Volume 6
Capítulo 131: Algo foi invertido?
Nojo, não, a melhor palavra era ódio. Um sentimento tão profundo e sombrio, Hajime sentiu por… Yue.
Era evidente que a vampira sentia o mesmo. Seus olhos estavam distorcidos com um olhar assassino enquanto ela encarava o garoto.
— Yue.
— … Hajime.
Eles se chamaram por seus nomes com familiaridade, mas também havia um tipo de desconforto.
— … eu te desprezo completamente.
— … não sinto nada além de ódio.
Com fortes emoções, o casal puxou suas armas e as apontaram um contra o outro. Hajime mirou Donner contra a testa de Yue, enquanto a vampira acendia chamas em sua mão direita. As palavras “Ó?” e “Quem é o primeiro?” pairaram no ar como uma cena clássica de um impasse entre mafiosos.
— Ei, o que vocês dois estão fazendo?
Uma voz surgiu entre os dois. Era Shia. Seu ombro esquerdo apoiava Drücken, sua postura indicava que ela estava a ponto de atacar e sua voz estava muito repressora.
— Aquela que você deveria querer matar não seria eu? Não seja egoísta.
Assim como Hajime e Yue, Shia os encarou com ódio e malícia em seus olhos.
O Sinergista também tinha sentimentos negativos por Shia que rivalizavam com a intenção assassina que ele tinha por Yue. Quando o garoto apertou seus dentes e olhou ao redor, ele também sentiu olhares mortais de Tio e Kaori. Elas olhavam para Yue, Shia e Hajime com olhos repletos de ódio.
— Ó, ei pessoal. O que vocês estão fazendo? Nagumo é apenas Nagumo.
Kouki falou. O Herói parecia estar protegendo o Sinergista enquanto dava as garotas um olhar austero. Seus olhos pareciam possuir uma grande afeição por Hajime enquanto ele acusava as outras de agirem de modo estranho.
Ryutaro e Suzu não pareciam compartilhar qualquer sentimento forte contra o Sinergista. Ou melhor, Ryutaro parecia dar a Kouki um olhar de repugnância. Shizuku também tinha ódio em seus olhos quando ela olhou para Hajime, e um olhar condenador por Kouki, além de um olhar totalmente assassino para Kaori.
Por sorte, a barreira do “Escudo Sagrado” ainda estava sendo mantido por Yue. O enxame de baratas surgiu mais uma vez, tentando pegar Hajime e seu grupo de guarda baixa durante esta anormalidade, já que o grupo apenas se encarava.
Mais baratas se juntaram em círculos mágicos, tentando criar mais baratas especiais fora da barreira de proteção. Outro tsunami de baratas voou, dando um pouco de tempo a eles.
Hajime analisou o efeito da luz mágica usando “Detecção Mágica” e julgou que isso era o motivo para a mudança de emoções que estava em cena na situação atual.
— Ao que parece, a luz mágica que sentimos um momento atrás deve ter invertido nossas emoções. A intensidade é proporcional a força da emoção original.
— … nn, conclusão razoável, concordo de má vontade.
Hajime explicou sem se virar; Yue concordou com um olhar de repulsa. Mesmo com o sentimento invertido, eles não perderam suas memórias. Ao deduzir a partir de suas memórias como eles pensavam originalmente sobre os outros, esse parecia ser o palpite correto.
Enquanto mantinham aparências irritadas, ninguém apresentou nenhuma objeção.
— A extensão deste desafio… você ainda pode se lembrar, mas a emoção foi invertida. É difícil livrar-se do que você se lembra contra a forma como você se sente. É uma provação repugnante. Quanto mais profundo o vínculo, mais isso tentará parti-lo.
Assim que Tio explicou a extensão deste desafio, ela começou a corar enquanto observava as baratas rastejando pela parede externa, obstruindo suas palavras. O magnetismo das baratas parecia atrapalhar as palavras de todos; foi Kaori quem conseguiu colocar isso em palavras.
— … parece tão bonito.
Sim, também havia esse problema. Pelos demônios negros que eles deveriam considerar inimigos, o ódio foi invertido. Ao invés da repulsa, Hajime e os outros só sentiam encanto pelas baratas. Foram apenas suas memórias de aversão que os mantiveram de guarda.
