Volume 10

Capítulo 207: Hora do show (Início)

Nota do Autor (Ryo Shirakome)

Este capítulo ficou longo, então eu o dividi em duas partes.


— Agora!

O comando da Chefe Magdanese, que soou como um grito, foi transmitido. As elites à espreita nas sombras mostraram sua lealdade sem o menor atraso, apesar de estarem agitados por terem sua existência descoberta.

Uma tempestade de morte varreu de todas as direções, junto de um rugido estrondoso. Clarões de canos cintilaram na escuridão da noite, como se colorissem a jornada da vítima para o próximo mundo. Balas cortaram o ar sem piedade e chegaram ao alvo pela distância mais curta.

— KOSUKEEEEEE!

O grito de Emily ressoou junto com o rugido estrondoso. Seus olhos refletiam a figura de Kosuke, cujo corpo foi acometido por uma violência avassaladora como uma marionete malfeita. Seu corpo foi perfurado inúmeras vezes e, quando o corpo estava para cair, a tempestade de chumbo na direção oposta atingia e o fazia se erguer.

Não havia o menor motivo para dúvidas, Kosuke foi perfurado por várias centenas de balas na frente de todos naquele lugar.

No entanto...

— Ele, não cai?

— Ah, haha, isso é uma piada sem graça. Por que não há sangue fluindo?

Vanessa murmurou surpresa, enquanto a expressão de Allen se contorcia. Assim como eles disseram, Kosuke ainda estava parado de pé no ponto que havia sido desolado e perfurado por balas.

O tiroteio parou. Ele parou porque as balas acabaram? Ou então, foi porque as elites que arcavam com a segurança do país recuaram da bizarrice manifestada? De qualquer forma, o silêncio encheu a área, como se todos os seres vivos estivessem prendendo a respiração.

No instante seguinte...

— Já acabaram? Então, é a minha vez.

O murmúrio que veio de Kosuke, que estava com a cabeça abaixada, destruiu o silêncio. E então, no momento em que todos abriram os olhos, pensando: "Impossível!", uma irracionalidade ainda maior atacou seus nervos cerebrais e bom senso.

Uma voz tão leve que poderia ser chamada de estúpida soou, e a figura de Kosuke desapareceu junto com uma leve fumaça!

— Para onde você está olhando?

— Gueh!?

Todos naquele lugar dirigiram seu olhar para a direção daquelas palavras e a voz chocada de Allen misturada com dor.

Lá, eles viram Allen, que, sem ninguém percebesse, estava deitado com o rosto no chão, seu corpo pisado por Kosuke. Uma das mãos dele estava dentro do bolso com a parte superior do corpo ligeiramente virada, enquanto o dedo médio da outra mão estava fixando os óculos de sol que estavam em seu rosto, que ninguém percebeu quando foram colocados. Óculos de sol, mesmo sendo de noite! Óculos de sol, mesmo sendo de noite!

— Que maneiro!

— Vanessa!?

Um grito de alegria que parecia deslocado surgiu. A trança lateral-san ao lado da dona da voz arregalou os olhos de surpresa!

— Seu...!

Talvez devêssemos dizer que isso era o esperado do verdadeiro Sr. K. Mesmo nessa situação, a sombra do país que recebeu uma licença para matar ainda mostrou um movimento que faria qualquer um que visse ter um calafrio. Ele pegou uma pequena arma escondida dentro da manga com o movimento do pulso e atirou em Kosuke enquanto ainda estava deitado de bruços.

O que foi assustador foi que a bala disparou na direção da cabeça de Kosuke com precisão, mesmo que tenha sido disparada nesse tipo de postura. Em geral, se alguém fosse abruptamente alvejado de tão perto, essa pessoa viajaria na mesma hora para o próximo mundo, mas...

— Ops, você é bem enérgico.

Kosuke inclinou a cabeça enquanto dizia essas palavras e a bala correu em direção ao céu em vão. Allen não mostrou nem um pouco de agitação por ter seu ataque evitado e não perdeu tempo em puxar o gatilho em sucessão.

No entanto, as balas nem arranharam Kosuke. Ele apenas inclinou um pouco a parte superior do corpo e evitou todas as balas com uma diferença mínima. Sua figura que parecia borrada em camadas duplas e triplas era igual de um agente em Matrix!

— Não me diga, sua visão pode seguir as balas!?

— Naturalmente. Enquanto esse "Olho Celestial" dado por meu amigo estiver comigo, qualquer tipo de ataque não será capaz de escapar da minha percepção.

