Volume 6

Capítulo 123: Uma noite em Faea Belgaen

Uma intensa luz caiu sobre Faea Belgaen, como se fosse uma barreira.

Demi-humanos estavam fugindo em diferentes direções quando a praça foi iluminada pelo pilar de luz, eles estavam todos observando de longe com expressões nervosas com o que estava por vir.

De forma parecida, soldados cercaram a praça enquanto tinham expressões contorcidas pelo medo.

Pracprec, tek, tlec!!

Logo a seguir, um som parecido com grito foi emitido pelas árvores no alto enquanto eram quebradas. — Santo Deus, um novo monstro apareceu! —, assim que os residentes de Faea Belgaen se inclinaram para frente, a coisa apareceu.

O que eles viram primeiro foi uma enorme massa de metal aos poucos diminuindo sua altitude e enfim os residentes de Faea Belgaen notaram que isso era uma gôndola. Na sequência, a figura de um dirigível em forma de peixe-diabo[1], “Ferner”, foi vista. O chão foi iluminado por dois poderosos holofotes que estavam acoplados na base de sua frente e traseira para procurar por um local seguro para aterrissar.

As pessoas ao redor não poderiam fazer nada além de simplesmente abrirem seus olhos e bocas com o espanto, Ferner lentamente abaixou a gôndola no chão e a removeu, então a aeronave aterrissou ao lado da gôndola.

A praça foi toda preenchida com a gôndola e Ferner, e as pessoas no local tomaram distância em pânico. Ao mesmo tempo, eles estavam com caras que diziam: “O que está acontecendo?”, demonstrando seu desconfortável enquanto observavam a cena.

Assim, nesse momento, a frente e os fundos da gôndola retangular se abriram de repente. Os Demi-Humanos estavam assustados. As mãos dos soldados, que seguravam suas armas, estavam ensopadas de suor e, “Glup”, o som de suas gargantas podia ser ouvido. Suas expressões endureceram quando eles pensaram sobre o que poderia saltar da gôndola que estava envolta pela escuridão.

Entre os olhares dos residentes, o que apareceu dessa atmosfera com timidez foi... uma garota-coelho. Com isso, as expressões dos residentes foram tomadas pela perplexidade. Nessa situação onde eles não podiam processar e entender o que estava acontecendo, demi-humanos apareceram um após o outro da escuridão.

Aqueles que saíram da gôndola em sucessão, todos olharam ao redor com uma expressão que mostrava sua incompreensão. No sereno silêncio do ar frio, junto com a segurança que eles sentiram ao serem cercados pelas árvores e as luzes nostálgicas de Faea Belgaen, estava a visão de seus irmãos, que eles acreditavam nunca mais ver.

Apesar de eles ainda estarem aturdido como plantas absorvendo a água, aos poucos eles perceberam. — Nós enfim voltamos para nossa terra natal. —, foi o que eles disseram.

Os residentes de Faea Belgaen também pensavam o mesmo.

Com hesitação, uma mulher avançou lentamente. Era uma mulher de meia-idade com orelhas de cão caídas. Ela tinha lágrimas se acumulando nos cantos de seus olhos e gentilmente chamou o nome de quem ela pensou ter perdido.

— … Zack, é você Zack?

Aquele que reagiu a essa voz foi um garoto que também tinha orelhas de cão. Esse era o garoto com quem Kouki se preocupou no Império[2]. Assim que o garoto encontrou a figura da mulher, seu rosto sucumbiu as lágrimas e ele começou a correr.

— Mãe!

— Zack!

Assim que a mulher se ajoelhou e abriu seus braços, o garoto saltou em seu peito. A mulher que foi chamada de mãe estava abraçando com força seu filho em seus braços para confirmar que isso não era uma fantasia. E a mãe e o filho tinham lágrimas escorrendo com a alegria de seu reencontro milagroso.

Durante o período de tempo da reunião de mãe e filho, os demi-humanos e os residentes perceberam que eles voltaram e gritaram com alegria, o que sacudiu o chão enquanto eles corriam uns contra os outros; família e amigos estavam soltando vozes poderosas e vivazes cada vez que eles encontravam companheiros e amados que estavam seguros.

Faea Belgaen foi envolvida em grande alegria; a usual e quieta tranquilidade de repente desapareceu e a algazarra de um festival começou.

Dentro do clamor dos demi-humanos, que estavam transbordando com sorrisos, Alfrerick, assim como os outros anciãos, foram correndo até Hajime e seu grupo, que saíam de Ferner.

— Garoto... você fez uma aparição completamente inesperada.

— Nn? Ahh, Alfrerick hã. Bom, houve vários inconvenientes, então ignore isso por mim.

Quando Alfrerick olhou para cima, na direção das árvores que se dobraram e quebraram, ele mostrou um sorriso irônico enquanto falava, Hajime estava coçando sua bochecha e tinha uma expressão um pouco envergonhada.

Dos céus do Mar de Árvores, a ideia de descer e esmagar as árvores sem nenhuma pergunta sendo feita só para entrar nesse local foi porque usar um portal para transferir a todos seria complicado demais, já que o poder mágico do garoto seria reduzido a quase nada.

Contudo, como Hajime ficou impressionado com o belo cenário de Faea Belgaen, como era de se esperar, havia um leve sentimento de ter feito algo ruim.

— Me perdoe Yue. Posso contar com você?

— Nn… deixe comigo.

Quando Hajime chamou Yue a seu lado, os lábios da vampira formaram um sorriso sem graça e ela esticou seu braço direito para cima.

— “Imitação Absoluta.”

Magia de Regeneração, “Imitação Absoluta”. Essa era uma magia que restaurava toda a destruição, independente de o alvo ser orgânico ou inorgânico.

No momento que Yue ativou a magia, as árvores no alto imediatamente recuperaram suas antigas aparências. Os anciãos mostraram expressões absortas com a magia irracional que eles testemunharam. Apenas Alfrerick foi capaz de imaginar que isso foi possível devido a obtenção de novas Magias da Era dos Deuses, e ele massageou as rugas de sua testa como se estivesse cansado.

