Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 32: Fornalha

 

||ATELIÊ VÖLUSPÁ||, algumas horas depois...

PLAYER: [???]

 

“Que dor de cabeça! Que horas são?”

 

Fui abrindo lentamente os olhos. O ambiente deveras penumbroso era gentil com as pontadas impiedosas de minha cabeça latejante. Apercebi-me que já não estava mais na taverna onde estava outrora, mas agora de volta no Ateliê.

E não me recordo de ter contado à Zibret onde tenho andado. Como retornei então sem que tenhas ido ao meu encalço durante minhas desventuras noturnas?

“Ah! Não é hora para se pensar sobre isso. O que importa é que eu voltei.”, as dores não davam trégua um segundo sequer.

— Senhor Astholf? Vejo que acordou bem mais cedo que o esperado. — Ouço então a voz serena e delicada de Pefrid vindo da sala da caldeira.

— Apenas me dê um remédio para amenizar essa dor terrível que me aflige!

Ela diligentemente me trouxe o medicamento junto de um punhado de ervas abraçado em um pano velho umedecido. Também trouxe um copo de água poucos instantes depois.

Encontrava-me deitado no velho sofá da sala de visitas do ateliê, um assento velho e capenga. Não me lembro de quase nada antes depois de ter começado a beber e esperava despertar às margens de um rio qualquer próximo à ||BASIN-C||.

Não foi o que aconteceu. Antes acordei de volta ao velho ateliê daquela velha lasciva e encrenqueira, mas é bem pouco provável que ela tenha ido me buscar por conta própria.

— Pefrid. Onde está Zibret? Preciso perguntar... Urg... Algumas coisas a ela.

Ela desviou o olhar, parecendo relutante se devia dizer algo ou não.

— Na verdade, já faz algum tempo que ela saiu senhor Astholf.

— Hm? E para onde ela foi?

— Ela... Saiu... Junto com os rapazes que vieram deixar o senhor. — disse Pefrid, pausadamente.

 

“Rapazes? Eu não me lembro de ter encontrado nenhum rapaz depois que saí da taverna. Na verdade, nem me lembro de ter saído da taverna!”

 

— Arg... Não me lembro de nada! Não consigo me lembrar... De nada mesmo!

Como se meus miolos pudessem saltar para fora da caixa craniana, tomei meu remédio e voltei a deitar-me, repousando o pano aguado em cima da testa com as ervas.

— Por enquanto descanse senhor. Tenho certeza de que a grande mãe voltará em breve para trata-lo melhor. — disse Pefrid em um tom irritantemente morno como sempre.

Ela estava arrumando a mesa cheia de tralhas empapadas que Zebrit insistia em colecionar e dizer que eram importantes. Dava-me um asco só de imaginar a expressão asquerosa de satisfação daquela velha nojenta ao arranjar mais lixo para guardar em sua casa.

Ainda assim, o ateliê estava bem guardado, bem cuidado, limpo e com um ambiente agradável. Na lareira ainda tinha bastante lenha queimando, o suficiente para nos aquecer durante a noite.

Enquanto isso, lá fora as botinas marchavam ferozes por toda ||BASIN-C||, uma verdadeira incursão que já perdurava por muito tempo.

— Quanto tempo... Será que se passou... Desde aquele dia? — resmunguei baixo, não esperando resposta nem dos meus próprios pensamentos.

Eu fechei os olhos, ainda sentindo minha cabeça latejar. Não conseguia ver, mas sentia que Pefrid me observava. Vigiava-me com aqueles olhos caramelados e brilhantes, porém vazios de qualquer expressão ou traço do que realmente parecia estar pensando ou sentindo. Isso me aborrecia muito também.

“Onde será que andam... Aqueles garotos?”.

  

 

 

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Enquanto isso, em algum lugar da cidade inflamada por uma centelha de rebelião.

PLAYER: [Juniorai]

 


“Atendam aqueles que ouvem o rufar dos tambores;

Aqueles que escutam o tilintar dos martelos;

Aos que entregam suas vidas como guiadores,

Enfrentando tiranos e pecadores,

Enclausurados em seus obscuros castelos”


 

— Entendem agora meninos? — Zibret debochava daquele verso estampado em milhões de folhetos espalhados pelas ruas, colados nos muros metálicos e voando pelas calçadas.