Kaclick! Esse tipo de som tocou no gatilho. As balas de Allen acabaram. Kosuke levantou de forma brusca o artefato em forma de óculos de sol que estava encantado com "Velocidade da Luz" e "Precognição".

... a propósito, o criador desse artefato não deu um nome como "Olho Celestial" ou algo do tipo.

O agente e a Chefe Magdanese voltaram a si e atiraram em direção a Kosuke. O rapaz dançou magnificamente no ar. Dando uma cambalhota com uma forma que poderia até ser considerada bonita, as balas dos dois passaram por baixo do rapaz.

— Não fiquem olhando como se fossem estúpidos! Acabem com ele logo!

A ordem da Chefe Magdanese libertou os membros do esquadrão de suas mentes petrificadas. Eles atacaram Kosuke de todas as direções mais uma vez com uma enxurrada de balas que era semelhante à uma chuva pesada.

— Fuh. Bela intenção assassina. Mas, não é o bastante. Não é o suficiente, para capturar esse abismo sem forma!

Kosuke disse uma coisa dessas, evitando as balas que se aproximavam sem problemas. Ele enfim pegou uma arma. Antes que qualquer um pudesse perceber, sua mão estava segurando uma espada curta preta como azeviche, mas ninguém sabia dizer de onde ele a tirou.

— Não tirem os olhos, do meu poder do abismo! Rosne, "Espada Demoníaca da Calamidade Destruidora que Rasteja na Terra".

Kosuke falou algum tipo de nome chuuni enquanto acariciava a lâmina de sua espada curta. Quando ele fez isso, uma luz negra que poderia ser confundida com a noite estava começando a envolver a espada curta escura como breu! E então Kosuke apunhalou a espada curta no chão.

Em um momento, o chão se elevou e cobriu Kosuke por completo. O terreno circundante tornou-se uma proteção omnidirecional que bloqueou as balas.

— Estilo Terra, Castelo de Areia (Não há Esperança de Tocar no Abismo)!

As palavras de Kosuke ressoaram no momento em que o chão se fechou por completo. Essas palavras não faziam sentido; como esse detalhe era importante, precisava ser dito de novo: essas palavras não faziam sentido! Se fosse necessário comentar, o nome da espada curta e o gesto de acariciar a lâmina também não faziam sentido.

Nas atuais circunstâncias, o círculo mágico do artefato da espada curta não era ativado sem um encantamento, portanto, era necessário dizer algo, mas se o usuário tivesse que entoar o nome da arma e o nome da habilidade sempre, ele seria transformado em queijo suíço pelo inimigo.

E assim, o chão começou a inchar quando Kosuke disse "Ros" do "Rosne".

Então, por que Kosuke entoou o nome da habilidade sem sentido...

Claro, porque era legal!

— Do-Do-Do-Do-Do-Doutora Grant! Você ouviu!? Agora mesmo, ele disse "Estilo Terra", você ouviu isso!? O devemos fazer!?

— O devemos fazer é a minha pergunta! Não é com isso que você deve se surpreender! O chão começou a se mover de repente, você entendeu!?

— Essa era uma habilidade do Estilo Terra, então o movimento do solo é algo natural, não é!? Do que você está falando!? Em vez disso, Kosuke-san estava usando "Tonjutsu"1! Aa, como isso é possível!? Ele é, ele é... um ninja japonês!

— Eu não entendo o que você quer dizer!

Vanessa estava tão empolgada que parecia que seu personagem estava desmoronando, e Emily estava fazendo contestações de forma desesperada. Os membros do esquadrão especial estavam olhando para elas enquanto perdiam a paciência com o modo como as balas não estavam funcionando. Eles então pegaram granadas.

As granadas atingiram diretamente a massa de rocha e, ao mesmo tempo, emitiram sons estúpidos: poshu! Rugidos ferozes e estrondosos ressoaram, e a massa de rocha foi pulverizada em um instante, seus fragmentos estavam espalhando-se por toda parte de maneira chamativa.

— Ele não está aqui!?

— Observem os arredores. Isto é um truque! Esse cara está usando um truque! Não se deixem enganar!

A pessoa que parecia ser o capitão do esquadrão especial falou alto e transmitiu palavras de advertência. Os membros do esquadrão, cujas mentes foram pintadas de branco pelo fenômeno sobrenatural que aconteceu repetidas vezes, estavam recuperando a calma com a palavra "truque" que o capitão disse como uma explicação temporária.

