Volume 8

Capítulo 246: A disposição secreta de Pionia

Por ora, vou reunir um pouco de informação.

Mesmo assim, eles não sabem de nada fora do mar. Talvez eu possa obter mais informação na cidade que fica por perto e é chamada de Hanmuno.

Eles não iriam refletir sobre suas ações se eu apenas fosse embora sem puni-los, assim, fiz todos os piratas viajarem para a praia próxima para coletar pequenos caranguejos, camarões e algas marinhas com ovas[1], e enquanto eles faziam isso, vários mariscos como caracóis turbante[2] e abalones[3] também.

Eu ameacei os piratas dizendo que se eu ouvisse qualquer palavra dizendo que eles cometeram atos malignos de novo, eu os destruiria junto com seu esconderijo com magia. Parecia que eles iriam ganhar dinheiro ao vender o óleo que o jovem garoto criava com a habilidade Criar Óleo. Era triste ver como os piratas tinham que depender de uma criança.

Eu confisquei metade dos tesouros que eles tinham e deixei o esconderijo.

Assim, quando não havia ninguém por perto, eu colei o selo de permissão no balde contendo o camarão, os caranguejos e os mariscos e voltei para o Meu Mundo.

Logo a seguir...

— Eu sinto muito mesmoooo!

Me desculpei com Pionia me prostrando de uma forma ainda mais perfeita do que a feita pelos piratas.

Era porque eu perdi o veleiro que Pionia meticulosamente fez.

Independente de isso ter acontecido por causa de um defeito em minha habilidade ou pelos esquemas de Torerul-sama, fui o responsável por perder o veleiro, então fiz o honorável ato de me desculpar.

— Por favor, levante sua cabeça e explique a situação. O que aconteceu?

Pionia disse e eu recontei tudo o que tinha acontecido.

Ela não estava surpresa sobre o ataque dos piratas porque Sheena Nº3 deve ter contado sobre isso, mas ela naturalmente não sabia sobre eu deixando o navio sem vigilância após ser transferido à força.

— Eu entendo. Isso não foi culpa do mestre, então não há necessidade de se desculpar.

— Sério? Mas não teríamos perdido o navio se tivesse pedido para Sheena Nº3 continuar nele para protegê-lo.

— Se você tivesse feito isso, Sheena Nº3 estaria à deriva no mar, sozinha. A decisão do mestre não foi a errada.

Fiquei aliviado com a vastidão do coração de Pionia.

Eu tinha certeza que ela ficaria nervosa quando a contasse que perdi o navio, que ela construiu com tanta alegria, em menos de um mês.

— Além disso, posso apenas construir um novo veleiro se aquele foi perdido. Estou ansiosa por isso.

Vou me corrigir. As palavras que ela acabou de dizer não eram um perdão, mas seus desejos pessoais.

Bom, ela pode ter dito aquilo para tranquilizar meu coração.

Pionia logo começou a organizar a alga marinha, pequenos camarões, pequenos caranguejos e mariscos que eu (ou melhor, que a maioria dos piratas) coletei. Ao que parecia, havia parasitas em mais de 20% dos mariscos. Eles não poderiam ser usados, mas estaria tudo bem após assa-los, então eles se tornaram aperitivos para Pionia.

Ao mesmo tempo, mudei para roupas mais apropriadas para o deserto.

Cobri minha cabeça com um véu branco que os piratas me deram de forma pacífica. Ao que parecia, todos os cidadãos deste país vestiam esse mesmo véu. Além disso, troquei minhas roupas de manga curta para roupas de manga comprida.

Apesar das roupas serem feitas com o mesmo design das que estive vestindo o tempo todo, elas eram roupas feitas no Japão que Miri trouxe com ela, então elas eram macias e confortáveis. Considerando que essa roupa não era de manga curta como de costume, acho que ela deve ter ouvido dos piratas que este país tinha um clima tropical.

Havia o perigo de sofrer com queimaduras com a temperatura moderada tais como bolhas na pele nua se uma pessoa caminhasse debaixo do calor escaldante de um clima árido e isso pode até se tornar fatal no pior caso, então a maioria dos cidadãos se locomovia com mangas compridas. Contudo, uma porção dos nobres aplicava um creme para prevenir queimaduras solares, então eles poderiam expor suas peles ao Sol sem nenhum problema.

Planejei embarcar em uma carruagem para a cidade de Hanmuno, mas um sério problema surgiu. Bem, tive a sensação que algo aconteceria.

Fuyun não escutava meus comandos.

Você deve achar que estaria tudo bem se eu apenas fizesse Sheena Nº3 ser a cocheira, já que ela era uma garota, mas isso não funcionaria. Como esperado de um cavalo, ele parecia ter notado que Sheena Nº3 não era uma garota comum.

Eu podia apenas subir nele à força e montá-lo, já que possuía a habilidade hipismo, mas ele ficaria fora de controle se eu tentasse montar nele. Era como se ele me dissesse que ele se orgulhava em não me deixar montar nele.