— O negócio tá mais sério do que eu pensava. — comentei com um daqueles folhetos em mãos.

— Então por isso que as ruas estiveram tão agitadas ultimamente. Quem diria que chegaríamos em meio à uma possível invasão de Andras. — comentou Arthur, angustiado. — Eu sabia que era uma má ideia ter vindo para ||BASIN-C|| nesse momento, mas eu não tinha ideia que tinha sido uma ideia tão terrível!

— Realmente vocês escolheram o pior momento para uma viagem diplomática, ainda mais sendo humanos. — concordou a anã. Ela fez uma pausa e continuou: — Isso por que corre alguns boatos por aí de que nosso rei estaria planejando entregar nossa cidade e nossas forjas aos Andralinos.

Ela começou a falar em sussurros de repente — mais baixo que aquilo só código morse. Esse foi o único momento durante toda a caminhada em que ela realmente se preocupou se estava sendo ouvida ou não.

Logo ela, a velha tarada que gostava de falar tão alto quanto uma gralha. E olha que as fake News eram moda até no mundo virtual?

— Sossega o facho aí! Nós nem sabemos se isso é verdade ou não! Quer dizer, vocês nem sabem se eles estão vindo ou não!

Ela soltou um risinho indiscreto, como se não estivesse levando o que eu dizia a sério.

— Sendo verdade ou não, é nisso em que o povo acredita rapazinho. — rebateu ela.

— E quem estaria por trás desses boatos? — perguntou Arthur com a mão no queixo.

— E quem sabe? Opositores, conservadores, oficiais do exército, meretrizes, lunáticos... Pode ter sido qualquer um e por vários motivos. E quando boatos desconhecidos acometem os ouvidos de um povo inseguro e insatisfeito...

— Dá merda — completei. — Então acho que é melhor não ficarmos de bobeira por aí, não é?

Zibret concordou com um mexido de cabeça.

— Você pega as coisas rápido. Os humanos que vivem ou passam por aqui estão sendo vítimas de um medo irracional que está tomando conta dos anões. Não é culpa deles, tampouco dos humanos...

—...?

Fiquei esperando que ela desse alguma conclusão, mas ela só suspirou. E então, inferiu:

— Sequelas... De uma guerra sem sentido.

 

“O que foi que deu nela?”.

 

E então seguimos a viagem sem muita conversa, contornando multidões reunidas e praças lotadas. Só estranhei que a velha estava andando muito e ainda não mostrava nem um sinal de que estava se cansando — mesmo um NPC deveria ter alguma barra de estamina ou algo assim, né?

— Chegamos rapazes!

Quando vi nem acreditei. Era como se alguém pudesse enfiar um funil gigante naquele buraco colossal. Uma cratera que minha mente não conseguia sequer imaginar o diâmetro ou a profundidade.

Nas paredes do buraco que ia descendo em espiral para o fundo existia várias estradas e galerias as quais eram usadas pelos anões como lojas de armas e ferrarias. Grandes pilastras de um ferro polido e guindastes foram construídos na borda da cratera para “guinchar” recursos das camadas mais profundas do buraco.

E todo esse lugar estava a céu aberto, em um lugar um pouco afastado da cidade. Um distrito especialmente reservado para aquilo. Algumas cordas vinham das pedras de ferro mágico flutuantes sobre o buraco, provavelmente refinarias e bases de exportação para outros cantos do continente — isso já era mais um palpite meu.

— Aqui é a [FORNALHA]. — disse Zibret, parando próxima a uma cerca modesta que separava o descampado da borda perigosa da cratera.

— UOU! QUE BURACÃO!

E Arthur me deu um cocorote de repente. Podia ouvir minha voz ecoando longe, pelas frestas da cratera.

— Merda, Junior! Quer que sejamos pegos por acaso?!

— Então vou deixar vocês à vontade e vou embora, certo? Espero que consiga chegar ao Bjorn em segurança!

Zibret já estava dando meia volta para ir embora.

— Ai, ai, ai, ai! Ei! Não vai vim com a gente? — perguntei.