Embora se recompusessem, isso não mudou o fato de que o que acontecia diante de seus olhos não era nenhum truque ou mecanismo, era um genuíno “mistério” onde qualquer explicação era inútil. Dessa forma...

— Gaa!?

— Gueh!

Um dos soldados escondidos no terceiro andar perto da janela girou no ar. Era como se ele fosse atropelado por um caminhão por trás. Ele atravessou a janela e foi jogado para fora. Era isso o que parecia, mas no momento seguinte, no quarto andar do prédio oposto, o soldado que lançara granadas disparou como uma bala humana em um movimento espiral e colidiu com o soldado oposto girando no ar com um som gráfico.

Os dois colidiram no ar e caíram em direção ao chão. Logo abaixo deles estava a figura de Allen que estava se recompondo. Allen tentou se esquivar no mesmo instante. Porém...

— Do fundo da terra, os mortos capturam, "Estilo Terra, Prisão do Inferno (O Abismo Vos Prende)".

— Quê!?

O tornozelo de Allen ficou preso. A mão que estava saindo do chão de repente agarrou Allen. A situação anormal que parecia um filme de terror fez com que ele se sentisse abalado. Mesmo assim, ele logo tentou soltar a mão, mas só sentiu a dor de ser preso aumentar, como se por um torno, e a mão nem se mexeu.

E então, logo depois disso, Allen foi arrastado para o chão, assim como diziam as palavras da voz retumbante. O chão não era pavimentado por asfalto, mas era um terreno duro que não podia ser facilmente cavado pela força humana, mesmo assim, ele foi enterrado da cintura para baixo no chão sem qualquer resistência, como se fosse engolido por areia movediça.

— Merda, o que é isso... gueh!?

Allen pensou que todo o seu corpo pudesse ser engolido pelo solo, mas, de modo inesperada, ele foi arrastado apenas até a cintura antes que a força o puxando desaparecesse. Ao mesmo tempo, o terreno circundante também recuperou sua dureza anterior. Allen lutou e bateu no chão, mas no momento seguinte, ele foi esmagado pelos dois homens totalmente armados que caíam e gritou como um sapo achatado.

— Bem feito! Sr. K, bem feito! Estilo Terra é demais!

— Eu te imploro, por favor, volte Vanessa! Eu realmente prefiro você em seu estado sério e frio!

Vanessa virou-se para Allen, que desapareceu de vista devido aos dois soldados que pareciam ter desmaiado, então ela apontou enquanto ria. Enquanto Emily estava respondendo com olhos lacrimejantes, caos e gritos ressoavam dentro dos prédios ao redor do espaço aberto em quatro direções.

— Merda, o que está acontecendo!?

— De onde ele está mirando!

— Tenham cuidado com o fogo amigo... gua!?

Os soldados do esquadrão especial xingavam enquanto os canos de suas armas vagavam sem rumo. Mas eles não conseguiram avistar seu inimigo sem forma (Kosuke). Às vezes eles pegavam algo como uma sombra negra no canto dos olhos e no canto de suas mentes, mas no momento em que olhavam para lá, o respingo do sangue de um colega voava de uma direção diferente, ou eles seriam lançados para longe como se fosse uma piada.

— A quietude da noite sombria é esplêndida. Você não acha que algo como o som de explosivos é grosseiro para isso?

— O que... gih!?

Fyuu! O vento soprou, e logo em seguida um soldado teve os tendões das mãos e pés cortados, e ele caiu.

— Você sente isso, não sente? O braço frio e gentil da escuridão.

— MALDITOOOOOOOOOO!?

A sensação suave de ser acariciado na nuca fez com que um soldado sentisse arrepios na espinha. Ele praguejou enquanto pegava uma arma sem demora e atirou para trás, mas o que sentiu foi um toque quente acariciando seus quatro membros no mesmo instante.

— Você sabia, existem coisas neste mundo que você não deveria saber. Você entende o que quero dizer? Sim, sou eu.

— Este, monstro...

Seu parceiro deveria estar ao lado dele, disparando a arma de forma desesperada. No entanto, o que estava ali era apenas uma sombra negra. Para onde foi seu parceiro? Por que, seu companheiro não o apoiou? Sem tempo para expressar essas dúvidas, mais um soldado teve sua consciência caindo no fundo da escuridão, junto com o toque quente que ele sentiu em seus membros.

