Volume 11

Capítulo 250: Tão próximas que elas brigam uma com a outra? (Primeira parte)

Havia uma espaçosa sala subterrânea no subsolo da residência Nagumo. É claro que era uma sala que originalmente não existia, mas depois que Hajime voltou para casa de outro mundo, ele a criou porque era necessário para vários tipos de suas obras.

Naquela oficina subterrânea pessoal, o mencionado Hajime estava cruzando os braços enquanto resmungava.

— A base está criada. O sistema básico também está bom. A fixação da consciência e também a segurança estão em ordem. O que resta é a história concreta e o cenário de personalidade que combina com isso, mas... não importa o que faça, a ideia não surge.

Hajime reconfirmou a situação ao falar para si mesmo enquanto fazia o som de cantarolar devido a sua preocupação mais uma vez. O olhar do Sinergista se fixou no objeto colocado na bancada de trabalho, algo como uma máscara mecânica para os olhos incrustada com cristal branco azulado.

Sua aparência era como um massageador eletrônico em forma de máscara para a área ao redor dos olhos, ou talvez como um headset para um jogo de realidade virtual... ou melhor, o item era exatamente isso, um dispositivo de jogo que o próprio Hajime criou.

No entanto, a tecnologia e os materiais utilizados para criá-lo vieram da mistura da Terra e de outro mundo, até mesmo a Magia da Era dos Deuses foi aplicada para fazer este jogo de experiência corporal completa.

A Terra ainda estava no nível em que o humano enfim colocou a mão na ponta da tecnologia da produção de mundos virtuais, mas quando a mão do maior Mestre da Transmutação do mundo começou a trabalhar, este produto completo foi realizado com facilidade.

A propósito, ao aplicar a Magia da Alma, apenas a consciência do usuário seria enviada para o mundo virtual, mas na verdade, essa coisa era algo que estava mais próximo da experiência extracorporal1, além disso, o mundo virtual foi formado a partir de algo como uma ilusão que estava infinitamente perto da realidade por causa da aplicação da Magia de Regeneração, então não apenas os cinco sentidos, o usuário podia até sentir outras coisas como poder mágico ou presença.

Este item era o trabalho meticuloso de Hajime que prestou uma atenção especial ao mecanismo de segurança. Ou melhor, não era exagero chamar isso de sua maior obra-prima. Como um gamer, e como filho do presidente de uma empresa fabricante de jogos eletrônicos, ele se comprometeu de corpo e alma nesse esforço!

Muito bem, quanto ao motivo da criação deste dispositivo de jogo...

“... mesmo que eu tenha feito isso com tanto cuidado, será inútil se Myuu não puder aproveitar. O conceito é praticamente ‘treinamento divertido’, então está decidido que o jogo será um RPG... mas que tipo de RPG uma garota gosta? Por ora, vou deixar os personagens evasivos para checar sua operação, mas... hmmmmmmmmmmm.”

Assim como poderia ser entendido pela preocupação de Hajime, este dispositivo foi criado para o treinamento de Myuu.

Com a garotinha implorou dizendo que queria ser forte como Hajime e as outras, o rapaz e o grupo (além das esposas, os colegas também participaram) educaram Myuu sobre habilidades de luta.

Sobre o treinamento em si, ele poderia ser feito em qualquer lugar se a barreira de ocultação fosse colocada de antemão usando magia ou artefatos, então não haveria problemas. No entanto, pelo pensamento de Hajime de que um combate real e, além disso, um combate real contra um inimigo mais forte era muito melhor do que treinar, como esperado, não haveria lugar para Myuu testar sua força, exceto se eles fossem para Tortus.

Mas, cruzar mundos para treinar e depois preparar o oponente que estava apenas no nível certo eram ações problemáticas. No entanto, do ponto de vista de Hajime, neste atual momento em que não havia qualquer situação de emergência, ele não tinha a menor intenção de fazer sua amada filha passar por um treinamento severo onde “o pior cenário” poderia acontecer, como quando ele se temperou no fundo do abismo contra os monstruosos oponentes de lá.

Ele queria que Myuu aniquilasse um inimigo mais forte sem desespero e com alguma margem de manobra, para que ela pudesse ter um crescimento saudável.

Esse era o genuíno amor paternal de um pai para sua filha.

E assim, combater o inimigo virtual em um mundo virtual era na verdade um método justo para isso.