Suas emoções foram invertidas. Eles não precisavam de mais nenhuma evidência para apoiar essa suposição. Os aliados com os vínculos mais profundos seriam separados, suas capacidades para se protegerem enfraquecidas pelo ódio. Esse devia ser o objetivo. Especialmente contra essas baratas demoníacas, eles com certeza teriam que resistir ao nojo.
Com o grupo incapaz de cooperar, eles seriam engolidos pelo tsunami de baratas, ou seriam presa dos monstros de tamanho maior, com cerca de um metro de comprimento. As baratas-chefões estavam sendo produzidas uma atrás da outra.
Não seria descabido chamar isto de uma situação desesperadora… contudo, as pessoas no local estavam longe de serem comuns.
— … são as montanhas de baratas que quero matar.
— … eu quero mata-las, assim como você.
Hajime e Yue encararam as baratas. Seus olhos pareciam penetrar através dos insetos pressionados contra a parede externa, contemplando a barata-chefão que criou esta situação.
— … mais do que aquilo.
— … do que aquilo.
Os olhos de Hajime e Yue brilharam com olhares brutais. Yue, que normalmente não mostrava tal expressão, estava com um olhar agressivo como o de um lobo selvagem, seus olhos semicerrados. Habitando nesses olhos estava uma raiva feroz como nunca antes vista.
— Eu adoraria… ah, eu quero matar!
— … queria ama-la e ser valorizada.
Duas cabeças entraram em ebulição.
Suas iras jorraram, quente como magma. Eles lembraram dos sentimentos que tinham um pelo outro. As baratas bagunçaram esses sentimentos. Ninguém deveria mexer com esses sentimentos importantes entre duas pessoas apaixonadas.
Mesmo contra baratas, aversão e raiva não eram o bastante para descrever a ferocidade que o casal sentia, algo mudou para sadismo. Os sentimentos cresceram até se tornarem amargura contra a natureza de todo o calabouço neste momento.
E Hajime e Yue não eram os únicos.
Kouki e os outros vacilaram com a pressão da raiva esmagadora emitida pelos dois, os fazendo recuar. Mas atrás deles, Shia, Tio e até Kaori, estavam com olhos vermelhos de raiva, o que podia apenas ser descrito como demoníaco.
Yue abriu a “Barreira Sagrada”, fazendo Kouki e seu grupo lançarem olhares de ceticismo e pânico. Magia vermelha começou a se espalhar dos pés de Hajime. Seus lábios estavam levantados, seus caninos expostos, e um olhar de um verdadeiro assassino estava em seu rosto.
Logo depois...
Zudooon!!
Hajime saltou pela passagem como uma bala, o rugido deixou para trás uma cratera no meio do galho onde seus pés estavam. Usando uma habilidade como “Teletransporte”, misturada com “Pernas Aprimoradas” e “Conversão de Impacto”, seu corpo se moveu como um míssil com o reforço corporal de pura magia. O “Reforço Corporal” foi aplicado em todo o corpo, o deixando mais duro do que aço, e seu corpo estava coberto com a “Capa do Relâmpago” e magia vermelha; parecia a personificação de um trovão.
Incapaz de deter Hajime, a “Barreira Sagrada” de Suzu foi destruída com facilidade de dentro como se fosse feita de papel. O Sinergista disparou contra a barata-chefão com a intenção de destruí-la.
— Te amarei até a morte.
A barata-chefão não poderia nem reagir, seu reconhecimento visual foi incapaz de acompanhar a velocidade de Hajime se movendo como um louco com um parafuso a menos.
De repente, a barata não parecia tão perigosa. Talvez fosse por seus sentimentos serem invertidos, ou ela não esperava que alguém sairia durante o cerco de baratas, mas a líder das feras mágicas parecia muito… simples?
Hajime, como a arma que ele era, extravasou sua raiva na barata, desferindo um golpe fatal, usando a velocidade de seu disparo combinado com uma joelhada.
GAAAAAAN!
Com o rugido retumbante de aço em aço, a barata-chefão desapareceu um segundo depois, e o Sinergista apareceu em seu lugar. A barata-chefão foi lançada para longe com uma velocidade imperceptível.
Hajime permaneceu no local usando a “Aerodinâmica” para parar, recebendo os olhares e a intenção assassina enquanto olhava para a direção que o monstro foi jogado.
Do outro lado, assim que o Sinergista decolou…
Suzu estava em pânico, desesperadamente tentando recuperar a barreira que ele destruiu. No entanto, as baratas que se aproximaram não mais a enojavam. Havia um bom motivo para ficar longe das baratas? Na verdade, elas não eram desejadas? Enquanto pensavam nisto, ela perdeu o feitiço.
