Volume 2

Capítulo 84: O Berço da Paz

Tarde, 01 de fevereiro 1591 – Grande Continente, Pacem.

– Pacem!... Pacem é um grande lugar paradisíaco com a maior variedade de flora do Grande Continente, tem também cachoeiras, vulcões de água, rios e lagos, muitos insetos, tanto que afugentam muitas pessoas e atraem estudiosos e amantes da natureza, já os animais maiores e de outras espécies são escassos.

Esse foi o lar de Rafael, o Primogênito, um dos primeiros Electi a criar “A Relíquia”, a magia dele era soberana e ele fez esse lugar isolado de todo e qualquer poder que não seja puramente divino, todo o ser vivo que entra dentro dessa área tem seu poder anulado, algumas magias conjuradas e ativadas antes de entrar aqui continuaram ativas, mas são raros os casos, por esse motivo há poucas pessoas que vivem aqui, longe do perigo de magia, mas também, longe da proteção dela.

Kyran olha para a paisagem e comenta:

– Me parece justo.

– Sim, a população daqui é vegetariana, animais de grande porte são afugentados pelo poder divino que há aqui, da mesma forma esse poder que afeta nossa energia, ela afeta dos animais também, deixando-os mais fracos e confusos.

– Por isso que todos nós nos sentimos mais fracos e cansados quando entramos?

– Sim, um ótimo lugar para a reunião entre os reinos, líderes, chefes e outros.

– Desculpe minha pergunta minha rainha, mas aqui não é confortável para a senhora.

– Erèm, por favor, me chama pelo meu nome Kyran, se não vou começar a chamar você só de “soldado”.

– Desculpe.

– Estamos em uma conversa informal, você pode ficar mais relaxado, parece que até quando dorme você está em guarda.

Rosanne olha atentamente e comenta:

– Ele tem mesmo esse estilo fechado, acho difícil ele se soltar.

– Verdade, já foi difícil convencê-lo a vir conosco, mas espero que esta viagem o ajude a ficar mais tranquilo e animado... Eu gosto de ficar um pouco neste estilo rústico, antiquado e clássico, claro que muito tempo aqui eu morreria, já estou acomodada com mordomia e muita carne, mas um lugar assim é bom para refletir e relaxar às vezes. Não acham?

Rosanne concorda com a cabeça, Peter um pouco distante concorda fazendo sinal com a mão e Kyran fica pensativo.

– Verdade, e aqui é um lugar divino também, dá um ar de tranquilidade.

Kyran permanece sério, Peter está arrumando uma pequena cabana que parece que foi usada há um ano, Rosanne está descascando e cortando algumas frutas em uma cesta, Erèm está admirando a paisagem e alguns guerreiros de Libryans se acomodam na frente de um lago próximo. Erèm respira fundo e se aproxima de Kyran.

– Obrigada por ter vindo, quando mais companhia melhor.

– Foi um prazer, mas porque chegamos tão cedo?

– Eu queria evitar possíveis contratempos, como não houve, ficaremos aqui aproveitando o lugar... E já que estamos aqui, eu queria conversar com você.

– Comigo? Por quê?

– Senti que você está muito fechado, isolado ou até triste... Conte-me mais sobre você.

– Não quero ser grosso, mas meus sentimentos não são importantes.

– Acha que uma rainha como eu não saberia o que é importante?

– Não quis dizer isso.

– Sei o que você quis dizer e discordo, você é um descendente de Ivo, você foi treinado e criado na Floresta de Pando, correto?

– Sim.

– Devo muito a esse “clã”, vocês são seres extraordinários, não que eu dê prioridade a algum ser, eu vejo todos os seres dignos de respeito, mas confesso que vocês são meus favoritos, não só pelo fato de vocês gostarem do que gostam e amarem de uma forma tão intensa a ponto de ir contra muitos, mas o lugar que vocês criaram para fugir dos opressores é fantástico.

Kyran sorri e Erèm se anima:

– Um sorriso? Que ótimo! Viu? Esse ambiente é agradável.

– Onde será a reunião?

– Venha comigo que eu vou te mostrar.

Kyran e Erèm andam um pouco até chegar em uma área mais elevada, nela há um grande lago com uma pequena ilha no meio, dez pontes pequenas e simples feitas de madeira ligam a borda do lago a ilha do centro,, a água do lago é cristalina com flores diversas flutuando, o lago parece emanar uma energia pacífica que acalma a alma e a mente, Erèm vê que Kyran gosta do lugar e questiona:

– Lindo, não?

