Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 1.5: Mundo ilusório

As balas cruzam o céu perseguindo cadenciadamente a garota na qual desvia de tudo em um salto no meio ao ar. Ela gira seu corpo e as pequenas estrelas douradas vão perdendo a vida como meras supernovas indicando as suas insignificância desde o princípio. E assim, Rie aterrissa na superfície brandindo sua espada na vertical.

A lâmina se choca com o rifle de um dos soldados. A energia azul imbuída na lâmina brilha intensamente e causa uma pressão avassaladora que cria faíscas. O objeto de metal começa a se tornar incandescente e é fatiado da ponta até o final fazendo com que partes como líquidos flamejantes se espalhem pelo ar, assim traçando uma linha reluzente em um instante.

O oponente demonstra uma postura de surpresa em um pose sem armas e de mãos abanando. Mesmo assim, ele rapidamente tenta sacar a espada na cintura, porém antes que pudesse reagir é acertado por um chute com o salto da sapatilha de Rie. E o rastro de poder desenhado pela garota se propaga numa explosão que cria uma onda de impacto resultando no homem que é arremessado para o longe, esbarrando e derrubando vários de seus aliados no processo, desse modo mostrando que ele foi insignificante desde o começo.

Esse é o sinal de que Rie está apenas começando. 

Jun até cravou sua espada no chão e se apoiou nela, relaxando. Um projétil chega a ser disparado contra ele, mas como se fosse nada apenas moveu a cabeça para o lado e desviou. A pessoa que em reação ficou furiosa com essa sua atitude, logo na sequência teve o peitoral de sua armadura cortado ao meio pelo sabre da garota o deixando em fragalhos e só enfatizando ainda mais o quão descartável sempre foi.

Ela se agachou e com um movimento horizontal brandiu sua espada deixando um rastro por sua trajetória. No entanto, esse simples balançar se expandiu em algo mais grandioso. Com seu poder da cor de uma safira cintilando de forma extrema, uma onda se propagou. 

A magia avançou golpeando o exército de modo eficaz, causando um efeito dominó em meio ao som de estalos ao acertá-los que chegam aos seu ouvido e fizeram sentir a vibração que ressoavam do mundo ao caírem. E a terra tremia conforme perdiam o equilíbrio e se debatiam ao serem derrubados.

— Sua maldita! — Os que ainda se mantinham em pé gritavam em fúria expressando os lados bárbaros mais puros.

Entretanto, Rie demonstra uma postura de que sequer se importa na qual faz os olhos de Jun serem atraídos cada vez mais por ela. A garota continuava a avançar com uma sequência de ataques elegantes e impecáveis em sua técnica.

O sabre dela golpeia a lâmina de um dos homens a arremessando para o alto. Ela se vira para direção oposta, mostrando para o inimigo que ele já não valia mais sua atenção e o irritando no processo, mas com essa sendo uma fúria que logo se tornou humilhação. Com um chute sendo dado no peito daquele soldado, ela toma impulso causando uma corrente de impacto que estraçalha o dito cujo, assim indicando o ponto inicial de sua arrancada que deixa um rastro de aura por onde passa.

Com sua ires preenchidas por sua luz, sendo esse o sinal mais evidente que estava usando a magia para se reforçar fisicamente, Rie continuou a brandir sua espada de forma feroz. Um embate frenético entre lâminas que traçavam linhas douradas e sua que criava rasgos de um azul tão potente que esmagava tudo que estava pelo seu caminho.

A garota se movimentava de forma perspicaz para todas as direções, da esquerda para direita, para frente e para trás, e até mesmo indo do céu até o solo com acrobacias elegantes sem deixar que sequer fosse tocada. E faíscas causando o cheiro e a sensação de calor, mais partículas de energia com o som de cristal ao de partir, são vistas e ecoam incessantes. Não importava se uma chuva de balas fosse disparada contra ela, ou se tentassem picotar ela ao meio de todas as formas, nesse momento ninguém é páreo para essa garota.