— O que é isso… mas o que, o que está acontecendo…

A Chefe Magdanese murmurou em espanto. O som estrondoso do disparo de armas totalmente automáticas e consecutivo ressoava e, em seguida, gritos e rugidos irritados reverberaram em todos os edifícios circundantes. Seu olhar percorreu os edifícios ao seu redor como se ela fosse um caipira que via um arranha-céu pela primeira vez. Ela recuou um pouco com passos trêmulos.

Isso era impossível. Mesmo que Kosuke fosse habilidoso, isso era estranho.

Como os soldados poderiam ser atingidos à direita e para trás dela, ao mesmo tempo em que um soldado era jogado para fora do prédio à sua esquerda? A remoção do inimigo estava sendo realizada nos quatro prédios ao redor deste lugar?

Kosuke estava sozinho. O inimigo deveria ser uma pessoa. Mesmo que o inimigo possuísse uma estranha técnica de combate usando truques, esse fato deveria ser certo.

— Com quem vocês estão lutando!? O número de inimigos!? Todas as equipes, relatório!

A Chefe Magdanese levantou uma voz furiosa. Normalmente, deveria haver respostas concisas e rápidas voltando para ela.

O luar estava escondido atrás de uma pequena nuvem e a escuridão varria a área. Os faróis a iluminavam como se ela fosse uma atriz sozinha no palco. As respostas retornaram a Chefe Magdanese, que estava suando frio.

— Aqui é Beta 2. A identidade do inimigo não é clara. As sombras, as sombras estão atacando...

— Aqui é Delta 4! Eu não sei! Eu não sei de nada! Merda, meus parceiros estão desaparecendo!

— Alpha 3. O inimigo é um jovem japonês! Esse cara é um monstro! As balas, as balas não podem atingi-lo. Eu posso vê-lo, mas não consigo acertá-lo!

Os relatórios foram emitidos pelo dispositivo de comunicação. RATATATATATATA! A voz dos soldados que foram tingidos de pânico se misturou no intervalo entre os sons incessantes de tiros. Nenhum deles apresentou um relatório claro que a Chefe Magdanese pudesse compreender.

— Todas as tropas, saiam! Formem um círculo!

Uma voz áspera que estava tingida com uma aura dominante ressoou no dispositivo de comunicação. Esse foi o comando do capitão do esquadrão especial. Os soldados obedeceram a essa voz como se fosse sua salvação. Todos saltaram das janelas ao mesmo tempo, sem sequer olharem o local, sem sequer pensarem na consequência, desejando apenas se afastar o máximo possível do terrível objeto que se escondia na escuridão dentro da sala.

Os soldados que saltaram do segundo andar adotaram posturas hábeis de queda que eram esperadas de agentes treinados, e então eles se levantaram e correram para o lado da Chefe Magdanese. Os soldados que estavam no terceiro andar e andares mais altos desceram ao chão usando o corrimão da escada, as janelas e outros artifícios para diminuírem a velocidade da queda, mas o pavor que enchia seus peitos prejudicou a concentração deles e mais da metade dos agentes atingiram o chão e ficaram se contorcendo.

Mesmo assim, eles foram arrastados por seus companheiros para se reunirem em torno da Chefe Magdanese e formaram um círculo em volta dela. Eles apontaram suas armas para os edifícios circundantes com olhares desesperados. Eles forçaram os olhos em direção às janelas pelas quais pularam apenas um momento atrás, enquanto controlavam com desespero a respiração irregular que não estava relacionada ao esgotamento de sua estamina.

Dentro das janelas, estava tão escuro que parecia que toda a luz estava sendo sugada. Sem dúvidas, mesmo que dissessem que era um buraco que se conectava ao reino dos mortos, as tropas acreditariam nisso com facilidade. Os canos de suas armas estavam ocupados procurando o inimigo, o que mostrava o estado de seus corações. Com certeza. Em seus corações, havia também o sentimento de vergonha de terem deixado para trás muitos de seus camaradas dentro daquela escuridão com quem haviam compartilhado alegrias e tristezas.

O pessoal do esquadrão especial, que tinha inicialmente mais de trinta pessoas, já havia diminuído para dezessete, incluindo Allen, que de alguma forma conseguiu sair do chão e o agente que estava ao lado da Chefe Magdanese.

Não fazia nem cinco minutos desde que Kosuke desapareceu. Nesse período, um pelotão do esquadrão especial de assalto de propriedade da organização do estado foi empurrado para um estado de destruição parcial.

