Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 18: "Meu Irmãozinho"

— A polícia de Elderlog continua trabalhando incessantemente para encontrar o responsável por trás da série de crimes que hoje completa três semanas, chamada popularmente como “O Perfurador de Elderlog”. A mobilização das forças policiais continua firme e esperançosa, mesmo em face das poucas evidên…

Sem mais paciência. Em um movimento rápido, apertou o botão vermelho no controle, desligando o televisor posto na cozinha.

“Hmm… Isso está ficando perigoso…”

A jovem mulher olhou para além da janela da cozinha, capturando o nada que se espalhava além da larga rodovia e as casas esporádicas que acompanhavam pelo caminho, misturadas no bosque vasto, alargado até as montanhas, à distância.

Os últimos quatro dias se mostraram um tanto mais trabalhosos do que gostaria de admitir.

Para descansar a mente, apoiou o queixo sobre os dedos cruzados, deixando cair o peso da cabeça sobre a mesa do lugar.

“Eu entendo o motivo da nossa mãe querer trazer o Ryan para cá, mas não posso dizer que concordo. Não faz sentido colocar ele no meio desse perigo todo.”

Seus pensamentos lhe pesavam. Dali, olhava para a estampa xadrez em vermelho e branco do pano que a recobria por inteiro, perdendo-se em sua complexidade.

“Depois de muito lutar contra aquele sistema desnecessariamente protegido, consegui colocar aquela garotinha sob os meus cuidados. Depois de persuadir o pessoal mais alto do hospital é que, enfim, veio a parte fácil… Só fazer isso me levou um tempo precioso.”

O caso de Phoebe Martinez lhe chamou atenção. Em sua jornada por todos os lugares em que já trabalhou, não era a primeira ocasião de encontro com uma pessoa com aquela condição.

“Mas definitivamente ela é a primeira que vai sobreviver para contar a história. Eu poderia simplesmente aplicar uma dose letal de morfina nela e acabar logo com isso, mas…”

Hannah Savoia ajeitou sua postura na cadeira, livrando-se do súbito desconforto em suas costas.

“Isso geraria muitas suspeitas sobre o meu envolvimento.”

Logo assim que descobriu, expressou com muito entusiasmo a vontade de cuidar da garota. Seu empenho e dedicação em sempre pedir de novo chamaram a atenção de todo o corpo hospitalar.

Seria presumível que ela seria a única suspeita possível caso algo de mais fosse ocorrer.

“Acho que vou continuar observando o caso… Ao menos por enquanto. Aquela garota vai acabar causando muito mais problemas do que qualquer um possa imaginar.”

Hannah sabia das consequências de mantê-la viva, contudo preferia não se sujeitar aos riscos de matar Phoebe Martinez.

“Mesmo assim, é interessante de se pensar…”

Outra vez, seus olhos a levaram para fora, desta vez, para o sombrio céu de Elderlog.

Assistir os feixes de amarelado cortando por entre os buracos nas nuvens fazia dessa uma imagem mais semelhante à visão de um milagre.

“… Ter alguém compatível com aquela coisa dentro dessa cidade… Eu me pergunto quantos outros também podem desenvolver esses talentos…? E acima de tudo…”

Tornou sua visão mais aguda, retirando o foco da imagem geral para se ater a um único tronco de cipreste caído ao lado direito da Rodovia 93. 

“Eu me pergunto quem exatamente está fazendo esse acesso para as pessoas desse lugar.”

Joanne tinha seus próprios assuntos para resolver, o que significava dizer que sua atuação não existia mais. Eram apenas ela e seu irmão contra essas pessoas tão perigosas.

Ela sabia e muito bem o único motivo por trás de seu irmão Ryan nunca ter se deparado com nenhum perigo real.

Afinal, elas duas sempre estiveram lá para protegê-lo.

“Espero que ela encontre logo pelo que está procurando… E que possa voltar para casa e tentar ser uma mãe de verdade para a gente, de vez em quando.”

A mais velha sempre entendeu um pouco melhor, fato esse que também se deve por ser a única dos dois que sabe a verdade sobre a família.

