Volume 1
Capítulo 12: Árvores e Ramificações
"Pra finalizar o trio de adolescentes, aqui está, Violet Millers! Rockeira, otaku e sem medo de falar o que pensa. Apesar de ter brigado muito com Ester, elas se amam!"
(se estiverem gostando dos desenhos, por favor, digam nos comentários! — Zeugma)
— Taxi? O que seria isso? — Indagou Roy
— Ah, esqueci que você não sabe de nada sobre nosso mun...
Por que... as coisas estão tremendo? Esse foi o pensamento que interrompeu as falas de Ester. Ao fundo, enquanto perdia o próprio equilíbrio, era possível ouvir a voz trêmula de Roy. Quando menos percebeu, já estava no chão.
...
Desperta Ester, mais uma vez em uma cama desconhecida — isso está ficando recorrente! Enquanto ainda retomava sua consciência percebia os detalhes do ambiente.
Os lençóis que a cobriam eram macios e confortáveis. As cortinas e as paredes eram de um branco vivo. O chão era limpo e coberto por tapetes com detalhes magníficos. Tudo era do bom e do melhor, coisa que ela nunca havia visto antes.
— O que..., onde estou?
— No hotel Alvorada. — Respondeu Roy, sentado em uma cadeira próximo a uma escrivaninha.
— Ah, é mesmo... O que houve comigo?
— Seu corpo não suportou os usos excessivos das poções de cura, então você desmaiou por algumas horas e eu lhe trouxe para cá.
— Então foi iss, obrigada por cuidar de mim.
— Não foi nada.
— Argh! — Ester gemia de dor.
Parecia que uma bigorna estava sobre suas costas. Seu corpo estava pesado e dolorido. Sua cabeça girava e latejava...
— Esse deve ser o efeito colateral de usar as poções e o Berserk...
— Ester, você deve evitar se arriscar essa maneira de novo. — Disse Roy
— É... percebi que ainda sou muito fraca. Preciso melhorar muito para não me ferir desse jeito novamente.
— Ester
— Sim?
— Você quer se tornar forte?
— Sim! Eu preciso...
— Por quê?
— ...
Manteve-se em silêncio.
— Eu não quero mais perder ninguém importante para mim..., preciso de força para defender os mais fracos das pessoas cruéis desse mundo.
— Talvez seja meio insensível de minha parte, mas quem você perdeu? — Questionou Roy
— Arthur, meu pai. Ele não era meu pai biológico, mas eu o tratava dessa forma. Ele era o melhor pai de todos, um herói tanto em vida quanto na morte... Ele é minha inspiração para que eu vire uma policial, quero ser igual a ele!
— Entendo. Se é isso que você deseja, irei lhe ajudar.
— Mesmo?! Então..., eu aprenderei magia?!
— Isso depende apenas de você. O processo é lento, doloroso e cansativo. Se tiver sorte, em um ano deve conseguir usar magias básicas.
— Não temos tanto tempo assim...
— Exato, por isso que não irei lhe ensinar magia.
— Mas, então como ficarei mais forte?
— Não existe apenas um tipo de magia. Lembra do que eu havia lhe falado sobre a alma?
— Sim. A magia é um método de expressão da alma para o nosso mundo.
— Excelente. É exatamente isso, porém, a alma não se restringe apenas a isso. Há infinitas formas de transformá-la e utilizá-la, dependendo do usuário. A magia como você conhece, e aquelas que mostrei, são apenas algumas das Ramificações da alma. A regra mais aceita é dividir a alma em duas categorias diferentes, chamadas de Árvores. Essas Árvores tem Ramificações. Basicamente fica dessa forma:
Extus — Mundos, Constelattio, Intellis e Nimb.
Intros — Fortificatus, Neuros, Inscci e Nirvanna.
— Seria muito demorado explicar cada uma dessas Ramificações, então irei dar um resumo breve sobre elas. Começando pelas duas Árvores principais — Extus e Intros. Extus seria a expressão da alma na forma de uma magia externa, ou seja, algo fora de seu corpo. Já o Intros é o oposto, focando no interior do usuário.
— Primeiramente, explicarei as ramificações do Extus. Mundos seria os elementos naturais do planeta, como água, fogo, ar, gravidade, etcetera... Constelattio seria extrair e usufruir dos poderes do espaço e das estrelas.
— Isso seria aquilo que você usou no hospital?! — Indagou Ester
— Isso. Aproveitando a deixa, eu sou um mago da Árvore Extus, com Ramificações em Mundus e Constelattio.
— Duas ramificações?! — Questionou Ester
— Isso. Geralmente as pessoas ficam apenas com a Ramificação que tem mais afinidade, porém ocorreu de eu nascer com duas afinidades. É algo que ocorre raramente, mas, apesar disso, é possível aprender qualquer Ramificação de sua árvore, apesar de que não terá a mesma força de sua principal.
— Entendi..., mas como faço para saber minha Árvore e ramificação?