— Vovô, embora eu simpatize com seus sentimentos, está na hora de nós...

— Mu, tem razão. Garoto... não, Nagumo-dono. Eu ouvi um pouco da situação por Kam. Apesar de ser inacreditável e súbito, parece que meus irmãos foram mesmo libertados. Agora mesmo, nós estamos vivenciando um momento histórico. Em primeiro lugar, como o representante de Faea Belgaen, eu te agradeço.

— É como você disse, porém, aqueles que fizeram tudo foram os integrantes da tribo Haulia. Por favor, não cometa equívocos como esse.

Hajime deu um aviso para as palavras de Alfrerick enquanto o garoto estava indiferentemente guardando a gôndola e Ferner na “Caixa do Tesouro”. De repente, os enormes objetos da praça desapareceram e as pessoas que estavam expressando suas alegrias, começaram a piscar seus olhos. Então eles prestaram atenção em Hajime e seu grupo, que estavam encarando os Anciões.

— Ahh, é claro. Em primeiro lugar, se a tribo Haulia não estivesse aqui, Faea Belgaen poderia ter sido obliterada com o ataque anterior. Considerando isso também, não há mais nada em que acreditar. Fufuuuu, nunca em minha longa vida... eu nunca imaginei que seriam os mais fracos e os banidos, a tribo Haulia, que derrotariam o Império.

A tribo Haulia desafiou o Império em uma luta e saiu vitoriosa, e eles até resgataram todos os seus irmãos; esse fato sendo declarado pela boca de Alfrerick fez os residentes perceberem quem foram os responsáveis que os permitiram essa reunião com suas pessoas importantes.

Eles voltaram suas atenções para Kam, que estava parado ao lado de Alfrerick com suas costas eretas. O que residia em seus olhos não era desprezo ao contemplarem a raça mais fraca, mas sim grande admiração e respeito, como se eles estivessem vendo heróis.

Quando Kam notou esses olhares, como se ele tivesse pensado em algo, um sorriso malicioso apareceu em seus lábios e ele lentamente ergueu sua mão direita. E como se dissesse: — Venham até aqui! —, ele dobrou as pontas de seus dedos. Era um sinal de mão que eles usaram quando invadiram o castelo imperial.

Nesse instante, parecia que alguém iria rebater: — Não, não, onde vocês estavam se escondendo!? —, pois os outros Haulia apareceram de repente ao redor de Kam! E todos eles assumiram uma postura “relaxada” enquanto se alinhavam sem se moverem e esperavam por um comando.

Kam estava com um sorriso satisfeito enquanto olhava para os integrantes de sua tribo que estavam em fila, seus olhos eram afiados como uma lâmina e cheios de um ímpeto que seria o bastante para fazer as pessoas se afastarem inconscientemente, para todos os residentes (para ser mais exato, ele estava se dirigindo aos homens-coelho)...

— Meus irmãos. Povo do Mar de Árvores que sofreu humilhação e resignação por tanto tempo. Escutem. Embora conseguimos superar o Império desta vez, paz eterna é impossível. Todos os nossos futuros serão ameaçados mais uma vez, e não vai demorar muito tempo.

As centenas de homens-coelho que estavam na praça tremendo de medo com essas palavras. Os dias de dor causados pelo Império vão voltar mais uma vez? Seus olhos estavam colados em Kam, que estava fazendo seu discurso.

— Assim que isso acontecer, vocês mais uma vez vão passar pelos dias de ontem. Não, não apenas isso. Desta vez, até companheiros que escaparam de serem transformados em escravos também vão sofrer o mesmo destino.

Apesar de eles estarem seguros agora, o futuro sombrio foi apontado, não apenas os homens-coelho, mas também os outros demi-humanos estavam olhando para baixo.

— Vocês estão bem com isso?

“Não há como estar tudo bem. Nunca mais queremos voltar para esses dias onde nossa dignidade era espezinhada. Quanto mais permitir que nosso precioso povo experimente essa dor. Mas mesmo que você diga isso, o que nós devemos fazer…”

Kam estava encarando com seriedade seus irmãos, que olhavam para baixo, e como se a resposta estivesse bem diante de seus olhos, ele aumentou ainda mais sua voz.

— Não tem como isso estar bom, não é? Assim, o que devemos fazer? É simples. Se vocês querem proteger aqueles que são importantes para vocês… lutem. Se vocês não querem viver enquanto são explorados, então… se levantem por conta própria. Se vocês desejam mudar as circunstâncias dos homens-coelho, então… preencham seus corações com ódio! Assim como nós da tribo Haulia fizemos! Em primeiro lugar, os homens-coelho nunca foram os mais fracos! Contanto que você tenha determinação, você pode se tornar mais forte do que qualquer raça! Nós já provamos isso!

Alguém soltou um: — Ah… — Eles perceberam que aqueles que superaram o enorme inimigo e os resgataram não eram uma existência especial, e sim os mesmos homens-coelho que eles eram. Um dos que estava olhando para baixo ergueu seu rosto mais uma vez.

— Lembrem-se da humilhação que vocês receberam no Império. Não se contentem acreditando que isso aconteceu por circunstâncias infelizes. Continuem protegendo suas pessoas importantes com suas próprias mãos. Se vocês têm o tempo para deixarem-se levar pela resignação, então peguem suas armas! Nós iremos ensina-los como lutar. Se vocês buscam poder, se vocês decidirem lutar, vocês devem se juntar a nós. A tribo Haulia receberá vocês de braços abertos!!

Após Kam terminar seu discurso, ele deu outro sinal com a mão. Então, os integrantes da tribo Haulia, como se fossem ninjas, se espalharam e desapareceram em um instante!

