Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 37: A grande aventura do metrô!

Giratória de Vento!

Riku pulou girando e derrubando três vampiros que estavam ao seu redor, utilizando pernas que pareciam puxar o vento enquanto eram movidas, em um movimento até que bonito de se ver.

Os sujeitos caíram pelo chão como se tivessem acabado de ser atingidos por um tornado. E quando se levantaram, foram atingidos por mais golpes do Medeiros.

A plataforma estava cheia de vampiros tão corpulentos quanto enfurecidos, que ignoravam todas as pessoas que estavam encolhidas pelos cantos. Queriam a bomba.

Natsuno e eu nos olhamos.

— Não temos outra saída — disse ele com um leve sorriso de ansiedade.

— É, não temos mesmo.

Por um lado eu estava feliz. Havia dias que não caçava, uma vez que fomos proibidos de ir às outras zonas da cidade senão a sul. Confesso que eu não imaginava uma encrenca como aquela, uma batalha em pleno domingo em uma estação subterrânea de metrô, mas já que não tínhamos outra escolha, o jeito era lutar.

Os vampiros vieram.

Começamos a lutar em uma bagunça imensa. Todos os vampiros nos atacavam de uma só vez, mas conseguíamos desviar dos golpes e contra-atacar com extrema eficiência. Como mencionei antes, era incrível lutar ao lado do Natsuno. Parecia que tínhamos um entrosamento natural, já que um complementava o golpe do outro ou simplesmente desviava. E foi assim que lidamos com aquelas criaturas.

— Há! — atingi o primeiro na cara, depois desviei de garras afiadas. Agarrei esse segundo pelo braço e o empurrei contra os dois vampiros que o Natsuno enfrentava. Natsuno aproveitou e socou no estômago o primeiro vampiro que eu atacara, me livrando de unhas mortais. Agradeci chutando um quinto vampiro que estava prestes a atacá-lo.

Ao nosso lado, Riku lidava muito bem com quatro vampiros de uma só vez. O Medeiros era leve e veloz, deslizava no chão como se estivesse patinando no gelo, utilizando suas pernas como arma mortal. Seu estilo de luta lembrava muito o Taekwondo (arte marcial que utiliza bastante os pés); mas um Taekwondo incrementado de um vento obediente. Era isso mesmo, Riku usava o vento a seu favor, manipulando-o de forma eficiente, dando mais poder aos seus ataques. Tanto poder que chegava a exagerar, golpeando seus inimigos com fúria, mostrando que não fazia aquilo para se defender, e sim para se divertir — o que era assustador. Riku sorria enquanto lutava.

Decidi me concentrar na minha luta, que não estava sendo muito fácil. Parecia que inimigos surgiam cada vez mais, eu só não sabia de onde. Ainda assim era impossível não reparar em Natsuno ao meu lado. O Kogori era ágil e habilidoso, parecendo até um jogador de futebol driblando vários adversários de uma só vez. Ele era surpreendente, e parecia brincar ao invés de lutar, em um estilo de luta que reconheci ser o Kung Fu. Me questionei se só eu que lutava em uma mescla maluca. Parecia aceitável, considerando que meu tio Michael me ensinara um pouco de tudo.

Continuei lutando, com aquilo na cabeça. Precisava demonstrar minhas habilidades, mostrar meu golpe novo — na verdade, um golpe aperfeiçoado que tinha meu Punho de Fogo e os Socos Relâmpagos do Natsuno como inspiração. Mas como o faria, sendo que precisava proteger aquela bomba, eu não fazia ideia.

A bagunça aumentava cada vez mais, e seria difícil exterminar aqueles vampiros sem as nossas Takohyuseis. Então a nossa prioridade, eu imaginei, era deixá-los inconscientes, assim ganharíamos tempo. Tempo até o trem chegar.

Do outro lado da plataforma do meio, surgiu o trem que cortava Honorário de leste a oeste. As pessoas que estavam nas outras duas plataformas se apressaram para entrar nos vagões, o que me aliviou um pouco. As que desceriam, foram avisadas a não descer, portanto as portas foram fechadas e o veículo continuou seu trajeto.