— Eu? Óbvio que não! Não posso correr o risco de ser pega com vocês ou podem pensar coisas erradas. De qualquer forma, boa sorte para vocês meninos! — respondeu ela acenando pra gente.

Aquele momento que você não sabe se ela falava de “coisas erradas” no sentido sombrio da palavra. Pela expressão distorcida dela, eu queria acreditar que não.

E antes de ir, ainda gritou: — Se acontecer alguma coisa, pelo menos me deem algo de vocês para guardar como memória. Afinal, sou uma colecionadora de memórias. E sou boa no que faço. — Então ela foi embora e nos deixou lá.

— O que ela quis dizer com isso, Junior? — Arthur perguntava aquilo com uma expressão azeda.

— Sei lá. Vai saber o que se passa na cabeça dessa doida.

Ela nos deixou lá e saiu. Só tínhamos que seguir em frente até a entrada, um portão de ferro gradeado que ficava no escuro. Estava no meio da madrugada e não tinha ninguém por perto, então não era tão ruim assim — ainda mais porque ninguém nos encontraria em um breu daqueles.

Tinha um grande alambrado que separava o terreno das extremidades da cratera. Só bastava segui-la até encontrar o portão e prontinho! Mapa do caminho para a [FORNALHA], desbloqueado!

 

Zzzzttt

— Hum?

— O que foi, Junior?

 

Zzzztttttzt...

 

Estava acontecendo de novo!

Aquele fenômeno estranho que lembrava um bug; uma anomalia; uma falha naquele mundo postiço.

O chão onde nós pisávamos pareceu desaparecer por alguns momentos. E claro que isso não poderia dar mais errado. Aquele fenômeno estava alterando a realidade de novo e eu não sabia o que poderia acontecer com a gente no processo.

— Ah! Aah!

— Arthur!

Ele que passava por um pequeno montinho de terra naquele momento caiu em algum buraco aleatório formado pela anomalia. Como se fosse vivo, o chão se abriu em uma boca e o engoliu sem sequer chance de reação.

— Não! Droga!

E então a os sons e efeitos estranhos pararam, mas Arthur já tinha sido engolido pela terra que voltou ao que era antes. Um clarão súbito veio sobre mim, saindo dos rochedos flutuantes acima da cratera.

Um terrível som de alarme veio logo em seguida para acabar de cagar com o nosso plano: Os anões me descobriram!

“Merda!”, pensei e imediatamente corri o mais rápido que conseguia.

Quem dera fossem só os alarmes que impediriam minha passagem. Algo mais inexplicável já estava a caminho, me fazendo questionar o conceito do que era real ou não, mesmo em um mundo como aqueles.

Lá de cima, uma frota de coisas aladas vinha na minha direção. Eram anões, mas eles estavam um pouco... Diferentes. Seus corpos estavam deformados e enormes, com asas em suas costas e garras que saiam dos antebraços desde os cotovelos. A parte debaixo era de cavalo, mas com asas gigantescas também e um rabo que tinha um ferrão na ponta.

O rosto, o corpo e qualquer outro traço que lembrava algo próximo ao de um humano eram deformados. Dava uma agonia só de olhar para aquilo.

Nunca tinha visto um troço tão medonho quanto aquele bicho.

A primeira leva veio voando e mergulhou para me pegar antes que eu alcançasse a entrada. No instante da rasante do primeiro, projetei meu corpo para frente em um rolamento desajeitado e me safei.

Continuei correndo, torto, mas continuei. O troço deformado que tentou me pegar capotou algumas vezes perto da cerca e ficou ali mesmo. O resto ainda estava sobrevoando, como predadores alados.

Não tinha muito que pensar. Já estava quase alcançando a porta!

Apressei o passo, sentindo meu joelho podre tremer.

A cada passo, o som do bater de asas daquelas coisas ficava mais alto. Era como o som das asas de um besouro só que três vezes maior.

Contudo, antes de eu chegar até lá, outros dois aterrissaram bem na frente. Cada um mais feio que o outro.

E não tinha como lutar com eles, pois eu estava desarmado. Outros mais vieram por trás, me fechando; era praticamente um beco sem saída para mim.

Agora eu me encontrava cercado de bestas deformadas com suas bocas salivando enquanto olhavam para mim.