— Falarei sobre isso depois. Continuando..., Intellis é relacionado a força psíquica. A capacidade de ler mentes, telepatia, telecinese, etc... Nimb é a última, mas não menos importante. Nimb seria o poder do Vazio. Existem poucos que ousaram usar esses poderes, e ainda menos que nasceram com ele. Porém, todos que tentaram usá-lo acabaram enlouquecendo com o poder e se tornando entidades maléficas. Sabe-se muito pouco sobre o poder do Vazio, mas entre os poderes conhecidos estão Necromancia, controle temporal e troca de consciência.
— Caramba... Nimb é realmente mais forte do que as outras ramificações. — disse Ester
— Sim, só que nunca tente usar os poderes dela. O Vazio é algo que ninguém deve observar por muito tempo... Agora falaremos sobre a próxima Árvore, e a que eu acho que você pertence.
— Sério?! Por que acha isso?
— Irei explicar em instantes. Começando por Fortificatus, é basicamente o que o nome sugere. As magias dessa ramificação fortalecem o corpo do usuário, tornando-o mais forte, mais resistente, veloz etcetera... Inscci, apesar de muitos confundirem com Fortificatus, é bem diferente. Fortificatus fortalece apenas o corpo físico, já Inscci fortalece a mente. Com essa ramificação você pode melhorar sua memória, acelerar o aprendizado, fortalecer a mente contra magias de controle mental, aprimorar seus sentidos básicos e muito mais. Neuros é, resumidamente, a capacidade de controlar detalhadamente cada órgão, sistema e nervo de seu corpo. Você pode fazer seu coração acelerar ou parar, seu metabolismo purificar alguma toxina venenosa, ampliar sua capacidade pulmonar, esse tipo de coisa... A última seria Nirvanna, como eu havia dito, porém, ela é apenas uma teoria.
— Como assim?
— Ninguém nunca conseguiu usar essa ramificação. Há algumas lendas dizendo que já houve pessoas há muito tempo que foram capazes de utilizar Nirvanna, porém não são confiáveis. Mas, se ela existir mesmo, seria a mais forte de todas as magias, basicamente tornando o usuário um Deus.
— Incrível... existe tanta variedade na nossa alma. Eu quero descobrir qual meu tipo de magia!!
— Certo, como eu havia dito, faremos isso agora. Vire-se de costas um instante, por favor.
— Ok...
Ester se vira.
— Isso pode queimar um pouco.
— O que?!
Roy estende a mão direita sobre Ester, que começa a expelir violentamente uma espécie de aura branca e translúcida, cobrindo o corpo de Ester.
Seus olhos reviraram e sua consciência se esvaiu, despencando nos braços de Roy, que a agarraram gentilmente.
Ao abrir seus olhos uma vez mais percebeu que não estava mais no mesmo quarto. Em sua volta o ambiente era semelhante ao "Vazio" que havia visto antes durante o teleporte. Cercada por uma escuridão infinita, dissipada apenas por poucas luzes que se movimentavam lentamente.
— Onde é que eu tô, caramba?!
Começou a procurar por algo na imensidão, foi quando viu duas coisas que lhe trouxeram a razão... ou não. Em meio ao nada havia duas portas, uma paralela a outra a poucos metros de distância. A da esquerda era uma porta simples de madeira, com exceção de diversos arranhões e cortes gravados por toda parte. Em destaque, como se os próprios cortes formassem uma espécie de entalhe involuntário, um tipo de símbolo de balança predominava ao centro.
Contudo, em contraste à porta da esquerda, a próxima porta era no mínimo... estranha. Feita de um material semelhante a aço, porém que se movia conforme os batimentos de um coração idoso. Ao seu redor, cobrindo-a por completo, estavam vinhas negras e cheias de pelos espessos. O metal tinha um semblante pútrido e enferrujado, com diversas pequenas rachaduras e partes com colorizações mais escuras, como se estivesse sofrendo e morrendo pouco a pouco. E diferentemente da outra porta, essa não possui maçaneta. Em suas beiradas diversos cadeados robustos presos em emaranhados de correntes trancavam a porta, praticamente gritando para não a abrirem.
Por fim, um único desenho se formava nas deformidades da ferrugem — um feto. Ao perceber tal figura perturbadora um som surgiu, quebrando o silêncio que assombrava a imensidão. O som fez Ester ter arrepios, mais do que a visão do que aquela porta. Era o choro de um bebê.
— Céus... onde eu vim parar?! Ao que parece preciso escolher uma dessas duas portas, mas com certeza não quero saber o que tem atrás daquela! Vou na porta da esquerda mesmo...
A cada passo o som dos soluçares da criança aumentava, tornando suas pegadas trêmulas e incertas. Enfim, Ester fica frente a frente com a porta com o símbolo de balança. Sua mão vai de encontro com a maçaneta de madeira, já preparada para abri-la. Contudo, seu olhar inconscientemente vai de encontro com a porta misteriosa.
