Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 33: Interrogatório, Ato Final

Não demorou um segundo a mais.

— Ei...! Vê se explica essa história direito, seu filho da puta...!

Mark correu desesperadamente até alcançar a forma caída e enfraquecida de Keith Webb, o Perfurador de Elderlog. 

Em nenhum momento sequer se levou a pensar, antes de puxá-lo com força do chão molhado, erguendo-o à altura de seus olhos.

— Me conta tudo...! Vai! DESEMBUCHA, CARAMBA!

O misto de raiva, pressa e desespero em seus olhos vermelhos queimava no tom de um mar inteiro de sangue. Ele precisava saber.

— Hehe... — O assassino outra vez riu, tão fraco que o gesto contou mais que o som. — É o que eu disse. Ela já ouviu tudo.

Os dedos pálidos do Menotte se estremeceram como pilastras frágeis com a nova informação. Mostrou os dentes e soltou uma baforada de ar quente no rosto já tão frio do assassino a cada instante mais pálido.

— Foi assim que vocês começaram a falar sobre extrair respostas de mim — falou sem impedimento. — Acha mesmo que logo ela ia permitir isso, Mark? Deixar que eu acabasse arruinando todo o plano perfeitinho dela, desse jeito?

A risada que se seguiu foi algo terrível de se ouvir. Não foi por graça ou divertimento, ou sequer uma risada de dor, e sim algo mais profundo e complicado.

Foi pura aceitação quanto ao seu destino.

— Eles estão pensando em coisas grandes, Mark... E se eu fosse você, ficaria de olho nos passos seguintes... Tanto você... — desviou o olhar para Lira. — ... Quanto para a japonesinha ali.

Os dois compartilharam a mesma sensação de estarem sem chão ao chegar da revelação, cientes de que apenas podia significar uma coisa.

— Quando vocês me deram aquele choque... Ela já tinha começado o processo, sabia? Aquele fio que vocês encontraram nas minhas costas... Aquilo não tinha nada haver com a conexão que eu tenho com ela...

O mais pálido já não tinha mais paciência para aquele monte de baboseiras que não levavam a lugar nenhum, e ambos irritado e nervoso com o que o futuro aguardava, não hesitou em jogá-lo de novo ao chão.

— RESPONDE DIREITO, PORRA! O QUE TEM ELA?! O QUE VAI ROLAR DE AGORA EM DIANTE?!

A irritação foi tanta que fez quebrar uma das pernas posteriores da cadeira. Não mais continha a mistura de cólera profunda e curiosidade sem limites; não tinha motivos.

— Ah, Mark... — Ele zombou, olhando para o teto, embora não visse mais nada. — Não é sobre o que ainda vai rolar... É sobre... O que... Já... Está acontecendo... Porque... Se tem uma coisa que eu posso... Garantir...

Sua presença falhava em si mesma, lhe escapando do corpo tão lentamente...

— ... É que... As coisas... Só vão... Piorar de agora em... Diante...

“Oh, droga! A consciência dele está se esvaindo...!”

Lira via o processo diante de seus olhos e já sabia até onde levaria. Keith em nenhum momento mentiu ao afirmar, tantas e tantas vezes, o fato de que estava morrendo.

— Savoia...! — Igualmente desesperada, chamou. — Venha aqui imediatamente...!

Ryan estava longe das melhores condições, em um estado terrível por ter suas capacidades forçadas além de qualquer limite prévio, portanto, não era como se pudesse fazer muita coisa.

— Puxe uma memória... Qualquer uma! Pegue a primeira coisa que saltar da mente dele! Nós precisamos disso...! — comandou. — Mark...! Mantenha ele consciente a qualquer custo...!

Sem hesitação, Lira se viu obrigada a fazer o que nunca se permitiria: estabelecer contato físico direto. Em seu estado enfraquecido, duvidava que tentaria gastar o restante de suas energias em tentar manipulá-la.

— Lira...

— Calado! Conserve a sua energia para fazer o que eu mandei!