– Sim senhora.

– As dez pontes foram feitas para representar os dez Electi atuais, a primeira reunião realizada foi com eles, por isso foi feita esta construção, e aquela ilha no centro era onde Rafael dormia, é chamada de “Deus Curou”, e lá será a reunião, como fazemos todos os anos.

– Não é perigoso?

– Não, o lugar deixa as emoções mais tranquilas e como esse lugar neutraliza a nossa energia, torna este o lugar mais “seguro” possível, já houve intrigas antes, mas como ficamos cansados ao entrar nesta área todos pensam bem antes de agir hostilmente, até nossas habilidades de luta ficam enfraquecidas.

– Por isso que a senhora veio antes? Para se adaptar a área e não se sentir tão fraca no momento da reunião?

Erèm admira Kyran e responde sorrindo:

– Um pouco, digamos que eu uni o útil ao agradável, pois esse lugar é muito belo.

– E se sairmos, não há emboscadas?

– É possível, alguns deixam um pequeno exército e alguns guarda-costas na saída de Pacem no caso de haver alguma traição.

– A senhora só veio conosco, não seria melhor tem vindo com mais soldados?

– Não, vocês são o suficiente, não para batalha, mas para companhia, já fiz várias reuniões como esta, e nada é tão perigoso como o que é dito na própria reunião, uma palavra mal dita ou mal interpretada pode matar muitas vidas inocentes.

– Entendi.

– Kyran, quem te treinou em Pando?

– Yurizoku.

– E por que saiu? Normalmente vocês vivem sempre por lá.

– Jhon passou um tempo estudando na Floresta, como há muitos perigos ele se abastecia e descansava em Pando, ficamos amigos e decidi segui-lo, ajudá-lo.

– Fácil assim?

– Como assim “fácil”?

– Você seguiria “qualquer um”?

– Claro que não, mas Jhon se tornou um grande amigo, e quero protegê-lo... Além de eu amar exploração.

– Amar exploração?

Kyran fica tímido desviando o olhar e Erèm continua:

Yurizoku aprovou?

– Não, nem um pouco.

– Conheço um pouco o temperamento dela, ela é durona, não?

– Sim, muito.

– Mas você não foi expulso nem deserdado, ou foi?

Kyran fica um pouco nervoso, mas se abre para Erèm que conversa com tom acolhedor:

– Não, eu sai sem brigas, um outro líder de lá conversou comigo e me ajudou nessa decisão “difícil”.

– Outro líder? Musou?

– A senhora o conhece?

– Sim, ele me ajudou muito no meu amadurecimento... Musou... Foi ele quem te incentivou a seguir essa paixão por “exploração”?

Kyran diz sim fazendo sinal com a cabeça e Erèm sorri espreguiçando seus braços.

– Temos um bom tempo aqui, vamos fazer o seguinte, eu te conto sobre minha experiência na Floresta de Pando e você me conta mais detalhes sobre sua paixão por “exploração”, certo?

Kyran sorri ainda tímido e concorda.

– Certo!

Quatro dias se passam com o grupo de Erèm acampando em Pacem, todos exploram um pouco e conversam com alguns moradores do local, Erèm e Kyran contam suas experiências na Floresta de Pando, criando um amor materno entre os dois, depois de alguns conselhos Kyran fica mais extrovertido e mais empático.

Kyran adquire mais experiência em batalha com um pequeno treinamento com Erèm e Peter. No quinto dia o grupo de Erèm fica na borda do lago na ponte que liga a ilha “Deus Curou”. Deus Curou é uma ilha com poucos metros de extensão, grama baixa, algumas arvores, rochas grandes.

No centro há uma grande pedra parecendo uma mesa, quadriculada, naturalmente lisa, reta, achatada e com dezoito pontas, ao redor desta pedra há algumas outras pedras menores, colocadas há algum tempo para serem usadas como assentos, Erèm está vestindo toda a sua armadura e armada com sua espada e escudo, ela está sentada em uma das pedras na mesa de pedra esperando o início da reunião.

A sua frente estão alguns de seus papéis e pergaminhos e o fragmento de um escudo, outros líderes chegam a borda do lago e se preparam para ir a ilha para iniciar a reunião, de tempo em tempo os líderes chegam a ilha e permanecem em pé um pouco distante da pedra, esperando que todos cheguem.

Quando todos os líderes chegam na ilha a reunião se inicia, cada líder coloca alguns papéis sobre a mesa junto com um fragmento de um escudo, Onirdnaxela chega, se aproxima da mesa de pedra e diz:

– Bom dia a todos...