E Jun só ficava cada vez mais impressionado. Ele até chegou a cogitar que não precisaria fazer nada nessa situação, pois Rie já era incrível por si só.

Contudo, era óbvio que ela não conseguiria se manter triunfante para sempre. Foi só uma questão de esperar até que os soldados conseguiram arquitetar uma forma de a impedir de reagir como quisesse tão facilmente; aliás, era uma contra dezenas. Quando menos pode prever, foi acertada nas costas com tudo por um que imaginava ter nocauteado, mas que só estava esperando para dar o bote.

E em meio a esse pequeno deslize Rie deixou sua espada cair. O barulho do metal ao se debater no chão ressoou em seus ouvidos repetidas vezes, em meio a um cenário em que estava cercada e sem ter como reagir.

 

* * *

 

Um imenso calafrio percorreu por todo seu interior ao ponto de Rie escutar as batidas de seu coração. Suas pernas estremeceram e por mais que uma parte dela suplicasse desesperadamente para que tentasse recuperar sua arma, ela se via paralisada.

Será que razão disso tenha sido por um karma criado ao ter sido arrogante o bastante para achar que conseguiria lidar com tudo isso sozinha? Ela se perguntava isso, mas não conseguia saber. Embora no fundo ela só quisesse impressionar aquele garoto, mostrando que era capaz de fazer algo incrível, parece que no fim apenas acabou como uma idiota.

Rie fechou seus olhos e colocou os braços na frente do rosto. Na situação em que estava nem mesmo tentar saltar adiantaria, pois nessa posição os projéteis a aceitariam com toda a certeza, portanto só lhe restava esperar pelo pior. Pelo visto, ela tinha conseguido antecipar a sua morte.

E assim, sentiu uma pressão de ar avassaladora, ao ponto de fazer a terra sacudir e ela quase cair. O som de um imenso estrondo, conjunto de metal se quebrando de modo intenso e então caindo como milhares de pedaços fazem a ansiedade a preencher. E na sequência, consegue perceber o corpo se estrebuchando no chão, como um saco de lixo ao ser derrubado.

Entretanto, ela permaneceu no mesmo lugar de antes, intacta. Não havia quaisquer sensações de que tinha sido ferida ou algo do tipo. Foi quando Rie obteve a coragem para abrir seus olhos outra vez.

— Deixem a gente em paz! — gritou Jun que, de alguma forma que não conseguia explicar, apareceu na frente dela.

O garoto brande sua espada da cor da noite em um movimento circular, porém de um modo tão absurdamente rápido que ela só consegue percebê-la ao aparar, após ter deixado um rasgo extremo na realidade em meio ao ar. E entre uma explosão, ela vê seu cabelo começar a balançar freneticamente e o solo rachar.

Sem chance de escapar, os soldados ao redor são arremessados com uma força extrema para o longe. Entre este vendaval de poder, um deles quica contra o chão e cai contra um rio adiante fazendo um jato imenso de água voar. 

Os tijolos vermelhos também podem ser vistos espalhados pelo alto, em conjunto de uma trilha de destruição deixadas no solo. Rie até mesmo pode ver um dos homens completamente incapacitado naqueles tubos roxos e brancos, dos brinquedos de crianças, que estavam mais do que amassados nessa hora. Apenas estava perplexa perante a esse único ataque que Jun fez.

— Me desculpa, eu não devia ter deixado você lutando sozinha… — disse o garoto de cabelos vermelhos, coletando e entregando a adaga dela em simultâneo.

Rie arruma seu penteado e então, empunhando de volta sua arma, o responde:

— Não, a culpa foi minha. Eu tinha dito que ia tomar conta disso…

— Tá tranquilo, não se preocupe. O importante é que não se machucou.

Uma certa surpresa pairava no interior dela, perante a reação do garoto, e Rie queria agradecê-lo por demonstrar essa preocupação. No entanto, tratou-se de uma questão de segundos para que o enxame anterior de soldados voltasse até eles. Antes que pudesse fazer qualquer coisa Jun partiu para o ataque, e ela só conseguiu processar instantes depois que ele havia feito isso.