Muito bem, dessa forma a criação do dispositivo do jogo foi praticamente concluída, mas aqui Hajime esbarrou em um problema. Ele tinha progredido com a criação até aqui baseada no conceito de “Lutar contra um inimigo mais forte. Contudo, fazer isso enquanto se diverte”, mas não conseguia pensar na “história” que se tornaria a parte essencial de “se divertir”.

Afinal, esta era uma prática virtual para testar o resultado do treinamento de Myuu. E assim, por exemplo, se um goblin fosse colocado como o inimigo de abertura, isto se encaixaria no padrão do RPG.

No entanto, de forma natural, Myuu lutaria usando artefatos de ataque como Donneer, estava claro que os goblins seriam exterminados com facilidade se encontrassem a garotinha com esse tipo de armamento.

Ele não queria deixar Myuu OP. Tendo dito isso, ele não via como um goblin poderia escapar da mira de um canhão eletromagnético. Um certo coelho bugado de algum lugar já era suficiente para algo assim.

Em outras palavras, o nível de poder do inimigo seguindo o cenário do RPG usual e a força de Myuu não combinavam.

Se ele fosse criar um conteúdo que pudesse resolver esse problema, onde Myuu pudesse se divertir avançando a história enquanto lutava de forma constante contra inimigos cuja força sempre estava um pouco acima da dela...

— Nada bom. Não consigo pensar em nada. Na pior das hipóteses, só posso programar um goblin que pode desviar de um canhão eletromagnético, mas... antes disso, talvez devesse tentar uma consultoria com o Pai primeiro.

Hajime, que franziu a testa imaginando um goblin deixando para trás uma linha de imagens residuais quando se movia, coçou a cabeça que havia atingido o limite, então suspirou enquanto se levantava de sua cadeira.

Ele saiu da oficina subterrânea, subiu a escada e entrou na sala de estar. Hoje era feriado, mas não havia ninguém na sala, exceto Shia. Shuu e Sumire estavam trabalhando, mas ele não sabia o que as outras estavam fazendo.

Eh? Shia, E quanto a Yue e as outras?

Fuwaa. Ah, Hajime. Seu trabalho terminou?

Parecia que Shia estava cochilando no sofá da sala de casa enquanto se banhava na luz do sol. Ela perguntou com uma expressão desleixada e distraída. Ela não parecia estar totalmente acordada.

Hajime se preparou para sair enquanto respondia a Shia, mesmo quando estava se contorcendo um pouco ao ver a figura da garota com suas orelhas de coelho caídas.

— Não, já cheguei ao limite. Então, estou indo visitar meu Pai. Vou levar para ele algum suprimento e também perguntá-lo sobre suas obras para receber algum tipo de dica.

Howaa, é mesmoooo? Tenha uma boa viagem, desuu. Ah, certo, certo, sobre Yue e as outras, Kaori virá para brincar, então Yue está preparando uma embosc-... cof-cof, vai buscá-la. Tio e Remia saíram para comprar as roupas de Myuu.

— Entendo. E Shizuku?

— Parece que um autoproclamado rival da família Yaegashi estava vindo com uma declaração de desafio, então ela acompanhou sua família, embora estivesse relutante em lidar com o desafiante, desuu. E então, ela disse que hoje não pode vir, desuu.

— ... aquela garota é mesmo muito ocupada, hein.

Imaginando Shizuku, que foi junto com sua família com uma expressão cansada, Hajime olhou para longe com uma expressão estupefata. Ela não deveria mais ser tão reservada depois de tudo que aconteceu, então ele adivinhou que a situação dela não era tão séria se a garota não entrou em contato com eles para pedir reforço.

— Bem, entendido. Então, Shia. Vou sair um pouco, então diga a Yue e outras por mim.

— Shiiiiiiiim, pode deixaaaaaaar, desuuuuuuuu.

Shia, que estava enterrando seu rosto mais uma vez na almofada macia, acenou com suas orelhas de coelho como resposta enquanto entrava no “modo Shia orelhas caída” mais uma vez. Ela parecia estar em um estado de espírito realmente sonhador.

“Shia orelhas caídas”, que estava tomando banho de sol enquanto sua calcinha estava à vista com seu rabo de coelho balançando, era adorável. Hajime sentiu o impulso de lhe dar um travesseiro de colo e amou-a com todas as suas forças, mas com um esforço, suportou para cumprir seu dever de papai e saiu de casa.