 

“Droga... e agora?! O que eu faço?! O que eu faço?! Poderes do protagonismo! Me salvem nesse momento de necessidade!”

 

Os céus me ouvem, mas não do jeito que eu imaginava.

Outro tremor na realidade aconteceu de repente. Dessa vez, um tão violento que até mesmo eu não consegui me mover ou reagir diante de tudo aquilo. A imagem das criaturas, bem como tudo que estava à minha volta ficou quase que completamente translucido e alguns até sumiram.

Um dos bichos também se separou em um anão e um cavalo alado com uma gadanha que caiu no chão no momento da separação. E pelo amor de Deus... Uma gadanha?!

“O que tá acontecendo?! Outro bug?!”

E então assim como aconteceu com Arthur, o chão debaixo de mim perdeu a textura e a forma e desapareceu, me fazendo despencar em uma queda livre.

Era como se eu estivesse em um céu debaixo da terra. Nesse momento, eu não estava mais no mapa ou em lugar algum, mas sim caindo enquanto via o mundo acima de mim se afastando cada vez mais rápido. O céu já não poderia ser mais visto; só uma extensa faixa preta de terra que ficava sumindo e voltando sem parar com a sequência violenta de bugs que afetavam a realidade.

E enquanto isso, eu estava imóvel. Assistindo a tudo, vendo a HUD da minha visão sumindo, perdendo a cor, a forma, os elementos mudando de posição ou até desaparecendo.

E não conseguia fazer nada a não ser cair! Só cair!

Só que de repente tudo parece ficar normal e uma avalanche de terra cobre minha visão e meu corpo. Estava como uma pedra rolando em uma ladeira mal asfaltada; sentia como se uma montanha estivesse sobre meu corpo amassado como uma bolinha de papel.

Então rolei e capotei até bater em cheio contra um paredão de pedra maciça e cair mais alguns metros até enfim parar no chão.

— Argh! Arg! Arg! M-m-mer...

E meu HP já estava como? Se você é o que disse que estava piscando, quase com o HUD se quebrando, você acertou!

Minha visão girava. Piscando perigosamente no vermelho com o DANGER estampado na minha cara, como em todo o caso parecido com aquele em que eu quase morria.

Meu corpo estava completamente triturado. Sempre que eu tentava mover algum membro, ouvia um estralo múltiplo. Meus ossos deviam estar só a farofa agora.

“Jogo... arrombado...”

O jogo literalmente fez o meu corpo voltar para o mapa à força. É como ser sugado violentamente por um cano em uma alta pressão. Fora o fato de eu ter rolado em um espaço incrivelmente apertado e batido de cara com uma parede de pedra maciça.

Tudo ao meu redor — mapas, cenários, pessoas e até eu mesmo — voltava a ficar perfeitamente renderizado. Agora que aquele bug havia passado, eu podia ficar tranquilo sobre o fato de nada mais sumir debaixo dos meus pés.

— Arg! Arg! Pi-Picker!

Chamei por ele. A bolinha olhuda e dourada saiu debaixo da minha brafoneira, completamente tonto.

— Wiwi... wiwiwi...

— É... Foi um choque e tanto, não é?

 Ele ainda estava bambeando de um lado para o outro. Naquele momento eu agradeci por ele não ter uma boca de verdade, ou aquela queda poderia ter resultado em um bônus desagradável para mim.

Demorei um bom tempo para me recuperar daquilo. A queda drenou muito do meu HP e resistência, bem como a dos meus itens também — e que já não estava lá essas coisas antes de eu vir para cá. Esse era o tempo de fuçar nos meus status e olhar de novo meus recursos.

Ainda tinha uma longa caminhada até o fundo daquele abismo.

 

 

 

Então começamos minha incursãoacho que “visita” soaria melhor e menos criminoso — na [FORNALHA] atrás de Bjorn e Svoath. De começo parecia algo relativamente simples: descer um buraco gigantesco e sair perguntando em cada loja e ferraria que encontrássemos, mas o que parecia algo fácil no começo acabou se mostrando um verdadeiro inferno!

Eram muitos lugares pra procurar! E alguns desses lugares nem chegamos a procurar, ou por que não pareciam levar a canto nenhum, ou por serem passagens que conduziam a outros lugares dentro do abismo. E à medida que descíamos mais fundo na [FORNALHA] o espaço ia ficando cada vez mais escuro e claustrofóbico.

