Volume 1 – Arco 4
Capítulo 42: Partindo ao Monte Zentaishi!
Natsuno e eu ainda éramos aprendizes, o que indicava que não podíamos nos arriscar tanto como deveríamos. E como o Riku já era um caçador oficial, isso meio que o deixava um nível acima do nosso. Claro que isso aconteceu devido ao Medeiros caçar desde criança, junto ao seu pai, mas isso não poderia me impedir de lhe alcançar. Não era uma questão de egoísmo ou algo do tipo, era uma questão pessoal. Eu pensava sempre em dar o meu melhor, em qualquer situação — e o fato de ainda ser um aprendiz de caçador me atrapalhava pra caramba. Para piorar, houve um incidente infeliz que só piorou as coisas.
No final de março, nós três havíamos invadido um hospital abandonado repleto de vampiros assassinos. No começo até estávamos indo bem; nos infiltramos no edifício através dos canais de esgoto que se estendiam pela zona central da cidade. Mas as coisas começaram a ficar sérias quando encontramos os primeiros vampiros evoluídos.
Vamos lá, vou tentar explicar sobre eles.
Até onde pude perceber, existem quatro diferentes tipos de vampiros, dentre eles: os zumbis, os comuns, os evoluídos e os demoníacos — não falarei sobre esse último, já que nunca cruzei com um antes.
Os zumbis, como o nome já diz, são mesmo zumbis, aqueles estranhos que vemos em jogos ou séries de mortos-vivos. Pessoas revividas, por vampiros maldosos, sem sequer um pingo de consciência do que se tornaram ou memória de quem foram. Esses são os mais fracos — e os mais nojentos também. Nós três já enfrentamos um bando deles certo dia, e não foi tão difícil derrotá-los.
A segunda espécie chama-se “vampiros comuns”. Homens (geralmente) fortes e corpulentos que foram contaminados pela mordida de outros vampiros e agora agem por instinto, mesmo que ainda se lembrem de seu passado. Eles não são tão complicados de vencer, uma vez que não têm tanta força ou agilidade quanto os evoluídos. E agora os evoluídos...
Segundo o Natsuno, os evoluídos são uma versão mais velha dos comuns. O primeiro vampiro que enfrentei era um evoluído, e até que não foi tão difícil de derrotá-lo, no entanto, acredite, vários deles num só lugar é assustador. E foi assim que fomos cercados, no terraço de um hospital. Riku, Natsuno e eu até tentamos fugir, todavia não esperávamos que os vampiros nos encurralassem a vários metros do chão, tampouco imaginávamos ser salvos por um Sacerdote Divino — seres que eu ainda desconhecia, mas que possuíam um poder extraordinário. O sujeito de túnica e capuz preto simplesmente carbonizou duas dúzias de vampiros com apenas um flash de luz. E tudo num segundo!
Eu até o agradeceria, caso não fôssemos advertidos a não caçar mais fora da nossa zona. Eu sabia que havíamos exagerado pelo fato de termos ultrapassado os limites estabelecidos para caçarmos, mas poxa, precisávamos acabar com o máximo de vampiros possíveis, uma vez que faziam vítimas pela escuridão da cidade! Além disso, eram necessários cinquenta frascos cristalinos cheios para deixarmos de ser aprendizes, coisa que só conseguimos através de outras situações: uma missão no Shopping José Pinheiro, na qual tivemos que trazer uma bomba-viral para Hebert Kogori, além dos vampiros que matei para proteger a Sophia e o vampiro traiçoeiro que matei no dia em que encontramos aquele caçador florestal, o Ferdinando.
Por fim, tínhamos os cinquenta frascos guardados, e eu me perguntava como faríamos para deixar de ser aprendizes.
A resposta só veio na quarta-feira da semana seguinte ao jogo contra a sala do Yago, quando Natsuno nos disse na escola:
— Teremos que partir ao Monte Zentaishi.
Os alunos do primeiro ano que preenchiam o refeitório ainda nos olhavam com ar de admiração, após conseguirmos empatar com uma sala que, até então, era a favorita a ganhar o campeonato intersalas de futebol.
— Onde é isso? E pra quê? — estranhei
— Fica ao norte de Rapturio, país do Palácio do Vento — respondeu Riku, sem interesse.