“Eu sei que você queria que ele descobrisse, mãe… Mas por que nos impedir de falar por tanto tempo? Não seria tão mais fácil assim?”

Contudo, logo essa linha lógica morreu.

“Ah, é claro… Não é para ser fácil. Não era para sequer ser verdade.”

A verdade sobre os dias há quase seis anos apenas elas duas carregavam agora. Seria melhor que continuasse assim pelo máximo de tempo possível.

“Que bom que o Ryan não consegue passar por cima da condição que foi posta nele. Eu… Não quero que o meu irmão acabe me odiando por ter escondido coisas.”

De certo não parecia, mas já era quase meio-dia em Montana. De clique em clique, o relógio analógico em uma das paredes da cozinha moveu seus ponteiros até mostrar 11:43 AM.

— Já sei! — Hannah se decidiu. — Vou fazer uma ligação para ele! Espero que ele atenda…

Alcançou o smartphone com pouca dificuldade e por alguns segundos focou na imagem da tela de bloqueio. Era uma foto que tirou ao lado de Ryan logo que o mesmo acordou de seu coma.

O plano de fundo era o lago de um parque em Massachussets, com uma pequena ponte, sobre a qual ambos se encontravam. No registro, ela era a única dos dois que sorria.

Não encontrava em si mesma razão para julgá-lo. Tudo ainda devia ser tão novo e confuso…

— Não consigo nem imaginar como seria acordar e de repente não me lembrar de nada do que vivi por doze anos… Faz sentido ele não ter me aceitado como irmã imediatamente.

Aqueles foram tempos ruins. Um dia, se tem uma família unida e estruturada e, no outro…

— Alô, irmão? É a Hannah! E aí? Já foi liberado para almoçar?

Perceber que ele de fato atendeu ao invés de deixar o telefone no silencioso como sempre faz a animou um pouco mais.

— Ah… Hannah… Eu tô bem sim…

“Ah, sempre tão tímido! É muito fofinho de se pensar”, imaginou, sentindo o sorriso crescendo nos lábios ao passo que o rubor em suas bochechas cresceu.

Ele sempre seria seu irmãozinho, independentemente da idade que tivessem ou se ele lembrava disso ou não.

— Que bom, maninho! Mas me diz… Já conseguiu fazer uns amigos na escola?

— Uh… Quanto a isso…

Hannah não ignorou os constantes sons de vozes do outro lado da chamada. Se tivesse que apostar, era como se Ryan estivesse se debatendo contra alguém.

— Ryan? Tudo bem por aí?

Dentre vários sons indistinguíveis, levou um par de segundos até que mais uma vez sua voz fosse escutada.

— Ah… Hannah! É que… Bem, eu estou tendo uns probleminhas aqui…

— Ei, não vem com essa de chamar a gente de problema, viu…!

“Oh? E quem será esse?”

Sua vista se iluminou em um gesto de felicidade com a chegada daquela voz estranha. De tão satisfeita, tocou seu peito, já que pela primeira vez em cinco anos, seu irmão havia feito amizades.

— Mark…! Me devolve…! — Sua voz soava mais distante.

— Ah, e aí! Com quem é que eu tô falando aqui? Ah, você que é a tal da irmã do Ryan? Ele já falou uma coisinha ou duas de você…!

Riu um pouco com a tamanha ousadia dessa figura, optando por ir de encontro com o que já tinha começado.

— Ah, que bom saber que ele fala de mim por aí…! Me sinto lisonjeada de saber! — gargalhou de leve. — E quem é esse com quem eu falo?

— Mark! Mark Menotte! — Se apresentou humoradamente. — Só queria te dizer que esse teu irmão é uma figura e tanto… Já ficou sabendo que ele roubou umas barras de doce do supermercado?

— Ei, isso é mentira! E me devolve isso…!

O barulho do que pareciam ser várias cadeiras a caírem foi o que seguiu.

— É! E foi uma baita cena! Eu começaria a colocar um cabresto maior nesse seu irmão se fosse você, Hannah!

Ainda mais coisas caíram.

— Pare de pular por aí…!

