Volume 6

Capítulo 127: Mundo ideal

Piu-piu, piu-piu, piu-piu.

O canto dos pássaros e a luz do sol invadiram o espaço da cortina, informando que a manhã chegou. Respondendo ao som, o dono do quarto cobriu sua cabeça com seu futon[1] e criou uma fortaleza inexpugnável.

E no momento seguinte, um clique ressoou e o diabo soltou um rugido.

Jiriririririri!!

Um som destruiu o silêncio da manhã no quarto: — Acorde, idiota!

— Uuu…

O mestre do quarto tentou se proteger do diabo em sua fortaleza, mas era impossível fazer isso para sempre. Ele estendeu seu braço do futon e, em um instante, Banban! A mão procurou pelo diabo e o atingiu.

A cabeça do demônio foi capturada pela terceira vez pelo braço graças e experiência neste confronto por dez anos, e ele conseguiu silenciar os gritos.

Contudo, o ato que continuou por incontáveis ocasiões não funcionou. O braço do mestre do quarto caiu em exaustão e se retirou para dentro da fortaleza mais uma vez. E ele parou de se mover.

Logo a seguir...

— Hajimeeee! Acordeeeee!! Não volte a dormir! Acorde agoraaaa!

Uma voz familiar foi ouvida lá embaixo... a voz de uma mãe exigindo que ele acordasse. O dono do quarto, Hajime, teve certeza de ouvir a voz com parte de sua consciência. — Resista até o amargo fim! — A defesa da fortaleza estava ficando cada vez mais forte após ele falar isso.

— Não adiantou nadaaaa. Mou, é sério, em todas as manhãs? Sinto muitoooo. Posso contar com você de novo?

— ....

A voz da mãe foi ouvida de novo lá embaixo. Ela chegou aos ouvidos de Hajime porque ela falou em voz alta de propósito para que o garoto ouvisse, mesmo que estivesse do outro lado de uma porta.

Sem pensar na voz da mãe que tinha desistido, já sabendo com quem ela estava falando e o que aconteceria, Hajime ainda não tinha intenções de se levantar de modo obediente.

Afinal, todas as manhãs eram um momento feliz para o garoto…

Um som de batida ecoou.

No entanto, como não houve reação, a pessoa entendeu o motivo e abriu a porta na mesma hora. A pessoa chamou o monte branco gentilmente enquanto se aproximava da cama com passos curtos.

— … acorde Hajime.

— …

Ainda sem reação. Um pouco mais, ele queria ouvir mais a voz até que despertasse por completo.

— … Hajime, acorde. Se você não acordar…

— …

De modo gentil, ela usou sua mão para sacudi-lo. Uma pequena mão podia ser vista sobre o futon e as bochechas de Hajime começaram a relaxar.

— … vou te atacar. Sexualmente.

— Un, vou me levantar, então você poderia parar de dizer coisas tão fortes pela manhã?

Ele acordou na mesma hora após sentir arrepios em sua espinha. E o futon foi empurrado para o lado.

— Dia Yue.

— … nn. Bom dia Hajime.

Hajime sorriu por um tempo com sua querida amada e saboreou a primeira felicidade do dia.

O garoto caminhou para a escola enquanto continha um bocejo. Yue estava ao lado dele e olhou para cima, na direção dele. Tal gesto só poderia ser chamado de fofo… Hajime estava olhando para ela enquanto eles caminhavam lado a lado e ficou ocupado se contendo.

Yue estava vestindo um blazer da escola do garoto. Sua saia curta estava esvoaçando gentilmente e ela andou para trás e virou sua cabeça para Hajime e falou com ele.

— … de novo, ficando acordado até tarde?

— Un, estava fazendo o trabalho que meu pai me pediu. Era manhã antes que eu notasse.

— … é bom ser entusiasmado, mas cuide-se. Por favor, não exagere.

— Un, vou ser cuidadoso.

Hajime e Yue tiveram uma conversa tranquila. Eles criaram uma atmosfera doce entre eles. Muito tempo se passou desde que Yue se tornou a amada de Hajime; a paixão entre eles não diminuiu nada. Para a garota estar perto dele, a homestay[2] foi forçada na casa de Hajime e o procedimento de transferência para sua escola foi terminado muito rápido.

De repente, a linda garota com cabelo loiro se tornou a namorada dele e isso foi um alarde no início. Afinal, Hajime era um genuíno Otaku que passava a maior parte de seu tempo ajudando seu pai, que cuidava de uma empresa de jogos. Era inimaginável o motivo para o garoto conseguir uma linda namorada.