— E é lá que devemos ir para entregar os cinquenta frascos cristalinos, para então sermos reconhecidos como caçadores oficiais — completou Natsuno.
— Eu não sabia que precisaríamos ir tão longe — admiti, coçando a cabeça.
Pedro e Jhou trocaram um rápido olhar, depois disseram, juntos:
— Nós também queremos ir.
— Não sei se seria uma boa ideia — disse Natsuno, arqueando uma sobrancelha. — Além disso o Jhou nem pode passar pelo portal.
— Como assim? — confundiu-se o grandalhão. — Eu sou tão grande assim?
Pedro e eu rimos, enquanto Natsuno se mostrava um pouco impaciente.
— Não é isso — falei. — Acontece que humanos normais não são permitidos de entrar no outro mundo.
— A não ser que sejam convidados — interveio Riku, nos surpreendendo.
— Como assim? — agora era eu quem estava confuso.
— É verdade! — exclamou Natsuno. — Agora que estou me lembrando. Uma vez o meu velho me disse que, se um humano comum for convidado por dois caçadores, ele pode sim passar pelo portal.
— Ainda não acho uma boa ideia — fui sincero, olhando para Jhou e depois para o Pedro. — Pode ser perigoso pra vocês.
Jhou riu na hora, mas era um sorriso de protesto.
— Tá pensando que eu não sei me defender?
Fiquei sem jeito, tentando pensar em uma desculpa.
— Não é isso, acontece que...
— Eu vou e pronto. — Jhou parecia decidido, e percebi que nada o faria mudar de ideia.
— Vai ser uma experiência — interveio Pedro, tranquilo. — Sabemos que é perigoso, mas sempre é bom conhecer um lugar novo. Além do mais, tem vocês três para nos proteger.
Procurei por ajuda no olhar do Riku, que não demonstrou nenhuma expressão, depois olhei para Natsuno, que deu de ombros.
Suspirei, por fim. Entendia o lado deles, como também entendia que poderiam correr perigo. Porém, todo mundo tem o direito de escolha, e não seria eu a pessoa que convenceria aqueles dois do contrário.
— Quando partiremos? — perguntei, afinal.
— Daqui a dois dias — foi Riku quem respondeu.
Na sexta-feira, após chegar da escola, eu me troquei e arrumei a mochila. Havia explicado para a minha mãe sobre a expedição ao Monte Zentaishi, e ela foi convidada a passar o fim de semana na casa do meu tio Michael, portanto eu não tinha com o que me preocupar; Billy estaria com eles.
— Está levando roupa?
— Sim, mãe.
Eu estava pronto, já na porta, impaciente.
— E toalha?
— Também.
— Sua Takohyusei?
— Com certeza — falei olhando para o meu anel dourado.
— Escova de den...
— Mãe!
Fui obrigado a interromper, ou ela ficaria a tarde inteira me questionando. Caminhei até dona Sara e me despedi dando-lhe um beijo no rosto e um abraço muito forte.
— Eu estou tão orgulhosa de você — disse ela, mas havia preocupação em sua voz. — Se cuida, filho.
— Pode deixar, mãe — sorri.
Conforme o combinado, encontrei-me com o Jhou na praça do colégio Martins. Logicamente eu estava com a bandana vermelha amarrada na testa. Ela me dava sorte, considerando as missões que participei e não morri, o que para mim já era o suficiente.
— Pra quê tudo isso?! — perguntei espantado, observando a gigantesca mochila do grandalhão. Nunca havia visto nada parecido, e parecia que ele nem sentia o peso. Não sabia onde Jhou arranjara aquela mochila, mas tinha convicção de que, para acampar, não precisaria tanto.
— São as minhas roupas — o grandalhão disse e depois acrescentou com um sorrisinho no rosto: — E um pouco de comida também.
Rumamos à casa do Natsuno, onde Riku e Pedro já estavam nos esperando. Nos deslocamos por várias ruas e avenidas, todas bem movimentadas devido ao horário, e quase que Jhou me fez parar em uma tal Lanchonete Lendária, localizada em uma das esquinas que dobramos.
— Hoje tem camarão assado com brócolis — foi seu argumento.