Afinal… as baratas neste labirinto eram apenas insetos.
Yue se levantou para preencher a abertura fatal nas ações de Suzu para corrigir a situação.
— “Tremor do Céu”.
Ao redor de Yue e os outros, o próprio espaço pareceu ondular por um momento. Ela começou a mostrar a total extensão de sua Magia da Era dos Deuses.
Assim que a onda de baratas estava a ponto de alcança-los, o espaço começou a explodir. O imenso poder gerava ondas de choques que esmagavam as baratas, as triturando em pequenos pedaços e, um momento mais tarde, apenas areia restava.
Yue ainda não tinha terminado. — “Cinco Dragões Celestiais”.
No momento que o nome da magia ressoou de sua adorável voz, trovão, chamas azuis, tempestade, neve e gelo, cincos corpos de dragões apareceram. Assim que dezenas de milhares de baratas correram na direção deles, os dragões de Yue as cercaram com um rugido singular e os insetos foram dizimados em um instante.
A vampira começou a flutuar com o uso da magia da gravidade sem dar um olhar para os outros. Seu corpo começou a disparar na direção da barata-chefão junto com o corpo inteiro de um dragão em queda livre.
Enquanto uma formação de 200 baratas de tamanho mediano fez uma formação de ataque contra Hajime, Shia as explodiu.
Shia, Tio, e Kaori perceberam, assim como Yue no início, que sua afeição por Hajime foi alterada. As baratas que emergiram de cima e que escolheram inverter as emoções do grupo, foram recebidas por uma raiva feroz além das intenções do calabouço.
Shia saltou no ar com suas pernas reforçadas por magia, galopando pelo céu com discos azuis-claros que ondulavam com uma linda luz azul. Aliás, Tio e Kaori expandiram suas asas de dragão e asas de prata de suas costas, respectivamente, saltando juntas enquanto encaravam as baratas de tamanho mediano.
— Ó, ei, esta não te acha mais repugnante. Entretanto, esta ainda decidiu que você vai morrer.
— Isso-isso mesmo. Inseto-chan é fofo, mas… não posso morrer, portanto, tenho que lutar, não tenho?
— Sim, mas decapita-las? Criaturas tão adoráveis?
— Se não matarmos, vamos ser mortas. Devemos ser fortes, e lutar com vontade, assim não seremos deixadas para trás.
No entanto, era vergonhoso dizer isso para elas, as Baratas poderiam ser consideradas Chihuahuas as encarando com olhos redondos enquanto elas tentavam decapitar os monstros. Era como tentar matar um cãozinho que você amava desde o nascimento. Eram essas as incoerências loucas e insanas que eles tinham que lidar, mas não havia como evitar pensar dessa forma.
As pessoas restantes do grupo de Kouki não poderiam voar livremente pelo céu, ficando parados no centro da passagem formada pelo galho. Eles começaram a lutar de forma passiva. Eles lutaram lado a lado e ombro a ombro com pessoas que eles não gostavam. Era uma sensação complicada.
A barata-chefão que recebeu a joelhada de Hajime voou para o tronco da grande árvore, afundando de forma magnífica e sendo despedaçada com a força colérica. Um abdômen que era reconhecido por ter a força do aço foi esmagado de forma radial com o centro sendo a parte que recebeu o golpe, fluidos corporais brancos esguichavam do buraco recém-formado.
— Gichichichichichichichi!
A barata-chefão soltou um som que parecia um choro desagradável enquanto balançava suas antenas. Na mesma hora, um grupo de baratas cercou o monstro, se dissolvendo para em um instante ser assimilado e curar o ferimento que o chefão recebeu. Contanto que as baratas menores existissem, elas seriam capazes de lutar indefinidamente.
A barata-chefão pegou uma lasca da grande árvore e a incorporou em seu próprio corpo. A barata parecia ainda maior agora e ela soltou um som desconfortável.
Os olhos dela procuravam por aquele que a feriu…
— Sim, deixe-me apreciar um pouco mais disto.
Parecia que atingir o abdômen ajudou a curar os impactos da magia. O som estrondoso mais uma vez surgiu enquanto aço atingia aço. Hajime se aproximou do lado e desferiu um Chute Yakuza¹.
