Volume 1
Capítulo 10: A neve sobre os mortos
Seus olhos iam e vinham, inquietos. A respiração se tornou irregular, acompanhando o suor escorrendo por suas costas.
Silêncio tomava conta das ruínas. Além acompanhar Carlos em sua procura, Cosmo observava pequenos detalhes nas rachaduras.
Ele torceu as sobrancelhas, contrariado. Esta era uma situação estranha, pois nenhum habitante fora encontrado, muito menos sinais de resistência. Nada de gotas de sangue, roupas ou trapos espalhados na neve. Muito menos pegadas.
Espantou-se ainda mais ao descobrir os estábulos desertos. Desertos, sem uma figura à vista. Mesmo os compartimentos estavam vazios.
Restou apenas o nada.
Em meio à procura incessante, notou algo se aproximar vagarosamente.
— Eles já voltaram? — perguntou Carlos.
— Eu acho que não são eles.
O clima ficará denso, algo que se assemelhou-se com um uivo, ecoou por todas as ruínas da cidade.
As casas que o cercavam pareciam crescer, como se o espaço alterasse transformando os dois em pequenas formigas.
— São cultistas.
Dois homens saíram do meio da floresta, e começaram a andar em direção a cidade cruzando pelos escombros.
Os passos, estranhamente calmos e coordenados, pararam ao ficar a alguns metros deles. Seus olhos o fitaram por um momento.
— O que querem?
— Não é óbvio? — O sorriso de César escorregou, mas logo sumiu.
O homem cujo os cabelos eram longos, apanhou o cabo de sua espada ainda na cintura. Seus olhos se afiaram para o garoto de cabelos loiros.
Carlos encarou o homem encapuzado por completo, a estátua robusta não impressionou o gigante.
A pressão do ar sombrio fez seus olhos pesarem, respirar causava um certo nó na garganta.
— Vou dizer o que vai acontecer agora.
— Eu fico com o da esquerda. — declarou Bruce.
Bruce colocou as mãos no bolso, retirando uma espécie de socos ingleses feitos com placas de algum metal desconhecido.
Ao colidir um punho no outro emitiu um som alto e desagradável.
— Vocês estão longe de casa. — sibilou Cosmo.
Os olhos de César se arregalaram, o vento bateu forte no rosto. Seu corpo se moveu por reflexo — e isso o salvou.
Naquele instante foi empurrado para trás.
O ataque veio com força, mas foi rápido o bastante para bloquear, cruzando as lâminas com o atacante.
Em um piscar de olhos, os dois estavam distantes de seus companheiros.
Cosmo continuava o pressionando. Avançava como se quisesse empurrar César para a morte.
As lâminas raspando uma na outra, trouxe a ele um som estridente. Ao cerrar os dentes, César salta ao chutar o agressor para longe.
Cosmo enterrou a ponta da lâmina na neve, deixando um rastro de ódio. Seus olhos o fitaram como se uma tempestade fosse contida dentro deles.
— Raen!
— Suye!
Seus olhos brilhavam como se escapassem raios deles. Ao segurar a lâmina dourada em mãos, saltou até o homem de cabelos longos.
Ele ergueu um dos braços, e dele se formou uma lâmina feita de água.
Se eu errar, vou morrer!
Os golpes se colidiram, Cosmo ergueu os braços e golpeou de cima passando um pelo outro.
— Você é muito burro.
Ao colidirem os ataques, César ajoelhou atrás do meio elfo que guardava sua espada na bainha.
Ele cuspiu sangue na neve, seus olhos estagnaram naquela sensação de choque.
— A água conduz eletricidade.
Os raios amarelos do garoto destruíram a lâmina d’água, transformando César em um condutor de eletricidade.
Ele ainda estava na posição inicial, após atacar, caído de joelhos.
O sangue escorregou entre seus dedos e vaporizou na neve.
Esse cara, quem é ele!? É forte e rápido, como é possível... E aquela katana, eu já a vi antes.
Naquele momento ele visitou o seu passado.
César era um grande pesquisador dentro do culto, diariamente ele pesquisava sobre as famigeradas bruxas do zodíaco.
Essas que fizeram ele pegar ainda mais apreço pela magia, mesmo sendo um espadachim.