Enfim entramos no bairro do Natsuno, Robinson Carneiro. O farol para pedestres estava fechado, mas como não havia sinal de carros por perto, decidimos atravessar. Eu caminhei enquanto Jhou permanecia na calçada amarrando o cadarço dos seus sapatos, e tudo parecia muito tranquilo quando, de repente, da rua adjacente àquela em que estávamos, surgiu um caminhão em alta velocidade na minha direção, tão assustador quanto um monstro de filme de terror!
Só deu tempo de eu arregalar os olhos, uma vez que o veículo já estava praticamente em cima de mim, até que algo me salvou e, apesar de a cena ter acontecido muito depressa, consegui ver tudo: fiz uma posição de defesa, já pensando estar morto, porém alguma coisa enorme apareceu à minha frente, e depois ouvi um som ensurdecedor de lata sendo amassada, fazendo eu fechar os olhos com a força do impacto.
Quando os abri, a primeira coisa que vi foi o ser na minha frente, me protegendo: a silhueta de um homem perante a luz dos faróis acesos do caminhão. O homem era forte, e aparentemente havia parado o veículo com os braços — só então que percebi que esse salvador... era o Jhou.
Fiquei de boca aberta.
Será que…
Olhei em volta e percebi uma multidão de curiosos olhando a cena inacreditável, tão perplexa quanto eu.
— Jhou... — as palavras quase não saíram da minha boca.
Ele olhou para mim, sem sair do lugar, e notei que seus olhos verdes estavam tão confusos quanto os meus.
— C-como… você…?
— E-eu… eu não… sei. — A voz do grandalhão soava estranha, como se ele estivesse odiando o que estava fazendo.
O trânsito havia parado e a aglomeração de curiosos aumentava. Jhou recolheu os braços, enterrados na lataria frontal do caminhão, e se virou para mim. Ele parecia envergonhado.
— E aí, vamos?
Antes de responder, eu ainda dei uma última olhada para o caminhão, cuja parte da frente estava toda arrebentada e amassada, um para-choque irreconhecível. O motorista, no entanto, embora espantado, estava intacto.
Tornei a olhar para o grandalhão. Ele era um místico, isso para mim era mais do que óbvio. Senão, qual seria a explicação?
— Tá forte mesmo, hein? — ainda ironizei, pelo menos para afastar o clima tenso que se formou entre nós. Depois saímos dali, com todas as atenções atraídas para o nosso lado.
Natsuno, junto de Riku e Pedro, esperava Jhou e eu na calçada de sua casa. Atrás deles, o deslumbrante e roxo sobrado da família Kogori.
— Qual o portal mais próximo? — perguntei, tentando ignorar os olhares atônitos dos garotos fixados na mochila do grandalhão. Riku dissera que não utilizaríamos o portal do Rio de Água Pesada, pois havia um melhor.
— A dois quarteirões daqui — respondeu Natsuno.
— Então bora.
Depois de andar alguns minutos, chegamos num terreno velho e abandonado numa das ruas mais pacatas do bairro até então. Nele havia um sobrado antigo de dois andares rodeado por muros altos, cuja tinta cinza estava desgastada. Era até meio estranho vê-lo num bairro nobre como aquele. Era a única coisa que "sujava" o "ambiente limpo".
— Dizem que essa casa é mal assombrada — disse Natsuno, rindo. — Se soubessem que vampiros são mais perigosos que fantasmas…
Jhou não demorou em mostrar-se com medo.
— Relaxa — falei —, fantasmas não existem.
— Mas vampiros sim — disse Natsuno.
— O portal que está aqui nos levará para uma região da floresta à oeste da cidade de Firen — disse Riku, cortando o assunto. — Pouca gente sabe sobre ele.
— E como você soube? — estranhou Natsuno.
— Através de um velho de uma lanchonete, mas isso não importa agora.
No centro do muro havia um portão de ferro bastante danificado, também enorme. Estava fechado por uma corrente grossa e enferrujada, mas o cadeado devia estar, por algum motivo, do lado de dentro. Olhei em volta e não havia ninguém por perto. Escalei o muro e passei para o interior do terreno, descendo no quintal fedorento. Riku, Natsuno e Pedro fizeram a mesma coisa. Só faltava o Jhou.
— Eu tô achando que ele não vai conseguir. — Natsuno parecia impaciente.