Imaginei o tipo de repercussão que aquela batalha causaria na mídia. Era evidente que as manchetes não diriam simplesmente “Homens maldosos atacam três adolescentes inofensivos em estação de metrô”. Seria algo mais parecido com “Estranhos de olhos vermelhos e dentes afiados atacam três adolescentes estranhos e assassinos em estação de metrô”.

Aquilo me preocupava, e eu me perguntei se o Conselho dos Clãs Especiais assistia televisão ou lia jornais.

— Cadê o nosso metrô que não chega logo? — queixou-se Natsuno, sem parar de atacar.

— Espero que esteja vazio — falei, também focado na luta.

Assim que disse isso, um vampiro me acertou em cheio no peito com um chute. Foi um golpe tão forte que me jogou no trilho do metrô a vários metros de onde eu estava, mas não soltei a bomba. O vampiro que me atacara veio até mim em um salto e, quando me levantei, eu estava de frente para ele — e pude observar olhos malignos cor-de-sangue acompanhados de veias grossas que marcavam o seu rosto.

Evoluído.

— Me entregue a bomba — disse ele sério. Seus olhos vermelhos eram intimidadores. Como todos os outros, era um homem robusto e um pouco alto. Sua pele era clara e seus cabelos tinham a cor da areia. Poderia ser um galã de novela caso não tivesse aquela expressão maligna no rosto (além, claro, dos dentes caninos e das garras enormes). — Agora!

— Desculpa, mas que tal outra hora?

Tentei me mostrar confiante, mas a verdade era que minhas costas doíam pra caramba graças à queda. Olhei adiante do vampiro e só vi escuridão e mais escuridão no túnel por onde viria o metrô. Imaginar o veículo vindo me causou calafrios.

O vampiro continuou me fuzilando com o olhar, esperando que eu lhe entregasse a bomba, mas permaneci parado, olhando-o nos olhos com firmeza. Talvez assim ele se sentisse intimidado.

Eu estava errado. Aquilo só serviu para irritá-lo.

O sujeito rosnou e avançou contra mim com suas garras, tão ágil quanto feroz, e por pouco eu consegui desviar e subi para a plataforma do meio — em um pulo alto que eu só consegui por causa do treino no Rio de Água Pesada.

Natsuno e Riku também vieram à mesma plataforma que eu, trazendo os inimigos consigo. Agora estávamos no centro daquele andar da estação.

— Sentimos sua falta — Riku conseguiu dizer mesmo em meio à batalha bagunçada.

— Que fofinho! — disse Natsuno em tom zombeteiro enquanto acertava dois vampiros com punhos muito rápidos.

Lutávamos em um ritmo ainda mais acelerado, quando falei:

— Acho que já é hora de a gente sacar as nossas Takohyuseis.

Nós três puxamos nossos anéis e os fizemos se tornarem as lindas espadas afiadas. A minha era dourada do cabo vermelho. A do Riku era de lâmina prata muito brilhante, mas o cabo cinza era fosco. Já a do Natsuno era completamente roxa, possuindo apenas alguns detalhes dourados e reluzentes, todos em forma de raios.

Imediatamente os vampiros mostraram certa apreensão.

Riku gritou:

— É hora do show!

Sem perder tempo, utilizou sua lâmina para cortar várias das criaturas de raspão, espalhando sangue pelo lugar. Suas pernas, agora, eram apenas suporte, enquanto Riku introduzia sua Takohyusei no peito de vários vampiros que nos cercavam, muito rápido, muito feroz, muito assustador. Parecia até outra pessoa! Chegava a ser preocupante.

— Ei, Dio, mais concentração — disse Natsuno.

— Hã, certo.

Também cortei inúmeros inimigos que apareciam. A espada fazia eu me sentir ainda mais forte, ainda mais confiante. Eu não era muito bom em manuseá-la, mas ainda assim não era tão difícil enfiá-la no peito de alguns vampiros. Aos poucos, as criaturas viravam pó, quando ocorreu-me que não tínhamos tempo de colhê-los.