A mãe dele duvidou disso e entrou em pânico porque pensou que isso era algum tipo de hipnotismo e o pai pensou que seu filho tinha a habilidade de tornar suas desilusões em realidade. Até na escola, após ser revelado que Yue era namorada de Hajime, esse se tornou o tópico mais falado de todo o colégio.

Depois disso, era desnecessário dizer que os garotos estavam com inveja dele. Yue era como Yue; ela estava se envolvendo em guerras com várias garotas sem qualquer motivo.

Tais coisas continuaram por muitos meses. Isso só parou há pouco tempo e a vida escolar deles se acalmou. Assim, como eles superaram a tempestade, eles agora podiam passear juntos para a escola sem pressa.

Hajime, enquanto olhava para Yue e seu cabelo loiro que refletia a luz e brilhava vivamente, tentou se lembrar de como eles se conheceram.

Por acaso, ele ajudou a garota, que foi pega por alguns delinquentes e, em uma luta desesperada, ele conseguiu derrotar um deles e a resgatou. Seu rosto ficou quente quando ele se lembrou que ela beijou seu pescoço como gratidão. Depois disso, eles se tornaram namorados de modo muito rápido.

“Contudo, mesmo eu sendo um otaku, consegui derrotá-los. Humanos podem conseguir qualquer coisa quando estão desesperados.”

Hajime sorriu involuntariamente, lembrando seu ato de temeridade, mas, por algum motivo, ele se sentiu inquieto.

“… hã? Onde foi que conheci Yue mesmo? Por que eu estava naquele lugar? Hã?”

Era óbvio que Yue era uma estrangeira e se tornou uma estudante de intercâmbio. Isso indicava que ele devia ter a conhecido em outro país. O próprio Hajime se lembrava que conheceu a garota em outro país.

Entretanto, onde esse lugar ficava? Ele não tinha certeza e seus pensamentos estavam nebulosos. Assim que notou isso, essas dúvidas o devastaram como se uma estante de livros se derramasse em suas memórias. O desconforto e as dúvidas surgiram em Hajime uma após a outra.

— … Hajime!

— Uwa, o que aconteceu? Por que você gritou tão de repente? Você me assustou.

Yue normalmente nunca falava em voz alta enquanto eles seguiam para a escola. O coração do garoto quase pulou pela boca e ele voltou para a realidade de seu turbilhão de pensamentos.

Depois disso, Hajime olhou para Yue, que estava com uma expressão um pouco emburrada.

— … foi porque você me ignorou muitas vezes quando te chamei.

— O quê? Verdade? Desculpe! Estava pensando um pouco…

Yue se virou de repente com mau humor. Ela estava ficando amuada e as sobrancelhas de Hajime formaram um “八”. Nesse momento, as dúvidas do garoto desapareceram por completo.

Yue mostrou um sorriso malicioso e Hajime se desculpou repetidas vezes. Ela não estava zangada, ela só queria que o garoto prestasse atenção nela. Ela estava feliz por seu plano ser um sucesso.

Para tal Yue, Hajime apertou suas sobrancelhas e formou o caractere “八” mais uma vez, “Não posso fazer nada sobre esta minha namorada”, e ele ficou com um olhar preocupado em seu rosto. Contudo, ele não estava muito preocupado como sua expressão indicava. Ele estava bastante feliz.

Enquanto se virava brilhantemente para Hajime mais uma vez, Yue ficou ao lado do garoto e disse algo em voz baixa.

— … adormeça. Em felicidade. Olhe apenas para mim.

Essa voz não chegou até Hajime. Enquanto o garoto olhava para Yue, que se aninhou a ele, seus olhos suavizaram de modo gentil.

Quando Hajime chegou na escola e estava trocando seus sapatos no armário de sapatos, um impacto suave foi transmitido em suas costas. Era certo que alguém se chocou nele e essa era uma sensação alegre para qualquer homem.

— Hajime-saaaan! Yue-saaaan! Bom dia!

— Nn… bom dia Shia.

— Uwa, Shia-san! Me solte! Eu sempre te digo para parar de me abraçar quando você me cumprimenta.

— Para tirar a minha felicidade… isto é cruel! Neste ponto, você deve assumir a responsabilidade e se casar comigo!