Ela realmente não podia relaxar nesse tipo de situação. Mesmo assim, em meio a tudo, não tinha como ela deixar de ter uma certa dúvida: como ele estava conseguindo se mover tão rapidamente? Desde o momento em que se conheceram com Jun cortando a bala com a adaga até mesmo agora que ele a protegeu quando estava cercada, ela sequer conseguia compreender.

Era como se o garoto fosse propriamente um lampejo de luz.

Uma chuva de disparos maciços voa contra ele, porém Jun continuou investindo. Ele seguiu reto e partiu todos eles, um por um, com movimentos tão rápidos e precisos que os olhos humanos mal conseguiam acompanhar. Milhares de pequenos fragmentos dourados foram espalhados pela atmosfera e então jogados para o longe com uma arrancada que causa um estrondo.

Rie não conseguia ver os olhos brilhando, mas conseguia ouvir a sua aura, o que indicava que estava a concentrando de alguma forma. Escuta aquele som que lembra a cristais fluindo, porém que se tornavam cada vez mais e mais intenso, crescendo exponencialmente sem parar ao ponto de imaginar estar prestes a explodir e mais assim continuava.

Assim, antes mesmo de poder visualizar, um arco de energia de um azul cinzento foi deixado no ar. Ela não sabia afirmar se era somente a silhueta da espada dele, ou de que tinha algum poder envolvido nisso. Apenas possuía a certeza de que o homem foi acertado precisamente entre uma explosão de impacto, essa em que o arremessou furiosamente com um rasgo em seu peito que deixou centenas de cacos de sua armadura para trás.

— Seu ladrão! Nos devolva isso! — exclamou um dos, ainda vários soldados que restavam, dando dianteira com seu rifle apontado e olhando diretamente para a espada do garoto.

E dessa vez um rastro de energia se formou na trajetória dele, no entanto que desapareceu num piscar de olhos como uma estrela cadente e o revela cara a cara com o inimigo. Jun move seu braço em linear e a arma de fogo tem seu metal amassado recortado em dois. O homem tenta reagir sacando sua adaga da cintura, contudo girando seu corpo ele cria um rasgo dilacerando sua defesa e fazendo aquilo voar das mãos dele.

— Não faço ideia do que vocês estão falando e, também, nem quero saber…

Outros tentam interceptar o garoto, porém o primeiro antes de chegar já é acertado por um corte de Jun, ao partir em investida e retornar para a posição anterior numa fração de segundos. Na sequência, uma dupla é derrubada por um arco vertical. O garoto para pôr um segundo, coleta a pequena lâmina que lançou no ar com a outra mão, a transforma numa espada e golpeia o próximo que é nocauteado de uma vez só.

— Como… Como isso é possível!? — Um dos homens grita em desespero, porém logo se cala ao ser golpeado no capacete pela ponta do objeto apanhado que Jun lança contra, o nocauteando.

Agora Rie começou finalmente a entender o que estava acontecendo. Ela sabia muito bem o que ele fazia. Jun utilizava de uma habilidade que ela já havia visto antes e conhecia muito bem, mesmo que só tivesse o conhecimento de que apenas uma pessoa era capaz disso.

Conforme Jun luta contra os soldados, suas espadas entram em um empate frenético. As lâminas se colidem em um ritmo assustador e cada vez só se tornam mais rápidos. Uma hora ele estava duelando contra uma pessoa, um segundo depois com duas em simultâneo e então várias após derrotar as últimas progressivamente. E ele continuava se movendo mais e mais rapidamente de um instante para o outro.

— Aceleração… — Rie murmurou para si mesma, com os olhos totalmente fixados neste uso de tal habilidade que cada vez a fascinava mais.

 

* * *

 

O garoto faz acrobacias em movimentos vertiginosos. Cortes e mais cortes são feitos sequencialmente em velocidades que se intensificaram num ritmo consecutivo. Cada traço, cada impacto, cada estocada que ele fazia entre minúsculos espaços de tempo assustadores criam faíscas e ondas de energia que se propagam como um vendaval que jamais será ser parado.