Com uma força movida pelo puro desejo de não deixar aq oportunidade escapar das mãos, a Suzuki arrastou o corpo do rapaz com tanta velocidade quanto pôde até que estivesse próximo o suficiente para que algo fosse feito.

— Faça rápido...!

A distância de menos que um braço o permitiu tocar a face de Keith.

— Ah... Ryan... É você...? Hehe... Cara... Fica de olho...

Apenas tempo o suficiente para que acessasse algo borrado e quase ininteligível.

— ... Nos envelopes brancos...

... ... ...

— Ei...

Indignado, Mark caiu de joelhos e envolveu os braços em torno do pescoço da forma inanimada de Keith.

— Ei, seu merda...

A fúria em sua fala quebrada foi o alarme para o que viria nos segundos adiante.

— ME RESPONDE, SEU DESGRAÇADO! FALA ALGUMA COISA!

Ele gritou, balançou e sacudiu, contudo, o antes tão procurado Perfurador de Elderlog então não passava de mais um mero cadáver.

— Mark... — A voz calma de Lira o tirou de seu transe. — Ele está morto.

Sua visão não mais mostrava as coloridas auras ao redor do corpo. Agora, Keith se misturava aos objetos comuns, existindo como algo vazio, uma mera lembrança do ser humano que um dia foi.

Se desvencilhou de Ryan com pressa em excesso, pondo sua mão destra no ombro do rapaz desolado.

— Ele morreu. Ela o matou.

Uma cena incomum. Lira, devagar, acariciava os cabelos escuros de Mark.

— Ela o quis silenciar. Iria acabar revelando demais se a tortura continuasse. Ela nos ouviu e sabe que tínhamos de todos os meios para descobrir todo o plano.

Foi, no final, só um jeito complicado demais de dizer “não foi sua culpa”.

— Não temos mais nada a fazer aqui. A escola vai ser fechada por um tempo, para investigações… Vão se deparar com o corpo dele aqui e será melhor que não associem nossas digitais com as que encontrarem nele.

Não ter como saber a verdade era muito mais do que frustrante.

— Então, vamos para casa.

Não ainda. Talvez ainda houvesse algo a ser feito.

— Ryan...! Lê as lembranças dele... AGORA!

Porém, a mesma esperança se despedaçou como um copo de vidro no instante em que o mais novo envolvido naquela série de loucuras fracamente negou.

— Mortos não tem lembranças, Mark... Um cadáver não passa de um pedaço de carne qualquer para a minha habilidade... É o mesmo que tentar ler uma parede.

Por um momento, o recém-chegado olhou a palma de sua própria mão direita, debruçando-se nas linhas que a decoravam. Foram apenas dois segundos, passados como uma eternidade.

— Algumas mentes são mais fáceis de ler, outras nem tanto... Mas, no instante em que alguém dá o seu último suspiro, toda a sua história morre junto. Acredite em mim, eu já tentei ler a mente de uma pessoa morta...

Ele ainda não havia concluído sua fala antes de ser tão grosseiramente interrompido.

— Tá bom... Eu já entendi...! Esquece! Não dá para ler gente morta! Eu peguei, beleza?! Não precisa ficar falando trocentas vezes!

Frustrado e repleto de ira, se desfez do cadáver de forma violenta, abandonando-o ao mesmo chão sobre o qual morreu, distorcido de qualquer jeito, ainda amarrado à cadeira.

— Ryan...

Suas baforadas firmes propagavam pela quadra inteira, insuficientes para conter a explosão que por dentro crescia. Próximo á barra verde de metal, fez do objeto a vítima de sua fúria, enviando o eco metálico de um soco por todos os lados.

Analisou a marca vermelha em seu punho, escorrendo sua cor quase invisível nas sombras.

— ... Tá na hora de a gente ter uma conversa séria sobre isso.

[...]

— E aí? Já tá se sentindo melhor?

Não por bondade ou mudança de atitude e sim porque precisava perguntar.

Também, não mais a escuridão da quadra de esportes em ruínas os rodeava, tampouco o odor de podridão e abandono.

Uma ventania tranquila cortou pelo grande espaço aberto, movendo as folhas das várias árvores na vizinhança. Acima deles, apenas o céu, não tão azul quanto gostariam de ver. 