— Eu... Eu não posso ir pelo caminho mais fácil! Eu não posso deixar essa criança chorar sem ajudá-la!
Com um passo confiante e veloz, Ester vai até a outra porta e começa a empurrá-la com as duas mãos.
— Abra!!
O ranger do metal sendo arrastado se assimilava com a angústia do feto, ensurdecendo Ester, que não parou por nem um instante de forçar a porta. Estava, mesmo que aos poucos, forçando entrada. Enquanto empurrava os cadeados rachavam e partiam-se em estilhaços, cortando seu corpo. As vinhas que cobriam a porta começaram a se mover, cercando os braços e pernas de Ester na tentativa de expulsá-la, sem sucesso.
Enfim, uma fresta do outro lado surgiu.
Os gritos aumentaram. Ela estava quase abrindo a porta.
Foi então que Ester sentiu algo em seu ombro, junto de uma voz.
— Obrigado, Ester. Mas, ainda não é a hora.
Como se fosse uma folha de papel, Ester foi arremessada para longe, indo em direção a outra porta. Enquanto estava no ar, podia ver a porta de metal se fechando e a outra que estava atrás dela se abrindo. Quando menos percebeu, já estava do outro lado da porta à esquerda.
— Não, espera!
Ela se fecha.
— Droga... O que foi que me empurrou?! Seja lá o que foi, tinha uma força absurda... Agora, onde estou?
Observou o novo ambiente, que permanecia escuro como antes. Contudo, dessa vez uma nova sensação tomou seu corpo, um cheiro horrível.
— Urgh! Que droga de cheiro é esse? Parece algo podre...
Uma luz surgiu.
— Ah, finalmente! Não aguento mais ficar nesse breu.
Ester rapidamente olha na direção da claridade, quando percebe que é algo caindo dos céus. Parecia um pequeno objeto dourado despencando em alta velocidade, até que enfim chega ao solo. Ester, curiosa, vai até o pequeno brilho.
Quando chega percebe algo estranho, o brilho está se movendo, quase como se estivesse se debatendo. Ao chegar mais perto, enfim vê o que é essa luz misteriosa — Um peixe dourado.
— Um... Peixe?!
Enquanto observava a pequena criatura se debater no chão, ouviu um som de algo caindo atrás de suas costas. Virando-se de susto, percebe que é mais um peixe.
— O que diabos tá rolando aqui?!
Enquanto tentava compreender a estranha situação, uma chuva de peixes dourados começa. O céu escuro se preencheu com o brilho de infinitos peixes dourados despencando. Ester cobria sua cabeça com as mãos e tentava desviar, tornando-se cada vez mais complicado de não ser atingida. Os peixes caiam incessantemente, até o ponto de preencherem completamente o chão e começarem a lotar a sala.
— É sério que eu vou morrer sufocada por peixes?!! Que jeito merda de morrer!
Enquanto procurava alguma saída o espaço livre ficava cada vez menor, até que finalmente a sala escura virou completamente dourada, repleta por peixes vivos.
— Urghh... e-eu não... Consigo... respirar...
Seu oxigênio ia se esgotando, quando ouviu uma voz ecoando por toda sala.
— Humana, pare de recusar meu poder.
— Q-Quem... Quem falou isso?
— Quem mais seria, oras...
Totalmente rodeada por escamas fedidas, percebeu de onde vinha a voz — de um dos peixes.
— É... eu enlouqueci de vez. Agora até essa sardinha tá falando comigo!
— Blasfêmia! Como ousa proferir tal ofensa a mim, Gange! — Diz o peixe...
Enquanto o peixe dourado falava coisas sem sentido o ar dos pulmões de Ester se esvaia, até perder sua consciência.
Ao despertar, está novamente em sua cama.
— Ah!! Eu morri pra um peixe?! — Exclama Ester
Roy, que estava sentado lendo um livro de história, percebe a movimentação e se levanta, indo até Ester.
— Você acordou, pensei que seria mais rápido. — Diz Roy
— Que desgraça você fez comigo?!
— Ah, aquilo... Basicamente levei você para uma das dimensões de seu subconsciente, onde ficam as informações sobre a alma. Então, o que você viu lá?
— Ah, Então...
Ester passou alguns minutos contando o que viu, enfatizando sua insatisfação por ter sido esmagada por peixes e a estranha porta de metal.
— Ester, você tem certeza de que viu duas portas?
— Eu sei muito bem o que eu vi!
— Isso é estranho...
— O que tem de estranho nisso?
— Nunca ouvi relatos de ninguém que viu duas portas em seu subconsciente. Nem mesmo eu, que tenho afinidade com dois elementos, vi duas portas na minha vez.
— O que isso significa?
— Não faço ideia... É mais uma coisa para estudarmos. Mas, pelo menos agora eu sei qual seu tipo de alma.
— É sério mesmo?! Como você descobriu só com o que eu te falei?
— Vou te dizer...