Um pouco depois disso, enquanto o som da respiração adormecida de uma coelha feliz ressoava na sala de estar da residência Nagumo, houve um som da porta de entrada se abrindo.

— Céus, Yue, sua idiota! Pervertida! Sua sem-vergonha!

— ... que linguagem abusiva contra alguém que foi te buscar. Kaori estúpida.

— Algo assim não pode ser chamado de “buscar”, sabia? Aquilo se chama emboscada! Além disso, você até usou Magia de Ilusão na rua, você é uma idiota completa!

— ... Kaori gritou: “Hyaaaaaaaaaaaa”. Você gritou: “Hyaaaaaaaaaaaa”. Pufuh.

— Yueeeeeeeeeeee!

Uma discussão tão barulhenta podia ser ouvida.

Parecia que Kaori foi emboscada por Yue quando ela estava indo para a residência Nagumo. Parecia que Yue até usou Magia de Ilusão para chocar Kaori. Relembrar a reação da curandeira fez a vampira mostrar um sorriso que parecia muito alegre.

Fosse no passado ou no futuro, sem dúvidas, não haveria ninguém além de Kaori por quem Yue iria sair de casa apenas para deixá-la chocada.

À sua maneira, Kaori como alguém na posição de receber as travessuras de Yue com seu corpo, estava com raiva, mesmo assim ela não parecia odiar isso. Mesmo agora, suas mãos estavam chegando em direção ao cabelo de Yue, que estava tirando os sapatos, ela usou um produto estiloso de cabelo que ela tirou de algum lugar e lutou para adaptar o cabelo de Yue no estilo Moicano2.

Yue caminhou em direção à sala de estar sem sequer prestar atenção ao fato de que seu cabelo loiro fofo e macio estava bagunçado e se transformou em uma forma estranha como as árvores da floresta de uma bruxa por Kaori. Ela então avistou Shia, que estava cochilando com uma expressão relaxada e parecia extremamente descuidada. Ela estava no mesmo estado de antes de Yue sair.

Ah, Shia, ela está dormindo. Então temos que ser discretas.

— ... nn.

Era como se a briga delas de pouco antes fosse inexistente. As duas pararam de discutir e ficaram quietos. Elas se aproximaram leeeentamente de Shia e olharam com gentileza para a garota que estava murmurando: “Munya, munya.”

Munya, munya... ehehe, mais do que isto é impossível... não posso te espancar mais do que isto, sabiaaaaaaa?

— ...

— ...

Nnyaa. Kufuuuuuuuu, então, só mais um poucoooooooooo.

— ...

— ...

Estava um pouco fora do padrão esperado.

Esta coelha estava fazendo uma expressão feliz, com uma atmosfera tranquila, parecendo que estava se sentindo muito contente, enquanto ia espancar um pouco mais até a morte alguém. Fujaaaaa! Esse alguém dentro do sonho! Fujaaaaaa agoraaaaa!

— ... vamos deixá-la em silêncio.

— ... nn. É melhor.

Yue e Kaori lentaaaamente, lentaaaamente se afastaram. Eles também se distanciaram em seus corações.

Err, e, onde está Hajime? Ouvi dizer que Myuu e as outras não estão aqui, mas Hajime está, não está?

— ... nn. Ele está trancado dentro da oficina desde a noite passada. É preocupante porque ele perde a noção de tempo quando está absorvido no trabalho.

— Ele também esqueceria a sua refeição e de dormir quando estava assim. Então, vamos chamá-lo. Também vamos fazê-lo descansar enquanto cuidamos disso?

— ... ele ainda não almoçou, então é uma boa ideia.

Elas acenaram uma para outra e seguiram em direção à oficina subterrânea.

A propósito, o principal caminho para ir em direção à oficina subterrânea era pela escada do corredor, mas na verdade, o sofá da sala também poderia ser usado. O sofá seria virado para trás quando alguém estivesse sentado nele e, em seguida, essa pessoa seria jogada no corredor subterrâneo.

Não havia realmente nenhum significado para propositalmente cair daquele jeito, então todos usavam a escada para seguir para lá, mas se limitando aos integrantes da família Yaegashi que às vezes visitavam (excluindo Shizuku) e Myuu, eles nunca tinham usado a escada uma única vez. Eles gostavam de ser sacudidos e caírem.

— ... nn? Hajime, não está aqui?