A barata-chefão afundou no tronco mais uma vez. O Sinergista começou a atacar impiedosamente como uma besta selvagem. Ele não usou armas. Hajime não tinha intenção de acabar isso tão cedo. Aplicando “Onda de Choque Mágica” em seu punho e reforçando seu corpo com magia, ele logo afundou o peito do monstro com repetidos socos.
Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong! Dugong!
Cada vez que um punho de Hajime descia pela esquerda ou pela direita, a forma da barata-chefão se distorcia como se fosse um brinquedo, mas parecia incapaz de escapar, seu corpo foi incorporado dentro do tronco da grande árvore que rachava. A barata foi substituída por um pedaço de carne preto brilhante e sangue branco misturado com lascas de madeira.
A barata-chefão era um inimigo em que até o ódio fisiológico poderia ser detido, sua forma era pavorosa demais, apesar de apenas parecer patética em sua forma atual.
Um momento mais tarde, luz vermelha e preta foi emitida da barata-chefão. Uma grande quantidade de baratas apareceu na rota atrás de Hajime, e com uma velocidade assustadora, elas formaram um círculo mágico.
Fumaça preta emergiu do círculo, inundando e atacando o Sinergista com tremenda velocidade.
— … tsk.
Hajime julgou que ser tocado pela fumaça preta seria ruim e recuou com “Aerodinâmica” e “Teletransporte”, antes que ela o alcançasse. No local em que o garoto estava antes, fumaça envolveu a barata-chefão e a grande árvore.
Com um momento de liberdade do Sinergista, o chefão chamou um grupo de baratas. Uma enorme quantidade de baratas disparou para dentro da fumaça preta.
Após alguns segundos, a barata-chefão recuperou sua forma, removendo os ferimentos e se livrando da fumaça preta. A árvore atrás da barata que foi exposta a fumaça, desabou, ficando com o tronco ressecado e cinza. Ao que parecia, a fumaça preta tinha algum tipo de efeito corrosivo.
As seis asas da barata-chefão começaram a tremer com grande velocidade: — BIIIIII! — A barata-chefão ganhou muita velocidade. Hajime entrou em um voo de alta velocidade para dar seus cumprimentos a barata mais uma vez, rapidamente a sobrepujando ao mesmo tempo em que o monstro assumia uma postura de luta.
O Sinergista circulou a barata de novo e se precipitou, bloqueando a rota de fuga do alvo. Ao mesmo tempo, um tsunami de baratas começou a se avolumar atrás do rapaz. Enquanto mostrava um sorriso para as baratas e dizia: — O que é isso, fofinhas? —, ele puxou seu braço esquerdo, sacando algumas armas. Ele tinha em mente atacar de frente enquanto deixava a Broca de Cruz atacar por trás.
Uma parede de ar apareceu ao redor da barata-chefão. Ela foi feita na velocidade do som. Não se sabia se a passagem de galhos suportaria a onda de choque e vácuo. Ele também seria destruído se tentasse desviar da árvore no momento final.
Mesmo assim, Hajime não mostrou intenções de desistir, mesmo com a vibração esmagando seu braço artificial. Ele atacou diretamente pela frente.
Então, um enorme dragão de trovão e outro coberto por chamas azuis atravessaram a parede de baratas atrás dele.
Hajime os sentiu chegando, e sem olhar para trás, ficou com uma cara que parecia dizer: — Eca. — Contudo, a barata já estava na velocidade sônica. As capacidades de percepção já estavam sendo usadas ao máximo, e o monstro já não tinha mais esperanças.
— Por quê!? Eu estava...
Ele desferiu um único golpe. Uma explosão de seu cotovelo e “Onda de Choque Mágica” se misturaram com o fogo ao mesmo tempo, atingindo a barata-chefão com perfeição. A barata estava esticando sua perna com uma lâmina afiada em forma de garra, mas ela foi iludida por completo com o intenso contra-ataque. O rosto da barata-chefão foi esmagado com o efeito das vibrações e se espalhou pela criatura em ondas.
O impacto na frente da cabeça fez a barata ser distorcida verticalmente e voar para longe, na direção do vazio.
Logo a seguir, as baratas mirando em Hajime foram consumidas pelos dragões de Yue no local em que o Sinergista estava há pouco.
— … obrigada.
— Isso foi para mim? Ou para aquelas querias baratas-kun?
— … é claro que foi para as baratas amarelas.
— Ei, o que é aquilo? Tem algo acontecendo ali. Parece ser uma nova espécie de barata.