— Magia é algo tão legal, assim como espadas!
O pequeno garoto vestia um manto preto, desde seu nascimento era rodeado por uma sala escura lotada com livros.
Uma espada enferrujada se encontrava encostada em livros velhos, na qual nunca havia lido.
Mas certo dia a curiosidade bateu a porta, e ele finalmente engoliu poeira ao folhear aquele livro velho.
As dez preciosidades da humanidade.
Seu gosto por espadas foi atiçado por uma lâmina dourada, seu cabo era descrito em uma língua antiga.
— Eu não consigo ler isso, que saco...
A ilustração mostrava uma katana com a lâmina serrilhada, cujos cortes lembravam estrelas.
Seus olhos brilharam com aquilo, e seu eu do futuro assistiu o pequeno César, maravilhado.
Pensou o quão cruel era perseguir aquilo, até ser morto pelo sonho de empunhar a lâmina de Orion.
Antes de perder a consciência, ele se esforçou para ver a estrela que brilhava atrás de si.
— Eu não vou te reconhecer, mesmo tendo sido obrigado a fazer isso.
O sentimento foi passado para Cosmo por meio da lâmina, ainda sim ele olhou o homem com desgosto.
— Serei rápido, não por você, mas pelo que você poderia ter sido.
Ele se aproximou de César, que arregalou os olhos desesperado, ao cair, tentou se arrastar.
— Não, a culpa não é minha!
Era um dilema dos espadachins: você só conhecerá verdadeiramente alguém, por meio da lâmina.
Naquele momento, em que se arrastava amedrontado, que seu peito foi perfurado por Orion.
— Por mais que eu odeie o culto da estrela negra, eu não odeio você.
O coração do cultista foi destruído com um golpe cru, mas fatal. Enquanto derramava as lágrimas, o cômodo escuro finalmente ficava claro.
Ao voltarem para aquela floresta nevada, Cosmo retirou a ponta da lâmina do coração destruído.
— Tem mais um.
Ele se virou em direção a vila, na qual a aura intensa acompanhava os barulhos das casas sendo destruídas.
Cosmo guardando sua katana, começou a correr. Não percebendo que estava sendo observado, por um par de olhos grandes.
***
Do outro lado do campo de batalha, na vila de Pólux, os golpes não cessavam. A batalha entre o gigante Carlos e Bruce acontecia entre os escombros.
Seu rosto foi atingido com um golpe poderoso, quando fora jogado contra os escombros, Carlos se levantou após o impacto.
A fumaça subiu em seus olhos, o rosto vermelho latejava com dor em sua mandíbula.
Seus olhos atravessaram a fumaça, a tempo de desviar do homem que saltou a seu encontro com outro soco.
Carlos girou o corpo e atingiu seu oponente com uma cabeçada. Ao vê-lo cambalear, desferiu um jap de direita direto no seu nariz.
Bruce caiu na neve, tocando o nariz que começou a sangrar. O sangue escorreu pelos dedos, vendo isso sorriu.
— Olha só...
O capuz caiu, revelando um homem cheio de cicatrizes, pareceu serem consequências das inúmeras batalhas travadas.
— Você é careca!? Então é esse o segredo da força...
Carlos se curvou com os braços suspensos, pensando que o motivo de tudo aquilo era a falta de cabelos de seu oponente.
— Do que tá falando? Garoto idiota. — Bruce se levantou, cerrando os punhos no único soco inglês que lhe restou.
Deixando aquilo de lado, ele assumiu a posição de luta novamente. Erguendo os braços e golpeando as pernas de Carlos com um chute.
Ele grunhiu, socando novamente César. Mas foi bloqueado antes mesmo de atingi-lo.
Empurrando Carlos, ele segurou os ombros musculosos e socou no plexo solar.
A força naquele golpe era algo que não sentia a tempos, como se uma viga de aço o atingisse.
— Morre de uma vez!
O golpe fez um trauma sério, Carlos cuspiu saliva e recuou, cambaleou, mas não caiu.
Estagnado no lugar, como se a alma saísse do corpo. Resistia colocando força nas pernas e abdômen.