Porcaria.

Pelo menos uns dez vampiros já tinham se tornado areia. Mas ainda havia outros para exterminarmos. Uma pena.

— Pensou que ia se livrar de mim tão fácil? — me perguntou o vampiro que me chutara para os trilhos momentos atrás, surgindo à minha frente com ataques agressivos.

Desviei de suas garras e o ataquei com uma sequência de socos no estômago, fazendo-o cuspir sangue. Fiz isso porque decidi passar a minha espada para a mão esquerda, já que sou destro. Graças a isso, faltou pouco para a bomba escorregar dos meus braços, portanto decidi que não faria mais esse tipo de movimento.

Com a espada, perfurei o estômago do inimigo, fazendo-o esfarelar a ponto de virar um monte de areia no chão. Mais um dentre os demais, o que para mim era um desperdício já que precisávamos coletá-los. Eu não aguentava mais ser considerado um simples aprendiz de caçador. 

E então comecei a ouvir um som distante se aproximando, fazendo a plataforma tremer ligeiramente.

O metrô.

— Finalmente — disse Natsuno, por mim e por ele.

Olhando à nossa volta, vi algumas poças de sangue escuro pelo chão da plataforma. Sangue das criaturas, que se transformavam em areia — e isso assustava mais ainda as pessoas que assistiam à "bagunça violenta". O mais surpreendente era que, até o momento, não aparecera nenhum segurança da estação, tampouco descia pessoas pelas escadas rolantes.

— Não temos tempo de colher o pó — falei, desapontado.

Meu alívio era que sobrara apenas três vampiros. Riku matou um e eu matei o outro. O terceiro e último estava de frente para o Natsuno, mas quando o Natsuno fez menção de exterminá-lo com a sua espada, Riku gritou:

— Esse é meu!

Então o atingiu com um chute no peito, jogando a criatura contra o trilho do metrô. O vampiro não morreu, mas assim que se levantou teve uma enorme surpresa ao olhar para o lado: o metrô passou por cima dele!

— AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!!!!!!

Olhei em volta preocupado, ao mesmo tempo em que o vampiro berrava enquanto era atropelado pelas rodas de cada vagão. As pessoas estavam chocadas com a cena horrível. Todas. O pai não deixou seu filho e sua esposa verem a cena; eu faria o mesmo. Os idosos pareciam não acreditar no que assistiam; o velho senhor gesticulou para a senhora não olhar mais.

Olhei para a parte do trilho, onde estava o inimigo.

Ele ainda estava lá, porém gritando de dor enquanto o metrô destruía seus membros, triturando-o de maneira dolorosa. Ele não iria morrer, mesmo deformado, eu sabia. Espirrava muito sangue pelas redondezas, parecendo até que estávamos perto de um irrigador de hortas, mas que jorrava sangue em vez de água.

Natsuno e eu trocamos um olhar nervoso.

Ele estava tão chocado quanto eu e, provavelmente, com os mesmos pensamentos: “Riku é louco?!

Decidi não olhar para o Medeiros.

— AAAAHHHH!!!! — A voz da criatura ecoava pelas três plataformas, através do barulho do trem. Um grito de dor, de sofrimento. O grito da morte.

Enfim o metrô parou. Estava quase vazio.

Não entrou ninguém, apenas saiu.

— Vamos logo. — Riku entrou em um dos últimos vagões como se nada tivesse acontecido. Natsuno o acompanhou, ainda abalado.

— Segure a porta, Natsuno — pedi, antes de entrar também. Com certo esforço, passei pelo vão que havia entre o trem e a plataforma e consegui pular para o trilho. Agachei-me perto do corpo do vampiro atropelado (este totalmente deformado) e enfiei minha espada em seu peito, fazendo-o virar pó. De certo modo eu sentia pena dele. Ninguém merecia uma morte daquela forma, nem mesmo um vampiro.

Escalei para a plataforma e entrei no vagão.