Depois de um tempo descendo, as passagens a céu aberto agora se tornavam túneis que, dependendo de onde você ia, eram estreitos ou apertados — ou pior: os dois! — além de que a pressão sobre nós aumentava cada vez mais. Era como se a cada metro que descêssemos, um “peso extra” fosse adicionado em nossos corpos.

O único som que escutávamos depois de certo tempo eram os sons de máquinas operando, ferro quente sendo batido e moldado, e um som singular de algo pastoso sendo despejado em algum lugar que logo associei a lava ou ferro derretido.

Ah, e ainda tinha o calor! Aquele lugar era uma verdadeira sauna!

Eu já estava em processo de derretimento dentro daqueles túneis. Arthur àquela altura do campeonato já deveria ter desaparecido em alguma poça de suor e evaporado.

Enquanto andava por mais uma das galerias apertadas e acidentadas, começo a ouvir várias vozes graves gritando e protestando ao mesmo tempo. Tudo isso ao passo que o som de maquinário ficava mais alto e ruidoso.

Logo sou surpreendido por uma mão que tapa minha boca e me puxa para trás, para um corredor meio apertado que eu havia acabado de passar.

— Gruh...!

— Shiu! Fale baixo.

Era Arthur, tapando minha boca e sussurrando. Não sei se eu ficava feliz em vê-lo ou puto pelo susto que acabei de tomar. Pelo menos me poupou do trabalho de ter que encontra-lo.

— Que foi man?!

— Escute.

Ficamos ali parados, ouvindo o vozerio que acontecia em uma sala ou corredor bem próximo.

— Então não podemos esperar mais! Logo, logo os Andralinos estarão aqui e se unirão ao exército real para massacrar todos nós! Vai ser o fim de tudo! — dizia uma das vozes perdidas na confusão.

— Vamos atacar antes que nos ataquem primeiro!

— Esperem! Ainda não temos notícias da mulher encapuzada! E se ela nos mandar um sinal antes disso?

“Mulher encapuzada?”, meu crânio rachado voltou a raciocinar. Seria essa a responsável por espalhar as Fake News?

— Que se dane! Temos que preparar as máquinas e os MKG-5 para explodir tudo logo.

— A classe burguesa ainda não está de acordo com o movimento. Pode haver desorganização e tumultos desnecessários!

— É tudo culpa daquela maldita encapuzada! Nos passa instruções e depois some desse jeito!

Ela não é confiável! Afinal, é uma humana como aqueles malditos que querem tomar ||BASIN-C||!

“Quem? Quem quer tomar ||BASIN-C||? Acho que se eu chegasse um pouco mais perto...”, eu já estava ansioso pra saber, tanto que procurei me aproximar o máximo que eu conseguia para ouvir tudo o que eles estavam tramando.

Toquei na quina da parede que dava para a galeria principal e minha mão ardeu como se eu estivesse tocando em uma brasa viva!

— Ai, ai, ai, ai, ai, ai! — soltei um grito com a mãe pelando.

Por um momento a discussão parou e foi justamente quando um minitanque passava justamente por aquela galeria que o som pôde ser ouvido. Meu grito desafinado destoava demais do som do maquinário que sondava o corredor, tanto que ficou muito perceptível para os ouvidos treinados dos anões.

“Ai! Fudeu!”, pensei de imediato. Arthur olhou para mim e eu olhei de volta, parecendo cirurgicamente sincronizados em uma só decisão: Correr!

— Fomos descobertos! São espiões do rei! — um dos anões grita.

— Vamos pegar esses traidores! — brada outro.

— Peguem eles!

— Vamos arrancar as tripas desses miseráveis!

Os gritos furiosos logo são acompanhados pelo som de uma enxurrada de passos pesados no chão batido e quente dos tuneis. O minitanque que passou deu meia-volta e saiu em disparada na nossa cola.

Podíamos escutar o som terrível do motor rufando e da malha triturando pedrinhas enquanto se aproximava.

Corremos aos trancos e tropeços, revezando as passagens estreitas e túneis, mas não parecia ter jeito.

Aquela coisa estava bem perto de pegar a gente!



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