O som da respiração que não pôde ser controlada ressoou. O som de roupas farfalhantes da limpeza áspera do suor que estava fluindo por outro motivo que não era o calor ressoou. Ninguém estava fazendo barulho. Até Allen, que muitas vezes brincava, procurava a posição do inimigo com seus olhos errantes. Até a Chefe Magdanese também estava sentindo o suor frio escorrendo da ponta de sua mandíbula enquanto seu olhar varria os arredores a partir do centro da formação circular.

Então, um som estranho ressoou.

... tap, tap.

Eram passos. Passos ecoavam no mundo da noite que era governado pelo silêncio.

... tap, tap.

Mas não havia ninguém que pudesse reagir a esses passos. Não, para ser mais preciso, eles estavam reagindo. Contudo, apontar as armas quando souberam a posição do inimigo ouvindo... não foi a reação escolhida por eles.

... tap, tap.

A expressão de todos estava tremendo porque o som daqueles passos ecoando em seus ouvidos naquele momento vinha de um lugar impossível. Os canos de suas armas estavam retinindo. Não era porque eles não entendiam em quem deveriam mirar. O terror ofensivo enfim fez com que os soldados do esquadrão de elite não pudessem reprimir o tremor das pontas dos dedos.

... tap, tap.

Lentamente, de forma provocadora, os passos reverberaram na noite escura. Glub! Sons de saliva sendo engolida perfuravam os ouvidos de forma clara.

A Chefe Magdanese suspirou profundamente. E então, ela levantou o rosto em direção ao lugar de onde esses passos ressoavam, para o lugar onde o dono dos passos parecia estar.

— ... impossível.

Aquele murmúrio em que parecia que a alma do interlocutor também saiu com ele fez os outros soldados, Allen e, depois Vanessa e Emily, também levantarem os olhares.

— Mais uma vez, boa noite, senhoras e senhores. Vocês não acham que esta é uma bela noite?

Lá, um homem de preto estava de pé.

Aquela roupa preta era mais escura até do que a escuridão da noite, como se desse a qualquer um que a visse uma alucinação que o preto da noite estivesse se fundindo com a roupa. Uma máscara escondia a boca, complementada com um óculos de sol do tipo lente única. Em uma mão estava uma misteriosa espada curta preta que causava arrepios em qualquer um.

Sua voz ressoou com um eco que transmitia a noite da noite e a escuridão da escuridão. Confiança absoluta e uma aura dominadora habitavam dentro dela; no entanto, ao mesmo tempo, continha um pavor que segurava as entranhas do coração de quem ouvia.

No meio ar, passos ecoavam em escadas invisíveis, como um soberano que descia de seu trono. Atrás de suas costas, havia uma linda lua crescente que parecia a zombaria do diabo. Um passo, mais um passo. Aquela figura que descia do céu noturno para o mundo inferior enquanto fazia ondulações coloridas sob seus pés era quase um mito.

— Gosto mais da lua crescente que da lua cheia. Não é tão brilhante que afugenta a escuridão da noite, porém, ela decora esta maravilhosa escuridão com cores. Sua forma que desenha um arco se parece com o sorriso da deusa da noite.

Ele, Kosuke, estava olhando para tudo, com um gesto exagerado como um ator de teatro. Ele abriu as mãos como se quisesse abraçar a noite inteira, no entanto, não vendo ninguém responder, ele encolheu os ombros. E então, ele girou devagar, colocou a mão que segurava a espada curta atrás das costas e a outra mão ergueu os óculos de sol, ele então recuou um pouco o pé esquerdo.

A propósito, essa rotação, e também sua pose de chuuni, é claro, era tudo sem sentido.

— Você... você, quem diabos, é você?

Como esperado da chefe do departamento de segurança. A Chefe Magdanese perguntou a verdadeira identidade de Kosuke enquanto todos estavam sem palavras e entravam em um estupor vendo a situação impossível. A situação era muito anormal para ser descartada como um truque. No final, estava mesmo correto classificar o homem que estava fazendo essa pose no ar agora mesmo como parte da humanidade...

Essa pergunta surgiu em meio a tanta dúvida.

Em relação a isso, a resposta de Kosuke foi:

— "O que é você?"... eu acredito que essa pergunta deve ser feita a todos vocês.

— O que, você quer dizer com isso?