— Você pulou alguns passos! De qualquer forma, me solte! A luz está desaparecendo das pupilas de Yue. Ela está encarando sem piscar!

Quanto a Hajime, ele tentou tirar Shia de suas costas enquanto não ficava tão feliz com a sensação em suas costas.

Shia também era uma estrangeira como Yue e foi para o Japão estudar no exterior. Aliás, por acaso, ele ajudou ela e sua família, que estavam sendo atacados por um marginal e ela mostrava sua gratidão com repetidos contatos físicos extremos.

A testeira que ela usava e era sua marca registrada estava brilhando com uma cor azul, além de seu cabelo branco e seu sorriso inocente, ela era popular, independente do gênero, e também tinha um fã-clube.

“Honestamente, estou feliz que uma garota como essa me mostre afeição, mesmo que eu esteja confuso. Não sei o que teria feito se não tivesse conhecido Yue antes dela. Contudo, não faz sentido ficar pensando nessas possibilidades.”

Com Yue como a melhor amada, a agressividade de Shia estava se tornando uma dor de cabeça para Hajime.

Embora a boa vontade de Shia se voltasse para o garoto, com seu excesso de contato físico, Yue ficava de mau humor, mas elas se davam bem e podiam ser chamadas de melhores amigas.

Dessa forma, elas não conseguiam ser rudes uma com a outra, e, de alguma forma, elas ficaram presas em um dilema. Mesmo que Yue quisesse monopolizar Hajime, ela não mostrava sinais de descartar Shia, sua melhor amiga. Para o garoto, o relacionamento delas era misterioso.

“Santo Deus, salvar duas garotas de delinquentes e receber a afeição delas. Que tipo de gal[3] é este? Além disso, para uma rota de harém ser aceitável, isso é realisticamente impossível… espere!? Pensando bem, Shia sempre usou essa testeira? Por algum motivo, isso me dá uma sensação diferente…”

Enquanto Hajime observava a testeira de Shia e buscava em sua memória, de repente, ambos seus braços foram envolvidos por uma sensação agradável.

Enquanto pressionava essas malignas frutas (armas mortais) contra Hajime enquanto falava, elas empurraram o garoto para a sala de aula.

— Por que você está com essa cara pela manhã? Se não formos para a sala logo, o primeiro sinal vai tocar.

— Nn… a professora vai nos repreender.

A quente luz do sol entrava pela janela e aumentava a temperatura aos poucos, entretanto, por causa das duas garotas, o tempo se tornou pleno inverno em um piscar de olhos.

Hajime estava prestando atenção para não passar muito tempo com essas duas na escola. De suas bocas, as palavras “sala de aula”, “primeiro sinal” e “professora” escaparam. Então ele não teve escolha e sentiu um desconforto em seu peito.

Quando o garoto entrou na sala, nesse momento, os olhares de inveja e ciúmes foram emitidos de todos os homens e se grudaram em Hajime. Graças a ajuda de Yue e Shia, ele não foi perseguido de forma direta, mas os olhares penetrantes ainda machucavam…

“Hmm? O que foi isso? Como posso dizer… nostalgia? Hã, por que, por que me sinto dessa forma?”

Hajime não podia entender seu próprio sentimento e se sentou em seu lugar enquanto girava seu pescoço e ficava ainda mais confuso.

Em seguida, uma garota da sala se aproximou do rapaz.

— Hajime-kun, bom dia. Você chegou no último minuto hoje. Você deveria vir mais cedo.

— …

A garota, Kaori Shirasaki, que o cumprimentou, não era inferior a Yue ou Shia se você as comparasse. Ela era a Madona da escola antes de Yue e Shia chegarem. Aliás, ela também era uma garota que tinha afeição por Hajime por algum motivo.

Ela já costumava chamar o garoto com frequência, mas ele não pensava que era apenas por gentileza dela. Contudo, como Yue se nomeou como a amada de Hajime, Kaori começou a mostrar que sua afeição pelo garoto era devido aos sentimentos que ela tinha por ele. Por causa disso, era impossível fugir de mal-entendidos.

Kaori se aproximou de Hajime com o som de seus passos que indicavam que ela estava feliz e o rapaz mostrou um sorriso preocupado… desta vez, porém, como ele estava perdido em seus pensamentos, ele não respondeu a garota.

“Essa frase… em algum lugar… droga, quando foi? Por que estou pensando nisso como algo 'nostálgico'? Embora isso seja habitual… de certa forma, hoje isso é estranho.”