Assim que viram isso, Kam confirmou que o fogo foi aceso dentro dos olhos dos homens-coelho e ele riu sozinho. “Parece que nosso poder militar aumentou de novo! Vou me certificar de não perder a chance de remodelar suas mentes assim que eles participarem do primeiro treinamento!”, ele pensou.

— Chefe, me desculpe por desviar do assunto. Mas esse era um momento bom demais para garantir pessoas talentosas.

— Ahh, não me incomodo com isso. Assim sendo, você se tornou capaz de falar dessa formaaaa. Com isso, que tal unir todos os Homens-Coelho com os Haulia?

— Hahaha, se chegarmos a isso, vamos ficar muito apavorantes!

— … nos últimos tempos, o comportamento do pai ficou cada vez mais parecido com o de Hajime-san. Sinto que os “Gentis Homens-Coelho” vão ser extintos em pouco tempo.

Shia estava olhando para longe com um sorriso irônico. Parecia que era só questão de tempo antes que todos os homens-coelho sofressem lavagem cerebral.

A propósito, Gaharudo também estava lá. Diante de seus olhos, a tribo Haulia que o derrotou, estava reunindo forças, mas ele não disse nada em particular. Ou melhor, ele estava em uma situação onde não poderia dizer nada. Com o objetivo de não permitir o vazamento de mais informações do que o necessário de Faea Belgaen, Hajime o fez vestir grilhões que selavam magia e que foram presos nos pés e braços do Imperador; uma máscara que selava toda a luz e som também foi usada.

Depois disto, e após a explicação da promessa como prova da derrota do Império para os anciões, eles planejavam voltar imediatamente através do portal. Essa foi a única razão para eles levarem o Imperador junto; não havia nada parecido com dignidade envolvido.

— Fumu, não podemos permitir que eles continuem aqui fora. Guie-os para dentro. Arutena, estou contando com você.

— Sim vovô. Uffff, é por aqui. Nagumo-sama.

Graças ao discurso de Kam, eles atraíram muita atenção para um simples cumprimento, então Alfrerick apressou Arutena para que ela guiasse o grupo dos estudantes para o salão que foi preparado.

Arutena, que recebeu a tarefa, acenou uma vez, e então, por algum motivo, ela tentou segurar a mão de Hajime enquanto sorria e os guiava. Essa ação não foi ignorada pelos olhos de Yue e as outras. Por acaso, a mão direita do garoto já estava sendo segurada por Yue, então a elfa mirou o lado esquerdo, onde Shia estava, contudo, a garota-coelho também sorriu enquanto casualmente segurava a mão esquerda de Hajime.

As linhas de visão de Shia e Arutena se encontraram. Por algum motivo, você poderia ouvir uma alucinação auditiva[3] de eletricidade sendo descarregada.

— Estamos contando com você para nos guiar. Arutena-san.

— Sim, é claro Shia-san. Mas como há muitas pessoas, para que eu não me perca de vocês, eu gostaria de segurar a mão dele.

Assim que ela disse isso, Arutena tentou pegar a mão esquerda de Hajime que Shia segurava. Parecia que a elfa ouviu a provocação de Kam com atenção. Essa era uma atitude imprópria para a princesa do povo da floresta. Ao invés de olhar para Hajime pedindo ajuda, o senso de rivalidade de Shia parecia estar muito forte.

— Assim como o planejado! —, foi o que Kam parecia ter dito enquanto sorria de orelha a orelha; imaginando o que estava acontecendo com as circunstâncias a seu redor, Hajime sorriu enquanto liberava sede de sangue. Em um instante, Kam começou a suar frio como se fosse uma cachoeira.

Hajime, que estava um pouco estressado, suspirou para Kam e apertou a mão de Shia com força.

— Ah…

A garota-coelho sem querer soltou sua voz. Então, no momento seguinte, ela sorriu alegremente e abraçou o braço do garoto com força. Apesar de ser o braço artificial, devido aos nervos artificiais, ele foi capaz de sentir a magnífica sensação de ter seu braço esquerdo enterrado por peitos.

Enquanto olhava para essa Shia tão feliz, Arutena involuntariamente olhou para Hajime, os olhos do garoto a encararam com frieza como se declarassem: — Nos guie logo para dentro. —, então os ombros da elfa se encolheram e ela começou a guia-los desanimada. Desde o início, essa disputa era desequilibrada, já que Shia, que viajava com o Sinergista, tinha muito mais contato com ele do que Arutena, assim, o resultado era óbvio.


Assim que eles foram guiados para o salão, os anciões se sentaram na ponta, e os integrantes da tribo Haulia, incluindo Kam, também estavam na reunião, e na direita estava Gaharudo, que se sentou do outro lado de Hajime.

Ele já tinha publicamente declarado a derrota do Império Hoelscher, e Gaharudo disse o conteúdo do juramento para que os anciãos e os outros pudessem testemunhar. Com isso, todos os anciãos pareciam admitir que a tribo Haulia estava dizendo a verdade.

— Fuuuun. Entretanto, como você se atreve a vir até aqui sozinho de forma tão despreocupada? Você é nosso maior inimigo. Com toda certeza, você não pode acreditar que vai retornar com segurança, pode?

Um dos anciãos, Zell dos homens-tigre, encarou o Imperador com ódio por ele ter entrado no território inimigo sozinho e com arrogância. O clima indicava que algo poderia voar a qualquer momento.

No entanto, mesmo que tal olhar fosse mirado em Gaharudo, ele agiu com indiferença.

— Hããããã? Não é óbvio que é isso o que estou pensando? Para ser sincero, eu duvido que você possa tentar me matar. Se isso acontecer, essa será apenas uma prova de que os líderes de Faea Belgaen são todos idiotas.

— O que foi isso seu desgraçado!?

Alfrerick estava segurando Zell, que ficou furioso.

— Zell, pare. Eu entendo seus sentimentos. A razão para Gaharudo vir aqui foi para realizar o juramento que a tribo Haulia colocou nele. Nada mais, nada menos. Se ele for morto agora, isso só implicará na perda de todas as ações que os Haulia realizaram ao arriscarem suas vidas.