Estávamos suados, mas não cansados. Minha camiseta estava colada ao corpo quase que por completo. Percebi que eu transpirava mais do que o Natsuno ou o Riku, provavelmente por causa do aquecimento do meu corpo. Talvez pelo fato de pertencer ao clã do fogo.

— Foi… hã, emocionante? — disse Natsuno em meio ao silêncio, acho que para quebrar a tensão que se formava em nosso meio. Não obteve sucesso, no entanto. O clima desconfortável era forte entre nós. Eu ainda não acreditava no que havia acontecido. A cena ficaria na minha cabeça pelo resto da vida. Não só o inimigo sendo esmagado, como também as expressões das pessoas que estavam presentes, todas espantadas.

E a atitude do Riku também.

Olhei pela janela, e todas as pessoas nos olhavam. Algumas com certa admiração, outras com expressões de medo. Medo de nós, era o que parecia. Pelo menos eu achava isso depois do ocorrido.

E antes de a porta do vagão fechar, vários vampiros surgiram na plataforma e correram rumo ao veículo. Não podíamos fazer nada, apenas observar enquanto eles se aproximavam, todos apressados. E entraram.

— Droga — murmurei.

A porta fechou e o metrô começou a se mover. Fomos cercados por vampiros no pequeno espaço, o único alívio sendo o fato de haver somente dois passageiros no vagão. Eles ficaram assustados, mas não deixaríamos os inimigos fazerem mal a eles.

Riku, Natsuno e eu estávamos prontos para a batalha.

Pelo menos eu achei isso.

Em um piscar de olhos, Natsuno e Riku foram atingidos ao mesmo tempo pelos punhos de dois vampiros — o Kogori no peito e o Medeiros na costela. Natsuno caiu à minha esquerda e Riku à minha direita. Mantive-me de pé, perplexo. Isso indicava que aqueles vampiros eram evoluídos.

Eram seis, e estavam a poucos metros de mim, me encarando com aquelas íris cor-de-sangue cada vez mais faiscantes. Depois fixaram os olhos na bomba.

— Entregue-a! — disse o inimigo que atacara Natsuno, mostrando seus dentes afiados logo em seguida.

— Vem pegar — o provoquei, passando minha Takohyusei para a mão que segurava a bomba; imediatamente todos os seis vampiros que estavam no vagão saltaram na minha direção.

Sorri, respirando fundo e concentrando todas as minhas forças.

Gritei:

— Punhos de FO-GOOOO!!!

Pois é, como você sabe, eu andei treinando muito nos dias em que fiquei sem fazer nada, e essa foi a técnica especial que eu vinha aperfeiçoando há algum tempo com a ajuda do tio Michael. Acontece que há uma energia diferente que corre pelo corpo dos caçadores e, se concentrada, pode produzir poderes que aos olhos humanos podem parecer bruxaria.

Mas não são bruxaria.

São poderes que vêm da origem do clã do caçador que os manipula. No meu caso, que fazia parte do clã Kido, o fogo. E os Punhos de Fogo eram uma técnica de duas estrelas, segundo o meu tio.

Então, flashes de chamas alaranjadas brotaram dos meus punhos na direção dos inimigos, que não tiveram reação alguma ao ver aquelas dezenas de “ondas de energia quente” a não ser serem atingidos. Alguns bateram contra as janelas de vidro, outros voaram para o fundo do vagão; alguns chegaram a impactar no teto! Meus “socos” eram fortes e rápidos ao mesmo tempo em que brilhavam feito chamas. Até eu fiquei surpreso com a força daquele ataque.

— Bela técnica — disse Natsuno, levantando-se ao meu lado.

Minhas mãos estavam doendo. Pareciam queimadas por dentro, mas tive que ignorar a dor.

O metrô continuava seu trajeto em uma enorme velocidade, passando por baixo de Honorário como se fosse uma minhoca mecânica na terra. Em poucos minutos estaríamos em casa.

Riku já enfiava sua espada nos inimigos, transformando-os em pó.

Olhei para as duas pessoas que estavam no vagão: uma mulher de óculos e um rapaz um pouco mais velho que eu. Ambos pareciam chocados — e o nosso alívio durou menos do que eu imaginava.