Hajime se moveu para o lado de Yue, com uma cara infeliz. A vampira mostrou um sorriso muito odioso e cheio de desdém para o garoto. Hajime, que resistiu a ofensiva do dragão de trovão e o dragão de chamas azuis enquanto por pouco escapava, exibiu uma veia azul em sua testa.
— Sua intenção foi me matar.
— … é claro que não, no seu nível, não há motivos para acreditar que você seria morto.
— Ó, com certeza, mas você poderia ter me atacado com algo pior do que aquilo?
Os dois tinham um clima de desgosto um pelo outro, em um estado onde eles se odiavam mais do que qualquer outra pessoa, esse era o efeito da reversão de emoção, mesmo assim, eles eram capazes de confiar no outro em combate.
A barata-chefão se aproximou na velocidade do som enquanto ainda estava cercada pela fumaça preta de corrosão imperceptível. Acontece que Yue poderia lidar com o monstro com mais facilidade e entrou em combate sem pensar muito.
Além disso, o enorme tsunami de baratas se aproximava. Se você olhasse com atenção, uma pequena barata estava no meio da bruma negra. A barata-chefão se aproximou do lado de Yue enquanto o casal confirmava o mar de corrosão.
— Ei, aquela fumaça apodrece tudo. Não deixe ela tocar suas roupas ou as coisas podem ficar eróticas.
— … talvez para uma pessoa podre como você. Tenho certeza que sou resistente.
Eles destilaram veneno um para o outro sem hesitação, trocando palavras a curta distância.
Enquanto isso, a fumaça preta se unia com o maremoto negro de corrosão ao redor da barata-chefão se movendo em uma velocidade sônica, mirando Yue e Hajime de forma que não poderia ser descrita como nada além de descoordenado.
Contudo, parecia que os dois não poderiam ser feridos.
A fumaça preta disparou criando um estrondo sônico, alcançando as duas pessoas em sua frente, e eles instantaneamente se afastaram, dançando ao redor das correntes de fumaça enquanto eles se encaravam.
Seus movimentos pareciam impossíveis de acompanhar, Hajime sacou Donner e começou a atirar enquanto Yue usava seu dedo como um bastão, criando um dragão com o corpo formado por um tornado.
Hajime disparou seis balas com um clarão, atingindo a testa da barata-chefão no mesmo lugar e ao mesmo tempo. A cabeça do monstro explodiu, e a parte que foi destruída foi atingida mais uma vez.
Enquanto isso, o maremoto preto foi tragado com as cores dos cinco dragões. O dragão de trovão deixou apenas restos de baratas para trás, enquanto o dragão azul as aniquilava por completo. O dragão de gelo as congelava, enquanto o dragão de pedra as petrificava, cem mil de uma vez.
— Você está acabando com elas depressa, você não vai ficar sem?
— … mesmo sem material, irei me divertir.
Enquanto a chuva de baratas caía como uma enxurrada torrencial, o chefão continuou a absorver as baratas menores em cada movimento de uma forma desesperada. As vozes de Hajime e Yue podiam ser ouvidas, admirando a coisa com sorrisos nos rostos e risadas diabólicas.
Essa não devia ser uma ação consciente. Era mais como algo instintivo. O monstro percebeu que mexeu com algo que nunca deveria ser incomodado e se tornou um inimigo.
— Gigi iiii!!
A barata-chefão, envolvida pela fumaça preta de corrosão, começou a entrar em pânico e soltou um grito. Mais baratas pequenas foram chamadas, e enquanto elas se aproximavam do chefão, elas também foram cercadas pela corrosão negra antes de serem comprimidas.
A fumaça parecia ser comprimida em um casco preto, criando centenas de tiros. E, é claro, os cascos conservavam as propriedades corrosivas. Assim, o chefão estava criando munição corrosiva com as pequenas baratas. Efeitos da corrosão e compressão instantânea criaram uma fumaça irregular.
O chefão liberou uma onda de choque, enviando as balas corrosivas que atingiram a passagem feita pelo galho e o destruíram no momento que o alvo foi perfurado. Os disparos seguiram rapidamente contra Hajime e os outros.
— … que desperdício.
A vampira proferiu uma palavra. Pouco depois, um portal se formou bem na frente de Hajime e Yue e se espalhou. A magia espacial criou um campo espacial que se tornou um escudo invencível ao mesmo tempo. Os cascos que corroeriam qualquer coisa no instante que a tocassem, não puderem evitar de atravessar o portal criado e desapareceram dentro de algum lugar. Isso foi mesmo um ataque sem sentido, como Yue tinha dito.