Elderlog nunca tinha céus azuis.

O frio acariciou o rosto, despertando do pequeno tempo de reflexão que teve diante da maldita dor de cabeça, o chamado que trouxe consigo a puxar, de volta para a realidade, sua mente perdida.

— Chegando lá — respondeu, tirando da testa a lata de refrigerante que a cobria.

Ele levantou a metade superior do corpo, sentindo com as mãos o concreto sem calor da tarde silenciosa. Uma ou duas pessoas, apenas, passavam por ali a cada dois minutos. 

Isso deixava nele o sentimento de falta, pois esse deveria ser um lugar tão mais movimentado…

— Beleza. — A resposta foi rebatida em preparação. — Eu sei que tu tem perguntas. Faz elas aí, vai...

Entre os dois, houve o barulho de cliques metálicos suaves. Em seu canto, ela tomava a maior parte da sombra escassa do pinheiro no estacionamento, brincando com os mecanismos em silêncio.

De repente, parou.

— Quem é ela, Mark?

Um segundo de puro silêncio, puramente para que o rapaz mais pálido risse e se perguntasse a razão de, entre todas as perguntas, ele ter decidido começar por justo aquela.

— Não tem nada que tu queira saber primeiro? Tipo, como a gente conseguiu os poderes e tal...

— É só juntar as duas respostas. — O cortou.

— Ah... Claro. É verdade.

Mark Menotte se aprontou, permitindo que suas costas relaxassem ao usar os braços para se firmar. Olhou para cima, na direção das finas folhas e galhos que mal cobriam qualquer coisa.

— Ela é uma vadia... Uma que nós ajudamos a prender.

Olhava para o céu, mas seus olhos enxergavam o passado. O fim de tarde na pacata cidade o trazia de volta para outros tempos.

— Ela nunca foi muito com a minha cara, mas eu sempre soube que isso não era razão para mandar ninguém para a cadeia... A questão é que não era só isso. Tinha muito mais coisa por trás daquela atitude que qualquer um poderia imaginar.

Uma por uma, as luzes dos letreiros do EveryMart se acendiam, acompanhando o aumento no arroxeado celeste, aos poucos a consumir o laranja do sol poente.

— Samantha Wilson é uma criminosa.

A ponta de ódio ao fim da pesada proclamação fez Ryan ser tomado de surpresa, o que o fez decidir focar ainda mais na história.

— Ela era a líder daqueles causadores de problemas lá da nossa escola... Sabe, o Vincent e os outros... Então... Era ela quem meio que organizava aquela baderna toda. Eles tinham a Samantha como uma líder... A gente brigava vez ou outra, mas era isso. Nada de ruim de verdade... Até aquele dia...

Encostou o queixo entre os dois joelhos unidos, envoltos por seus braços.

— Ela matou uma pessoa, Ryan… Eu vi tudo acontecer.

— Huh...? Quer dizer que...

— É isso. Foi durante uma das brincadeiras idiotas dela... Tinha uma menina, amiga minha até... A Samantha gostava de zoar ela quando eu não tava por perto e não podia protegê-la. Ela só esperou a hora certa para fazer uma besteira das grandes...

Silêncio.

— Ela... A Sophia caiu da janela. Foi morte na hora. Até hoje eu lembro dos miolos dela no chão… Foi uma queda de cabeça.

O som de metal voltou. Lira, com duas balas na mão, as balançava como um sino em seu punho fechado.

Um carro solitário cruzou a larga rua, onde os postes aos poucos se acendiam.

— Discutiram que tinha sido suicídio, já que, por causa das brincadeiras de mau-gosto constantes, fosse da Samantha ou dos outros, a saúde mental dela não tava das melhores e todo mundo sabia disso... Era natural que pensassem assim... Mas, Ryan... Eu vi. A Samantha... Empurrou ela.

Mordeu o lábio inferior, amargo quanto à dor da lembrança.