A porta do fundo do vagão foi aberta com agressividade, vampiros surgindo de outro vagão. Ao mesmo tempo, as janelas de vidro da esquerda foram quebradas e mais vampiros apareceram dali, enchendo o pequeno espaço de seres musculosos e assustadores. O irônico era as mulheres que havia entre o bando de vampiros; mulheres corpulentas e musculosas, indicando que dificilmente enfrentaríamos um ser fora de forma.

No fim, era o dobro de vampiros dos que enfrentei. E mais: grande parte tinha as veias grossas pelo rosto.

Vampiros evoluídos.

Tinham sorrisos maliciosos no rosto. Eu me perguntei se conseguiríamos levar a bomba à Venandi sã e salva. A única coisa que concluí era que tínhamos que ganhar tempo.

— Me sigam — falei aos dois caçadores.

Corri ao vagão oposto àquele em que apareceram os vampiros, rumo à parte frontal do metrô, desesperado. Fui abrindo as portas com golpes, Natsuno e Riku no meu encalço, e corri por vários vagões. Sempre havia duas ou três pessoas no decorrer deles, mas eu sabia que não seriam atacadas já que os inimigos estavam loucos atrás da bomba. Deveriam ter algum chefe no comando. Chefe este que, pelo jeito, não era nada tolerante. 

— Dio, pra onde você quer ir? Cara, estamos num metrô em movimento!

— É, eu sei — respondi.

A boa notícia: aquele era um metrô expresso — isso quer dizer que as estações ficavam longe umas das outras. A má notícia: aquilo significava que não tínhamos para onde fugir a não ser para o mais longe possível. O plano era ganhar tempo, evitar o máximo de vampiros possível até a estação Vila Sulamita.

E estava dando certo — até sermos surpreendidos.

No quinto vagão, vampiros nos esperavam. Agora sim podíamos dizer que estávamos cercados. Fomos obrigados a parar, enquanto os dois homens à nossa frente nos analisavam com fome no olhar carmesim. Queriam a bomba, o que não os impediria de nos devorar também. Eram altos, fortes e assustadores. E a coisa piorou quando os outros perseguidores chegaram até nós também, nos deixando encurralados.

— Hoje é o nosso dia de sorte — ironizou Natsuno, se preparando para lutar.

Riku sorriu, aparentemente satisfeito. Mas eu estava inseguro. Tinha que proteger aquela bomba a qualquer custo, uma coisa que não é muito fácil quando se está sendo perseguido por uma legião de vampiros.

Suspirei.

— Se vocês querem luta — falei, irritado —, então vamos lutar!

Eu me preparei mais uma vez, com a espada numa mão e a bomba na outra.

— Te daremos cobertura — Riku assegurou.

— O Riku tem razão — continuou Natsuno —, não deixaremos que eles peguem a bomba.

— Ok — falei, mais confiante.

Eu sentia que podíamos derrotar todos aqueles vampiros, mesmo em um espaço tão pequeno. Mesmo naquela velocidade. Ainda assim seria difícil.

— Podem vir, aberrações — Riku provocou as criaturas, afastando-se um pouco de mim e do Natsuno —, e apreciem minha técnica especial!

Assim que disse isso, os dois vampiros o atacaram — e no mesmo milésimo de segundo, Riku apoiou-se no chão com a mão direita e ergueu seus pés para cima, de pernas abertas, girando e gritando:

— Ciclone de Vento!

Com extrema força, seus pés atingiram os dois inimigos simultaneamente, jogando-os contra outros. O que mais chamava a atenção, no entanto, era que os pés do Riku girando pareciam um tornado de tão rápido que se moviam, chegando a superar a Giratória de Vento!

Ele parou de girar e saltou, pousando em pé com leveza, esquivando-se de outros vampiros de forma tranquila e contra-atacando com ferocidade, sempre com um sorriso psicótico estampado no rosto.

— Eu também tenho novidades, Dio — disse Natsuno, lançando-me um olhar empolgado. — Mostrarei minha mais nova técnica de duas estrelas!

