Volume 10

Capítulo 365: História secundária: O céu acima e o chão abaixo

Miri Kusunoki não sabia onde estava acima das nuvens.

Se ela pudesse pelo menos ver o sol ou as estrelas, poderia calcular seu rumo, mas a única janela da sala agora estava coberta com uma tábua de madeira.

A tábua de madeira na sala de outra maneira elegante indicava que esse foi um trabalho apressado.

— O que você acha? Não parece que você comeu muito hoje. O chef fez isso só para você. E hoje foi até um bento no estilo maternal.

Daijiro se referiu à recente perda de apetite de Miri.

Não era como se ela não estivesse comendo nada, mas a garota estava deixando mais da metade de sua comida intocada.

— Não há um chef neste navio. Provavelmente é algo comprado em um restaurante e guardado em uma bolsa de itens.

— É conveniente, então o que há de errado nisso? Pelo menos coma o arroz. Veja, eu até borrifei o ovo com furikake1 de algas marinhas.

Daijiro disse e pegou o frango frito que Miri não comeu do bento e o levou para a boca.

Depois de vê-la engolir o frango frito, Miri falou devagar:

— Esse pedaço caiu no chão agora há pouco.

— Eh? Você está brincando.

— Eu estava brincando.

Um breve silêncio se seguiu.

— ... Familis se transformou em uma malvada.

— Qualquer um se tornaria malvado se fosse trancado em um lugar desses.

Daijiro suspirou.

Então, ela comeu uma salsicha em forma de polvo.

— Então, Familis. Qual era o significado daquela carta? Para comprar o livro de Milky. Depois de ver aquela mensagem escondida e conferir o livro de Milky, não notei nenhum conteúdo em particular. Era apenas um mangá BL comum. Foi por isso que permiti que ele fosse oferecido na venda de livros.

Daijiro lambeu os dedos e limpou-os com um lenço de papel antes de tirar o livro de Milky da bolsa.

Ela não parecia odiar o desenvolvimento R18 entre homens jovens e estava olhando um pouco fixamente para o livro.

— É claro. Não havia significado nesse livro. Isso foi apenas um meio de fazer Onii ficar em Mallegory até amanhã.

— Um meio? Para o quê?

— 12.000 soldados de Tsuaobal começarão a invadir Mallegory amanhã.

— O exército real atacará a capital de seu próprio país!? Aquele garoto é a chave para parar a invasão?

— Sem chances. Onii não será capaz de parar a invasão, não importa o que ele faça. Onii tem um papel diferente.

Miri disse enquanto abria o selo no furikake dentro do bento.

Onii tem o papel de trazer salvação a este mundo. O papel de evitar a destruição. O papel de evitar o fim do mundo.

Ela disse enquanto observava o furikake cair como areia em uma ampulheta.

— Espere, Familis. Sua capacidade de olhar para o futuro deveria se estender a apenas alguns segundos no futuro. Mas as coisas de que você está falando agora fazem parecer que...

Daijiro parecia ter notado algo e perguntou:

— Familis, até onde você viu?

Miri não respondeu.

Ela olhou na direção da janela.

Embora tudo que ela pudesse ver fosse a cobertura de madeira.


Jofre e Elise estavam no momento investigando as misteriosas ruínas em que entraram no porão do armazém de Suzuki. Eles chamaram de investigação, mas não estavam investigando nada em particular, os dois estavam apenas andando sem rumo.

As ruínas que costumavam ser um labirinto ainda brilhavam com uma luz fraca, mesmo sem restos de monstros, então eles foram capazes de entrar mais fundo sem precisarem de tochas.

— Veja, Jofre! Parece um cogumelo comestível!

— Há alguns aqui também!

Jofre e Elise pegaram cogumelos vermelhos e azuis.

De forma natural, os dois tipos eram cogumelos venenosos.

Jofre e Elise colocaram os cogumelos que colheram na frente de Centauro, que estava esperando na frente de uma porta grande.

O burro veio ajudar Jofre e Elise alguns dias atrás, mas por algum motivo ficou sentado em frente àquela porta e não se mexeu desde então.

Por causa disso, o casal levou comida para ele.

Centauro comeu os cogumelos venenosos que eles trouxeram, mas ainda não mostrava sinais de movimento.

No início, Jofre e Elise tentaram empurrar e puxar o burro para movê-lo, mas eles já haviam desistido e foram fazer sua refeição.

De carne seca.

Qualquer coisa além da carne já havia sido sugada pelo estômago de Centauro, então tudo o que restava era a carne seca.

— Está delicioso Jofre.

— É, Elise. Mas estamos prestes a ficar sem água.

— Temos que arrumar um pouco então. Certo, vamos contar a Jo sobre esse lugar quando voltarmos. Tenho certeza que Jo ficará animado.

— Essa é uma ótima ideia! Vamos chamar todo mundo e fazer um piquenique!

— Piquenique!? Estou ansioso por isso! Podemos fazer sanduíches e bolinhos de arroz.

— Você sabia? Elise. Eles embrulham as bolas de arroz com um papel preto neste país.

— Eh? Sério? Por que eles embrulhariam a comida com um papel preto? Eles não podem embrulhar com papel vermelho?

— Papel vermelho está fora de questão. Para as pessoas da cidade, o papel vermelho significa que haverá uma guerra em breve.

— Sério!? Então não poderemos fazer um piquenique.

— Não é? Então devemos usar papel preto.

— Ah, Jofre! Se o preto é melhor que o vermelho, não podemos embrulhar a carne seca com ele? Embora a carne seja originalmente vermelha, ela ficou preta depois de seca. Se embrulharmos com essa cor, isso não significa o fim da luta e que todos podem fazer um delicioso piquenique?

— Essa é uma ótima ideia! Mas a carne seca é dura e não é adequada para embrulhar o arroz... já sei! Não podemos apenas embrulhá-lo com carne grelhada?

— Sim, isso parece ótimo, Jofre! Parece delicioso!

Esse momento foi o nascimento do conceito de bolinhos de arroz enrolados em carne neste mundo.

Nesse momento...

Sem querer, Elise deixou a carne seca em sua mão cair com sua excitação.

— Ah, minha carne seca… eh?

Havia um pequeno botão perto do local onde Elise deixou cair a carne seca.

Ela apertou o botão sem nenhum senso de cautela.

A enorme porta gemeu e começou a abrir para fora.

— ... incrível... gostaria de saber se existe um tesouro à frente.

— Deve ser isso, Jofre! E eu escuto água!

— Água potável!? Vamos nessa, Elise! Tesouro e água estão esperando por mim!

— Tá bem, Jofre!

Os dois entraram com alegria.

"Muitíssimo obrigada."

A voz de uma mulher surgiu.

Elise virou-se para olhar para trás, mas havia apenas Centauro se levantando lentamente.

— Elise! Encontramos uma fonte!

— Sério!? Estou indo!

Elise supôs que estava ouvindo coisas e correu na direção da voz de Jofre.


Nota

[1] Furikake é um condimento seco da culinária do Japão que deve ser colocado em cima do arroz. Ele consiste, tipicamente, de uma mistura de peixes secos e moídos, sementes de gergelim, algas picadas, açúcar, sal e glutamato monossódico. Outros ingredientes saborosos como o katsuobushi (às vezes indicado no pacote como bonito), ou okaka (flocos de bonito molhados com shoyu e secados novamente), salmão, shiso, ovos, miso em pó, vegetais, entre outros, são frequentemente adicionados à mistura.



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