— Hajime-kun… Por que você me ignorou? Eu… eu fiz algo que te deixou zangado?

Quando ouviu a voz trêmula, Hajime olhou para cima e viu Kaori com uma expressão cheia de lágrimas. Ele notou que ignorou o cumprimento da garota e respondeu com pressa.

— Não, me desculpe. Não é isso. Eu estava pensando por um momento. Eu realmente sinto muito. Bom dia Shirasaki-san.

— Ó, estou feliiiiz. Un, bom dia Hajime-kun. E eu não te falo sempre que quero que você me chame de “Kaori”?

Kaori estufou suas bochechas e mostrou sua insatisfação. Por causa desse gesto adorável, todos os homens que olhavam para Hajime quase desmaiaram.

— Não, Shirasaki-san. Isso é um pouco…

— É Kaori. Me chame assim.

— Não, isso é…

— Ka-o-ri!

— É que, err, Ka-Kao…

Muu! Hajime estava sendo derrotado por Kaori enquanto ela tentava o fazer chama-la por seu primeiro nome. E quando ele quase foi persuadido para fazer isso...

— … não incomode Hajime.

A salvadora apareceu. Era Yue.

Ela protegeu Hajime e entou no meio do garoto e Kaori à força.

— Muu, você apareceu Yue. Por enquanto, bom dia.

— … nn, por ora, bom dia. Kaori.

Enquanto Yue e Kaori se cumprimentavam, um ambiente glacial foi criado entre elas. Elas oficialmente se reconheciam como rivais na escola.

Quentes raios de sol entravam pela janela e aqueciam a sala, contudo, entre essas duas, o solstício do inverno parecia ter surgido. “Guerra Fria”... a batalha por Hajime entre Yue e Kaori era conhecida não apenas pelos estudantes, mas também pelos professores.

Embora as duas se encarassem por um tempo, não havia malícia. Apesar da guerra amorosa entre elas, de uma forma decorosa, essas duas colidiam uma com a outra de modo aberto.

Para Hajime, isso não era tão estranho, ao invés de rivais, elas eram mais como amigas íntimas que não se odiavam, mas tinham discussões como amigas.

Enquanto isso, o sinal tocou, e a professora entrou na sala. Yue e Kaori, que estavam trocando olhares, retornaram para seus assentos com rapidez.

No primeiro período era a aula de inglês de Tio-sensei. Uma beldade que, por algum motivo, gostava de Hajime. Ela era uma professora erótica que sempre, sem exceção, assediava sexualmente o garoto…

“Alguém faça logo uma demissão por justa causa!”

Enquanto pensava nisso, ele encarou a mulher e negligenciava o abuso e ela parou seu assédio sexual na mesma hora. Por alguma razão, ela tentou esconder sua expressão, que estava vermelha e seus ombros tremiam… Hajime ficou deprimido porque pensou que ela estava assustada com sua cara.

Depois da escola, Hajime e Yue caminharam lado a lado para um certo lugar. Shia, Kaori e, por algum motivo, Tio-sensei, queriam ir com eles, mas Yue as cortou com um único golpe de espada. Como elas estavam temporariamente imobilizadas, apenas esses dois prosseguiram.

O lugar para onde eles foram enquanto aproveitavam uma conversa inocente foi um jardim de infância.

Nesse local, estava Myuu, a filha de Remia, que era amiga da mãe do garoto, e eles foram busca-la porque sua mãe estava ocupada. E esta atividade, até Remia voltar, se tornou rotina para a família de Hajime há bastante tempo.

— Aa, Pa… onii-chan! Yue-neechan!

Hajime e Yue foram até o portão da frente do jardim de infância e Myuu saiu correndo na direção deles com passos pequenos. Ela estava sorrindo muito. Inconscientemente, Hajime e Yue ficaram com um sentimento caloroso e agradável. Os dois pegaram Myuu, que correu para eles, e a abraçaram.

— Myuu, não é bom pular em nós. Isso é perigoso, sabia? Aliás, você acabou de tentar me chamar de “Papai”? De verdade, não faça isso.

— … eu não me incomodaria de ser chamada de “Mamãe”.

Hajime quase começou a suar frio pela forma que Myuu queria o chamar.

Myuu chamou o garoto de “Papai” antes e isso virou um aborrecimento, já que outros pais também estavam lá. Remia era uma viúva, Myuu não conheceu seu pai e eles pensavam que o gentil homem mais velho, Hajime, era o pai dela.