A Chefe Magdanese retornou um olhar afiado, mesmo se sentindo perplexa. Para isso, Kosuke girou mais uma vez e, em seguida, ele levantou os óculos de sol com uma mão enquanto, ao mesmo tempo, jogava a cabeça para trás com a ponta da espada curta apontada em um movimento drástico.

— Ó guardiã da nação. É exatamente como você disse antes, há poucas coisas que podem ser protegidas usando belos ideais. Sem a determinação de se sujar, o que estará nos aguardando será uma arbitrariedade.

Os olhos da Chefe Magdanese se arregalaram com as palavras de Kosuke. Ela nunca imaginou que ele faria uma declaração que afirmava suas próprias palavras. Parecia que Vanessa e Emily também estavam igualmente chocadas com isso. Emily ainda estava abalada, sem conseguir se recuperar de sua agitação, e Vanessa arregalou os olhos do choque que recebeu.

— Apenas sentir é insuficiente. Nada pode ser feito sem resolução. Tentar resistir ao destino sem se sujar, algo assim nem pode se tornar uma história engraçada.

Essas foram palavras pesadas. Embora não soubessem nada sobre esse jovem, eles entenderam que ele havia passado por uma experiência tremenda. Eles entenderam como isso tinha sido gravado em seu corpo.

— É preciso escolher o que eles devem proteger. É preciso persistir em cumprir a própria vontade, superando a distinção entre o bem e o mal. Desejar tudo, isso só é possível para alguém que transcende a extremidade dessa vontade.

Proteger o grande navio que era o país da maldade e hostilidade que espreitava em todo o mundo era impossível com a lei da justiça. Era impossível resistir apenas com a conduta correta e com belos ideais. No momento em que alguém xingava que o outro era covarde ou algo pior, o que eles perderam não voltaria.

"Proteger" era quase um empreendimento impossível, mais do que os humanos podiam imaginar.

Portanto, Kosuke não negou a face oculta deste país. O ato da organização inexistente que era chamada Agência JD. Se havia coisas que não poderiam ser protegidas sem essa existência, isso era inevitável.

Contudo, ainda assim...

— Mesmo assim, há coisas que não devem ser descartadas.

Sim, foi por isso que Kosuke estava aqui. Ele estava lá, com a lâmina desembainhada. Ele revelou a técnica e a força que obteve no final dos combates mortais, juntamente com uma experiência amarga, em outro mundo.

— A humanidade e a justiça na alma.

Isso não devia ser esquecido. Mesmo que o corpo estivesse sujo de um mal necessário, a alma não deveria apodrecer com ele. Caso contrário, um dia o mal necessário seria degradado em mero mal.

— A fé no seu coração.

O povo acreditava neles porque eles protegeriam a segurança deste país. Essa fé não deveria ser traída. Se isso fosse traído, todo o fundamento seria abalado.

— A sinceridade na sua determinação.

Sua determinação estabelecida, seu juramento, deviam ser cumpridos com fidelidade. No momento em que fizeram um compromisso, essa decisão perderia sentido e mostraria suas presas até para os que deveriam ser protegidos.

Assim como a situação atual.

— Ó guardiã. Emily Grant não é alguém que você também deve proteger?

— ...

A Chefe Magdanese não respondeu. Ou, possivelmente, ela não conseguiria responder.

— Ela nasceu neste país, cresceu neste país, viveu neste país. Uma garota como ela, não é alguém que você deve proteger? Mal necessário... não vou rejeitar isso. Mas, no final, Emily é alguém que deveria ter uma coisa dessas apontada contra ela? Encurralar alguém que está fazendo o seu melhor, uma garota que deseja criar um remédio para uma doença incurável, é dessa segurança nacional que você está falando?

Ao ouvir a pergunta de Kosuke, houve pessoas que ficaram com expressões complicadas entre a tropa especial, havia até pessoas que pareciam culpadas. A expressão da Chefe Magdanese não mudou. No momento, ela estava olhando diretamente para Kosuke sem qualquer desconforto.

O rapaz também olhou de volta para a mulher como se esperasse sua resposta. Ainda em sua pose chuuni.

Quanto tempo eles ficaram assim? Em pouco tempo, a Chefe Magdanese suspirou e abriu a boca:

— Eu também, sou o cão do meu país. Não sinto autodepreciação ou arrependimento disso. Sem mencionar a hesitação, não sinto nada disso. Eu já tomei minha decisão.

Essa foi a resposta dela.

Allen lançou um olhar penetrante que durou apenas um momento no capitão do esquadrão especial e no agente. O capitão do esquadrão especial enrijeceu um pouco a mandíbula e, ao mesmo tempo, o agente recuou um pouco.