Ele respirou fundo e correu. Até pensei que ajudaria o Riku na briga, mas Natsuno desviou-se da batalha do Medeiros e gritou, partindo em direção aos inimigos que estavam adiante:

— Raio Veloz!!

Em extrema velocidade e brilhando, Natsuno atingiu um vampiro (que caiu eletrocutado no chão), atingiu outro que estava ao lado do primeiro, atingiu mais um que estava atrás do segundo e, por último, atingiu um que estava atrás do terceiro.

Aquele golpe era uma mistura de rapidez e força. Natsuno parecia mesmo um raio, atacando e, ao mesmo tempo, eletrocutando todos aqueles vampiros, fazendo-os ficar inconscientes.

Ele não hesitou em enfiar sua Takohyusei nos inimigos.

— Caramba — falei.

Eu realmente estava surpreso. Ao que tudo apontava, Natsuno e Riku também haviam treinado nos últimos dias, e também tinham técnicas novas para mostrar.

No começo eu até senti um pouco de inveja, mas percebi que era muito emocionante nossa evolução. Parecia até uma disputa entre nós três.

Ataquei vários vampiros com meus "Punhos de Fogo", e Natsuno usou seus "Socos Relâmpagos" e seu "Raio Veloz", enquanto Riku usava sua "Giratória de Vento" e seu "Ciclone de Vento". Por fim, derrotamos todos os inimigos que nos perseguiam, enfiando nossas espadas no peito de cada um e finalmente colhendo o pó, colocando-os nos frascos cristalinos vermelhos que o celular do Natsuno materializou.

Suspirei, aliviado.

— Pensei que eles não acabariam nunca. — Natsuno também suspirou, um pouco ofegante; e se arrependeu de ter dito aquilo quando, surpreendendo a nós três, um vampiro apareceu pela janela do metrô (quebrando-a em cacos), pegou uma mulher que estava em um dos bancos do vagão, colocou-a por cima do ombro direito e pulou para cima do veículo através da mesma janela, em uma agilidade assustadora.

Não hesitei e fui atrás.

Pela janela, fui para cima do metrô, e embora tenha sido um pouco complicado, consegui me equilibrar mesmo diante daquela velocidade graças ao treinamento no Rio de Água Pesada; Riku e Natsuno vieram também.

Agora estávamos os três em cima do veículo em movimento, frente a um vampiro evoluído que segurava uma mulher no ombro. Uma mulher muito desesperada, por sinal. E como estávamos no subterrâneo, ali era escuro. Os túneis do metrô eram iluminados apenas por pequenas lâmpadas embutidas nas paredes que, graças à velocidade do veículo, formavam linhas paralelas brilhantes. O inimigo estava de costas para a parte frontal do veículo, o que queria dizer que podíamos ver o túnel adiante. Conclusão: a próxima estação ainda estava longe.

— Se não me der a bomba, eu a jogo lá embaixo — ameaçou ele, apontando para os trilhos; a mulher começou a gritar em desespero, berrando tanto que acho que até o vampiro não estava aguentando.

— Não faz isso — eu pedi. — Ela é apenas uma inocente!

O vampiro ameaçou jogá-la, assustando a mim e ao Natsuno.

— Entregaremos a bomba — falei.

Natsuno me olhou pasmo:

— Entregaremos?

— E como posso saber que você está falando a verdade? — indagou o inimigo, desconfiado.

— Eu já falei que vou entregá-la, não falei?

Então olhei para o Riku, que retribuiu o olhar.

Natsuno estava incrédulo com a decisão, me encarando com o cenho franzido. Eu entendia perfeitamente o que se passava em sua mente: "Se entregarmos a bomba, milhares de pessoas serão infectadas pelo vírus de vampiro!".

O sujeito disse, agressivo:

— Então jogue-a para mim.

Era um homem até que magro, pálido e com veias que deixavam seu rosto ainda mais feio. Seus cabelos desgrenhados eram jogados para trás, e o nariz dele era tão grande que o vampiro poderia ser confundido com o Pinóquio.