A gente viu, eu e a Lira aqui. A gente viu ela da janela, pela área externa, só por um segundinho... Coincidência demais estarmos os dois lá ao mesmo tempo... Mas nunca no mundo eu ia aceitar que aquilo tivesse sido suicídio...

Pegou uma pequena pedra e atirou. O projétil acertou e arranhou o vidro de um dos sete carros ali presentes.

— Quem é o depressivo filho da puta que se suicida gritando alto, caramba? Se debatendo no ar igual uma galinha tentando voar, querendo claramente sobreviver?!

Outra pedrinha, e outra marca o vidro de outro veículo.

— A gente se uniu para incriminar ela, e depois que demos o nosso depoimento, a polícia foi atrás de impressões digitais. Eles encontraram cada dedinho daquela vagabunda nas roupas dela, na região do peito. Foi prisão na hora... Agora, conhecendo ela, a desgraçada deve estar querendo se vingar... Me surpreende ela ter conseguido botar as mãos num poder.

Não tinham como esquecer o que viram. Nunca o fariam. A morte de Keith Webb prometia permanecer uma incógnita.

— Droga, eu não quero nem ter que pensar que a garota que a gente mandou para a prisão faz mais de um ano do nada virou a Mulher Maravilha e tá vindo atrás de nós...! Mas que sorte...!

— Um ano e dois meses, para ser exato.

A voz da garota tomou os dois de surpresa ao subitamente se colocar na discussão.

— E fazem exatamente dois meses que despertamos as nossas habilidades sobrenaturais, desde o dia em que abrimos aquela carta branca.

A menção ao objeto tão específico despertou o mais novo integrante do trio.

— Uma carta branca do tipo... Um envelope comum?

— Exato. Foi um envelope branco com um tipo de poeira, fina como farinha de trigo comum. — Lira respondeu.

— A gente respirou por acidente a poeira lá de dentro... E ficamos bem doentes por uma semana inteira… — Mark complementou. — A gente não sabe o que aquilo fez com a gente, mas... Aqui estamos, vivos e superpoderosos.

A história soava absurda. Nunca em sua vida ouviu a respeito de algo similar, mas por algum motivo, não conseguia desacreditar do que ouvia.

— Achamos a carta na rua aleatoriamente, Mark teve a curiosidade de olhar o que tinha dentro, e a poeira no envelope espirrou nas nossas caras. Não demos muita atenção àquilo de primeira, mas você entende onde isso chegou.

A asiática cruzou os braços, com a arma pronta para atirar entre os dedos de sua destra.

— Foi o mesmo tipo de envelope que lhe deu os seus poderes?

— Não... Não foi... Eu não me lembro de ter encontrado nenhum envelope do tipo! Essa história de vocês... Soa estranha demais para mim.

Por um momento, Ryan pensou em tudo o que sabia sobre si mesmo, até chegar ao ponto de poder afirmar com certeza não ter noção do que ela estava falando até o momento.

— Mas… Eu vi essa carta... Foi a memória que consegui extrair do Keith antes dele... Morrer...

A memória veio tão obscura quanto uma foto da penumbra noturna. Não existia noção de lugar ou horário, só a escuridão a acompanhar a forma de uma mão, pálida e delicada, a segurar um envelope sem nome ou endereço.

— Mas... Não... Os meus poderes... Essa minha capacidade de alterar as memórias... Isso é algo que eu tive desde que me lembro!

Tal argumento mudou o foco da curiosidade por completo e não demorou para que a dupla o resolvesse indagar com encaradas confusas.

— Como assim? Você não ganhou os poderes de uma carta, que nem a gente?!

— Não...! Olha... A verdade é que nem eu sei sobre isso... Eu já tentei ler a mente da minha irmã, mas não tem resposta nenhuma... Eu só acordei do coma e descobri que podia fazer isso, depois de ter perdido todas as minhas memórias...

— Então você... 

— Eu tenho amnésia e não consigo lembrar de como a minha vida era antes dos 12 anos. Eu venho me mudando de cidade em cidade e nunca na vida encontrei coisa assim, que nem vocês ou o Keith... Por isso eu imaginava ser o único.

