Volume 1 – Arco 2
Capítulo 27: Um Chefe de Raid inesperado
Uma chama lúgubre se acende em um mar de escuridão. Uma chama acesa que guia para o desespero...
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(...)
“Arthur! Arthur!”, uma voz chama por ele.
“Ma... mãe...?”, ele repetiu, pausadamente, de olhos fechados.
Ao abrir os olhos, se deparou com a fatídica cena que marcou sua vida para sempre.
“...!”
“Ar... thur... Fu... ja...”
Uma silhueta feminina misteriosa veio pelas costas de sua mãe ferida e aplicava um golpe que transpassava seu corpo impiedosamente. Era uma grande e afiada lâmina negra que irradiava uma aura pesada.
“...! Não!”
“Fuja...”, foram as últimas palavras dela antes de cair.
Então ela ergueu um dedo indicador, querendo dizer algo para o menino assustado.
“Não... não... não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não...”, Arthur corria na direção dela, mas sem nunca de fato alcança-la.
Quanto mais rápido corria, mais distante ficava.
“NÃO!”
“Não... mais morte não... eu...”
“... quero salvá-lo!”
(...)
“Deixe queimar... Humano...”
De repente, em algum lugar dentro do grande salão de máquinas de Riful, um grande pilar de fogo se ergue até atingir o mosaico mecânico da abobada.
“O que?!”, Junior virou o rosto, alarmado.
“...!”, seu rosto insípido também esboçou uma reação de espanto.
Uma garra flamejante enorme brotou do brilhante espiral de fogo e foi suficiente para golpear tão forte Megaton que o grande robô saiu voando até colidir com Gigaton. A parte de trás do maquinário foi danificado pela batida abrupta, desmantelando parte de seus mecanismos traseiros, como dispositivos de jato.
Já a chapa de proteção de Gigaton ficou completamente amassada e vulnerável. Foi o sinal para que Juniorai se movesse.
“|REDUZIR CARGA|!”, gritou ele.
O aventureiro dispara em uma corrida acelerada, impulsionada por sua habilidade |REDUZIR CARGA|. Estava extremamente leve então, com passadas longas pôde alcançar rapidamente seu alvo. Um balanço perdido de um dos braços do robô caído ainda o ameaçou, mas nada que Juniorai não pudesse desviar.
Chegou bem próximo e desativou sua habilidade, ativando outra logo em seguida
“Pense... apenas não corpo dele. No corpo, não nos braços. No corpo!”, ele repetia pra si mesmo, afirmando seu pensamento.
E então gritou:
“|AUMENTAR CARGA|!”
Com as duas mãos espalmadas sobre a chapa de metal de Gigaton, Juniorai ativa sua habilidade. A máquina de Riful tenta se levantar, mas é em vão. Estava muito pesado para isso.
“Isso! Funcionou!”, Juniorai sorri.
“De novo... esse... poder...”, diz Riful, apertando seus olhos.
Somente os braços do robô eram capazes de se mover agora. Ainda próximo da carapaça blindada de Gigaton, Junior dá alguns tapinhas na blindagem para chamar sua atenção.
“Ei! Sua máquina estúpida! Eu estou aqui! Tenta me pegar, sua sucata!”, ele gritou, ativando os sensores do arauto de Riful.
Os braços que lembravam tentáculos mecânicos gigantes serpentearam no ar e bateram no chão algumas vezes de forma descoordenada antes de realmente buscarem o seu alvo. Então o da esquerda vem e tenta uma pinçada contra Junior que ativa sua habilidade |REDUZIR CARGA| novamente para facilitar a esquiva. A grande pinça mecânica perfurou a blindagem e então a segunda veio e deu outro golpe logo em seguida.
Junior desvia saltando em cima do robô e se grudando nele. Os braços novamente respondem com mais ataques que acabam perfurando sua chapa e causando sérios danos internos a ele mesmo.
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HP – 0/155.000| –132.000 (Crit. Dmg!)
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– RELATÓRIO DE COMBATE –
Exp Adq. – + 5.400 (Lv.UP!)
