, consegui ver ela trocando de lugar com uma das imagens invisíveis, mas também pude ver sua sósia sendo atingida. Na mosca!
00:39...
As imagens se separaram e a verdadeira trocou com o clone que estava mais atrás, saltando para longe. As outras três foram para lados opostos, contudo ainda não estavam tão separadas.
— Arthur! Use uma skill para frente! — comandei enquanto ia até ele.
00:29...
— Ainda estou preso, humano...
— Só usa essa porra logo! Confia!
00:19...
— |SOPRO DO DRAGÃO DAS CHAMAS|!
Ainda deu tempo de pegar o machado no corpo da clone e fazê-la sumir. Quase sou pego no meio da habilidade de Salamandra.
00:09...
Duas das três imagens foram pegas e incineradas pelo lança-chamas do Arthur. Uma sobrou e era essa o meu alvo! — Agora você não escapa!
00:04...
No meio do caminho, ela criou um outro clone mais atrás para trocar de lugar com ele, prevendo minha movimentação.
00:03...
Só que eu também previ isso, pensei fintando um salto. Eu peguei um impulso para frente e segui.
00:02... 00:01...
— TOMA ESSA!! |AUMENTAR CARGA|!
O contador zerou e Picker deixou de scannear o lugar. As imagens sumiram de vista, mas meu machado já estava com rota traçada.
Ele parou no meio do ar, pegando em cheio algo sólido e invisível que estava na minha frente. Um grande número recheado com dois zeros pulou dali, indicando um belíssimo dano crítico. A barra de HP da chefe sumiu.
Caralho... eu dei Hit Kill na chefe?!
Nós caímos no chão, levantando uma nuvem de poeira. Aos poucos, a imagem do seu corpo sendo dilacerado pelo meu machado ia se revelando debaixo de mim, completamente derrotada.
O sinal de que a quest de derrota-la tinha sido concluída surgiu na minha visão me, aliviando um pouco. As cordas que prendiam Arthur, a neblina, os vagões tombados e todo o resto sumiram.
O corpo de Arthur tombou ali mesmo para trás. Depois eu iria até lá para ver como ele estava, mas agora eu tinha uma coisa a fazer antes. Vamos ver quem é você de verdade. Por favor, que não seja ninguém do grupo, que não seja ninguém do grupo!
Antes que eu pudesse ver o seu rosto, seu corpo se desmanchou no ar como as outras, revelando ser outro clone. Quê?! Como assim?
— Fufufu... Até que vocês não são ruins. ♥ — A voz dela se espalhava pelo ambiente em um tom sinistro.
Ainda não era hora de baixar a guarda. Fiquei atento a qualquer coisa que viesse me atacar e Picker rapidamente se juntou a mim. — Você não teria como usar aquele negócio lá de novo não, né? — perguntei.
— Wiwi... Wiwiwi. — Ainda não entendia bulhufas, mas arriscando um chute, eu diria que ele estava me dizendo que a habilidade tinha um tempo de recarga.
— Foi bom testá-los. Consegui resultados muito satisfatórios para ela. Fufufu. ♥
— “Ela” quem?! Onde está você, cacete?!
— Os anões... se perderam em seus próprios temores. E só os ajudei a fazerem aquilo que passaram anos almejando. O reizinho queria abrir a Capital do Aço para o mundo definitivamente, mas pelo visto, nem todos concordaram com isso. Muitos, na verdade.
— Você não vai conseguir se safar! — cuspi as palavras, já mais confiante. Com a habilidade de Picker ao meu lado, eu conseguiria enfrenta-la.
Sua resposta foi uma risada, seguida do seu monólogo de vilão de RPG de novo: —Aqueles que amam algo ou alguém estão dispostos a transformar esse amor... esse sentimento puro em ódio, para protegerem aquilo que “amam”. Quanta ironia... não é? ♥
E então, o silêncio. Seja lá onde ela estivesse, não estava mais no túnel com a gente.
— O que aconteceu, Junior? — A voz de Arthur emergiu atrás de mim e me deu um leve susto.
Ele tinha acordado, finalmente. E agora, eu tinha certeza de que era ele. — Que voz era aquela? O que ela estava dizendo?
— Merda, era o que ela tava dizendo. — respondi, meio irritado. — Agora vamos logo. Já perdemos tempo demais aqui. Tô quase sufocando nesse lugar.
Arthur concordou com a cabeça. Sem ouvir mais nada, continuamos o caminho para a ||FORTALEZA DE FERRO||. Enquanto íamos a passos largos para lá, um pensamento não deixava de me incomodar.
O que aquela maluca quis dizer com “resultados satisfatórios para ela”?
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Enquanto isso, nos limites ao norte de ||BASIN-C||, uma nova onda de destruição se aproximava.
PLAYER: [???]
E lá estava eu, plantada como uma arvore nas ||ESTRADAS DO CAMPONÊS||, esperando o encontro combinado.
Aah, quanta demora!, pensei em um tremendo tédio. Se eu estivesse realmente na cidade, estaria me divertindo muito mais. Quem eles pensam que são para me deixarem esperando?!
Já dava para ouvir a marcha das tropas. Passando alguns minutos consegui vê-los se aproximando pela estrada. Eles marchavam com a passada sendo marcada por um potente bumbo.
Liderando-os estava um grande e imponente centauro de armadura reluzente, de espada curvada em uma mão e um escudo redondo cravejado com pedras brilhantes na outra.
— Está atrasado, Parshatt. — disse disfarçando muito bem meu mau humor.
— Tivemos problemas para cruzar a cidade portuária e chegar ao local do portal. Acho que você poderia ter sido mais gentil com a gente ao escolher o ponto de travessia. — respondeu Parshatt com um sorriso amistoso.
— É! A gente teve que lidar com um bocado de monstro e gente com facão e arado pra chegar lá...— Birgitta escandalizou lá do meio das fileiras. — Aargh!
— Fique quieta no seu canto. Ela é nossa superiora hierárquica, esqueceu? — censurou Luciano com um cascudo.
— Não importa. O plano segue o mesmo. Nesse momento, os rebeldes estão causando um rebuliço no meio da cidade e os [LEGIONÁRIOS DE AÇO] de Thor-ardd já estão ocupados brincando com eles — Fiz uma pausa com um suspiro, apontando para os portões. — Se chegarem por todas as entradas, eles não terão como reagir. Fiquem livres para decidir o que fazer depois disso. ♥
Parshatt me lançou um olhar investigativo, como o de costume, e então disse: — Vejo que está mais animada que o habitual. Algo lhe interessou na cidade dos anões?
Só pude suspirar. A tarefa que me foi dada acabou sendo mais divertida do que eu tinha imaginado. Como se imaginasse a Deusa Salvadora me instruindo, respondi: — Talvez... quem sabe a gente não acabe achando algo... interessante por lá?
Interessante... isso... me faz lembrar alguma coisa.