A dor veio instantaneamente em seu abdômen, a falta de ar e a ilusão do espaço virar de ponta cabeça, era desesperador.
Ele abriu a boca, buscando aquele oxigênio que foi expulso do seu corpo de uma vez.
Ele finalmente conseguiu respirar ao salivar muito, cobriu a boca quando quis regurgitar algo.
Suas pernas por pouco não cederam ali mesmo.
— Vai se render? Sua morte pode ser bem mais rápida assim.
— Nem pensar...
— Como acha que vai lutar assim?
Seu corpo cambaleou, o estômago revirou, mas ele já conhecia aquela sensação. Uma ressaca mágica, só que pior.
A princípio a dor e a náusea era o determinante de sua desvantagem. Porém, existia algo que Bruce não sabia sobre aquele homem a sua frente.
Ele fechou o punho molhado de vômito, e assumiu uma posição de luta diferente de antes.
Ele abaixou o corpo, com os braços abertos ele cerrou os olhos. As íris azuis fitaram aquele que avançou novamente.
Veias saltaram em sua testa, para o homem ferido que sorriu para ele.
— Seu arrombado de merda! — Bruce gritou a plenos pulmões.
Cego pelo ódio não conseguiu perceber o que havia feito. Seu alvo saiu de seu campo de visão por segundos, e quando percebeu era tarde.
Algo envolveu seu pescoço, de forma bruta apertou até que quebrasse.
O som ecoou dentro de seu crânio, sua visão escurecia aos poucos enquanto gradualmente caia de joelhos.
O que!? Não, para esse cara não!
Carlos soltou seu corpo ao destruir seu pescoço, e observou seu corpo cair com uma expressão confusa no rosto de Bruce.
Quando, quando ele fez isso!? Ele estava atordoado, eu soquei um ponto fraco, sei que soquei.
O motivo de ter ficado de pé mesmo com aquele golpe poderoso, foi algo que só se lembrou segundos depois.
Flashes daquela manhã vieram a sua mente, e ele chegou a uma conclusão.
Naquele mesmo dia na taverna quando se fingiu de morto após levar um golpe de Zae, deslocou o olhar por um momento.
No fundo daquele cômodo, iluminado pelas luzes de cor laranja suspenso em uma cadeira.
Era ele!
Observou o mesmo homem beber um total de trinta e sete garrafas, e só depois desmaiar. Era aquele que olhou para Bruce de volta.
Não pode ser...
Carlos, por frequentemente beber, era alguém que resistia a tonturas e náuseas com facilidade.
Quando seu corpo caiu na neve, a cor de seus olhos sumiu. Quando o vento da morte soprou, não existia mais aquele cujo nome era Bruce.
O gelo e a neve consumiram aquele corpo, a ventania se intensificou após a batalha.
— Caramba, cara você é duro de roer!
Ele relaxou os braços, com a mão sobre o abdômen ele respirou e inspirou lentamente.
A batalha acabou, mas algo irritou suas narinas. Era um cheiro pobre e visceral, similar a um cadáver.
Junto daquela cólera no ar uma neblina se ergueu diante dele. Seus olhos lacrimejaram e ele tossiu, e sua garganta se fechou com o odor pútrido.
Algo estava à espreita, não conseguindo ver nada por conta da neblina iminente, começou a cambalear sem rumo.
Seus olhos se fechavam com certa sonolência.
— O que é isso!?...
Eu ainda tô chapado?
Ele reagiu atônito para a silhueta que se aproximava dele. Era enorme e tinha uma certa curvatura nas patas traseiras.
Um lobo negro emergiu, a aura de pura escuridão e fedor fez seu nariz queimar. Enquanto seu peito explodia de dentro para fora, seu corpo ficou leve.
Um som de ossos se partindo, carne rasgando, emitiu de si mesmo. Eram os seus órgãos jogados no chão quando abaixou a cabeça.
Um rosnado foi a última coisa que ouviu, cercado por névoa e medo. Seu corpo não resistiu ao ser rasgado ao meio.
Quando seus órgãos foram engolidos pela neve, os olhos violeta os fitaram horrorizados.
— Carlos...
Cosmo viu seu amigo ser rasgado na sua frente, e servir de alimento para aquele ser vil.
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