— Kuuuu…

Zell ficou com uma cara agoniante e desferiu seu punho contra o chão.

Gaharudo estava segurando o riso quando viu essa ação. O clima nesse lugar era o pior. Estava claro que Gaharudo não se sentia culpado por ter escravizado os demi-humanos e também não tinha intenção de se desculpar. Contudo, o Imperador escravizou os demi-humanos porque eles eram fracos, a história da tribo Haulia sendo capaz de libertar seus compatriotas foi simplesmente porque eles eram fortes. Os anciões encararam o Imperador com intenção assassina e a situação piorou ainda mais quando o homem riu de forma provocadora.

Aquele que resolveu essa situação sem qualquer pedido de ajuda sendo feito foi Hajime. Alguém que já estava muito irritado.

— Oi, Gaharudo. Já tivemos o bastante de você. Se apresse e vá embora.

— Ah?

Assim que o garoto se levantou e ignorou a voz confusa do Imperador, ele ativou o portal enquanto segurava com firmeza a nuca de Gaharudo.

— O-oi! Você não pode estar falando sério em me mandar de volta neste momento! Espere um pouco, eu finalmente cheguei em Faea Belgaen, há muitas coisas que quero ver. Aliás, vocês também, tsk, me solte! Ei, você! Eu sou o Imperador! Pare de me arrastar!

Apesar de Gaharudo estar se debatendo com violência, ele não era capaz de superar a força inumana o segurando e o Imperador foi impiedosamente jogado para o outro lado do portal.

Com toda certeza, a razão para os alunos levarem o Imperador com eles era apenas para ele realizar o juramento que os Haulia criaram e tudo o que ele disse depois disso foi desnecessário, porém: — Eu me lembrarei disto! Nagumo Hajimeeeee!! —, o Imperador gritou enquanto criava um efeito Doppler[4] e desaparecia do outro lado do portal; essa cena com certeza criou alguma simpatia.

Liliana, que estava ao lado dele, tinha um olhar estranhamento contente, embora dissesse: — Mesmo você sendo um Imperadoooor, mesmo você sendo um Imperadoooor, a forma com que você é tratadoooo... —, ela murmurava. Parecia que ela estava feliz por ter um novo companheiro sendo tratado da mesma forma cruel que ela era.

Nos últimos tempos, a garota começou a se tornar uma princesa deplorável, Shizuku, que estava ao lado dela, a olhou se lamentando.

Por outro lado, os anciãos, em especial Zell, estavam encarando Hajime. — Por que, você dispensou o Imperador!? —, era o que seus olhos estavam expressando. A verdade era bastante ridícula, para ser sincero, Hajime também não tinha motivos para estar ali, então se Gaharudo foi devolvido, ele também deveria ir embora.

— Por favor, espere, Nagumo-dono. Nós ainda não decidimos a recompensa apropriada. Você poderia por favor ficar um pouco mais?

— Não, eu não preciso de nada. E esses olhares são irritantes, então estamos indo.

— Não diga isso. Se nada for feito com todo este débito de gratidão, vai ser extremamente vergonhoso para nós demi-humanos. Pelo menos, nos permita dar a vocês um lugar para comer e passar a noite. Portanto, por favor, fique mais um pouco.

— … haaaaa, entendido.

Embora Hajime pensasse que isso fosse problemático, ele concordou com Alfrerick e se sentou onde estava antes. Após confirmar isso, Alfrerick se virou para Kam.

— Muito bem, com isto, as conquistas notáveis que a tribo Haulia realizou foram confirmadas. Apesar de vocês serem banidos, vocês nos ajudarem a repelir os invasores, além disso, chegaram até a recuperar todos os nossos irmãos do Império através de um juramento. Devemos recompensar vocês a qualquer preço. Por enquanto, não há ninguém que se opõe a revogar seu exílio. Isto já foi decidido após a última reunião dos anciãos depois da invasão. A partir de agora, vocês podem visitar Faea Belgaen quando desejarem.

Revogar o exílio deles. Essa decisão já tinha sido tomada na última conferência dos anciãos, admitir isso só mostrava o quão grande eram as conquistas da tribo Haulia.

Contudo, Kam apenas murmurou: — É mesmo? —, enquanto não parecia especialmente feliz com a notícia. A atitude dele dizia que qualquer coisa seria o bastante.

— E também. Por suas conquistas distintas nesta ocasião, Kam, como chefe da tribo Haulia, eu gostaria de propor que, como recompensa, ele se torne um novo ancião. Como vocês, os outros anciãos, se sentem sobre isso?

Todos os ajudantes arregalaram os olhos com a surpresa pelas palavras de Alfrerick. Nas últimas centenas de anos, nunca houve um evento onde uma raça diferente foi presenteada com um assento de ancião. Sempre foram seis tipos de demi-humanos que ocuparam esses assentos: o povo da floresta, os homens-tigre, os homens-urso, o povo alado, os homens-raposa e o povo da terra. Se você adicionasse os homens-coelho nessa fórmula, da perspectiva dos demi-humanos, isso só poderia ser referido como um feito histórico de honra para a raça deles.

Os outros anciãos olharam uns para os outros e concordaram após ouvirem as palavras de Alfrerick; era um acordo unânime.

— Fumu, as coisas são assim. Kam. Você aceitará a posição de ancião?

— É claro que eu recuso.

— … eh?

De uma forma ou de outra, um clima do tipo “Vamos recepcionar nosso novo companheiro!” apareceu, porém, Kam acabou com essa atmosfera com facilidade. Os olhos de todos os anciãos se tornaram pontos vazios. Parecia que eles nunca pensaram que seriam rejeitados.

— … posso ouvir o motivo?

De alguma forma, Alfrerick conseguiu se recuperar, ele estava resistindo a uma dor de cabeça, se perguntando o que havia de ruim sobre algo que os demi-humanos consideravam a maior de todas as recompensas.