– DANO CAUSADO –
Físico: 0
Mágico: 0
– ITENS ADQUIRIDOS –
–
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Após uns 5 ou 6 golpes depois, Gigaton parou de se mexer e faíscas eram liberadas dos buracos em sua chapa de metal. Juniorai desativou a habilidade e saltou de cima do robô, ficando frente a frente com Riful do Maquinário. A menina, ainda com seu aspecto estoico e imutável, o encarava de volta.
“Agora só faltar ajudar o Arthur e podemos...”, uma grande explosão cortou os pensamentos do aventureiro.
“...!”
“Então... tudo... está... parando...”, disse Riful, com sua costumeira voz pausada.
“Como assim?”, pergunta Juniorai.
E então mais uma explosão.
Megaton desferia uma série de golpes rápidos com suas motosserras, ao passo que Arthur revidava com golpes flamejantes intensos e bloqueava os ataques adversários. A luta se resumiu a uma troca frenética de golpes entre os dois lados o qual permanecia empatada.
Junior olhou para o intenso combate que se desenrolava e então mirou para Riful parada, também observando o combate.
“Por que ela não está me atacando? Sério que ela vai assistir a todo o combate simplesmente sem fazer nada? A não ser que...”, um pensamento despontou na mente dele, como se uma luz tivesse alumiado seu discernimento. “... ainda não tenha iniciado a luta contra o chefe da Raid! Então isso significa que também não posso ataca-la?”
Ele tentou mover qualquer membro para ir em direção a ela para testar sua teoria, mas não conseguiu. É como se estivesse paralisado; seu corpo não respondia a nenhum comando, mesmo que fosse somente para mover um dedo.
“...!”
Riful apenas assistia o combate entre o Doutrinador ensandecido e seu arauto, quieta e silenciosa. Mesmo que tentasse, era impossível prever o que se passava pela mente da menininha mecânica – isso é, se passava algo de fato.
Depois de várias tentativas, Juniorai desistiu de tentar se mover. Era algo que estava além de seu controle. Uma mecânica imposta a ele pelo próprio jogo.
“Droga! Não dá pra fazer nada por causa dessa porcaria de evento! Com certeza, era algo que já estava programado para acontecer. Merda!”, raciocina ele.
“... só resta assistir mesmo. Vamos lá, Arthur! Vença!”
NOME: MEGATON
RAÇA: GOLEM
PORTE: GRANDE
NÍVEL: 25
HP: 87.470/155.000
ESCUDO: 0/50.000
HABILIDADE: RAIO LASER.
- MOTOSSERRAS ELÉTRICAS
- ATRAÇÃO MAGNÉTICA Lv.2
- PROPULSÃO ACELERADA
- RESISTÊNCIA: DANO ELEMENTAL[FOGO] Lv.5
- MOVIMENTOS PADRÕES IDENTIFICADOS: CORTE, DESLIZAMENTO, GIRO SOBRE EIXO PRÓPRIO, GOLPES CADENCIADOS
DESCRIÇÃO: Grande Golem que guarda a sala de Riful do Maquinário. Possui ágeis movimentos e pode coordenar ataques usando seu raio laser e suas motosserras.
“Arthur ainda conseguiu causar um bom dano nele, mas a resistência a fogo já está alta demais! Não imagino como ele vai conseguir causar mais dano a partir de agora...”, pensou Junior, preocupado.
Arthur bloqueou uma das motosserras com a garra flamejante; a arma ficou girando imbuída de uma energia que lembrava descargas elétricas fortes enquanto soltava várias fagulhas, arranhando as escamas escarlates, mas sem causar um dano expressivo nelas de fato. As chamas aumentaram ainda mais, fazendo Megaton recuar.
Enquanto assistia de longe, Juniorai notara algo curioso acontecendo em meio ao fragor do combate. Eram traços sutis e muitas vezes camuflados em meio a tantas labaredas violentas sendo liberadas por Salamandra, mas mesmo assim, ele pôde perceber:
Fora o semblante anormal do companheiro, algo estava tomando conta de seu corpo.
“O que está acontecendo com ele? O braço escamoso dele parece que... está aumentando? Não... as escamas estão se espalhando pelo corpo! Enquanto a batalha acontece, as chamas estão crescendo e aquilo o está afetando de alguma forma...”, teorizou Juniorai.
