Volume 2 – Arco 5
Prólogo: Pesadelo
Dezenas de corpos decoravam o pátio do templo do topo da montanha. Ensanguentados, sem vida, mulheres, crianças e idosos, cujos olhares transmitiam o mais profundo vazio que um cadáver poderia transmitir.
No meio da chuva, os ninjas de preto olhavam em volta sem entender o que havia acontecido. Glen, o líder deles, caminhava lenta e dolorosamente por entre cada familiar seu, trêmulo e incrédulo. Seus olhos de carvão demonstravam dor. Ele gritou:
— NÃÃÃÃÃÃÃOOOO…
O grito ecoou por toda a montanha e dalém dela. Nem a chuva conseguiu reprimir o que mais parecia um berro de dor e sofrimento. Tony Kido acordou sentando-se na cama num impulso, assustado.
— Meu Deus — disse, encharcado de suor.
Em seguida, a porta de seu quarto foi aberta e Sandro Macedo e Hebert Kogori entraram.
— Tony? — chamou Hebert, alarmado. — Disseram que você estava gritando. Mais um de seus pesadelos?
Tony ainda parecia estar despertando. Processava o sonho e onde estava. Hebert podia ver seus olhos alternando entre castanho e amarelo sem parar. Sentia o quarto quente.
— Deveríamos levá-lo ao doutor Sanchez — sugeriu Sandro, analisando o amigo com cautela. — Isso não é normal. Você tem andado muito agitado nas últimas semanas.
— Dessa vez sonhei com os Ninjas da Noite — disse Tony como se não tivesse ouvido o caçador. Suas íris firmaram no castanho e ele olhou para a dupla. — Meu Deus, foi tão real… Todas aquelas pessoas do clã Vinográdov mortas pelo templo, Glen gritando… Talvez eles estejam precisando de nós.
— Glen nos virou as costas, Tony, você sabe disso — advertiu Hebert. — Mesmo se estivesse precisando, ele jamais aceitaria nossa ajuda.
— E você não tem a capacidade de prever o futuro — interveio Sandro. — Deve ser apenas a preocupação de querer todos bem e de encontrar logo o Caçador Lendário. Mas o fardo é nosso também, entenda isso. Já se esqueceu do que sempre nos dizia?
— “Não dá pra salvar todo mundo” — Tony recitou. — É, vocês estão certos.
— Descanse — disse Hebert. — Tenho certeza de que o Caçador Lendário não vai demorar a aparecer. E para isso precisaremos estar bem para dar todo o suporte necessário a ele. Ou ele terá o mesmo fim que o Hernandez teve.
Tony assentiu e os dois o deixaram a sós com seus próprios pensamentos. Sandro e Hebert estavam certos, ele estava focado demais em encontrar o Décimo Primeiro Lendário. Por outro lado, a Guerra Maldita estava se aproximando e muita gente poderia morrer caso ele não ressurgisse.
Por fim, soltou um longo e pesado suspiro, ainda pensando no sonho e no antigo amigo gritando, então, tornou a deitar para, talvez, tentar cair no sono.