— Não há um motivo específico, em primeiro lugar, vocês estão fundamentalmente enganados sobre algo.

— Um engano?

— Isso mesmo. O motivo para todos os demi-humanos serem resgatados foi apenas devido a ocasião. O que nos fez decidir agir foi o pensamento de que o futuro reservava o fim dos homens-coelho. Quanto aos outros demi-humanos, se eu tivesse que dizer, eles “não importavam”.

— … o que foi isso?

Os anciãos olharam para Kam, que estava falando com indiferença, sem acreditar.

— Portanto, não se engane. Nós da tribo Haulia nunca fomos seus aliados. Se vocês, que saborearam a vitória nesta ocasião, decidirem avançar e começar uma guerra com os humanos e começarem a estocar armas, o que causaria problemas para nós e o chefe, então... vocês podem ter certeza que as lâminas da tribo Haulia vão ser apontadas para seus pescoços.

— Não-não somos seus irmãos!? Você planeja apontar suas armas contra seus companheiros demi-humanos! Isso não é insano!?

— Fuuuun, isso não muda o fato que vocês menosprezaram os homens-coelho. Não faz sentido tentarem ficar tão íntimos agora. Bom, esse tipo de coisa não importa. De qualquer forma, todas as nossas espadas são empunhadas simplesmente pelo futuro dos homens-coelho. Contanto que vocês gravem isso em seus corações, estará tudo bem.

A expressão de Kam após ele terminar de falar era revigorante. Os Haulia, que estavam atrás dele, também sorriam. “Se tornar um novo ancião, se vocês pensam que vamos usar nosso poder por vocês, vocês não poderiam estar mais enganados!”, os olhos deles pareciam dizer.

Na verdade, seria uma mentira dizer que eles calcularam tão longe, as expressões de Alfrerick e dos outros anciões estavam amarguradas.

Por outro lado, as pessoas que estavam ao redor de Hajime apenas observavam tudo se desenrolando, então elas também voltaram seus olhos para o Sinergista. “Não me importo com mais ninguém além daqueles que são importantes para mim! Não estou interessado! Peeee!”, era o que o comportamento de Kam parecia indicar; era a mesma atitude de uma certa pessoa.

— É como se você estivesse dizendo que os homens-coelho são independentes de todos os outros demi-humanos.

— Alfrerick, você é sempre preciso. É isso mesmo que você disse. A partir de agora, os homens-coelho vão viver pelas regras dos homens-coelho. Ser incorporado as regras de Faea Belgaen como um hipócrita é algo que não quero fazer.

Ajudantes e anciões, em especial o irritadiço Zell, estavam extremamente zangados com Kam, que agia com arrogância. Apesar de Kam estar calmo, os Haulia atrás dele estavam: — Ahh? Você tem algum problema com isso!? —, assim como delinquentes que queriam ameaçar alguém.

No meio de tudo isso, Alfrerick estava pensando em algo com uma expressão difícil, quase como sempre fazia desde que Hajime apareceu e ele só pôde mostrar expressões cansadas, então o elfo falou com Kam.

— Nesse caso, Kam. Que tal se reconhecermos vocês como “uma raça de iguais a Faea Belgaen”? É claro que isso também dá a você um passe especial de visitante nas reuniões dos anciãos. Se vamos fazer isto, você não terá obrigações de seguir o que for decidido nas reuniões nem as leis de Faea Belgaen, com isso em mente, você terá tanta influência quanto nós.

— Hohoooou. Bem, essa não é uma proposta ruim.

Com a nova proposta de Alfrerick, Kam sorriu de orelha a orelha como se declarasse: — Eram essas palavras que eu queria ouvir!

Kam pensou que em preparação para o dia em que o Império eventualmente invadisse, ele precisaria de algum tipo de conexão com Faea Belgaen. Contudo, se ele tivesse permissão deles para ser incorporado a Faea Belgaen, ele não poderia ignorar as reuniões dos anciões e teria restrição para se mover com liberdade. Por isso era melhor que eles fizessem uma aliança apenas no nome, ou uma organização externa.

Porém era óbvio que vozes de oposição apareceriam quando a tribo Haulia recebesse um tratamento tão preferencial. Contra isso, Alfrerick respondeu enquanto suspirava.

— Eles são pessoas que conquistaram tudo como uma única raça. Mesmo que Faea Belgaen colaborasse com todo o seu poder, nós provavelmente não seríamos capazes de fazer o mesmo. Se vocês pensam assim, então isso não é ainda mais um motivo para considera-los como iguais? Além disso, também há a possibilidade de que isto fará a tribo Haulia cortar todos os laços conosco, vocês não entendem a gravidade de perde-los para nós? Se formarmos uma aliança, eles, que foram banidos, mais uma vez criarão uma conexão. Assim sendo, uma recompensa deste nível, quando comparada com o tamanho das realizações deles, não é nada excessivo.

Apesar dos anciãos estarem contorcendo suas cabeças enquanto gemiam, nenhuma boa proposta apareceu, então o prestígio de uma única raça foi instigado durante a reunião dos anciãos e eles decidiram aceitar a proposta de Alfrerick.

— Então é isso Kam. Como uma decisão da reunião dos anciões, o status de “Raça Aliada” será dado a tribo Haulia, isso está aceitável para você?

— Bom, se fomos reconhecidos ou não, o que temos que fazer não vai mudar, mas esse tipo de coisas é aceitável. Ahh, a propósito, estamos usando a grande árvore no Sul, então vocês não devem vagar por lá sem permissão. Não podemos garantir a segurança de vocês.

Eles nunca esperavam que Kam colocaria uma ordem adicional.

Ou melhor, ele declarou de forma arrogante que essa era sua terra, sem receber permissão. Como era de se esperar, até as bochechas de Alfrerick se contorceram um pouco. Shia, que estava do lado de Hajime, cobriu seu rosto com ambas as mãos. Parecia que ela estava envergonhada com o descaramento de seu pai. No entanto, o homem em questão estava rindo: — Hyahaaaa.