O rosto de Arthur estava mudado; fora de si, mais agressivo, mais animalesco. Entretanto, de primeiro momento, a intensidade dos ataques de Arthur que antes pareciam não afetar Megaton, agora estavam pressionando-o.
Junior fica embasbacado com tal fato, pois a resistência da máquina a seu tipo de dano já estava em Lv.5!
Arthur soltou um rugido bestial e liberou um jato de fogo intenso na direção do robô gigante. Ele continua avançando, dispersando as chamas e balançando seus braços mecânicos ao passo que ia desferindo golpes com suas motosserras. Arthur esquivava de alguns golpes e bloqueava outros com as garras, trocando golpes de igual para igual com o golem.
Com um detalhe: Megaton estava ficando mais lento.
“Ele está... superaquecendo?!”, inquiriu Junior.
“Uaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!”, Arthur gritou.
A garra cresceu mais ainda no meio da troca de ataques. As escamas escarlates fumegantes estavam expandindo e se espalhando, tomando aos poucos o corpo de Arthur. Já começavam a chegar em seu pescoço, invadindo um pouco do rosto e também descendo para o peito.
E o combate continua intenso. Fogo e raio são liberados do choque entre os ataques. Nem um dos dois parecia demonstrar que recuaria.
Megaton estava sendo pressionado pelo fogo aos poucos. A cada golpe, as chamas causavam pequenas explosões menores e extremamente quentes próximas a ele, retardando seus movimentos.
“Megaton está tendo dificuldades para aparar os golpes dele? Mas ele já não havia identificado os padrões de ataque do Arthur? Será que é alguma falha no sistema devido ao superaquecimento?”, Juniorai continuava pensativo.
“..., mas e se os golpes de Arthur não estiverem seguindo nenhum padrão? Esse pedaço de lata não teria como analisar ou prever seus movimentos.”
Então algo surpreendente acontece: entre um golpe e outro, o braço direito de Megaton se parte, o ferro fundido se desprendendo do corpo do golem. A malha dentada da motosserra para, com a maior parte da arma completamente derretida.
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HP – 43.560/155.000| – 65.430 (- 4.500 per sec.)
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“...!”
“Não... pode ser...”, sibilou Riful, levemente surpresa.
“C-como ele fez isso?! A resistência do subchefe está em Lv.5! Ele não... deveria ser capaz de causar nenhum dano!”, exclamou Junior, chocado.
Megaton então ataca com a motosserra de seu braço restante, mas é aparado pela garra flamejante de Arthur. Ele segura firme o braço do robô em sua mão como se não estivesse sofrendo nenhuma injuria.
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HP – 43.560/155.000| – 69.930 (- 4.500 per sec.)
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“Ele... está dando dano por segundo em um robô com resistência a fogo?! Que caralhos está acontecendo aqui?!”, Junior se perguntava aquilo, sem entender o desenlaçar do combate.
A barra de vida de Megaton estava descendo a níveis perigosos e logo ele seria derrotado. Arthur ainda segurava a motosserra enorme com sua garra incendiada, destroçando-a momentos depois. Algumas fissuras também se revelam no braço restante de Megaton – provavelmente provocadas pela troca de golpes de mais cedo.
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HP – 19.814/155.000| – 23.746 (- 4.500 per sec.)
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O braço do robô reduziu-se a meros pedaços de metal partidos e carbonizados no chão. O golem de metal recuou alguns passos e caiu prostrado, arrancando um silvo metálico agudo do chão. Arthur caminhou até ele, as chamas liberadas de Salamandra envolvendo todo o espaço entre os dois.
Mesmo com toda a resistência a fogo que sua adaptabilidade conseguiria lhe proporcionar, ainda não fora suficiente para suportar o calor abrasivo das chamas de Salamandra.
Megaton estava derrotado. Seus componentes mecânicos já não funcionavam mais, a maioria de suas peças já haviam virado manteiga derretida ante ao calor infernal e até mesmo suas pernas já começavam a fundir.
“Acabou... Arthur conseguiu!”, pensou Junior, meio aliviado.
Entretanto, Juniorai ainda estava longe de comemorar.