— Enfim, eu só queria saber se…

O som de coisas sendo desarranjadas se amplificou ao nível de fazer qualquer um pensar que naquela sala acontecia uma guerra em escala reduzida, e Hannah pôde jurar ter escutado até mesmo vidro quebrado.

— MARK…! — Ryan soava nervoso.

— … tem como a gente chegar aí para ir tomar um café ou alguma coisa assim, como os grandes amigos do Ryan que somos! Sabe, eu e a minha amiguinha Lira estávamos pensando em aparecer um dia desses!

— Não me mencione nessas coisas sem antes perguntar. Não vou fazer nenhuma promessa.

“Ooh! Então tem uma garota também?!”

Várias perguntas surgiam na cabeça da irmã mais velha... Será que seu irmãozinho tinha ficado popular com as damas nesse tempo? Quantas delas já se interessaram nele?!

— Então, tá arranjado da gente aparecer aí um dia?

— NÃO! NÃO ESTÁ!

Ryan pareceu ter tomado o celular de volta… O que de certo modo foi uma pena, já que tantas boas surpresas se revelavam. 

— Me desculpa, Hannah… Mas eu vou ter que desligar. A gente se fala depois.

“Ah… Que pena.”

E desse jeito frio, acabou. Tão abrupto e insatisfatório. Bem, ao menos houve uma boa notícia…

Seu dedo automaticamente alcançou o controle mais uma vez, dando vida à notícia na televisão.

— Estamos ao vivo para trazer uma possível reviravolta do caso Perfurador de Elderlog.

— Ao vivo…?!

Saltou da cadeira imediatamente logo ao perceber justo em que local da cidade a equipe de reportagem se encontrava. Aquela era a rua em que ficava a escola.

— Uma ligação anônima informou o corpo policial sobre mais um crime que acaba de ser confirmado. Aparentemente, um indivíduo encapuzado foi visto entrando nesta residência, saindo bem depressa. Uma testemunha que não quis se identificar afirmou que o suspeito parecia nervoso demais ao sair.

O cameraman seguiu a repórter que devagar adentrava a residência isolada pela polícia.

— E que caso brutal… A porta frontal estava trancada no momento da chegada da polícia e um sinal de entrada forçada foi encontrado na porta de trás. Ainda estão averiguando toda a situação, mas pelo que tudo indica, esse foi de fato um crime por parte desse elemento.

“Então mais um deles está por aqui?! E tão perto da escola?!”

— A família era de apenas uma jovem moça e sua avó idosa. Ambas foram assassinadas com requintes extremos de crueldade e recentemente, o que leva os policiais a acreditarem que o criminoso ainda está a pelo menos trezentos metros da zona do crime.

Nenhuma visão do interior da casa era exibida por seu conteúdo traumatizante, forçando toda a mídia a permanecer do lado de fora enquanto apenas a fachada se via.

— Em poucos minutos, teremos mais informações sobre o caso e os manteremos atualizados. Caso qualquer movimentação estranha seja vista, comunique os serviços policiais.

— Eu não tenho um bom pressentimento disso…

— Aqui é Natalie Campbell e essa é a Montana Daily Ne…

Hannah desligou a televisão, não suportando mais pensar naquela série de possibilidades.

“Tenha cuidado, irmão…”

Sua vontade de interferir e ser a heroína do dia era imensurável e, para completar isso, Hannah também contava com um sólido e perigoso palpite acerca de qual seria o lugar de escolha do criminoso para se ocultar da polícia.

— Aquela escola é muito grande… E do jeito que esse lugar é cheio de bosques… É fácil ver alguém conseguindo se esconder com sucesso, mesmo estando tão próximo…

Mas esse era sequer de longe o detalhe que mais assombrava a Savoia.

— Policiais são só homenzinhos com armas que se acham grandes demais por causa delas… Nunca pessoas assim seriam capazes de subjugar um deles…

Não existiria muita chance para meras pessoas normais lidarem com aquilo.

— Droga… Se eu ao menos pudesse me colocar lá…

Infelizmente, tudo o que restava para ela era continuar esperando por boas notícias que muito dificilmente viriam, ao mesmo tempo que rezasse para que as piores não se concretizassem.



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