Eh? É verdade.

As duas que entraram na oficina inclinaram as cabeças ao verem que o dono do lugar não estava lá.

Ele deixou a casa? Nesse caso, ele não deixou para trás nenhum aviso? Pensando nisso, as duas andaram mais fundo na sala.

Parecia que não havia nenhum recado, mas em troca, um headset que estava obviamente no meio da fabricação entrou na visão da dupla.

— ... esse é o artefato que Hajime está tão entretido desenvolvendo.

— É mesmo? De alguma forma, parece similar com um headset usado para ver filme 3D, não parece?

— ... nn. Isso não está necessariamente errado.

Yue começou a falar sobre as especificidades de sua função ao responder à pergunta de Kaori. Kaori estava ouvindo com admiração e ela estava olhando para o artefato em forma de dispositivo de jogo que parecia um headset por algum motivo.

Yue falou uma frase para tal Kaori:

— ... Kaori, sua devassa silenciosa.

— Por quê?!

Kaori se assustou com o insulto repentino. Yue respondeu a essa réplica que estava misturada com uma pergunta.

— ... a razão pela qual você está encarando tanto é apenas uma. Já entendi que você estava tendo a ilusão de que seria capaz de flertar com Hajime a qualquer hora em sua casa se tivesse isso. O que você está planejando fazer com Hajime no mundo virtual? Devassa silenciosa.

— Não sou uma devassa silenciosa! Não estava tendo nenhuma desilusão dessas! Ou melhor, é Yue quem é a devassa silenciosa no momento em que você chega a essa conclusão!

— ... que declaração estúpida. Mesmo sem ter ilusões, estou sempre flertando com Hajime!

— Com certeza!

Não havia espaço para argumentação aqui. Mas, Kaori desejou que Yue parasse já com sua tentativa de plantar a impressão de que “Kaori era uma devassa silenciosa” em cada oportunidade disponível.

Kaori foi capaz de afirmar. Que ela estava levando uma vida saudável! Mesmo que ela tivesse o hábito de sonhar acordada, mesmo que ficasse consciente demais com qualquer tipo de coisa que acabara de ser usada por Hajime, mas não havia dúvidas de que ela era uma garota saudável! Não havia espaço para suspeitas aqui! Não deveria haver!

E então, aqui ela se opôs firmemente a Yue.

Mas, Yue-sama tentou destruir totalmente a objeção de tal Kaori de frente.

Como resultado, no final, as coisas acabaram na usual briga de gatas3.

Miau!! Miau!! Mui-mui! Mukiiiiih!!

As duas se beliscaram nas bochechas e rolaram no chão da oficina por alguns minutos. A situação só parecia que elas estavam brincando uma com a outra se visto de longe, no entanto, as duas estavam brigando de verdade e ficaram absortas com isso contra seu melhor julgamento e esqueceram-se por completo de prestar atenção aos arredores.

Sim, elas estavam na oficina de um Mestre da Transmutação onde os artefatos feitos à mão de Hajime, os artefatos criados a partir do interesse do rapaz trabalhando em a todo vapor, onde havia coisas compreensíveis e até incompreensíveis espalhadas por todos os lados.

GON! Um som ressoou, vindo de Yue, que estava se levantando batendo a nuca com força na mesa acima dela.

Yue soltou um grito estranho: — Nmii?!— enquanto Kaori comemorava de forma infantil: — Iai, iai.—, mas, no momento seguinte, o headset e vários minerais caíram da mesa e atingiram o topo da cabeça dela e Kaori soltou um grito correspondente: — Nmii?!

Enquanto as duas seguravam suas cabeças enquanto tremiam, de repente, um som sinistro atingiu seus ouvidos.

— ... ah, err, Yue? Isto, por acaso, isto na verdade é ruim?

— ... isto é ruim, degozaru4.

Suor frio escorreu. Se houvesse apenas um item quebrado, as duas poderiam apenas se prostrarem harmoniosamente na frente de Hajime e pedirem desculpas. Mas, o headset diante delas, que estava ferozmente faiscando e piscando ainda mais com luz de poder mágico e transbordando com imenso poder que fazia sua pele formigar, apenas emitia uma sensação sinistra.

O discurso de Yue se tornou estranho, mas seu pensamento estava calmo. Não importava o que acontecesse, não havia como qualquer fenômeno que acontecesse aqui escapar para fora desta oficina que se orgulhava de ter a mais forte resistência do mundo. Por isso, Yue usaria a habilidade máxima de teletransporte instantâneo “Existência Divina” e escaparia junto com Kaori.