Ele usa a magia do “Eterno Rei” que deixa por uns segundos todos com uma aura reluzente revelando a descendência de cada um por serem reis ou líderes por direito. Erèm levanta e interrompe Onirdnaxela dizendo com um tom sério:

– Me desculpe senhor, mas hoje eu vou mediar, ou melhor, administrar essa reunião.

Todos se olham desconfiados e Erèm continua a falar:

– Por favor, “Iluminado”, sente-se aqui perto de mim, todos já o conhece, não?

Todos ficam desgostosos com a situação e Erèm inicia a reunião.

– Eu sou Erèm Mutter Mor, herdeira, soberana e rainha do país Libryans, falo em nome das seis cidades que formam esse belo lugar, Winfrey, Ada, Curie, Hipácia, Joan e Quitéria. Aqui na mesa estão os documentos dos líderes me dando o poder de falar por eles.

Erèm senta, Onirdnaxela senta ao lado dela e inicia a reunião com os líderes sentando um a um depois de se apresentarem.

– Eu sou Cassios Etiel líder e chefe de Copus Lithy.

Cassio é um homem humano, idade entre quarenta anos, estatura e porte físico médio, pele branca, cabelo raspado, olhos escuros, aparência comum com uma cabeça bem arredondada e grande, ele está usando armadura leve feita com pouco metal, muito couro e pano, o estilo das vestes que ele usa lembra um sacerdote, mas mais fortificado para batalhas corpo a corpo.

– Eu sou Ivan Brow, primeiro capitão do Império de Cristal, e hoje falarei em nome dos meus irmãos que estão resolvendo outros assuntos.

Ivan Brow, homem humano, pele branca, estatura alta, porte físico forte, cabelos lisos, pretos e curtos, ele está usando uma armadura leve que cobre todo o corpo, uma capa preta, uma lança de três pontas e um elmo grande e aparentemente pesado, ele tira o elmo e o deixa sobre a mesa junto com seus pertences.

– Eu, Nycollas Sapidum, mestre de Coniuro ao dispor da reunião.

Nycollas Sapidum é um homem, aparentemente humano, idade entre trinta e cinco a quarenta anos, pele clara, olhos azul-claros, cabelos loiros, curtos e arrepiados, magro e alto, ele usa uma túnica com tons claros de verde, azul e amarelo, ele está carregando um belo cajado feito do um galho de um árvore antiga, cravejado com estilhaços negros do meteorito Zordrak.

– Bom... Eu sou Malrilem a quarta filha do clã Sulzi.

– Eu Mari Luz a terceira filha.

– Eu sou Marrival, o segundo filho.

– E eu sou Marilne, primeira filha e matriarca da família Sulzi, eu falo em nome de nossa mãe Áurena Sulzi nessa reunião.

Os irmãos Sulzi são humanos, tem estatura média, porte físico forte, mas acima do peso, idade entre cinquenta a sessenta anos tendo pouca diferença de idade entre eles, todos de pele morena, cabelos crespos, marrons e curtos, todos usam roupas leves com couro de “grandes animais”, peitoral de metal ou prata com o nome de suas cidades cravado nele, nenhum deles estão armados e demostram cansaço pelo poder do lugar.

Erèm olha e questiona:

– Ainda não existe representante do Marino Sulzi?

– Não, não houve luta pela herança ou liderança, por isso a vila dele está sob a tutoria de nossa mãe, então falo por essas terras também.

– Ótimo... Sikdar Rad?

– Odeio essas formalidades, todos aqui já sabem meu nome e minhas intenções nessas reuniões, o clima aqui é desagradável e pouco confortável para alguém da minha estatura.

Erèm sorri lembrando de Onurb que sempre reclama das coisas e comenta:

– Eu te entendo, se mantermos o foco a reunião será objetiva e rápida.

Sikdar Rad é um Dionamuh-M, tem quase cinco metros de altura, porte físico forte, idade entre noventa a cem anos, ele usa uma armadura corporal pesada bem chamativa para o seu tamanho, ele senta um pouco distante da mesa de pedra, ao seu lado uma clava grande com espinhos de metal, ele usa uma coroa simples rústica como um cristal negro bruto sem ser lapidado. Todos veem a grosseria do jeito dele se acomodar fazendo barulho, estragando o gramado e fazendo o chão tremer pelo impacto que ele faz em colocar sua clava e seu peso sentado no chão.

– Cativante e simpático como sempre, não?

– Como achar melhor.

– Certo...

– E Musou?



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