Contudo, chamar o garoto, um estudante do ensino médio de “Papai”… naturalmente, alguns rumores se espalhariam.

Além disso, Yue também era uma estrangeira, assim como Myuu era. Era fácil entender o que os outros pais estavam imaginando. Sendo mais específico, eles pensavam que ela ficou grávida em algum momento entre a escola primária[4] e a escola secundária[5]!

Quando Yue ouviu sobre esse mal-entendido, ele escalou ainda mais por ela apenas corar sem negar isso. Ela imaginava ter um filho com Hajime, mas o momento para isso era muito ruim.

De qualquer maneira, os professores do jardim de infância resolveram os mal-entendidos. Mais tarde, Remia escreveu uma carta, assim, esse mal-entendido não se espalhou ainda mais e desapareceu da cidade do garoto. Sendo sincero, ele quase teve um colapso.

Além disso, Remia era uma viúva, seria possível que ele estivesse mirando nela também? Um conquistador com rosto dócil! E a maioria dos pais mostrava olhos cautelosos para ele. Nos últimos tempos, ele desistiu disso. Ainda assim, ele não deixava a garotinha o chamar de papai.

Eles caminharam com Myuu entre eles enquanto seguravam as mãos. De vez em quando, eles balançavam Myuu para frente e para trás enquanto conversavam. Se você olhasse para a cena, parecia completamente como uma família indo para casa.

— … Myuu, o que você fez hoje?

— Ehm, hoje…

Myuu respondeu a Yue o que ela fez no dia. Enquanto olhava para a garotinha, a garota mais velha parecia muito gentil. A cena transbordava de amor e afeto. De alguma forma, Hajime ficou fascinado por essa divina Yue.

Levou um tempo até uma voz mal-humorada alcançar o garoto.

— Mou, pap-... onii-chan! Você escutou o que Myuu falou?

— Eh? Aah, desculpe, desculpe. Eu estava um pouco distraído.

Hajime mostrou um sorriso sem graça enquanto se desculpava com Myuu, que estava nervosa e ergueu seu braço. E para satisfaze-la, o rapaz começou a fazer carinho nela.

Embora Myuu recuperasse seu humor bem rápido quando ela era segurada no colo dele, ela não queria se soltar e tentou, com muita dificuldade, fingir que ainda estava furiosa com o garoto. Isso era óbvio para Hajime, mas ele fingiu não notar e continuou a tranquilizar a garotinha.

Nesse momento, uma tênue discussão chegou aos ouvidos deles. Era a voz de uma mulher e alguns homens. Julgando pela voz, a mulher parecia estar em apuros. Hajime e Yue olharam um para o outro e espiaram o beco de onde a voz foi ouvida.

— Que cena clichê é esta...

— … inimigos das mulheres, não serão perdoados.

Como você deve ter imaginado, alguns homens estavam tentando pegar uma garota à força.

Hajime girou sua cabeça enquanto segurava Myuu e pensava sobre o que fazer. A força dos inimigos não era muito grande. Julgando pela postura deles, eles pareciam ser simples marginais. Não seria um grande problema, mesmo que eles estivessem armados.

O potencial deles foi analisado e Yue, ao lado do garoto, disparou na direção dos delinquentes.

Eles se viraram para Yue assim que perceberam que ela se aproximava deles e ficaram aturdidos por seu lindo rosto e até sorriram, contudo, esses sorrisos logo ficaram vulgares. Seus olhos pareciam estar vendo uma nova presa.

Por causa desses olhares, Hajime ficou furioso. Entretanto, antes que ele fosse capaz de fazer algo, Yue já estava no meio dos homens. Além disso, em apenas um momento, as articulações deles fizeram sons de algo quebrando e a garoto assumiu o controle da situação na mesma hora.

Acredite ou não, mas os homens foram espancados sem nem mesmo uma chance para falar. Eles caíram no chão enquanto gritavam de dor após serem atingidos.

Yue não mostrou nenhuma piedade e o rosto da vítima ficou rígido enquanto a garota voltava para Hajime. E eles começaram a caminhar para casa de novo. Nem mesmo três minutos se passaram após a comoção. Uma batalha rápida, isso lembrou um certo herói do espaço.

— Yue-neechan é forteeee! Que legaaaal!

— … nn, Myuu vai ser treinada quando crescer.