Kosuke sentiu isso. Eles estavam planejando transformar Allen e o esquadrão especial em peões descartáveis, a fim de evacuar a Chefe Magdanese deste lugar. O agente pretendia correr para o carro para permitir que Magdanese escapasse.

Isso deveria ser admirado, ou era algo irritante? O que fez Kosuke hesitar em chegar a uma conclusão foi a falta de hesitação em Allen e nos soldados do esquadrão especial. Para deixar a chefe fugir, eles aceitaram o fim sem sequer um momento de hesitação.

— Essa é a determinação e sinceridade de vocês?

Eles coagiriam uma garota de seu próprio país, a fim de protegerem as pessoas da nação. Apesar da opinião de Kosuke de que isso foi colocar a carroça na frente dos bois, essa foi a resposta do departamento de segurança. Eles sabiam muito bem disso, mesmo assim, se era isso que sua terra natal decidiu, eles não hesitariam. Para isso, eles decidiram colocar suas vidas em risco há muito tempo.

A Chefe Magdanese falou:

— Sobre o prédio de pesquisa, essa foi uma falha triste da nossa parte. Também não conseguimos detectar a traição de Kimberly e também como os alunos de Down iriam causar uma comoção. Foi meu erro fazer Allen se infiltrar sozinho.

Ela nunca esperava que os guarda-costas que protegiam "Berserk" fossem substituídos pelos cúmplices de Kimberly. Naquele momento, Allen fez o alarme soar por causa da reação dos guarda-costas que era diferente dos habituais agentes treinados, e ele ficou surpreso com a conduta inesperada dos guarda-costas falsos.

— Não tenho desculpa para isso.

— Tal coisa, mesmo se você disser isso...

Emily ficou furiosa ao ouvir aquele pedido de desculpas que foi dirigido a ela. Ela questionou se essa mulher planejava pedir perdão apenas com aquela frase. A mulher não entendeu o quão grande foi a perda que a garota sofreu devido a suas ações?

Mas, ao que parecia, em contraste com a sentença dela, a Chefe Magdanese não tinha nem um pingo de intenção de pedir perdão. Seus olhos ainda estavam frios, mesmo ao receber a raiva de Emily de frente.

— Todos vocês, isso é uma ordem. Cumpram seu dever.

— Sim senhora!!

A Chefe Magdanese recuou. Ao mesmo tempo, Allen saiu correndo do círculo em direção a Emily enquanto o agente se virava em direção ao carro. Os olhos das tropas brilharam com sua intenção assassina final, e eles estavam prestes a puxar o gatilho contra Kosuke no meio do ar.

Isso aconteceu nesse momento.

Bang!, bang!

Dois sons de tiros ressoaram.

— Muh!

— !?

Eles não vieram do esquadrão especial. Também não surgiram de Allen.

Um tiro perfurou o corpo de Kosuke, e o outro atravessou um dos agentes enquanto perfurava o ombro esquerdo da Chefe Magdanese.

A mulher caiu com o impacto com respingo de sangue se espalhando. E então, Kosuke caiu no chão realizando um arco.

— KOSUKEEEEEEE!

— KOSUKE-SAN!

Emily e Vanessa gritaram alto.

— Chefe!

— ... protejam a chefe!

Allen, que estava correndo, fez uma curva que ignorava a estrutura do corpo humano, enquanto levantava uma voz que expunha sua agitação e desconforto pela primeira vez. Com o comando do capitão do esquadrão especial, vários soldados usaram seus corpos para cobrirem a Chefe Magdanese como um escudo e arrastaram seu corpo em direção à parede.

Emily e Vanessa correram para onde Kosuke estava caindo. Emily abraçou o rapaz com uma expressão e choro, e junto com Vanessa, ela puxou seu corpo para a cobertura de um carro.

A segunda onda de ataque não veio. Parecia que o franco-atirador ficou incapaz de encontrar uma linha de fogo. Mesmo assim, todos ficaram parados enquanto vigiavam os arredores. O corpo de Kosuke estava mole sem nenhum movimento.

Não ficou claro quanto tempo se passou. Talvez tenha sido cerca de algumas dezenas de segundos. O capitão do esquadrão especial deu uma olhada e viu que os primeiros socorros a Chefe Magdanese estavam terminados e ele estava prestes a ordená-los a sair, mas várias luzes atravessaram a área.