Vou ter que recorrer a minhas pernas? Mesmo eu chegando até a preparar produtos falsos (potes de óleo) para colocar na carruagem.

— Que tal eu ser a condutora? Você não tem nenhuma reclamação, não é Fuyun?

Neete disse isso e tranquilizou Fuyun. Sem que eu notasse, ela estava vestida como uma princesa árabe.

Perfeito para um país do deserto.

Fuyun se acalmou enquanto ela acariciava sua crina, mas Neete como a condutora?

— Ei, Neete. Você é capaz de deixar este mundo?

— Hmm? É claro?

— Bem, é porque Pionia nunca disse nada sobre sair daqui.

— Simples, Pionia-oneesan é basicamente uma hikikomori[4].

Sério!?

Essa foi a primeira vez que escutei sobre isso.

Eh, ela é uma hikikomori?

Se isso for verdade, ela deve ser um caso bem sério. Ao ponto em que o papel dela como gerente desse mundo que criei com a habilidade Hikikomori combina perfeitamente com ela.

— Eu nego mestre.

— Ach, não apareça tão de repente. Isso faz mal para o meu coração.

Talvez ela tenha nos ouvido falar sobre ela, já que Pionia estava de pé atrás de mim.

Oi, minha Detecção de Presença não sentiu ela.

— Não é como se eu não pudesse sair para o mundo exterior, é só que eu não sinto necessidade para sair deste mundo. Sou capaz de adquirir a maioria de meus suprimentos aqui e posso fazer o mestre comprar todo o resto que precisar, então não há nenhum problema.

— Isso é soou como: “Posso ganhar dinheiro sem sair de casa com apenas um computador e posso conseguir tudo que preciso pela internet”... algo que um hikikomori diria… esquece, não falei nada.

Assustador!

Ela estava me encarando com um olhar pavoroso. Hã? Ela pode mostrar uma expressão tão assustadora se eu a irritar!?

Não consegui entender direito, já que isso aconteceu por apenas um segundo, mas apenas o medo permaneceu claro porque isso aconteceu tão rápido. Ela é uma Yaksha[5]?

— Mestre, como fui confiada com a gestão desta estrela por Torerul-sama, deve estar preparada para recebê-la sempre que ela vier. Assim sendo, sou incapaz de deixar este lugar. Eu definitivamente não sou uma hikikomori.

— En-entendo. Hã-hã. Isso é verdade. Foi por isso que você ficou zangada.

Eu apaziguei Pionia enquanto ela movia-se gradualmente de forma intimidadora.


Notas

[1] Ovas é o nome vulgar para designar os ovários maduros dos peixes, alguns com muitas aplicações culinárias. Um produto preparado com ovas, originalmente de esturjão, é o caviar.

[2] Turbinidae, ou caracóis turbante, são uma família de pequenos a grandes búzios (nome comum para vários moluscos gastrópodes marinhos de concha em forma de fuso). Os membros da família Turbinidae apresentam um grosso opérculo calcário o que os permite distinguir da família Trochidae.

[3] Haliotis (popularmente conhecidos em português e inglês por abalone) é um gênero de moluscos gastrópodes marinhos da família Haliotidae e o único gênero catalogado desta família. Foi proposto por Linnaeus em 1758 e contém diversas espécies em águas costeiras de quase todo o mundo. Na gastronomia, o abalone é um molusco valorizado em países asiáticos. Suas dimensões variam de dois a trinta centímetros.

[4] Hikikomori (literalmente "isolado em casa") é um termo de origem japonesa que designa um comportamento de extremo isolamento doméstico. Os hikikomori são pessoas geralmente jovens, entre 15 a 39 anos, que se retiram completamente da sociedade, de modo a evitar o contato com outras pessoas. Esse tipo de comportamento é atualmente tido como problema de saúde pública no Japão onde milhares de jovens se encontram nesta situação devido ao alto grau de perfeição exigido das pessoas em tarefas diárias e à pressão acarretada por tal exigência, o que acaba levando muitas pessoas a problemas psicológicos de baixa autoestima e em alguns casos extremos tendências psiquiátricas graves. Há casos extremos onde filhos chegam aos 40 anos ainda dependentes dos pais e sem experiência profissional.

[5] Yaksha é o nome de uma ampla classe de espíritos da natureza, geralmente benevolentes, que são responsáveis pela manutenção dos tesouros naturais escondidos na terra e das raízes das árvores. Eles aparecem na mitologia Hindu, Jainista e Budista. Nas mitologias mencionadas, o yakṣha tem uma dupla personalidade. Por um lado, um yakṣha pode ter a natureza de fadas inofensivas, associada a bosques e montanhas, mas também há uma versão mais sombria do yakṣha, que é uma espécie de fantasma (bhuta) que assombra o deserto e arma emboscadas para devorar os viajantes.



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