Arthur crispou a garra incendiada e então, em um único movimento ascendente, decepou um derrotado Megaton, explodindo o que restava da carcaça metálica. A cabeça saiu voando e rolou até parar próximo a parede. O corpo gigante e ardente tombou logo em seguida, faiscando.
“I-incrível...”, disse Juniorai, de olhos esbugalhados.
Então Junior nota que já conseguia se mexer normalmente. O evento dos subchefes havia se encerrado e a batalha contra Riful iria começar logo na sequência.
Ele voltou a encara-la e ela apenas fechou os olhos, sentando-se onde estava. Juniorai percebeu que em sua visão, vários sinais começavam a aparecer, sendo o primeiro deles uma grande tela preta a qual o cegou por alguns momentos. Depois disso, os cantos de sua visão estavam pretos como se estivesse diante de uma tela unidimensional.
Além disso, vários números como experiência e seus status atuais também apareciam para ele.
“Que merda é essa que tá acontecendo?”, pensou consigo enquanto comtemplava a tudo aquilo.
“Por que... vocês... são... tão insistentes?”, a menina girava uma engrenagem parada no chão com seu dedo indicador. “Por que... vocês... estão invadindo... a minha... casa?”
“Uma cutscene?”, um pensamento irrompeu na cabeça do aventureiro. “Outro evento está pra começar, imagino...”
Porém, algo que apareceu em sua visão o assombra:
– MENSAGEM DO SISTEMA –
– NOVA [MISSÃO PRINCIPAL] DISPONÍVEL! –
|– AJUDE RIFUL DO MAQUINÁRIO E DERROTE ARTHUR! –|
– Mais detalhes –
“O que...?!”
Antes que Junior pudesse falar qualquer coisa, uma bola de fogo desceu do céu entre eles dois e explodiu no chão mecânico do salão. Juniorai rapidamente recuou jogando o corpo para trás, cobrindo o rosto das labaredas.
No entanto, Riful parecia não se intimidar com aquela presença infernal aparecendo repentinamente.
“Arthur! Arthur, o que foi...?!”, Junior olhou bem e o semblante de seu companheiro estava transfigurado em uma face de ira incontrolável. A íris de seus olhos se perdeu em um olhar vazio de fúria bestial.
“GRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAUHHHH!”, rugiu ele golpeando para todos os lados aleatoriamente, o balançar de seus braços gerando ondas de fogo crepitantes.
Riful rapidamente se moveu para trás, rápida e abruptamente, quase como se deslizasse no ar. Era alguém muito ágil para quem não tinha sequer o corpo completo. E então, enormes asas de fogo surgiram nas costas do Doutrinador. Arthur bateu suas asas, gerando ondas de ar quente que causaram pequenas queimaduras no rosto de Juniorai.
“Argh! Ah! Ah! Droga! Droga!”, gritou ele cobrindo o rosto com as mãos e se afastando ainda mais.
Do outro lado, Riful do Maquinário agora estava com dois dispositivos pentagonais em ambos os lados da cabeça, lembrando caixas de som medianas e que flutuavam próximas às suas têmporas. As duas formavam uma espécie de campo de “antigravidade” e que permitia a robozinha se mover mesmo se ter seu corpo completo.
Ela espalmou sua mão direita e reuniu algumas engrenagens e peças de metal que estavam soltos do chão arruinado, condensando-os em uma bola de ferro amassada. Após isso, ela arremessa a esfera disforme de aço na direção do Doutrinador enlouquecido.
A bola sequer chegou a tocar nele. Em alguns metros próximo a ele, a esfera incendiou e um pouco antes de tocá-lo, o pequeno objeto foi inteiramente consumido pelas chamas e reduzido a nada.
“Ele está criando uma zona de calor em volta dele e está se expandindo rápido! Desse jeito... esse salão vai virar, literalmente, uma churrasqueira. E nós somos a carne!”, raciocina Juniorai enquanto suava bastante.
“Riful... proteja esse lugar. Ela é nossa casa. Sua casa!”, a voz de seu pai soprava desde longe.
Todos os mecanismos da sala já paravam de funcionar por conta da alta temperatura.
“Eu... vou... proteger... A MINHA CASAAAAAAAAAAAAAAAAA!”,
Um sinal apitou na mente de Junior. A batalha contra o verdadeiro chefe havia começado. Ainda sem entender porque o jogo o forçaria a lutar contra seu próprio amigo, Juniorai demorou algum tempo para realmente absorver toda a situação atual.
Nesse meio tempo, Riful invocou algo como três drones gigantes de metal, lembrando peixes com turbinas implantadas dos dois lados. Dentro da grande boca dessas máquinas, uma pequena cabeça com dois olhos vermelhos como feixes luminosos de laser elevava-se desde o interior.
Junior analisa rapidamente para saber o que eram aquelas máquinas agora:
Arma Principal Jetas
. Tipo da arma Projétil
. Categoria Arma Tecnomágica
. Peso 70 kg
. Local de Origem Torre do Maquinário
E então, algo começa a brilhar em seu peito. Um intenso brilho que iluminou todo o salão, fazendo Junior desviar os olhos rapidamente. Arthur fica frente a frente com ela, sendo atraído pela energia latente daquele centro tremeluzente.
“GRAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH!!”, Arthur rugiu ante o convite à batalha.
Ele avançou como um imenso cometa furioso em chamas contra a menininha robô, mas foi parado no meio do caminho por algo que surgiu do chão e o atingiu repentinamente.
“Arthur!”, gritou Junior.
De repente, Junior percebeu que o chão abaixo dele estava desaparecendo.
“...!”, Junior projetou seu corpo para frente, mas não deu tempo de saltar. Antes que caísse no buraco, ele se pendurou na borda do buraco. “Cacete! O que foi isso?!”
Arriscou uma escalada para fora, mas uma pressão avassaladora o sugou para dentro do buraco escuro e aparentemente sem fundo. Antes que pudesse sequer gritar, seu corpo estatelou-se em um outro ponto do salão, alguns metros das costas de Riful.
O dano à sua barra de vida foi consideravelmente alto para uma queda.
“Argh! Arg! Arg! Que... que foi que...”, logo uma explosão jogou seu corpo debruçado longe, fazendo capotar algumas vezes antes de parar na parede.
Daquele ângulo, mesmo tonto e desnorteado pela sequência desastrosa de acontecimentos, Juniorai pôde perceber o que havia acometido seu parceiro: era um pilar!
“Aquela coisa surgiu do chão?”, pensou Junior, ainda se recuperando.
Arthur alcançou Riful após explodir o pilar em seu caminho e desferiu uma barragem de ataques ensandecidos e que liberavam rajadas de fogo para frente. Riful desvia com dificuldade dos ataques velozes e infernais, revidando com feixes de laser dos Jetas e chicoteando aqueles grossos cabos e canos que estavam ligados ao seu corpo, porém sem conseguir atingi-lo também.
Os lasers atingiam o corpo de Arthur, mas não pareciam diminuir o ritmo de ataque dele. Então ele se aproveita de um breve descuido de sua adversária e a golpeia com sua garra, seu ataque quase encaixando em cheio no dorso frágil da pequena Riful, que plana para trás rapidamente. Em resposta, a menina mecânica invoca do chão um grande prego que atinge Arthur em seu ombro e se liquefaz logo em seguida.
“Tsc... que... inconveniente!”, murmurou Riful, levemente irritada.
Arthur continuava a ir para cima de Riful, sem dar tempo nem trégua. Seu frenesi não tinha controle e nem limites, atacando com ondas de fogo que explodiam em incêndios que carbonizariam facilmente qualquer coisa “orgânica”.
Riful continuava a invocar mais pilares e algumas barreiras para se proteger, mas qualquer coisa que invocasse não duraria muito tempo próximo a ele. Ao perceber que algumas partes de seu corpo começavam a derreter, a menina tomou de distância e encolheu seu corpo, esperando que seu inimigo viesse até ela.
“O que ela está pensando em fazer? Levou muito dano e pretende se recuperar?”, Juniorai assistia àquilo com um péssimo pressentimento.
“Papai... me dê... forças...”, a menina então expandiu seu peito, abriu bem os braços e, antes que Arthur a alcançasse, uma onda potente de energia deflagrou-se de seu peito, sondando todo o salão em uma onda arrebatadora.
Arthur foi jogado longe como uma folha sendo arrastada por uma corrente forte de vento, sucumbindo ao poderoso estrondo. Juniorai foi imprensado contra a parede pela pressão daquela onda de energia, caindo no chão com o corpo ardendo logo depois.
Ainda voando, Arthur caiu em um buraco que se abriu no chão, da mesma forma que surgiu debaixo dos pés de Juniorai, e reapareceu em outro canto isolado do salão, a vários metros longe de Riful. O dano causado dessa vez foi significativo e ele ficou um bom tempo estirado no chão após a queda.
O fogo se espalhou em pequenos focos e bolas de fogo pelo chão mecânico e suas asas incandescentes se dissiparam.
Riful caiu de joelhos no chão, parecendo ter se esgotado ao liberar aquele pulso de mais cedo.
“Papai... eu... não vou... permitir... que eles... destruam... nossa casa...”
Arthur se levanta da pequena cratera que se formou com sua queda, se esforçando para manter o equilíbrio em pé. De repente, vários pilares brotam do chão ao redor dele e em outros cantos do salão. Acompanhado disso, o campo de batalha começa a tremer.
“Merda! A torre está mudando de novo?!”, pensou Junior lutando contra a instabilidade debaixo de seus pés.
Juniorai se apoiou na parede atrás dele até perceber que ela estava se movendo de lugar. As paredes, pilares, buracos e o próprio chão estavam mudando de lugar. Riful estava mudando as posições de tudo ali dentro e o aventureiro ficou esperto para não se colocar em uma posição perigosa.
As paredes do salão recuaram, afunilando em direção ao epicentro da conjuração que era a própria Riful. Juniorai e Arthur são arrastados para o meio da arena, formando-se agora em um grande corredor com vários pilares flutuando, pregos varando de uma parede a outra e algumas partes do chão faltando.
O espaço agora estava bem limitado por ela e Junior se encontrou entre Arthur e Riful, ambos prontos para atacar.
“Ah, que merda! Agora não tem como não ficar no meio do tiroteio! Porque você tinha que me meter no fogo cruzado, loli robô? Por que?!”, Juniorai praguejava mentalmente.
Arthur soltou outro rugido estridente, abrindo sua mão e reunindo energia entre as garras. Juniorai observou aquilo apavorado, imaginando que não teria como escapar daquilo em um espaço fechado como aquele.
Em resposta, Riful juntou as mãos e cruzou os dedos, de olhos fechados e balbuciando meias palavras que Junior não escutou direito o que era – estava ocupado demais procurando uma forma de não morrer incinerado.
“|LEGADO... DO... PAPAI|!”, exclamou Riful com suas duas mãos espalmadas e únicas na direção de Arthur.
Ao ouvir o nome do que pareceu ser o nome de uma habilidade, Junior não pôde segurar o riso.
“Como é que é? Repete aí de novo! Não entendi!”, gritou ele, sem conseguir segurar as risadas.
Logo um fenômeno incrível acontece segundos após as palavras de Riful ressoarem pelo salão-corredor; a abóbada que continha aquele infindável mosaico mecânico se recolheu como se se fosse um comprido pedaço de pergaminho se enrolando. Acima do Arthur possuído, um par de mãos gigantescas de puro metal brotou da junção de todos aqueles componentes, incluindo os próprios Jetas de Riful.
“Caralho!”, exclamou Junior, os olhos esbugalhados mirando para aquela cena, no mínimo, absurda.
As duas mãos gigantescas desceram na direção de Arthur para esmaga-lo, enquanto carregava seu ataque.
“Essa não! Isso com certeza vai mata-lo!”
“|REDUZIR CARGA|!”, Juniorai gritou momentos antes das palmas de aço atingirem seu companheiro.
As gigantescas mãos de metal atingiram Arthur com violência, o impacto fazendo o corpo flamejante do Doutrinador afundar e desaparecer no chão. O piso se retorceu e um ruído barulhento desorientou Juniorai por alguns instantes, até perceber que não conseguia mais ver seu amigo.
“Droga! Será que deu certo?!”, pensou ele, preocupado. Se questionava se havia dado tempo de a habilidade ativar.
E então Juniorai percebe que o chão de metal começa a ficar extremamente quente e até mesmo mudar de cor.
“Hm...?”
*BRUUUUUUUM*
O chão arriou. Um grande fogaréu se elevou debaixo das duas grandes mãos de metal e explodiu em um turbilhão de fogo que consumiu todo o corredor, alcançando até Riful do Maquinário. As mãos mecânicas foram completamente consumidas pelas chamas e derreteram minutos depois, espirrando no chão e desaparecendo logo após.
“Picker!”, Junior estava voando no ar, a cauda peluda de diabrete da bolinha olhuda enrolada no seu braço.
Ele havia salvado seu mestre de virar churrasco.
“Caraca! Esse bichinho tem muita força para o tamanho dele! Nunca mais eu nego quando ele quiser comer minha comida junto com o prato!”, pensou Junior com uma expressão de espanto olhando para ele batendo suas asas angelicais enormes.
“Mas e agora?”, o aventureiro voltou sua atenção para baixo, onde uma grande cortina de fumaça cobria todo o corredor.
Os pilares que estavam flutuando caíram, mas desapareceram antes de tocarem o chão; os objetos se desmancharam em um pó verde chispante que foi desvanecendo no ar.
“Os pilares despawnaram? Isso significa que...”, questionou Juniorai.
Picker então soltou o braço dele e o largou no meio da fumaça de repente, interrompendo seu pensamento.
“...!”
“Wiwiwi! Wiwiwiwiwi!”, o bichinho começou a zunir, como se estivesse cansado.
“Picker, seu maldito! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!”
Juniorai aterrissou dispersando a fumaça. Não encontrou nada envolta dele em uma olhada inicial, mas somente um piso mecânico arruinado, vários buracos e partes de metal retorcido e completamente negras com fuligem. Outras partes e componentes mecânicos também estavam dispostos no chão, alguns liquefeitos, outros não.
Procurou em volta, mas não avistou mais nada além de peças espalhadas. Também não via Arthur em canto nenhum e seu peito começa a apertar pensando nas possibilidades. Será que ele se explodiu junto? Será que também havia desaparecido?
“Riful? Ela despawnou também?”, pensou Juniorai na possibilidade de não conseguir o que veio buscar.
Em sua mente, o objeto que Bazz7 havia requisitado era um item derrubado por Riful do Maquinário, mas não tinha certeza ao certo se deveria extraí-lo do corpo da menininha ou se iria aparecer em algum lugar aleatório do mapa depois da batalha contra ela – e que no fim, o chefe final acabou nem sendo ela propriamente dita.
Andou mais um pouco e encontrou o corpo mecânico da boneca automática estirado no chão, faiscando. Sua barra de vida estava quase zerada, seus dispositivos antigravidade estavam despedaçados no chão e seu corpo estava quebrado e chamuscado.
“Riful...”
“Pa... pai...”, disse com a voz entrecortada.
“...?”, Juniorai iria falar, mas se calou no último momento
De último momento, seus lábios delicados e rachados nas laterais se moviam, mas sem soltar qualquer tipo de voz, como se conversasse com alguém. Ela mantinha um olhar vazio e fixo no teto da torre, que aos poucos ia ruindo.
Estava revivendo algo importante em sua mente.
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Há muitos anos atrás, um grande legado de metal era construído. E uma nova vida... se reformulava dentro de um laboratório...
“Riful! Venha já aqui!”, gritava uma voz cansada e roída.
A boneca automática responde rapidamente, correndo o mais rápido possível.
“Oi, papai! O que o senhor deseja?”, responde ela, animada.
O velho tossiu mais umas 4 ou 5 vezes antes de responder, se escorando em sua cadeira modesta e improvisada de madeira.
“Vá buscar meus remédios, Riful. Já está passando da hora de toma-los.”, pediu o senhor, sua mão enrugada sobre a boca.
A menina fez um gesto de cabeça e obedeceu, saltitando pela sala enquanto procurava pelo que ele lhe pediu. Ele já sabia onde estava, mas preferiu por deixa-la procurando enquanto a observava com um semblante melancólico e distante.