O futuro de Myuu era um pouco preocupante. A garotinha elogiou Yue, contudo, Hajime ficou irritado por não ser capaz de fazer nada como um homem. Mesmo com seu olhar perturbado, ele se apaixonou mais uma vez por sua amada.

“Hã? Yue sempre foi tão forte em combates corporais? Além disso, por que consegui analisar a força deles…”

Enquanto segurava Myuu com sua mão direita, Hajime inconscientemente colocou sua outra mão em sua coxa. E assim, sua mão começou a procurar por alguma coisa. Entretanto, essa “alguma coisa” não estava ali e ele sentiu um pouco de desconforto.

À noite.

Após jantar e tomar um banho, Hajime se jogou em sua cama. Seu cabelo ainda não estava seco, e ele começou a remoer algo em seu interior.

O garoto tinha uma sensação estranha. Devia ser sua rotina imutável… mas seus instintos o diziam: — Isto está errado! —, e sua vida feliz foi negada. — Acorde! — Ela dizia.

Hajime coçou sua cabeça enquanto ficava irritado.

Nesse momento, sons de batida surgiram.

— … Hajime?

— Aa, sim, estou aqui.

Yue abriu a porta e entrou no quarto.

Em um négligé[6]. Braços e pés brancos sensuais estavam à mostra. Ela se aproximou do garoto e notou que ele estava com o cabelo molhado e o repreendeu! Enquanto estava com um olhar de reprimenda, ela chegou na cama dele.

Além disso, ela começou a secar o cabelo de Hajime com ele deitado na cama.

— Nn… está seco agora. É ruim deixar molhado. Você vai pegar um resfriado.

— Você tem razão, obrigado Yue.

— Nn.

Hajime a agradeceu e Yue o abraçou por trás.

E ela enterrou seu rosto no pescoço do garoto como uma criança mimada. Ambos seus braços invadiram as roupas de Hajime por trás e começaram a esfregar o peito dele. Após Remia buscar Myuu, Yue se tornou uma criança mimada.

Enquanto Myuu estivesse presente, eles não podiam passar muito tempo como namorados, portanto, a culpa residia nessa situação. Quando havia feriados, Yue também ficava amuada por ele ter que cuidar de Myuu. Até certo ponto, era inevitável, no entanto, o desejo dela de o monopolizar era forte.

“Ela é mais forte do que qualquer bandido, é cheia de amor e gentileza, ela me ama e é a melhor namorada que existe … estou satisfeito com este cotidiano. Eu deveria me sentir abençoado. Mesmo assim… Por que estou insatisfeito? Qual é o problema? Por que há essa sensação em meu peito?”

Enquanto sentia a suavidade e a temperatura do corpo de Yue, Hajime tentou ignorar a inquietação que aumentava. Vendo o garoto assim, Yue sussurrou algo em seu ouvido.

— … está tudo bem. Não se preocupe. Eu farei Hajime feliz.

— Yue…

— … olhe apenas para mim. Está tudo bem, estou aqui. O ideal de Hajime. Sempre a seu lado.

— …

Enquanto derretia nesse sussurro doce, a consciência do garoto começou a desvanecer. Neste ritmo, quão doce seria dormir enquanto era mimado por Yue?

“É verdade. Yue está aqui. Não há nada mais importante. … não deveria haver. Não preciso de mais nada. Mesmo que seja necessário descartar tudo… minha amada está ao meu lado. Só isso…”

Sua consciência estava se quebrando. Perdendo a força em seu corpo, sem mudar sua personalidade, ele estava sendo confortado em sentimentos aquecidos.

Assim, quando toda a sua insatisfação estava prestes a desaparecer...

“Eu protejo Yue, Yue me protege. Assim, somos os mais fortes. Vamos derrotar tudo e vencer o mundo.”

De repente, palavras estranhas apareceram em sua mente. A consciência de Hajime emergiu rapidamente e ele arregalou seus olhos.

“Aaaaa, se você quiser, Yue também pode vir.”

Sua voz ecoou de novo. Era a promessa de levar Yue de volta para sua casa.

Depois disso, a garota sorriu. Eles voltaram para casa juntos. Enquanto dizia isso, ela sorriu como uma flor desabrochando. Ela estava feliz do fundo de seu coração.

Se você pensasse sobre isso, quando Hajime a viu pela primeira vez, ele já devia estar condenado.

Aliás, a promessa foi feita no dia da partida, após passarem por situações de vida ou morte e voltarem para o mundo exterior. Eles juraram proteger um ao outro, derrotar tudo que aparecesse em seu caminho e ir para à terra natal de Hajime juntos.

