Arcanum Brasileira

Autor(a): Gabriel Barrenha


Volume 1

Capitulo 0: Um futuro além da minha visão

Ponto de vista desconhecido — 14 de dezembro de 2010, em uma vila remota. “O grande continente, Arcanum.”

A fumaça negra cobria o céu da noite, iluminando a vila abaixo com um brilho infernal.
Aquilo não era um campo de batalha — apenas uma vila, pequena e indefesa, sendo destruída por uma fração insignificante do meu exército. Ainda assim, o espetáculo tinha o seu charme, que crescia a cada grito de desespero que ecoava, nítido até aqui do alto.

Observava do topo de um penhasco. Noventa metros abaixo, tudo queimava. Árvores, casas de barro, palha e tijolos ardiam em vermelho vivo. Uma noite iluminada pelo fogo da ruína.

Entre a fumaça e os escombros, vi uma mulher. Corria com dificuldade, um bebê nos braços. O choro estridente perfurava a cacofonia da destruição.

Meu coração acelerou. Ver minhas bestas ceifando vidas era satisfatório — mas exterminar com minhas próprias mãos... isso era transcendental.

Ergui a mão, como reflexo. Uma esfera de luz se formou na palma. Senti um sorriso se abrir em meu rosto.

Milhares de anos, e o prazer ainda era o mesmo.

Mas até eu posso ser misericordioso.

Boom.

O disparo atingiu a mulher e a criança. A explosão varreu tudo num raio de dez metros. O choro cessou. Ao menos, aquele bebê não sentiria dor — seus membros foram dilacerados em um instante.

Respirei fundo. A mistura do ar gélido com o calor das chamas era revigorante.

— Meu Senhor. — A voz da Fox veio de trás. Fiel como sempre, ela se ajoelhou. — Trago notícias que podem lhe interessar.

— O que foi?

— Os Hofirman do sul, do segundo grupo, tiveram mais um filho, um garoto chamado Neri.

Aquilo me paralisou. Mais um Hofirman? Não estava nas previsões do oráculo. Meu peito apertou. Algo estava errado.

— Um Hofirman que eu não previ? — Virei-me para ela. — O que sabem sobre esse garoto?

— Ao que parece... ele nasceu sem poderes.

Franzi o cenho.

— Outro Hofirman sem dons? Já é o segundo...

— Sim, mas... — ela hesitou.

— Mas? — repeti.

— Me perdoe, Senhor. — Ela curvou-se até o chão. — Mesmo sem poderes, um Hofirman ainda é um Hofirman. Representam uma ameaça.

Ela estava certa. Um Hofirman não precisa de dons para derrotar batalhões de soldados médios. Eles nascem para o combate. É a natureza deles.

E, ainda assim... o oráculo não o viu.

Que tipo de ameaça ele representa?

Não... sem poderes, ele não machucaria os soldados de elite. Nem arranharia a armadura de Fox.

— Envie Cherry com um grupo de vigilância. Observem a criança até completar três anos. Talvez os poderes apenas não tenham despertado ainda.

— Sim, meu Senhor.

Voltei os olhos para o cenário abaixo. Os civis estavam mortos ou presos — servirão para experimentos futuros. Minhas bestas banqueteavam-se com os cadáveres jogados no chão.

Inspirei fundo.

— E quanto à família Snow? A maldição se cumpriu?

Fox estremeceu. Um brilho doentio iluminou seu rosto. Ela vivia para o sofrimento alheio.

— A princesinha de gelo vai crescer sem a sua mamãe. — Um sorriso distorceu seu rosto.

Soltei uma gargalhada que abafou o lamento das vítimas.

— Então nem mesmo os Snow conseguiram quebrar a maldição?

— Não, meu Senhor. Foi glorioso ver o verme do Jack implorando pela vida da esposa e da filha.

Fox era uma criatura medonha — mas previsível. Duzentos e cinquenta anos, e ela continuava a mesma.

— Isso é bom. Dê as ordens a Cherry. E veja como anda Ofir no extremo oriente. Não creio que tenha problemas, mas as famílias Tesla e Behemoth são imprevisíveis.

— Como desejar.

Ela desapareceu como fumaça, deixando-me sozinho com meus pensamentos.

— Um Hofirman que eu não vi? — murmurei.

A cicatriz em meu rosto queimou.

Como esquecer a noite em que a morte se apresentou a mim na imagem de um mero mortal?! A primeira vez em que o meu próprio sangue escorreu pelo rosto.

Um simples mortal... Apenas um. Com o Espaço nas mãos.

Mas ele desapareceu há cinquenta anos. Se voltasse agora... não me feriria de novo.

Então por quê?

Será que esse garoto...

Não. Impossível. Não pode ser.

— Neri Hofirman... — sussurrei, cerrando os dentes. — Vamos ver do que é capaz.

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora