Arena Coreana

Tradução: Victor

Revisão: Rose Kethen


Volume 1

Capítulo 1: Hyun-Ho Kim (1)

Existem 7 bilhões de pessoas no planeta. Suponho que desse total, 3 bilhões são compostos por bêbados loucos. Gostaria que esses 3 bilhões de pessoas morressem. Gostaria muito disso…

O trabalho de meio período da madrugada de hoje na loja de conveniência foi particularmente difícil. Por volta de 01:00 da madruga, um palhaço bêbado começou a tomar um monte de cervejas sozinho. Completamente bêbado e sem sequer pagar, ele começou a comer batatas fritas, sorvetes e lulas secas.

Quando eu disse a ele para pagar e tentei pará-lo, o maluco começou a dizer que até alguém como eu o estava menosprezando, indo ao ponto de dar socos na minha direção… Até pensei em chamar a polícia, mas isso parecia que geraria mais aborrecimento, então apenas acalmei o homem.

Cansado de seu ataque de raiva, o homem saiu chorando. Sua vida deve ser uma droga também. A visão dele se afastando era tão lamentável. Mesmo assim, isso não lhe dá o direito de fazer minha vida também, certo?

Eu encerrei meu turno e voltei para casa.

Meu “querido” porão de um cômodo, escuro e assustador. Um depósito de 5.000.000 won e aluguel mensal de 300.000 won¹.

Ele é frio no outono, mais frio no inverno e, curiosamente, este “belíssimo” calabouço ainda é frio nas noites de verão. E de bônus, com goteira.

Joguei minhas roupas e me arrastei para baixo dos meus grossos cobertores. Mesmo que esteja frio, porque não há aquecimento, eu sou um cuzão estranho que não pode mudar o hábito de dormir nu.

Quando estava prestes a dormir, o celular começa a tocar em uma chamada.

Era uma ligação da minha mãe.

— “Ótimo”…

O final de um dia merda tem que ser com a mamãe. Ela está obviamente ligando para me importunar.

— Foda-se, que seja.

Decidi não atender. Posso dizer para ela que já estava puxando um ronco e não vi a ligação.

Quando as vibrações pararam, percebi que minha mãe desistiu da ligação, quando desta vez houve um tim, me alertando que era uma mensagem de texto.

[Mãe: Filho, não finja estar dormindo. Atende logo o telefone. Se não fizer, sua mesada vai ser cortada.]

Oh… Mas é claro.

Assim que o celular tocou, eu atendi.

— Oi?

— Filho, por que não atendeu o celular na primeira chamada?

— Porque pretendia dormir.

— É mesmo? Nosso filho é "tão" hyoja².

— Bem, você já sabe...

— E você já sabe também, né? Mesada cortada.

Mais uma vez usando o dinheiro para me controlar. Você acha que, só por conta disso, vai me fazer colocar o rabo entre as pernas?

— Eu sinto muito.

Fez. E coloquei bem rápido. E a minha mãe apenas riu.

— E você está estudando bem?

— Acabei de voltar do trabalho. Eu vou fazer isso quando acordar

— Um segundo ano de concursos e ainda consegue dormir?

— Pare de cutucar a ferida.

— Filho, não interprete mal, apenas ouça o que a sua mãe tem a dizer… Sua cabeça é como uma pedra, e eu não acho que a sua vida tenha sido destinada a estudar. Por que não volta para casa e administra a loja de frango frito com a mamãe?

Um golpe rápido, sem aviso. É uma declaração direcionada, sem espaço para mal-entendidos.

Em choque, eu gaguejo uma resposta: — Uh, mã-mãe. É porque eu não estudo, mas minha cabeça é boa.

— Isso é o que pensava também, dois anos atrás. Mas agora não vou te sobrecarregar com expectativas inúteis. Mesmo que a criança não vá à escola, o trabalho de um bom pai seria encontrar o emprego que melhor se adequa ao seu filho.

Seu tom estava me dizendo que o trabalho que me servia era o negócio de frango frito.

Senti medo e respondi rapidamente: — Mãe… por que não me dá outra chance? Se eu falhar no exame desta vez, vou passar o resto da minha vida fritando o frango como você deseja.

— Claro. Filho, no ano que vem você terá 30 anos. A filha do dono da loja de conveniência do lado seguinte é dois anos mais nova que você e já é casada e tem dois filhos. Você sabe o quanto os donos de lojas de conveniência se gabam de seus netos?

— Mais uma vez com isso.

Aquela velha gorda da loja de conveniência. Ela deve ter se gabado de seus netos para a mamãe novamente.

— Eu me pergunto quando meu filho vai conhecer uma garota e se casar…

— Que tal eu descobrir minha própria vida um pouco primeiro, então podemos falar sobre uma nora e netos, de novo.

Me pergunto que doida gostaria de um bastardo fazendo concursos aos 29 anos?

— Então, esqueça tudo e volte para casa para o frango fri…

— Eu vou desligar agora. — Apertei o botão de encerrar chamada e, em seguida, tirei a bateria também.

Frango frito, 30 anos, nora, netos, frango frito novamente. É a combinação assustadora que sempre me derruba. Quem quer viver sua vida fritando frango?

Não estou de maneira alguma menosprezando para o negócio de frango frito. Minha mãe vendeu aqueles frangos fritos em um ritmo alucinante para mandar todos os seus três filhos para a faculdade.

Mas, eu odeio trabalho duro. Só quero ser um funcionário do governo. Quero viver a minha vida se arrastando para o trabalho, recebendo um salário fixo e chegando em casa todas as noites em ponto, como um relógio.

Na minha frustração, soltei um suspiro. Afundei em meus cobertores e fechei meus olhos.

Eu podia sentir a frustração nas extremidades do meu peito. Uma contração e aperto, como uma espécie de opressão.

Ah, foda-se, isso é tudo só de estresse. Tudo vai ficar melhor depois que tiver uma boa noite de sono. Então, eu dormi.

E, assim, sonhei…


Notas:

1 – Cotação de 1 won equivale a 0,00035. Os valores então seriam, em reais, R$ 17313,47 e R$ 1038,81, respectivamente. 

2 – Hyoja significa um bom filho; uma criança que cuida dos pais.



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