Yue, que decidiu isso em um instante, saltou em direção a Kaori, e então elas escaparam logo...

Clarão! Luz explodiu.

Não houve som ou onda de choque. Só havia luz que pintava toda a oficina por um segundo.

Dentro da oficina que recuperou sua cor anterior, havia apenas Yue, que estava pairando sobre Kaori como se ela a tivesse empurrado, e Kaori, que estava abraçando tal Yue. Parecia que as duas estavam inconscientes.

— ... Yue?! Você está bem?!

Kaori, que estava ciente de que sua consciência havia voado para longe por um momento, levantou seu corpo em um instante ao mesmo tempo em que sua consciência voltou e ela confirmou a segurança da vampira. Mas, ela não ouviu aquela voz que era tão agradável e odiosa de ouvir que geralmente responderia sem demora.

Ela havia confirmado um momento antes de sua consciência ser cortada, Yue estava pulando em direção a ela para cobri-la. Foi por isso que Kaori pensou que a vampira estava por perto, mas ela não sentiu seu peso lá, e mesmo quando ela olhou pelo local, não a encontrou em lugar nenhum.

Ou melhor...

— O que-que é istooooooooooooo?!

Kaori estava em caos!

A razão era que antes disso, ela deveria estar dentro da oficina usando suas roupas pessoais, mas quando notou, estava dentro de uma sala cercada de madeira rústica e estava acordando em cima de uma cama.

Quando ela olhou com mais atenção, as roupas que vestia também foram transformadas em algo grosseiro que parecia vir do período da Idade Média da Europa. Era uma peça única e solta, sim, se isso fosse em um filme ou drama, então essa seria a roupa de uma garota de um vilarejo.

Kaori estava olhando para si mesma estupefata por um tempo, em seguida ela saiu correndo. Ela abriu a porta de madeira fina com tanta força que a porta poderia se soltar da dobradiça, ignorou um homem idoso e sorridente que estava falando sobre algo dentro do que parecia ser uma sala de estar, e sem parar, ela abriu com força a porta de entrada e saltou.

— Mas-mas onde, é isto?

Céu azul sem fim. Numerosas casas que pareciam choupanas. Estrangeiros trabalhando ativamente com roupas simples. Este lugar sem dúvidas não era o Japão.

Ainda em caos, Kaori chamou um jovem que por acaso passava por perto.

— Com-com licença. Eu tenho uma pergunta...

Eeei, esta é a aldeia do início “AAAAAAAA”.

— O nome é muito descomprometido! Ou melhor, não estou perguntando isso!

Kaori estava em caos! O jovem inclinou a cabeça para a garota.

— O que é isso, justo quando pensei quem era porque fui chamado tão de repente...

Eh, eh? O que foi?

Ver o jovem de repente parar sua frase também foi surpreendente, mas a projeção flutuante transparente que se manifestou diante dos olhos de Kaori logo após isso também fez o corpo da curandeira tremer.

Acima da tela, havia uma frase: “Por favor, escolha seu nome”, e abaixo havia um quadro com um espaço em branco, e ainda mais abaixo estava um teclado desconhecido.

— Isto é... será que este lugar poderia ser...

“Será que estou dentro daquele dispositivo de jogo que estava no meio do desenvolvimento?” Kaori chegou a essa conclusão. A condição atual em que ela de repente chegou em um mundo desconhecido, o jovem que estava vomitando frases estereotipadas, e também a tela que apareceu no ar, tudo era parecido demais com um mundo de RPG. A aparência de Kaori devia ser também o cenário onde ela provavelmente começava como uma garota do vilarejo no início.

— Então é isso? Yue disse que o artefato usava Magia da Alma, então, no instante em que foi quebrado, minha alma foi enviada para dentro do jogo, é isso? Mas não parece que sou apenas uma alma... hmmmm, vamos nos preocupar com isso mais tarde. Por enquanto, tenho que procurar Yue.

Kaori, que mudou seu pensamento, olhou para o jovem que estava sorrindo e esperando por ela, a curandeira decidiu por enquanto que obedeceria a regra do jogo e pelo menos decidiu seu nome antes de procurar pela vampira.

Eerr, usarei meu nome, Ka-o-ri.