Mas a barata-chefão, agora em completo estado de pânico só podia reconhecer esse fato. Desviando da órbita enquanto gritava, ela contornou o portal para atacar a vampira. Contudo, o portal não era apenas um local para banir as bolas de canhão.
— Kyiii!?
Após aumentar sua velocidade e desviar, o monstro bateu em alguma coisa no ar, e assim que ficou preso, seu corpo sofreu uma crucificação.
— Seus movimentos são simples. Sua mente ainda é a de uma barata? — Hajime murmurou ao lado de Yue enquanto fazia seu anel de pedra reagir.
O anel estava previamente conectado com a boleadeira. A rota esperada da barata-chefão foi prevista, os olhos da coisa estavam no portal enquanto Hajime preparava a boleadeira no ar ao mesmo tempo.
E o fio usado para esta boleadeira era muito fino, o assim chamado fio de aço. Fio de aço pôde ser esticado com o auxílio dado pela Magia da Criação, “Ocultar Presença”, escondida em uma parte do minério da boleadeira, e uma teia de aranha se espalhou pelo ar.
A barata-chefão colidiu com a rede, preparada para capturar a barata se ela tocasse o material. E com atenção, a boleadeira acompanhou o impacto do avanço e a emaranhou, segurando a barata-chefão no ar.
Enquanto praguejavam e estranhamente confiavam um no outro, o casal continuou a lutar costas-com-costas sem hesitação, compartilhando a defesa e o ataque sem precisarem de nenhuma palavra…
Esses dois estavam mesmo se odiando sob o efeito da inversão de emoções? Se a barata-chefão pudesse falar, ela com certeza teria feito uma reclamação sobre isto.
— Sabe Yue…
— … hmm?
Hajime inclinou seu pescoço enquanto lançava os olhos para a barata-chefão, continuando a abusar do monstro enquanto ele permanecia crucificado em sua teia.
— Acho que meus sentimentos de ódio estão começando a desaparecer… quase metade já se foi. Sou capaz de suportar isso.
— … coincidência. Também sinto que Hajime é tolerável. E com as baratas, não sinto a necessidade de ama-las.
— Ó, tem razão.
Tio imaginou que a inversão de emoção fosse outro desafio do grande calabouço. Como o inferno de prazer que surgiu do líquido viscoso dos slimes brancos, Hajime também deduziu que isso poderia ser superado. Afinal, seria problemático se a inversão de sentimento não pudesse ser sobrepujada e você acabasse odiando seus parceiros para sempre.
Contudo, Hajime e Yue lutaram juntos para superar essa natureza, ou pelo menos parecia que sim.
Talvez, após ficar com seu espírito perturbado pela inversão de sentimento, e o cruel tratamento da barata-chefão, o sentimento de voltar ao normal devia ser tentador.
Por outro lado, podia ter sido apenas a capacidade misteriosa dos dois de criar uma atmosfera rosa a qualquer momento, em qualquer lugar.
Em todo o caso, isso lembrou Hajime da frase que dizia que “nem sempre existe uma possibilidade” que certas autoridades murmuravam.
— Bom, Yue, já que você está agindo com tranquilidade, que tal um último jogo com a Sr. Barata?
— … nn. Vencer é uma possibilidade se você for o oponente.
Mais uma vez, duas pessoas mostraram sorrisos que só poderiam vir de diabos. Tínhamos mesmo certeza que os sentimentos foram invertidos? Isso era mesmo o que estava acontecendo? Um observador poderia ter retorquido.
A barata-chefão terminou de restaurar seu corpo e conseguiu se esgueirar para fora da restrição da boleadeira com o uso da fumaça preta de corrosão. Ela usou a fumaça preta e produziu mais uma vez seis ondas de choque e uma lâmina de vácuo com um bater de suas asas.
Contudo, o monstro não deveria ser negligente. Até este momento, Hajime esteve segurando sua mão. Ele se recusou a usar armas hediondas, nem ataques diretos com magias poderosas. Nem mesmo atacou enquanto brincava. Ele estava se divertindo ao máximo.
Algo que não foi percebido foi a completa falta de agressividade. Monstro ou não, os corpos das criaturas mostravam um resultado miserável.