O novo pedaço de informação trouxe uma estranha nova luz para os dois defensores da cidade.

— Bem... Isso explica alguma coisa... Desde a falta de conhecimento em lutas até a ignorância basicamente completa que tu tinha da realidade...

Um ar de desconcerto os cortou, e em sua tentativa de desfazer a estranha tensão criada por alguns argumentos a mais, que nenhum dos dois havia calculado, Mark trouxe sua sugestão milagrosa.

— Por que a gente não deixa isso para discutir melhor depois? Eu sei que a gente podia continuar, mas...  Olha, tá ficando tarde! Amanhã ou outra hora a gente conversa mais sobre isso.

Fato era que ele não queria ter de admitir os erros em seu julgamento prévio.

[...]

— Cheguei.

Abriu a porta e, de imediato, foi recebido de braços abertos, em calorosas boas-vindas.

— Irmão...! Ah, meu Deus...! Eu fiquei tão assustada quando soube que um assassino tinha invadido a sua escola...!

A primeira coisa que Hannah fez foi se afundar no peito de seu irmão, abraçando tão firme que o fazia ter uma pequena dificuldade de respirar.

— Tudo bem?! Não ficou ferido?! Não se machucou, certo?!

— Ah, tá tudo bem...! — mentiu. — Não aconteceu nada de mais comigo hoje... Ainda bem!

Deixando-o tomar um pouco de espaço, a irmã mais velha suspirou aliviada.

— Eu passei a tarde inteira preocupada com você... Até pensei em ir na sua escola, mas... O hospital teve problemas.

Sua expressão revelava estar um tanto amarga com a impossibilidade de tê-lo visto mais cedo, e se havia uma coisa no mundo que Ryan não poderia tolerar, seria ver sua irmã triste por sua causa.

— Ei, Hannah... Tá tudo bem. Eu tô inteiro! — tentou animá-la. — Não precisa ficar mal por isso, é o seu trabalho.

— Eu sei, mas não justifica...! — Ela rebateu teimosamente. — E se tivesse acontecido alguma coisa?!

Para isso, ele a puxou para mais um abraço, o que tomou a mulher de surpresa.

— Então você só iria cuidar de mim. Não fica se julgando tanto... Você tá fazendo o melhor que pode, mana.

Muito ao contrário dele mesmo, pelo que pensava no momento.

— Você não vai mesmo me deixar sentir culpada, né?

Os dedos longos do irmão mais novo acariciavam os seus cheios cabelos cacheados, prendendo-a com a lateral direita do rosto contra seu peito, para que ouvisse cada batida de seu coração.

— Não, eu não vou — riu. — Nunca vai acontecer.

O abraço não teve a mera intenção de ser reconfortante para a Savoia mais velha, todavia.

“Hannah... Ela não... Estaria escondendo coisas de mim, certo?”

Foram várias as vezes em que leu a mente de sua irmã, afinal, seria lógico que ela soubesse de algo.

Contudo, não importava ocasião ou momento, ou se o toque era esperado ou não. Nunca houveram quaisquer respostas para suas tantas perguntas.

“Mas... Nada custa tentar de novo... Certo?”

Ryan pôs o seu queixo confortavelmente no topo da cabeça de sua amada irmã, acalmando-a em seus braços, quase da maneira como uma mãe faria com sua criança... E no contato, se aprofundou.

Mais... E mais... E mais... Viu as memórias de ontem, as da semana passada, as de Fevereiro, as do natal passado...

E encontrou nada.

— Ryan…?

Nunca encontrou qualquer detalhe que chamasse atenção. Em suas explorações, já chegou a ir tão fundo quanto sete anos atrás nas lembranças dela, contudo isso nunca importou.

— Ryan, o seu corpo... Tá muito quente.

O toque de Hannah em sua testa o tirou de seu transe, desfazendo a conexão.

— Você tá com febre?! Ah, não…!

Seu semblante preocupado foi a última coisa vista, e a pergunta restante ecoou em sua mente.

“Sempre foi tão amargo…?"

Em seus olhos, trevas; em sua boca, sorvete de manga.



Comentários