Depois disso, os anciãos estranhamente cansados partiram e Hajime e os outros seguiram para a grande árvore e foram guiados para seus quartos em Faea Belgaen.

A cidade ainda estava agitava em um grande alvoroço com o retorno dos demi-humanos. Kouki e seu grupo estavam se perguntando se havia algo com que eles poderiam ajudar e saíram, mas Hajime e seu grupo decidiram relaxar no quarto com indiferença.

Aliás, Liliana voltou para o Reino um pouco mais cedo. Ainda era necessário negociar com o Império e relatar o incidente atual, eles precisavam decidir os próximos movimentos.

Por que ela não voltou antes? A resposta era simples... até alguns minutos atrás, até Liliana dizer que ela queria voltar para o Reino, Hajime se esqueceu completamente da existência dela. Quando ela atravessou o portal, não é preciso dizer, mas algo estava brilhando nos olhos da princesa.


Meia-noite.

Até agora, clamor podia ser ouvido por toda a cidade. Eles deviam estar realizando algum tipo de celebração e banquete em algum lugar.

No meio disso, Hajime e seu grupo estavam relaxando como desejavam dentro de seu quarto. Mas, havia uma única pessoa que estava estranhamente inquieta.

Era Shia. Já há algum tempo, ela estava encarando Hajime com frequência e pensando sobre algo.

Em primeiro lugar, a pessoa em questão estava recebendo um travesseiro de colo de Yue e estava quase adormecido no mundo dos sonhos, então ele não estava consciente do estado de Shia. Como esperado, o corpo do garoto desistiu após ter que carregar milhares de pessoas. Yue estava gentilmente acariciando Hajime, que ficou sem forças enquanto relaxava seu corpo, — Fumu. —, ela olhou para Shia de lado e inclinou sua cabeça.

Logo após isso, a vampira olhou para Tio e Kaori, que estavam ao lado de Hajime, olhando para ela com inveja. E mais uma vez, — Fumu. —, ela acenou com a cabeça e chamou Kaori e Tio.

— … Kaori, Tio. Vocês querem fazer o travesseiro de colo?

— Eh? Você vai trocar conosco?

— Mu? É claro que quero.

Tio e Kaori mostraram olhos cheios de expectativa e Yue riu sem querer.

— … só estava perguntando.

— …

— ...

Yue tinha um sorriso em seus lábios, como se algo tolo tivesse acontecido. Quando elas viram isso, veias apareceram nas testas de Kaori e Tio. Além disso, Yue também disse: — E então, vocês estão com inveja? —, enquanto segurava com força a cabeça de Hajime.

— ... Yue, você está querendo brigar? Você está, não está?

— Fufufu, madame, isso irritou e muito esta.

— … vamos fazer isto?

Com o sorriso provocador de Yue, as duas mulheres responderam: — Se essa é a continuação do que aconteceu de dia, eu aceito o desafio! —, enquanto se levantavam. A propósito, as vencedoras do duelo durante o dia foram Yue e Shia.

— … se uma de vocês me pegar, vou deixar a pessoa dormir ao lado de Hajime esta noite.

— !!!

— !!!

Como imaginado, elas não poderiam realizar um duelo dentro da cidade, assim, Yue propôs uma partida de pega-pega. E a recompensa para a vitória era inusitada. A tensão de Kaori e Tio começou a aumentar, apesar de já ser meia-noite.

Quando Yue confirmou a reação das duas, ela gentilmente colocou a cabeça de Hajime em um travesseiro e o acariciou mais uma vez com carinho. E como se não fosse afetada pela gravidade, ela pulou na direção da janela como se estivesse dançando e abriu a janela enquanto se virava.

Nessa ocasião, — O quê? —, ela encarou Shia e piscou seu olho por um momento. A garota-coelho pareceu ter entendido a intenção da vampira e, com um sorriso, concordou em gratidão.

— … começar partida.

Assim que Yue disse essas palavras, ela escapou pela janela e, no momento seguinte, se fundiu com a escuridão e desapareceu.

— Ku, eu com certeza vou pegar ela! Com o objetivo de dividir a cama!

— Fufu, esta não vai perder.

Com um grito cheio de ânimo. Kaori, com suas asas de prata, e Tio, que fez suas asas de dragão aparecerem, pularam pela janela.

Shia, que era a espectadora, não as seguiu porque entendeu que Yue provocou Kaori e Tio de propósito, dessa forma, ela pretendia tirar vantagem da oportunidade que estava agradecida por ter recebido. Excitada, ela foi até o lado de Hajime e o acordou de forma gentil.

— Hajime-san, Hajime-san… por favor, acorde.

— Nn? Qual o problema Shia. Ou melhor, agora mesmo, Yue e as outras saíram, mas... você não foi com elas?

Mesmo enquanto estava meio adormecido, Hajime sentiu o fluxo de poder mágico das garotas saindo pela janela, “Por que você ainda está aqui?”, ele inclinou seu pescoço.

— Ummmm, parece que eu acabei perdendo a chance, algo desse tipo.

— … algo desse tipo, hã.

— Uuuuu. Ao invés disso! Todas já saíram, também devemos sair para um passeio? Não sei nada sobre o interior de Faea Belgaen.

Graças a cor de cabelo de Shia, ela não tinha permissão para aparecer em público, dessa forma, a primeira vez que ela viu Faea Belgaen foi com Hajime e Yue[5]. Nessa época, como eles partiram tão de repente, ela não teve tempo para explorar a cidade.

— … bem, acho que está tudo bem.

— Sim! É um encontro à meia-noite! ... isso pareceu um pouco obsceno.

— Não sei nada sobre isso.

De uma forma ou de outra, ele sentiu que Shia queria falar, sendo sincero, ele queria continuar a dormir, mas Hajime decidiu que não tinha escolha além de acompanhar a garota. Shia alegremente agarrou o braço do garoto com força. Então os dois, com seus braços entrelaçados, caminharam pela noite de Faea Belgaen.