— Ei, Jhou, vem logo — o chamei.
— Não estou conseguindo — disse ele do outro lado do portão.
Suspirei.
Eu me concentrei ao máximo e soquei o cadeado do portão, com a mão aquecida:
— Punho de Fogo!
Como uma explosão, o portão se abriu e Jhou entrou.
— Droga, Dio, você fez muito barulho! — reclamou Natsuno ao meu lado.
— Foi mal.
Dando meia-volta, encontrei-me num terreno baldio. Em certos pontos do chão de terra, a grama estava alta e mal cuidada. Eu me perguntei se havia vampiros ali dentro, uma vez que esses seres gostam de lugares assim, mas Riku e Natsuno pareciam conhecer o local.
Assim que passamos pela porta, percebi que não seria fácil encontrar o portal. A casa estava em total escuridão. Não havia sequer algum tipo de claridade, sendo impossível saber onde estavam as janelas — e o inteligente do Natsuno havia esquecido sua lanterna.
— Se pudéssemos abrir as janelas, pelo menos… — disse ele, como se estivesse lendo a minha mente.
— Deixa comigo — disse Pedro.
Eu não sabia o que ele iria fazer, mas esperei, mesmo com Jhou murmurando nervoso ao meu lado.
De repente, um barulho. Parecia o ruído de martelos batendo contra madeira. Então um ponto de luz. O culpado pelo barulho era o Pedro. Ele pegara um martelo para bater nas madeiras que estavam pregadas em uma das janelas, para desbloquear a passagem do sol.
Todos olhamos para ele, que apenas sorriu.
— Posso enxergar no escuro — explicou.
Embora fosse iluminação vinda de apenas uma das janelas, já era possível ter uma ideia do ambiente em nosso entorno. Começamos a arrancar todas as madeiras das janelas do saguão. Cada vez mais o lugar ia ficando mais iluminado, e então podíamos ver a bagunça que estava a casa. Havia poucos móveis na sala, velhos e empoeirados. As paredes pareciam não serem limpas a cinquenta anos, possuindo tinta desgastada e mofada. O teto era tomado por teias de aranhas e muitas baratas vagavam pelo local.
— Então você está me dizendo que o Jhou é um místico? — estranhou Natsuno, surpreso, enquanto desbloqueávamos mais uma das janelas.
— Sim — confirmei, sem parar de trabalhar. — Você tinha que ter visto como ele parou aquele caminhão. Salvou a minha vida...
Olhei para Jhou muito grato, e o observei arrancando as madeiras apenas com as mãos nuas e quase sem esforço. Mostrei para Natsuno.
— Pior que eu devia saber pelos olhos verdes dele — ele admitiu surpreso ao ver o grandalhão usando tamanha força. — Nunca suspeitei, Dio, sério mesmo.
— Muito menos ele.
— O que vocês estão olhando? — Jhou virou—se para nós de repente, com uma sobrancelha erguida.
— Nada não, grandão — falei. — Estávamos apenas analisando o lugar.
Depois de finalmente a casa estar preenchida pelos raios solares — tanto a parte de baixo quanto a parte de cima —, nós suspiramos, encostados na base da escada que ficava de frente para a porta.
— Quem será que morava aqui? — perguntei, vendo que a casa, embora fosse pequena, outrora fora luxuosa, considerando a bela decoração de época. Imaginei que pertencera a alguém que tinha muito dinheiro.
— Não faço a mínima ideia — disse Natsuno. — Moro aqui no bairro já tem quase um ano e a única coisa que ouvi foram os boatos sobre uma família morta aqui dentro. Meu pai disse que não sabe se é verdade, e nunca investigou, creio eu. Talvez ele nem saiba sobre o portal.
— E onde ele está? Digo, o portal.
Natsuno deu de ombros.
— Vocês são mesmo um bando de distraídos — disse Riku, tranquilo porém arrogante. Ele foi até o centro da sala (que ficava entre a porta de entrada e a base da escada) e apontou para o teto. — Esse é o primeiro cadeado. — Era uma espécie de botão cravado no concreto, próximo ao lustre de cristal. De fato, havia um símbolo entalhado no centro. — Aquele ali é o segundo. — Riku apontou para o corrimão da escada, bem lá em cima, no último degrau. — Aquele é o terceiro — apontou, então, para a parede ao lado da porta da cozinha. — E, por fim, o quarto cadeado está bem ali. — Riku apontou para atrás da porta de entrada.