Todo homem que saltava para o confronto contra ele entrava em um embate feroz com as espadas, mas eram dilacerados em sequência. Estrelas, causadas pelas explosões de poderes, se formam entre o choque entre as lâminas e um por um vai sendo esmagado.

E esse ritmo extremo que só parecia aumentar, então repentinamente para.

Jun deixa a mão imóvel na frente do último que o ameaçava. Por um instante tudo parece calmo, contudo uma corrente maciça se uma pressão extremamente concentrada continua a avançar perante o garoto que agora estava em repouso. E tudo que pode se ver é a enorme explosão de impacto que acerta o inimigo fazendo que seja expulso para o longe.

Ele não consegue entender, pois embora na sua mente apenas esteja fazendo ataques normais, eles estão saindo diferentes. Aparentemente não há uma explicação lógica, mas tudo que ele faz com essa espada dá a sensação de sair drasticamente melhor.

O peso desse objeto era maior do que estava acostumado e também a pegada lhe era um tanto desconfortável. Na hora, quando aquela pessoa o chamou de ladrão por estar empunhando isso ele não deu bola, porém agora ele começa a questionar… Por que algo que na teoria teria dificuldade de usar, simplesmente lhe dá resultados tão excelentes? No momento, para ele é um completo mistério.

E não é como se ele tenha tempo para desvendar isso agora. Depois de tanto lutar ainda restam alguns destes soldados, no entanto já está perto de acabar.

— Rie, vamos dar um fim nisso!

— Certo!

Em conjunto, os dois partem em arrancadas que deixam rastros de energias no ar. Eles se movem em sintonia, traçando riscos luminosos no mundo ao redor e deixando a aura jorrar interminavelmente. O ferro negro das armaduras é dilacerado em centenas de cortes avassaladores por onde passam e espalham pedaços no ar.

A forma como a garota duelava continuava a encantar Jun, para não dizer que o espantava de certo modo. O jeito como ela brandia seu sabre era de um modo elegante, mas ao mesmo tempo delicado, o que só contrastava mais com os danos que fazia. Não chegava a afirmar, porém ao vê-la lutando a seu lado desse jeito, talvez isso tenha feito ele se sentir confortável.

Um ânimo crescente brotou dentro dele que o fez deixar sair tudo aquilo que até então tentava não expor. De um instante para o outro, sua espada passa a jorrar uma energia luminosa por onde cruza e a sua aura que até então não viu necessidade de chegar a mostra-la ao ponde de ser visível no exterior se revela.

Com um corte mais rápido que o anterior, ele cria rombos no próprio ar com o seu poder. Partículas se espalham com explosões seguidas de clarões, assim formando estrelas a cada impacto. E Jun não para, ele acelera cada vez mais e mais desenhando milhares de rabiscos luminosos por onde cruza que retalham tudo.

Os homens são derrubados por impactos potentes, criando rombos por onde tocam. E as ondas e arcos de aura se propagavam abandonando o pouco resquício de um ouro que se apagava. E assim, o peso na atmosfera some permitindo que possam respirar sossegados. Toda a corrente de poder que até então envolve esse confronto se dissipa de modo que reste o mais puro vazio no lugar.

As linhas de energia que jorram do garoto cintilavam elegantemente chamando a atenção de Rie. As cores que são refletidas naquele poder se mostravam intermináveis. Os olhos dela passam a encará-lo fascinados, mas ao mesmo tempo também a amedrontados. Ainda assim, independente de observar essa reação, a única coisa que lhe vinha a sua cabeça foi fazer a seguinte pergunta:

— Está tudo bem com você? — disse Jun ao desacelerar, relaxando o seu corpo e soltando o peso do seu braço de modo que a ponta da lâmina na qual expele partículas de luz arranhe o chão.

E a garota o observava sem dizer uma única palavra. Nessa pose, enquanto trocava nada mais do que olhares com ela, rodeado por linhas de energia que o circulam em espiral com suas ires preenchidas por um poder de brilho metálico, mas que não era dourado e sim, prateado.



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