Ele me fuzilava com o olhar, porém era lícita a preocupação em seu rosto. Mesmo se eu lhe desse a bomba, sabia que o inimigo não cumpriria com o acordo, no entanto:

Pegue — eu disse lançando a bomba em sua direção, porém alto demais.

O vampiro largou a mulher de qualquer jeito e pulou para pegar o objeto, mas creio que ele não conhecia a lei da gravidade e, devido ao movimento do metrô, ficou muito perto de mim, sendo surpreendido com a minha Takohyusei perfurando-lhe o estômago.

— Argh! — foi o seu grito final.

Ele ficou preso na espada sangrando e com os olhos vermelhos arregalados de dor. Eu me virei para o lado e o chutei, jogando-o para fora do metrô, e o vampiro desapareceu na escuridão. Logo fiz minha espada voltar a ser o anel dourado.

Ao mesmo tempo em que isso acontecia, Riku nem precisou se mover para a bomba chegar até ele — devido à velocidade do metrô —, e logo em seguida segurou a mulher antes que ela caísse, deixando-a aliviada.

Aliás, todos nós estávamos aliviados — e Natsuno muito surpreso.

— Vocês me deram um susto — disse ele, perplexo com a cena.

— E você sabe que aquele vampiro não morreu, né? — Riku perguntou com uma certa arrogância.

Cocei a cabeça, sem jeito. Vampiros só morriam com golpes fatais no cérebro ou no coração. O professor de Química, que havíamos encontrado naquele hospital abandonado e que eu havia apunhalado rua abaixo, estava respirando quando descemos até ele, após o encontro com o Sacerdote Divino. Ele, nós havíamos matado. Já o vampiro de agora...

— Foi mal — falei.

A mulher ainda estava com medo, então disse:

— Será que já podemos voltar ao metrô?

 

Minutos depois, descemos na estação Vila Sulamita. Olhei para o relógio da bomba: faltavam vários minutos, ainda. O pai do Natsuno nos esperava na praça frontal da escola, portanto nós corremos direto para lá, demorando cerca de dois minutos.

— Bom trabalho — disse Hebert, assim que nos aproximamos. A praça estava deserta e pacata.

— Foi cansativo. — Natsuno estava tão exausto quanto eu e o Riku.

— Só espero que vocês não saiam espalhando por aí sobre essa missão.

— Acho que nem vai precisar — falei —, já que havia testemunhas por todo canto. Sem falar no sangue que deixamos para trás.

— Fica frio, Diogo. — Hebert era mesmo parecido com o filho. — Há caçadores pela cidade inteira. O Conselho não ficará sabendo de nada, eu garanto. Isso é segredo nosso. — Ele deu uma piscadela. — Mas acho que seu pai ficaria orgulhoso caso soubesse. Pena que não vai saber.

Ouvir aquilo me deixou animado. Seria bom fazer meu pai sentir um pouco de orgulho. No entanto, tínhamos quebrado regras. E eu sentia que aquilo era ruim.

Hebert ainda olhou para o Riku, e disse:

— Seu pai também ficaria muito orgulhoso. Você sabe qual era a vontade dele. E parece estar seguindo o caminho que ele planejou.

Não sei por que, mas Riku pareceu levemente surpreso. Natsuno apenas sorriu.

Entreguei o objeto ao Hebert — que nos parabenizou mais uma vez — e nos despedimos: Hebert e Natsuno foram para um lado e Riku e eu fomos para o outro. No meio do caminho, o Medeiros me disse:

— A partir de amanhã treinaremos uma técnica em conjunto.

Riku ficara diferente após Hebert ter dito que seu pai ficaria orgulhoso. Seus olhos pareciam, pela primeira vez desde que o conheci, vivos.

— Técnica em conjunto? — estranhei. — E o que seria isso exatamente?

— Você saberá. Apenas se prepare, porque o que quero treinar exigirá muito mais esforço — ele me olhou e deu um sorriso sombrio — que esse seu Punho de Fogo.

 



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