— Temos que apertar os quatro botões ao mesmo tempo — presumi, me lembrando do portal da caverna.
— Eu aperto o do teto — disse o Medeiros.
— E onde está a entrada do portal? — perguntou Pedro.
— Bem aqui.
Riku saiu de cima do tapete e o puxou, levantando uma espessa camada de poeira que nos fez espirrar. Somente aquela pequena parte o chão era assoalhado, e havia um enorme quadrado marcado com tinta branca, como se quisesse mostrar que havia algo ali.
— Então vamos logo à Venandi — disse Natsuno, empolgado.
Natsuno estava no andar de cima, perto do corrimão; Pedro estava na parede perto da porta da cozinha e Riku no centro da sala. Caminhei até a porta de entrada e a fechei, expondo o botão na parede, bem escondido. Jhou era o único que estava parado, na base da velha escada, segurando a mochila do Medeiros.
— Assim que eu falar "agora", todos vocês apertem ao mesmo tempo — disse Riku. Ele puxou o ar e deu um forte sopro contra o chão, pegando impulso e dando um super salto. O pulo foi tão alto que ele conseguiu chegar ao teto, e quando ia apertar o botão, gritou: — Agora!
Apertamos os botões ao mesmo tempo, fazendo com que o chão começasse a se abrir. Riku aterrissou e pulou para perto do grandalhão antes que ali também virasse um buraco.
O chão se abria aos poucos, sem fazer barulho, como se fosse uma abertura mecânica. Não dava para ver muita coisa além do buraco descoberto, apenas uma escada que levava à escuridão.
— Teremos que descer isso tudo? — resmungou o medroso Jhou.
— Parece que sim. — Natsuno também parecia desanimado.
Finalmente o chão parou de se mexer. Nós cinco nos reunimos na base das escadas — pois é, parecia que a escada subterrânea era a continuação da outra, embora não estivesse tão empoeirada — e trocamos um olhar receoso.
— É seguro? — Pedro quis saber.
— Vamos ter que descobrir — falei, olhando para baixo, engolindo em seco.
Respirei fundo e desci os primeiros degraus, acompanhado por Pedro e Riku. Jhou ainda pensou duas vezes, mas Natsuno o puxou, suspirando. Por fim, descíamos um túnel reto e inclinado que, aos poucos, ia sendo iluminado por algo em seu fim.
Descemos em silêncio, um silêncio tão profundo que era possível ouvir as nossas respirações. Quanto mais adentrávamos no buraco, mais o buraco parecia ser uma caverna. As paredes e o teto eram feitos de rocha limpa e cinza. Nem parecia que estávamos no subsolo, uma vez que não havia sinal de sujeira ou insetos ali.
Descemos por alguns minutos. A luz no fim do túnel foi ficando cada vez mais forte. Até que finalmente paramos diante de uma porta: era o fim da linha.
A luz vinha de apenas algumas lâmpadas brancas embutidas acima da porta de metal, e de perto nem pareciam tão potentes assim. Imaginei que fosse mais um dos produtos estranhos de Firen, como aquele colchão resistente que tio Michael comprara e o “celular produtor de frascos cristalinos” do Natsuno. Na porta, havia um buraco no lugar da fechadura. Era o único detalhe no metal liso.
Riku tirou o seu anel prata do dedo e logo ele virou a sua linda Takohyusei, que ainda provocava reações de surpresa no Pedro e no Jhou. Depois enfiou a espada no buraco, e ela encaixou perfeitamente. Ele a girou para a esquerda — como se fosse uma chave — e, após um pequeno barulho de engrenagens dentro ou adiante da porta —, a passagem se abriu. A porta de metal começou a subir devagar entrando no teto, deixando o caminho livre para que pudéssemos passar.
— Finalmente! — disse Natsuno, enquanto observávamos o portal à nossa frente.
Pedro e Jhou pareciam paralisados com a imagem, com aquela coisa estranha e "viva": um círculo roxo e brilhante. Falei:
— Aqui começa a nossa jornada ao Monte Zentaishi. Estão preparados?
Todos disseram que sim. Então entramos no portal.