Os instintos do garoto diziam algo. Antes de sua consciência se apagar, ele se lembrou do importante juramento e se abraçou pensando em ver Yue antes de se levantar.

“… amada ideal? Mundo suave e gentil? Eu sou um estúpido!”

Hajime cobriu seus olhos e cerrou os dentes com força. Se não fizesse isso, ele não seria capaz de se perdoar.

“… me esqueci da promessa. Quase fiquei cego com este mundo. Estou enojado comigo mesmo.”

Hajime socou sua bochecha com força total como punição. Embora Yue estivesse surpresa com a súbita ação do garoto e estendesse sua mão...

Paft!

Ela foi defletida pela mão de Hajime.

Yue envolveu sua mão com a outra e mostrou uma expressão triste. Com essa expressão, que deve ter sido produzida no grande calabouço, Hajime disparou: — … não brinque comigo!

— … Hajime, qual o problema?

A pergunta de Yue foi ignorada e Hajime voltou um olhar afiado para a garota, como se ele fosse outra pessoa.

— Bem, Yue. Yue é importante para mim. Não preciso de nada além dela.

— … Hajime, estou feliz.

Embora ela estivesse confusa com as súbitas palavras do garoto, a expressão dela suavizou na mesma hora. Entretanto, ao contrário dessas palavras, o olhar de Hajime continuou áspero.

— Dessa forma, se eu te dizer para se livrar ou descartar alguém, você fará isso?

— Se Hajime realmente desejar isso.

Yue concordou com essas palavras sem hesitação.

— Mesmo que seja Shia, Kaori, Tio ou até mesmo Myuu?

— Se Hajime desejar isso.

Quase como a personificação da Yue ideal de Hajime e realizando todos os desejos do rapaz. Para tal namorada, ao invés de ficar feliz, ele mostrou uma expressão irritada. Ele murmurou baixinho: — Fui enganado por essa coisa, impossível…

E com um olhar feroz, ele proferiu suas palavras.

— Então é isso… eu entendi, desgraçado.

No momento que ele declarou que Yue era uma imitação, a aparência de Hajime mudou. Da aparência de um japonês com cabelo preto, para um garoto com cabelo cinza e um tapa-olho.

— Merda. Eu realmente caí na armadilha... é por isso que você não deve ser descuidado em um grande calabouço... ou melhor, aquela que criou Haltina é mesmo sacana.

Yue caminhou para Hajime, que praguejava. E ela se aproximava dele com uma expressão apegada.

— … fique aqui. Se Hajime ficar aqui, ele será feliz.

— Calada falsificação. Não diga o meu nome de forma tão íntima.

— … por quê? Eu sou Yue. A amada de Hajime. A amada ideal. Com o que você está insatisfeito?

— Com tudo, sua idiota. Fazer tudo o que eu quero, me monopolizando, minha amada ideal? Isso é apenas uma boneca. Eu não tenho o hobby de brincar com bonecas.

Hajime queria sair deste espaço e disparou que Yue era uma imitação.

— … errado. Não sou uma boneca. Eu tenho a personalidade da amada ideal de Hajime. Por isso, fique aqui. Tudo o que Hajime quiser será o ideal dele. Eu sempre estarei a seu lado.

Ao que tudo indicava, essa não parecia ser uma falsificação comum. O mundo também foi produzido pela memória e os personagens foram lidos com o teletransporte. Se houvesse algo impossível para ser criado, um mundo ainda mais ideal seria criado.

Certamente, com a dor enfrentada no inferno, e com o que os aguardava no futuro, seria ideal viver com Yue e as outras em um Japão pacífico.

No entanto...

— Isso não tem salvação. Você não poderia estar mais enganada.

Hajime disse como se fosse algo trivial. Uma luz vermelha foi emitida de seu corpo. A magia vermelha se espalhou pelo mundo em um momento e não parou de aumentar sua densidade e quantidade assustadora.

Contanto que este fosse um desafio, quando cumpridas as condições, seria possível escapar, mas ele não podia se impedir de usar todas as suas forças. O motivo era simples: ele estava extravasando sua raiva.

— … por quê?

Esse devia ser o mundo ideal dele, então Yue perguntou o motivo para Hajime estar o rejeitando. O garoto continuou a descarregar seu poder mágico e voltou seu olhar para a imitação.