Ela digitou seu nome e clicou na tecla “Enter”. Uma tela de confirmação apareceu, então ela também apertou “OK”. E então a tela desapareceu de forma automática.

— ... mas não é esta a lamentável filha do chefe da aldeia, Kaori.

— Quem você está chamando de lamentável?!

De repente, ela se sentiu insultada.

— E então, qual é o problema, filha lamentável do chefe da aldeia?

— Não há significado nenhum em digitar meu nome, há?! Ou melhor, essa coisa de “lamentável” é o padrão?!

Não havia nem mesmo um fragmento de má vontade que pudesse ser visto do jovem que ainda sorria. Kaori silenciosamente pensou: “Isso é um jogo, isso é um jogo”, para suprimir sua insatisfação crescente e ela perguntou mais uma vez:

— Você conhece Yue? Ah, me pergunto se você sabe o que quero dizer com Yue. Ela é uma garota extraordinariamente bonita com cabelos loiros...

— Esta é a aldeia do início, “AAAAAAAA”.

Ah, sim. Então você não sabe.

Parecia que a pessoa voltaria à sua primeira frase quando fosse perguntada de algo que não sabia. Kaori tinha a convicção de que este lugar era uma realidade virtual e ela pensou no que fazer agora.

Mas, foi nesse momento que o jovem falou algo para a curandeira:

— Parando para pensar, filha lamentável do chefe da aldeia.

— ... o que foi?

A resignação era crucial na sociedade.

— Sabe, parece que esta manhã o padre estava buscando uma irmã com um parafuso solto.

— Deve ser a Yue!

Se a pessoa em questão estivesse aqui, com certeza a cortina da grande batalha Yue vs Kaori de sabe-se lá quantas vezes seria aberta.

Conversando com os aldeões, juntando informações, e depois determinando o destino... era mesmo o fluxo clássico. Kaori, que se convenceu disso, expressou sua gratidão antes de sair correndo.

A igreja era o prédio mais alto da vila. Como todas as casas tinham apenas um andar, o prédio alto com uma cruz afixada em seu topo podia ser visto de qualquer lugar do vilarejo.

Uuh, meu corpo está pesado...

Embora estivesse dentro do jogo, em primeiro lugar, a habilidade física de Kaori, que havia obtido o corpo de uma apóstola de deus estava no nível da trapaça. Originalmente, ela era capaz de exibir a corrida no nível que destruiria o coração de um atleta olímpico.

Mas, a Kaori atual só conseguia exibir uma velocidade que estava no nível daquele velocista olímpico. Ela foi avisada de que este era um jogo para treinamento, então talvez fosse possível que uma limitação estivesse configurada.

Afinal, a atual Kaori era uma garota do vilarejo... ela estava correndo enquanto conjeturava a razão pela qual seu corpo não se movia como ela queria. Ela fingiu que não conseguia ouvir os aldeões dizendo coisas como: “Ah, aquela é a filha lamentável do chefe da vila!”, “Hoje ela também está correndo assim... que menina lamentável”, apontando o dedo para ela.

Assim, Kaori, que sofreu delicados danos mentais, enfim chegou perto da frente da igreja, foi nessa hora que ela estava prestes a entrar que...

DOGON! Tal som tremendo de explosão e vibração feroz sacudiram a aldeia. Além disso, eles aconteceram de forma consecutiva.

— O quê-quê-quê-quê-quê?! Mas o que diabos está acontecendo?!

A perplexa Kaori pisou no freio e imediatamente se afastou da igreja.

Em seguida, todas as paredes do prédio foram destruídas, uma após a outra, a igreja que perdeu seus pilares de sustentação inclinou-se com violência. Sem fazer uma pausa, o prédio rangeu sem poder fazer nada enquanto se inclinava ainda mais, assim, o edifício desabou como se tivesse sido empurrado de lado.

Nuvens de poeira surgiram.

Diante do olhar de Kaori, que estava olhando para a destruição da igreja com espanto, uma silhueta humana balançou dentro da nuvem de poeira. A silhueta tinha pequena estatura. E então, ela tinha uma presença que Kaori estava familiarizada.

— Yue!

— ... nn. Kaori, estou feliz por você está bem.

Yue, que disse isso enquanto mostrava sua figura usando o vento para varrer o véu de nuvem de poeira... era uma freira.