“Aqui papai! Achei!”, Riful entregou o pote meio empoeirado nas mãos dele. “Mais alguma coisa que eu posso fazer? Qualquer coisa?”
O velho a encarou, pensativo.
“Não, minha filha. Pode ir.”, responde, enfim.
A menina levantou uma sobrancelha.
“O que foi, papai? O senhor está...”
“Não é nada!”, gritou ele, se virando. “Agora vá procurar algo para construir. Estou ocupado com os meus projetos!”
A menina fez um biquinho e obedeceu, saindo da sala e o deixando sozinho. O velho voltou sua atenção para sua mesa de projetos, abarrotada de papéis rasgados, riscados, enrolados, peças e objetos desmontados, além de ferramentas soltas. O senhor septuagenário barbudo tentava construir algo com suas duas mãos trêmulas e enrugadas, mas não conseguia.
“Acho que não vai dar certo de todo jeito...”, pensou consigo, largando as peças em cima da mesa e removendo seu monóculo com lentes amplificadas.
Pegou o pote que Riful havia lhe dado, retirou duas cápsulas de dentro e as engoliu. E então não conseguiu mais retornar ao seu trabalho, se perdendo em seus devaneios taciturnos.
“Eu tenho que fazer isso logo.”, concluiu seu pensamento e se levantou.
Entrou na sala onde Riful estava sentada, brincando de construir autômatos. Era incrível para ele como sua pequena menina aprendeu e desenvolveu sua Tecnomagia tão rapidamente e de forma espontânea. Ela ria e interagia com a máquina, como uma criança faria com uma bonequinha comum.
“Riful.”, ele a chamou.
“Ah, papai! Olha o que eu construí! Não é lindo?”, ela mostrava uma máquina do tamanho de um drone, mas que tinha a forma de um peixe.
“O que é isso?”
“Não sei ainda. Vou chamar de Jeta!”, disse, animada.
O velho não respondeu. Apenas se aproximou da pequena robozinha, sentou-se ao seu lado e tocou em sua criação, ficando algum tempo pensando.
“Riful...”
“Oi, papai! Tem alguma coisa a mais que eu posso fazer? Se quiser, eu posso...”
“Você vai cuidar desse lugar para mim.”, disse de repente.
A menina esboçou uma expressão de confusão, como se não tivesse entendido direito.
“Papai... o senhor vai sair? Eu posso cuidar...”
“Não. Eu estou dizendo que você vai ficar com tudo isso. É você quem vai cuidar de tudo isso a partir de hoje.”
Os olhos da menina se projetaram para frente, lentamente adquirindo um aspecto assustado.
“Papai... o que o senhor está querendo dizer com isso?”
“Eu vou ter que... fazer uma viagem. Uma viagem para uma terra... distante”, a voz dele sai abafada, como se estivesse relutante ao dizer aquilo.
“Uma viagem? Posso acompanhar você na...”
“Não, Riful.”, ele a interrompe. “Você não vai comigo.”
E então o rosto de Riful se nublou.
“Por que, papai? Por que não posso ir com você?”, perguntou ela, sacudindo as barras de sua jaqueta desbotada.
“É algo que eu... preciso fazer sozinho.”, responde ele.
“Mas, papai...”
“Riful! Você sempre me obedece sem questionar. Me obedeça agora também.”
“...”
O velho saiu da sala, deixando aquele clima denso para trás. O autônomo girou sua cabeça, alternando seu olhar entre o senhor que se retirava e sua criadora com um rosto abatido.
Dias depois, ele foi embora do acampamento onde havia estabelecido seu laboratório, deixando apenas uma carta e um pergaminho o qual continha um projeto:
“Querida Riful. Eu sei que você deve estar confusa e entendo perfeitamente se você querer me odiar, mas tenho meus próprios motivos para isso. Peço perdão por não poder contar para você, mas tenho um último pedido: viva e cuide desse lugar que chamamos de ‘nosso lar’. Conto com você para cuidar disso.”
Ao ler a carta, a menina engoliu em seco e tomou o pergaminho em suas mãos, desenrolando-o.
“Uma... torre?”