Volume 10
Capítulo 343: A casa de Suzuki
O endereço que Suzuki nos deu e a placa de identificação que dizia "Suzuki" (naturalmente escrita com letras do Outro mundo).
Contando com essa informação, chegamos a uma casa japonesa cercada por uma cerca de bambu.
Era tão grande que eu queria perguntar que tipo de hotel de alta classe era esse.
— Esta é mesmo a casa de Suzuki? Espero que não seja um erro e encontramos outra pessoa com o mesmo nome.
— Mas Mestre. Eu não acho que isso é possível com um nome único como Suzuki.
— ... ah, acho que você está certa.
Embora nomes como Satou, Suzuki e Yamada fossem muito comuns no Japão.
Eu me perguntava se uma casa desse tamanho era comum para um Barão?
Eu era um Quase-Barão, mas ainda não tinha uma casa só minha neste mundo.
Foi por causa do prefixo "Quase"? Ou foi por causa do Desempregado?
Bem, isso não importa.
Posso não ter um lar neste mundo, mas tinha um lar chamado Meu Mundo.
Eu tinha uma estrela inteira como um lar. Em vez de perder, acredito que fui o vencedor.
Depois de recuperar minha autoestima, passei pela porta.
Ouvi o som de tubos de bambu cheios de água batendo contra uma pedra à distância.
Não havia campainha, então bati na porta de correr da entrada.
— Com licença, tem alguém em casa?
A porta de correr se abriu quando eu chamei.
Uma linda mulher vestida de quimono apareceu do interior. Ela tinha cabelo vermelho e olhos azuis, então ela devia ser deste mundo.
Seu trabalho era um bem comum: Cozinheira Lv3.
— Aqui, eu recebi isso de Suzuki.
— Deixe-me ver... Kusunoki-kun, eu acredito? Você viajou uma longa distância. Bem-vindo.
— Muito obrigado.
A agradeci e a segui.
Tirei meus sapatos na entrada e mudei para chinelos.
— ???
— Ah, Haru. Você deve tirar seus sapatos nesta casa. Jofre e Elise e Centauro também...
O rosto da beldade de quimono se contorceu quando ela viu Centauro entrar na casa como se fosse algo natural.
— Eh... erm, disseram-me para levar os cavalos aos estábulos ao lado da casa, mas o que devo fazer com burros? Estábulos? Mesmo sendo um burro? Em primeiro lugar, não deveria ser possível trazer um monstro para a cidade... eh?
A beldade de quimono de repente começou a agir estranho.
— Isso não pode ser encontrado no manual... esta é uma emergência, o que devo fazer? Certo, lembro-me de perguntar ao mestre antes. Na cidade natal do mestre, a carne de cavalo era chamada de carne de sakura¹. Burros são semelhantes aos cavalos, por isso esse é ingrediente enviado como presente. Hã-hã, nesse caso, isso pode ser encontrado no manual. No caso de receber ingredientes alimentares...
Ela enrugou as sobrancelhas e murmurou algumas palavras estranhas antes de dizer com um sorriso brilhante.
— Jofre-sama, Elise-sama. Quão passada vocês gostariam de sua carne? Ou vocês preferem ensopado? Segundo o mestre, o método recomendado é comer cru.
— Carne!? Grelhar é o melhor quando se trata de carne.
— Hã-hã, em cima de uma chama até que o interior fique marrom.
Jofre e Elise fizeram seus pedidos de quão passada eles gostariam de sua carne.
Deveria perguntar a que carne ela estava se referindo?
Assim que tive esse pensamento, Suzuki voltou.
— Espere, Lana-san! Este burro não é comida! Trate este Centauro como um cavalo. Por favor, escolte-o para os estábulos.
— Mestre, bem-vindo de volta. Entendido, vou tratá-lo como um cavalo.
A garota chamada Lana levou Centauro aos estábulos com um sorriso brilhante.
— Suzuki, quem é essa?
— Desculpe, faz muito tempo, então esqueci da personalidade de Lana-san. Ela é a encarregada desta casa, mas, como posso dizer, ela é uma pessoa que necessita de um manual de instruções. Porque tudo o que ela faz tem que seguir o manual, às vezes ela causa problemas estranhos.
Entendo... em seu manual, não havia instruções para quando um burro visitasse, então ela reconheceu Centauro como um presente na forma de um ingrediente alimentar e queria prepará-lo para o jantar. Quando houver lembranças de carne fresca e convidados, sirva a carne durante o jantar... o manual provavelmente afirmava algo assim.