Ela estava usando um hábito longo e preto que alcançava até o tornozelo e um véu cobrindo a cabeça. Diferente de uma irmã de mentira, seu cabelo estava coberto corretamente e não podia ser visto, assim, o rosto bonito de Yue foi enfatizado, combinando com sua face inexpressiva, uma atmosfera solene poderia ser sentida dela.

Ela estava realmente parecendo uma serva piedosa de Deus...

Se não houvesse nenhuma igreja destruída atrás dela.

Kaori queria perguntar várias coisas, incluindo a confirmação de sua situação atual, mas antes...

— Por que a igreja terminou assim?

— ... fiquei com raiva quando me disseram que meu cérebro tinha um parafuso solto. Não me arrependo de nada. Posso me gabar de ter feito um bom trabalho.

— En-entendo.

Atrás de Yue, um padre com expressão de aparência gentil estava parado no meio dos destroços e falava com sua aparência suja de fuligem.

— Com coração de coragem e gentileza, agora, vá em frente. Irmã com um parafuso solto Yue.

O vento da irmã com um parafuso solto estourou. O padre voou para o céu. Era como se ele fosse uma folha com que o vento brincava.

— Esta é sua casa. Vou estar esperando o seu retorno.

A casa já tinha desaparecido. Ou melhor, aquele lugar era um céu.

Enquanto a voz gentil do padre, que estava voando no céu, ressoava, Kaori pensava sobre Yue, que estava plenamente expondo seu desprazer, e sobre o assunto daqui para frente, e ela deixou escapar um suspiro muito profuuuuuuundo.


Nota do Autor (Ryo Shirakome)

Muitíssimo obrigado por ler esta história todas as vezes.

Muito obrigado pelos pensamentos, opiniões e relatos sobre erros de ortografia e palavras omitidas.

O começo parece longo, mas esta é uma história curta.

É um pouco das cenas cotidianas de Yue e Kaori.

Quando isso acabar, estou pensando que talvez deva escrever um longo arco.


Notas

1 – Projeção da Consciência (PC) (ou experiência fora-do-corpo (EFC)) descreveria um suposto fenômeno paranormal: a “saída” da consciência do corpo humano e uma suposta "manifestação" em uma "dimensão extrafísica". O Espiritismo denomina esta "dimensão extrafísica" como plano espiritual. A experiência fora-do-corpo (do inglês out-of-body experience) pode ser caracterizada também como sendo a sensação de saída ou escape do corpo físico, sendo possível observar a si próprio e ao mundo afora de uma outra perspectiva. Tais experiências seriam realizadas por qualquer pessoa, por meio do sono, via meditação profunda, técnicas de relaxamento, ou involuntariamente, durante episódios de paralisia do sono, trauma, variações abruptas da atividade emocional e estresse, experiência de quase-morte, privação sensorial, estimulação elétrica do giro angular direito do cérebro, estimulação eletromagnética, experiências de ilusão de óptica controladas, e através de efeitos neurofisiológicos por indução de drogas.

2 – Moicano é um corte de cabelo de origem indígena que era usado pelos povos moicanos, iroqueses e cherokees. O estilo caracteriza-se por possuir uma "crista" no meio da cabeça, que é, geralmente, raspada dos lados (embora, historicamente, os indígenas arrancassem os cabelos dos lados ao invés de os rasparem).

3Catfight (literalmente "briga de gatos") é um termo para uma discussão entre duas mulheres, frequentemente caracterizada como envolvendo arranhões, empurrões, tapas, socos, chutes, mordidas, cuspidas, puxões de cabelo e roupas rasgadas. Também pode ser usado para descrever mulheres se insultando verbalmente ou engajadas em uma competição intensa por homens, poder ou sucesso profissional. A catfight tem sido algo essencial para a mídia de notícias americana e da cultura popular desde os anos 1940, e o uso do termo é frequentemente considerado pejorativo ou depreciativo. Alguns observadores argumentam que em sua forma mais pura, a palavra se refere a duas mulheres, uma loira e uma morena, lutando entre si. No entanto, o termo não é usado exclusivamente para indicar uma luta entre mulheres, e muitas definições formais não invocam gênero.

4Degozaru é o termo que os samurais usavam que é equivalente ao desu (o verbo "ser" em japonês). Gozaru é na verdade uma forma arcaica de aru, e dearu é uma versão mais formal de desu, que é usada hoje em dia como uma forma de discurso educado.



Comentários