Após cerca de dez minutos, as duas pessoas estavam passeando e tendo uma conversa inocente, quando notaram que caminharam bastante para não ouvirem mais o clamor da cidade. E eles também notaram que algo acima das árvores estava brilhando com uma luz azul-clara.

— Ahhhh, aquelas são Montofaruta Hajime-san.

— Montofaruta?

— Sim, é uma borboleta que emite uma luz azul-clara parecida com o luar. Elas se agrupam em árvores altas por causa do vento, à noite, elas parecem estrelas no céu. Porém, não se sabe quando elas emitem suas luzes, então esta é uma cena muito rara. Ou você vê isso apenas uma vez por ano ou não vê nunca.

— Heeeee, elas com certeza são lindas.

Os dois, que estavam olhando para o alto, decidiram que, já que essa era uma cena tão rara, eles deviam dar uma boa olhada, então logo subiram em uma árvore e encontraram um galho grosso e se sentaram ao lado um do outro. Por um tempo, eles apreciaram a luz que a Montofaruta emitia como se estivessem em um planetário.

Quantas delas havia ali? Lentamente, Shia começou a abrir sua boca.

— Hmm, Hajime-san.

— Hmm?

— Muito obrigada. Por muitas coisas que não posso colocar em palavras... de verdade, muitíssimo obrigada.

— … ahh. Se você quer mesmo mostrar sua gratidão. Estarei esperando coisas de você quando estivermos no grande calabouço.

— Fufu. Agora não é quando você deveria dizer: “Não ligue para isso”?

Shia riu de forma boba com a resposta que tinha a cara de Hajime. Contudo, isso logo se transformou em uma expressão penosa e ela virou seu olhar para o Sinergista.

— O que devo fazer para recompensar Hajime-san?

— Se for sobre recompensas, eu já não acabei de recebê-la?

— Foram apenas palavras, não foram? Quero recompensar sua gentileza de outra forma. Você pode pensar no que posso fazer para deixá-lo feliz? Se Hajime-san desejar, farei qualquer coisa. É sério, qualquer coisa.

As orelhas de coelho de Shia se moveram e ela se inclinou para entrar em contato com o corpo de Hajime. Os olhos que estavam observando o garoto já estavam marejados e continham ardor, e seus suspiros continham tanto calor que pareciam capazes de queimar com o contato. Hajime entendeu o significado implícito do que Shia estava dizendo, porém, ele se atreveu a fingir não ter notado.

— … vai estar tudo bem, contanto que você continue sendo essa mulher despreocupada e continue rindo. Afinal, você é nossa animadora, não é?

— Moooou, o que foi isso? Você me chamou de despreocupada!? Mesmo você tendo me abraçado na frente do Imperador e dito que sou importante! Esta é a cena em que você diz: “Então você terá que pagar com seu corpo, guhhehhehhe!”, e me ataca, não é? Por favor, reconheça a situação.

— Parece que precisamos ter uma conversa séria sobre a imagem que você tem de mim.

— Você é um imprestável cheio de determinação.

— Ser determinado é normalmente algo bom.

Shia estufou suas bochechas para mostrar que estava insatisfeita. Contudo, ela logo baixou sua cabeça desapontada. Suas orelhas de coelho também se abaixaram como se tivessem perdido o poder de repente.

— … estou falando sério, quero fazer algo para te agradecer. Desde que conheci Hajime-san e as outras, sempre estive dando o meu melhor. Apesar de Hajime-san e Yue-san falarem que está tudo bem se eu apenas sorrir, só estar com vocês dois já me fará feliz, isso definitivamente não é forma de mostrar gratidão.

— Mesmo assim, você é nossa companheira, não é? Não acho que você tem que ficar pensando sobre essas coisas.

— Isso é cortesia em relacionamentos íntimos. Quero agradecer de forma apropriada Hajime-san e Yue-san. Pensei sobre várias coisas, porém, não consigo me decidir com algo. Hajime-san disse que ele não precisa do meu corpo... mesmo que ele me abrace com força e diga que sou importante, para me falar que não sou desejada…

— Não fique amuada…

Hajime estava mostrando uma expressão preocupada agora que Shia estava sendo tímida. Apesar de ele ouvir que ela queria expressar sua gratidão, ajudar alguém relacionado a você era algo natural, na verdade, apenas uma palavra de gratidão seria o suficiente.

Porém, para Shia, esses sentimentos não pareciam ser o bastante.

— Se Hajime-san se apaixonasse por mim, eu não teria que passar por tanto sofrimento. Eu iria te servir (agradecer) por completo... haaaa, não há o que fazer. Vou me esforçar mais para ter ainda mais serventia do que antes enquanto viajamos como forma de monstrar minha gratidão.

— Entendo.

Quando Shia encolheu seus ombros, mais uma vez, ela olhou para cima, para as Montofaruta.

Enquanto olhava para sua figura, Hajime começou a se lembrar de quando ele abraçou Yue e Shia na frente de Gaharudo.

Sendo sincero, isso foi basicamente feito sem pensar. Assim que ele percebeu, já estava abraçando as duas.

Por ora, os enormes sentimentos de declarar alguém como “Especial” só poderiam ser usados para se referir a Yue. Isso era algo já aceito. Entretanto, mesmo que fosse algo inconsciente, o motivo para ele segurar Shia em seus braços foi…

Pensando nisso, o garoto estava com um sorriso cheio de autodeboche.

“Como pode ser?”, o motivo foi o egoísmo dele. Enquanto dizia que ninguém era capaz de estar no nível de Yue, ter o desejo de possuir Shia, isso era mesmo egoísta. Assim que ele percebeu isso, a existência da garota-coelho se tornou muito maior do que antes. No mínimo, assim como Yue, ele a abraçou inconscientemente indicando que não iria abrir mão dela.