— Eu vou ter que adicionar no manual que se os convidados trazerem um burro junto, leve o animal para os estábulos.
Suzuki suspirou.
Tinha certeza que o manual já estava bastante grosso.
— Você não pode apenas declarar no manual para entrar em contato com um supervisor se emergências fora do manual ocorrerem?
— Em um mundo sem celulares, entrar em contato comigo não é tão fácil. Além disso, não seria problemático ser contatado quando o tofu firme está em falta e se o tofu cremoso pode ser usado em vez disso?
— Isso com certeza seria um incômodo.
Eu sorri sem graça e pensei comigo mesmo: "Então esta cidade vende tofu".
Nós mudamos para chinelos e fomos levados para a casa de Suzuki.
— Este é um corredor lindo. Parece um espelho.
— O corredor tem piso rouxinol² que faz barulho quando as pessoas o atravessam?
— Ele não tem essa característica. Com habilidades de Shinobi e Assassino, eles não fariam um som mesmo se andassem no piso rouxinol.
— Acho que você está certo... eu posso andar de forma silenciosa com o Quarto do Silêncio.
Depois de caminhar pelo corredor, chegamos a um jardim repleto de pinheiros. Havia um lago no jardim e parecia que o som de tubos de bambu cheios de água serenamente batendo contra pedra estava vindo daqui.
— Que belo jardim.
— É, Lana fez um trabalho muito bom. Ela é adepta deste tipo de trabalho preciso. E a comida dela também é incrível. Ela é especialmente boa em fazer doces.
Ah, ela parecia do tipo que gosta de cozinhar enquanto segue a receita com exatidão.
Ela não tentaria mudar a receita de uma forma estranha apenas para falhar.
— Elise, você sabia? Os jardins domésticos da Rua Showa são chamados de jardins de paisagem seca.
— Jardins de paisagem seca? O que isso quer dizer?
— Significa um jardim sem água. Eles representam a água com outras características no jardim.
— Entendi! Hã? Mas Jofre, tem água ali.
— Quê! Umu... entendi, isso é um disfarce de banho quente para representar a água!
— Usar banho quente para representar água? O jardim de paisagem seca é incrível. Então isso é um banho ao ar livre.
— Certo, um banho ao ar livre! Então essa é a tal wabi-sabi³ do Japão.
Jofre e Elise, eles provavelmente ouviram isso de Daijiro-san, mas estavam tendo um grande mal-entendido por causa de seu conhecimento incompleto do Japão.
Haru parecia estar convencida enquanto estava ao lado deles. Vou ter que corrigi-la mais tarde.
E então, fomos levados para a sala com estilo japonês.
Embora fosse uma sala de estilo japonês, um sofá foi preparado em vez de almofadas ou cadeiras.
— Coloquei um sofá na sala de recepção. Afinal, não posso forçar as pessoas deste mundo a ficarem em seiza⁴.
— Isso é atencioso da sua parte.
Eu respondi e me sentei no sofá.
Lana levou Centauro para os estábulos, então Suzuki preparou seu próprio chá.
Aliás, Jofre e Elise saíram para dar uma olhada na mansão depois de tomarem seus chás.
Eles mencionaram, quando Suzuki não estava por perto, que queriam encontrar portas ocultas e espaços vazios no teto.
Eles confundiram isso com uma mansão shinobi?
— A propósito, Suzuki. Como Membro do Laboratório de Investigação Mágica, você pode usar o Exame de Cabelo, não pode?
— Hã-hã. E qual a importância disso? Eu posso ajudá-lo a estudar se estiver interessado.
— Não... ah, hmm. Estou um pouco interessado. Ajudaria se eu pudesse pegar alguns materiais emprestados para examinar.
— É claro que está tudo bem. Espere um minuto.
Suzuki respondeu e saiu para pegar um livro.
Tudo parecia estar indo como planejado.
— É este.
— ... esse é um número enorme.
Havia 50 livros.
Havia sete só sobre Exame de Cabelo.
— Bem, é porque há muita informação.
— Deixe-me ver, aqui está a lista de resultados.
Abri o livro e examinei a seção que me interessava.
Ou seja, o valor do Fator de Risco.
Meu valor de Fator de Risco era: "Fator de Risco: 0-3-4-0".
O que isso significava?
Deixe-me ver... os valores para o fator de risco estão relacionados aos quatro tipos de resistência anormal de status?
O nível 0 significava a menor resistência, enquanto 5 representava a resistência mais alta.
Aliás, os quatro tipos eram: "Confusão", "Paralisia", "Veneno" e "Charme".