Hajime apareceu nas costas da barata-chefão, usando a força centrífuga com seu fortalecimento corporal, a atingindo com um chute aéreo nas costas com um movimento instantâneo.
— Giiiii!?
A barata-chefão que fez esse barulho, se curvou como um camarão com sua carapaça no ar e foi lançado para longe. A fumaça preta de corrosão deveria ter agido, mas com Hajime coberto por magia vermelha brilhante, isso não pareceu afeta-lo.
Jogada para longe no meio do grupo de insetos, a barata-chefão desesperadamente tentou recuperar seu equilíbrio. Yue apareceu do portal bem na frente da barata-chefão, balançando sua mão na frente do monstro.
Logo a seguir, o espaço fez um som de “Gyobo!”. Uma onda de choque fez um som e encolheu, gerando o poder em que o espaço foi revertido no momento seguinte.
— GIIII!?
A barata-chefão que foi assaltada pelo pavoroso impacto de frente, desta vez, foi lançada para mais longe. A superfície de seu corpo já estava surrada, mas isso era apenas o começo.
Hajime já estava em posição. Mais uma vez, um intenso chute atingiu a barata. Mesmo sendo jogada para longe, Yue a atacou de novo. De volta para o Sinergista.
Hajime e Yue a golpeavam, como se estivessem jogando tênis e a barata-chefão fosse a bola. Os gritos de partir o coração do monstro estavam ecoando no vasto espaço subterrâneo. O chefão estava se movendo tão rápido e irregularmente que o enxame de baratas era incapaz de chegar a tempo para ajudá-lo.
A fumaça corrosiva não afetava Hajime e nem mesmo tocava Yue. O corpo da vampira era capaz de reparar qualquer dano antes que ela se desse conta, então não havia risco de vida.
O jogo deles parecia ser feito por demônios e abominações. Usar e brincar com o amor deles neste desafio do calabouço acabou criando esta cena.
Além disso, uma regra do jogo dizia que a pessoa que falhasse em devolver a “bola” perderia.
“… Hajime.”
E, no meio desse rally², de repente, Yue começou a conversar telepaticamente com o rapaz. Como eles estavam se movendo com grande velocidade e mudavam a distância, isto era necessário. Hajime respondeu enquanto golpeava a barata-chefão com um chute alto.
“O que aconteceu?”
“Ó… Hajime.”
“Hmm. O que foi?
“Hajime… Hajime… Hajime… nn…”
Yue só continuou a chamar o nome do garoto repetidas vezes por um tempo. O tom parecia mudar para algo mais mimado. Hajime começou a notar isso no tom dela. No sentimento.
“Yue, voltou?”
“… nn… perfeição. E Hajime?”
“Sim, eu também… há apenas malícia pura contra esta barata, e por Yue…”
“… por mim?”
Hajime parou de falar sem deixar a torrente de sentimentos lhe escapar. Ter o sentimento oposto por Yue, mesmo que por apenas um momento. Ele não queria pensar sobre isso. A violenta malícia, assim como a raiva pela barata-chefão, aumentou mais uma vez, mas ele tinha que dizer palavras para sua amada quando antes só surgiram palavras cruéis.
Quando ele respirou fundo, Hajime usou sua telepatia enquanto olhava para Yue, que disparou contra o monstro e o jogou para o Sinergista.
“Há apenas amor.”
“Nn… eu também.”
A voz que parecia maravilhosa e o som que era querido para o garoto. Sentimentos de milhares de emoções estavam incluídos e as palavras inundaram seu peito. Hajime e Yue permaneceram no ar, dizendo apenas essas palavras com paciência, mesmo que tudo já pudesse ser visto. A barata-chefão descarregava seus fluidos corporais por toda parte, mas os olhos das duas pessoas não se separaram. Eram os típicos Yue e Hajime.
Eles não falaram nada, quando a distância entre eles desapareceu, os dois se abraçaram no meio do ar. Seus lábios se encontraram de forma natural. Beijos leves sem palavras, apenas o toque, como se o pensamento fosse mais do que suficiente.
Hajime segurou a cintura fina de Yue e ela envolveu seus braços ao redor do garoto. Seus lábios se separaram assim que os dois confirmaram que os sentimentos dentro deles estavam mais uma vez normais, se encarando a curta distância, com sorrisos em seus rostos.
A barata-chefão que conseguiu se recuperar nesse momento, os criou um pouco de distração. Com um grito, ela despachou baratas que se ergueram ao mesmo tempo.