Apesar de ele ainda ter mais sentimentos por Yue do que por qualquer outra pessoa, ainda assim, ele não parecia mais capaz de se enganar quanto a seu desejo por Shia. Assim que ele ficou consciente disso, ele não foi capaz de fingir que essa sensação não existia. “Se é assim, dê o seu melhor e trabalhe duro, que tal responder a atitude da garota responsável por esses sentimentos?”. Hajime pensou de repente.

— Eh, um, o que foi? É extremamente embaraçoso ser encarada em silêncio…

Assim que ele percebeu, as bochechas de Shia coraram e ela se contorceu com nervosismo. Suas orelhas de coelho também pareciam dizer: — Uuuuu, por que você está me olhandoooo. —, e de repente se encolheram, de vez em quando, ela se contorcia e olhava para o garoto.

Os olhos de Hajime suavizaram quando ele viu Shia assim e ele esticou sua mão. E as orelhas de coelho envergonhadas foram acariciadas de forma gentil.

— Ha-Hajime-san?

— … hmmmmm, Shia. Tenho um favor para te pedir…

— Um favor? É claro, está tudo bem! Sinta-se livre para pedir qualquer coisa.

Por um momento, ela ficou surpresa com as palavras de Hajime, como ela podia mostrar sua gratidão, mesmo que só um pouco, Shia consentiu de bom grado enquanto sorria.

— Vejamos, eu quero deitar um pouco. Se você estiver disposta, posso pedir por um travesseiro de colo?

— Fuuuue, mesmo que você não peça, por favor, faça isso a qualquer hora. Uffff, por favor, sinta-se à vontade.

— Obrigado.

Apesar de Shia mostrar uma expressão levemente desapontada com o pedido de Hajime, ela estava feliz por dar ao garoto um travesseiro de colo e deu um tapinha em suas coxas com um sorriso brilhante. O Sinergista expressou sua gratidão com um sorriso e se deitou sem hesitar.

Como Shia usava uma minissaia, ele foi capaz de sentir por completo as coxas dela. Uma sensação suave e calorosa apoiou a cabeça de Hajime. Isso lembrava um pouco o de Yue, enquanto um suava aroma fazia cócegas em seu nariz.

— Fufu, é uma pena para Kaori-san e Tio-san. Neste momento, elas estão lutando contra Yue-san para conseguir dar um travesseiro de colo a Hajime-san, mas eu já estou fazendo isso antes delas.

— Bem, Yue com certeza vai vencer, então não há motivos para se preocupar com isso.

— Você não deveria dizer essas coisas. Já que elas querem fazer Hajime-san se apaixonar por elas, elas estão trabalho duro. De verdade, me pergunto quando Hajime-san vai se apaixonar por miiiim.

— … você vai desistir?

— Sem chanceeees.

—Entedoooo.

Shia estava gentilmente acariciando o cabelo do garoto. Hajime apertou seus olhos enquanto se sentia confortável. E como vingança, ele brincou com os cabelos de Shia que estavam diante dele. O cabelo branco e azul-claro era mesmo misterioso quando se combinava com a luz sendo emitida da Montofaruta que estava acima deles.

Se alguém visse Shia e Hajime agora, eles com certeza estariam vomitando arco-íris. Isso mostrava o quão doce a atmosfera desses dois era. Sim, era como o mundo separado que Hajime e Yue criavam.

Contudo, infelizmente, embora esse fosse o clima que era criado com Yue e que Shia tanto ansiava, ela não percebeu. Nesse sentido, talvez ela pudesse mesmo ser chamada de coelha deplorável.

Mesmo que a pessoa em questão não percebesse, o momento doce continuou a fluir. Debaixo da luz do luar onde as Montofaruta iluminavam, Hajime e Shia estavam aproveitando seu tempo sozinhos um com o outro.


Notas

[1] A jamanta (Manta birostris), também conhecida como manta, morcego-do-mar, peixe-diabo, raia-diabo ou juneco, é uma espécie de peixes cartilagíneos (Chondrichthyes) pelágicos, oceânicos da família Myliobathidae e a maior espécie atual de raias. Encontra-se nas regiões tropicais e subtropicais de todos os oceanos, tipicamente perto de recifes de coral. A jamanta tem o corpo em forma de losango e uma cauda longa sem espinho e pode atingir sete metros de envergadura e pesar até 1,350kg. Podem viver até 20 anos. Estes peixes não têm verdadeiros dentes e alimentam-se de plâncton e pequenos peixes, sendo, portanto, inofensivos. Ocasionalmente, podem aproximar-se de um barco ou de mergulhadores e podem executar curtos “voos” fora da água.

[2] Eventos do capítulo 113.

[3] Paracusia, ou alucinação auditiva, é uma forma de alucinação que envolve a percepção de sons sem que haja estímulo auditivo. Uma forma comum de alucinação auditiva é a percepção de vozes inexistentes, que pode estar associada a desordens psicóticas, sendo esta um tipo de ocorrência de especial significância para o diagnóstico da condição alucinatória. Contudo, indivíduos que não sofrem qualquer transtorno mental podem experimentar esse tipo de ocorrência.

[4] Efeito Doppler é um fenômeno físico observado nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objeto que está em movimento com relação ao observador. Foi-lhe atribuído este nome em homenagem a Johann Christian Doppler, que o descreveu teoricamente pela primeira vez em 1842. Este efeito é percebido, por exemplo, ao se escutar o som (que é uma onda mecânica) emitido por uma ambulância que passa em alta velocidade. O observador percebe que o tom, em relação ao emitido, fica mais agudo enquanto ela se aproxima, idêntico no momento da passagem e mais grave quando a ambulância começa a se afastar. Graças também ao conhecimento deste efeito é possível determinar a velocidade de estrelas e galáxias, uma vez que a luz é uma onda eletromagnética.

[5] Eventos do capítulo 34, na primeira visita de Hajime e Yue a nação dos demi-humanos.



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