— Não me venha com “por quê”. A história é simples. Minha Yue ideal não é esse tipo de lixo. A real excede em muito meus ideais. A verdadeira Yue é muito mais atraente do que uma que nem existe!

Hajime verteu magia ao limite e se lembrou da sensação desprezível de novo, ele soltou um alto rugido e despejou ainda mais magia, assim, o espaço por fim começou a rachar.

Enquanto o mundo rachava criando sons e se expandindo um pouco, a magia não foi forte o bastante e ele já estava exausto. Contudo, ainda havia um método sobrando se ele não queria mais ceder a este espaço. Ele o usou porque era muito teimoso.

Hajime pegou uma pedra mágica de seu estoque e usou “Superar Limite”. Ele aumentou seu poder mágico de uma vez.

— Esses caras são sempre assim. Eles sempre espezinham meus ideais e tentam dar um fim a eles! Para nos prender a eles! Com força! As coisas não vão ser como esse pessoal problemático quer! Ainda assim, por esta razão, eu vou ser o mais forte!

O mundo foi pintado de carmesim. Como se perfurasse os céus, uma torrente de vermelho brilhante explodiu.

E...

Buuuuuuuuuum!!

O mundo foi quebrado.

Fragmentos do mundo estavam voando como vidro no ar. Eles brilhavam como pó de diamante[7].

No fim de sua vida, como se brilhasse, a imitação de Yue mostrou um sorriso no mundo quebrado. Não era como o sorriso da garota. Era como… o sorriso de outra pessoa.

Hajime tinha uma ideia do que era isso, contudo, sua consciência começou a se apagar com rapidez e ele não foi capaz de apontar isto.

— … você passou. Apenas sendo gentil, você não terá nenhuma chance. Não faz sentido apenas dar. Mesmo que seja duro ou doloroso, só o que foi feito na realidade pode te fazer feliz. Não se esqueça disso.

Era uma voz diferente da de Yue. Era mais masculina do que feminina. Entretanto, era uma voz muito gentil.

Hajime, no fim de sua consciência, não pôde se impedir de erguer sua voz.

— Isso não te diz respeito… mas vou me lembrar disso.

A pessoa já era difícil de se ver, no entanto, ela ainda mostrou um sorriso gentil no fim… foi assim que pareceu.


Notas

[1] Um futon (布団) é um tipo de colchão usado na tradicional cama japonesa. Os futons são baixos, com cerca de 5 cm de altura, e têm no interior algodão, lã ou material sintético. Vendem-se conjuntos no Japão que incluem o colchão (shikibuton), o edredom (kakebuton) e a almofada (makura). Estas almofadas enchem-se com feijão verde, trigo negro ou peças de plástico. O futon é um tipo de acolchoado ou manta flexível o suficiente para ser dobrado e guardado durante o dia e utilizado à noite, com o objetivo de se poupar espaço.

[2] A homestay (uma junção de “ficar em casa” e “casa de família”), nada mais é que uma das opções de hospedagem que um estudante de intercâmbio tem, e trata-se da pessoa ficar hospedada na casa de alguma família que more na cidade onde ela vai estudar. As refeições podem, ou não, estar inclusas.

[3] Um jogo bishōjo, também conhecido como jogo gal, é um tipo de jogo japonês focado em interações com personagens femininas atraentes com características típicas de mangás e anime. A maioria dos jogos bishōjo contém algum tipo de elemento romântico ou de sedução, e alguns podem chegar a ser pornográficos. Este gênero de jogo não é nada mais do que um fenômeno do Japão e tem grande importância para a indústria de jogos deste país, com jogos que já venderam mais de um milhão de cópias, transformando-se assim no maior mercado de jogos single player do país. A indústria japonesa de jogos bishōjo tem muito pouca presença fora da Ásia.

[4] Na maioria dos casos, A escola primária é ministrada desde o jardim de infância (idades dos cinco aos seis) até ao 4º ano (idades dos nove aos dez). Em alguns casos, também podem ser ministrados o 5º ano e o 6º ano.

[5] A escola secundária equivale as séries do 6º ao 9º ano (período entre os 11 aos 14 anos).

[6] Négligé é um robe feminino de tecido fino e transparente, geralmente adornado de rendas ou folhos.

[7] Pó de diamante é o fenômeno meteorológico que ocorre com frequência nas regiões polares. É formado por cristais de gelo muito finos, também conhecidos como prismas de gelo, que cintilam ao refletir a luz do Sol.



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