Não seria mais tão sutil quanto dizer que isso lembrava um maremoto. Elas estavam tentando selar o espaço a força com seus números. Um enorme domo começou a se formar acima de Yue e Hajime. O garoto tinha há muito deixado de se importar com o que acontecia com Kouki e os outros.
O domo estava tomado pela fumaça preta de corrosão. Quando visto de fora, a superfície parecia sussurrar, a montanha crescia até onde os olhos podiam ver. O espaço subterrâneo onde a grande árvore estava no centro foi quase todo enterrado com uma montanha de baratas.
Os insetos conseguiram se acumular não apenas no fundo, mas também no teto e nas paredes. Se alguém dissesse que todas as baratas do mundo se reuniram ali, não seria surpreendente.
E o espaço estava se fechando rapidamente com os insetos fazendo um som de “GoGYUUU!”. O espaço foi reduzido depressa com esses sons.
Eles seriam esmagados ou capturados dentro do oceano de baratas? No centro, é claro, estavam Yue e Hajime. No fim do espaço subterrâneo, estava Shia, atacando uma barata de tamanho mediano e deixando ela para o grupo de Kouki derrotar. Eles também pareciam superar a pilha de baratas um pouco antes. Também parecia que elas saíam de uma área comprimida.
A barata-chefão estava entrando em uma esfera reduzida enquanto batia as asas. O espaço da enorme barata estava comprimido de forma que não havia aberturas para seu interior.
— Gichichichichichichichi!
O monstro fez um som desagradável. Parecia que essa era uma tentativa de limpar sua humilhação, e parecia que o rugido indicava que ela estava convencida de sua vitória.
Mas isso seria invertido na mesma hora. Uma barata foi repelida para longe e o chefão tentou encontrar o corpo morto a partir do centro da esfera de baratas.
— Ó, você quer um abraço ardente?
Yue, juntando ambas as mãos, fechou seus olhos para se concentrar. Ao lado dela, Hajime ria intrepidamente dentro da barreira de quatro pontos.
A barata-chefão parou, instintivamente recuando.
O medo de ser caçoada por essas duas pessoas era profundo, o motivo era o poder que eles exalavam estar acima de tudo o que o monstro tinha sentido.
Uma abertura se formou para que Yue pudesse colocar suas mãos para fora. Elas brilharam em azul e, enquanto isso, um grupo pequeno de chamas começou a rodopiar.
Vendo isso, parecia que esse era o feitiço mais poderoso entre as magias de fogo: “Céu Azul”. Pensando de forma normal, o “Céu Azul” poderia se sobressair nesse tipo de extermínio. Mas esse parecia ser um ato insignificante.
Porém, a maga genial que era Yue não faria algo tão absurdo.
Nas chamas azuis entre as duas mãos, o esplendor aumentou a cada momento. Por outro lado, elas continuaram queimando. Era como olhar para a criação de pequenas estrelas.
— … seleção. — Yue murmurou com calma.
Assim, os orbes completos do tamanho de punhos exibiram uma aura azul.
A conta de chamas azuis continha um poder e identidade que eram desconhecidos.
Esse era um presenta para a barata-chefão. O monstro percebeu que seria completamente destruído. Caso contrário, eles a fariam entender. A barata soltou um grito, empurrando baratas e fumaça preta contra a barreira de quatro pontos para quebrá-la, matar o casal e destruir o orbe antes que fosse tarde demais.
Contudo, a ação foi muito lenta. Bom, na verdade não, independente da ação que a barata tomasse, o fim seria o mesmo. Não havia como impedir a dupla agora.
Yue suspendeu o orbe de chamas azuis na direção do céu. Ela iluminou a Estrela Azul, dando a sua aparência uma beleza muito misteriosa. Hajime gentilmente abraçou o corpo dela por trás. Yue confiou suas costas ao garoto.
E...
— … “Chama Divina”.
Como o julgamento do próprio Deus, o azul pulsante invadiu todo o local.
Notas
[1] Big boot, outrora conhecido como Yakuza kick, é um ataque utilizado por wrestlers normalmente com o oponente disparando em sua direção, usando a velocidade do oponente para atingi-lo com a sola do pé em seu tronco ou na cabeça.
[2] Rally, em certos jogos de bola (p.ex., no vôlei), se refere a um lance prolongado com a bola em jogo de um lado e do outro da quadra.