Aquelas eram luzes dos faróis dos carros. E elas não vieram de apenas um ou dois carros. Mais de dez carros disparavam contra eles com velocidade feroz.

Vários carros chegaram derrapando antes de pararem e tomarem uma posição que circundava as pessoas do departamento de segurança e do grupo de Emily. Os carros foram parados horizontalmente e bloquearam qualquer caminho de fuga.

Vanessa e a Chefe Magdanese franziram os cenhos por terem uma certa pessoa vindo à suas mentes ao ver este método que era repulsivo, mas astuto.

Parecia que a expectativa delas estava correta.

— Eii, honorável Chefe Magdanese. Que inveja ver você tendo uma reunião clandestina fora da cidade à noite. Deixe-me participar também, tá?

— Kimberly.

Quem saiu de um dos carros foi Kimberly, que ostentava um sorriso nojento. Com isso como largada, dezenas de homens armados também saíram dos outros carros. Eles não pareciam treinados como os soldados do esquadrão especial. Eles pareciam mais degenerados e violentos; se tivesse que ser dito, eles eram homens que pareciam membros da máfia.

Allen e Vanessa tentaram se mover. Mas, como esperado, Kimberly não deu nenhuma abertura e notou-os.

— Ooops, vocês dois, não se movam. Especialmente o analista-kun. Afinal, você é má notícia. Apenas tente. Se você se mover só um pouco, eu vou massacrar todos sem piedade.

Kimberly ordenou que seus homens destravassem suas armas. Embora as pessoas que tinham resolvido morrer agora não obedecessem a instrução dele com tanta facilidade, ambos olharam para as armas levantadas mesmo com essa diferença esmagadora na força da batalha.

— Bem, acho que sim. Não há como a chefe apenas aceitar isso. Aconteça o que acontecer, você é a "pedra angular da proteção da Grã-Bretanha" ou "a mulher de ferro que se casou com a Grã-Bretanha". Além disso, você também tem má sorte.

Kimberly deu de ombros enquanto observava o braço esquerdo da Chefe Magdanese que estava com sangue escorrendo. E então, ele voltou seu olhar para a razão pela qual não matou a Chefe Magdanese e todos os outros presentes.

— Então, chefe-sama. O que diabos é isso?

No final de seu olhar estava o flácido Kosuke, que só parecia um cadáver imóvel agora, e a figura de Emily, que estava abraçando o rapaz.

— As elites da seção de assalto do Departamento de Segurança foram quase destruídas em poucos minutos. Além disso, ele revelou uma técnica incrível semelhante à flutuação no ar. Quando ouvi o relatório do atirador e assisti o vídeo gravado, pensei que meus olhos iam sair de suas órbitas, sabia?

O olhar de Kimberly deixou Kosuke e vagou para o ar. — Bem, deve haver um fio ou algo no ar. — Parecia que ele pensava que o que Kosuke fez foi um truque, considerando as palavras que ele disse.

Embora, mesmo sendo um traidor, ele era um membro do departamento de segurança, e por causa disso, Kimberly sabia o quão poderosa era a seção de assalto. Parecia que ele queria saber a razão de um grupo como esse ser encurralado e encontrar a devastação de forma impotente. Essa foi a razão pela qual ele deixou as tropas ficarem vivas até agora.

A Chefe Magdanese distorceu sua expressão de forma cínica para tal Kimberly.

— Não há como eu saber o que é aquilo. Aquilo é... sim, isso é "algo" que o conhecimento humano não é capaz de compreender. De acordo com as palavras daquela coisa, ele é o braço direito do rei demônio, algo desse tipo.

— Rei demônio, o quê? Que tipo de piada é essa? Aquilo é...

— Me chamando de "isso", “coisa”, "aquilo" já há algum tempo, isso é um pouco indelicado, não é?

Uma voz de repente reverberou. Kimberly e seu grupo foram surpreendidos, e eles olharam ao redor. A Chefe Magdanese balançou a cabeça com uma expressão que parecia um pouco cansada ao dizer: — Aa, como eu pensava.


Nota do Autor (Ryo Shirakome)

Muito obrigado por ler essa história.

Muito obrigado pelos pensamentos, opiniões e relatos sobre erros de ortografia e palavras omitidas.


Nota

1 ― Referência a Naruto. O Tonjutsu (literalmente "Técnicas de Fuga") é um tipo de técnica com características desconhecidas que, aparentemente, permite o uso de transformações da natureza únicas.



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