Portanto, eu não tinha nenhuma resistência a ataques mentais enquanto tinha alta resistência ao veneno.
Era ótimo que isso não representava fatores de risco para doenças ou algo do tipo.
Em seguida, abri minha anotação e investiguei os valores registrados para o "Desejo" de Miri.
O resultado para o "Desejo" de Miri foi...
— … ah, Kusunoki-kun. O campo "Desejo" significava basicamente "Complexo"... em outras palavras...
— É, eu sei, então não precisa me dizer.
Mas, olhando para os resultados, eu estava começando a duvidar se aquele cabelo era mesmo de Miri.
Afinal, o valor do desejo tinha essa explicação:
52: Complexo de irmão.
Não, não, não há como Miri ser uma Brocon⁵.
Bem, o nome de Miri também estava listado no feitiço Retornar para Casa, mas... não, não, não.
Enquanto eu estava tendo uma séria dor de cabeça, Suzuki olhou para a nota e a cor de repente deixou seu rosto.
— Kusunoki-kun! Os resultados dessa nota, você realmente avaliou o cabelo de alguém!?
— Hmm? Ah, bem, eu pensei que isso ajudaria a dar uma pista de onde Miri estava. Mas não há nenhuma pista.
— Você sabe de quem é esse resultado?
— Este resultado? Ah, esse é bem estranho.
Suzuki estava interessado no campo "Tempo de Vida do Cabelo: 0".
Bem, com certeza era um registro memorável.
— Não é apenas estranho. Isto é muito perigoso.
— Isso é perigoso, mas esse tipo de coisa não pode ser evitado.
— Não, ainda podemos fazer algo. Temos que investigar a quem isso pertence.
Hmm? Não podia imaginar esse outro mundo tendo tônicos capilares.
Suzuki falou com uma expressão séria:
— "Valor da maldição: 42"... precisamos dissipá-la antes que a maldição do frenesi seja ativada.
Notas
[1] Na culinária japonesa, carne crua de cavalo é chamada de sakura (桜), ou sakuraniku (桜肉, sakura significa "flor de cerejeira", niku significa "carne") por causa de sua cor rosada. Ela pode ser servida crua como sashimi em pedaços finos molhados em molho de soja, gengibre e cebolas costumavam ser adicionados ao prato.
[2] Pisos rouxinol, uguisubari em japonês, são pisos que emitem um som de piado quando pisados. Esses pisos foram utilizados nos corredores de alguns templos e palácios, o exemplo mais famoso é o Castelo Nijō, em Kyoto, Japão. As tábuas secas rangem naturalmente sob pressão, mas esses pisos foram construídos de uma maneira que os pregos do piso esfregam contra um revestimento ou mola, causando ruídos. Não está claro se o design foi intencional. Parece que, pelo menos inicialmente, o efeito surgiu por acaso. Um sinal de aviso no castelo Nijō afirma que "o som do canto não é realmente intencional, ele decorre do movimento de pregos contra pedaços do chão causados pelo desgaste ao longo dos anos". Diz a lenda que os pisos rangentes foram usados como um dispositivo de segurança, garantindo que ninguém pudesse passar furtivamente pelos corredores sem ser detectado. O nome em "rouxinol" refere-se ao uguisu, ou rouxinol japonês, que é um tipo de pássaro nativo do Japão.
[3] Wabi-sabi representa uma abrangente visão de mundo à japonesa, uma abordagem estética centrada na aceitação da transitoriedade e imperfeição. Esta concepção estética é muitas vezes descrita como a do belo que é “imperfeito, impermanente e incompleto”. Uma idealização artística desenvolvida por volta do século XV no Japão, durante o período Muromachi, com bases nos ideais do zen budismo. É um conceito derivado dos ensinamentos budistas das três marcas da existência, nomeadamente anicca (impermanência), as outras duas sendo dukkha (sofrimento) e anatta (não-eu). As características estéticas do wabi-sabi incluem assimetria, aspereza (rugosidade ou irregularidade), a simplicidade, a economia, a austeridade, a modéstia, a intimidade e a valorização da integridade ingênua de objetos e processos naturais.
[4] Seiza (正座) é um estilo formal para sentar-se em um tatame que envolve ajoelhar-se, manter as costas retas e apoiar as nádegas nos calcanhares.
[5] Brocon (abreviação de brother complex, em português "complexo de irmão") é um termo para se referir a um amor excessivo de alguém por seu irmão, normalmente passando do ponto de uma relação comum entre irmão e irmã ou irmão e irmão. É normalmente usado como um insulto/provocação para uma pessoa que é superprotetora com seu irmão.