Volume 2

Capítulo 81: Electi das Trevas I

Manhã, 01 de fevereiro 1591 – Ego Sum, Caverna Portia.

Ego Sum é uma grande ilha com uma muralha alta na extremidade, ela é rodeada de gelo grosso e maciço, a ilha contém uma aura protetora na parte de dentro da muralha que deixa a temperatura estável para a população, deixando também o lugar livre de ventos fortes, tempestades e nevascas.

A ilha é repleta por cavernas que é aonde a maioria da população vive, poucas estradas e ruas foram feitas nas elevações da ilha, algumas torres e casarões são os lares dos protetores da ilha, uma grande montanha é o lar dos mais velhos e da Electi que rege o lugar.

Nessa montanha há varias cavernas com bifurcações para aposentos construídos no interior da montanha, a ilha é bela, tendo pouca intervenção na sua estrutura, ao longe nem se percebe a existência de seres vivos morando nela, as construções são bem forradas e preparadas para o frio, mesmo com a aura que envolve a ilha às vezes a temperatura fica baixa.

Dentro das cavernas a aura protetora da ilha deixa a temperatura mais agradável permitindo a população viver sem precisar de roupas para o frio, é época de meses de sol favorecendo a flora da ilha chamando a atenção e a admiração dos moradores e dos visitantes, a ilha tem poucos animais, os poucos que existem são bem cuidados e domesticados pela população para que vivam bem, seguros e confortáveis.

No interior das cavernas onde vive a população, são cultivados vegetais e frutas para a alimentação do povo, a pesca e outros alimentos, são transportados por barcos vindo de outras Ilhas de Electi e de vilas aliadas do Grande Continente.

Embaixo das cavernas existe um lençol de água pura para todos, alguns poços foram construídos em lugares estratégicos para auxiliar na utilização dela, a ilha tem um tom escuro, mas acolhedor por manter a forma natural dela, em outros lugares muitos moldam a natureza para viverem, mas nesta ilha eles se moldaram para viver junto com a natureza, ganhando assim uma grande admiração de Alexia, Ray e Maxmilliam.

– Ray? Vamos, acorde!

Ray acorda e vê Onurb usando uma túnica branca presa em um ombro deixando o outro exposto e um cordão grosso amarrado na cintura.

– O que você está vestindo?

– Foi uma exigência para vermos o Electi, levante-se e se vista com o seu pano de chão.

– Pano de chão?

– Não sei o nome disso. Só espero que não seja necessário sair, aqui está quente, mas lá fora está frio.

– E onde estão os outros?

– Te esperando! Vamos logo “líder”, quanto mais cedo vermos esse Electi, mais cedo saímos, odeio esse lugar, vou ficar doente com tanto frio em um lugar e calor em outro e nem preciso andar muito para ter esse choque térmico.

– Não é para tanto.

– É sim, eles aqui estão acostumados... Vamos, levante!

Onurb sai do quarto batendo forte a porta, Ray levanta, cuida de sua higiene matinal e se veste com a túnica que estava na cadeira ao lado da cama, um tecido grande, retangular e branco, ele sai do quarto e é abordado por um senhor simpático.

– Bom dia, todos o esperam.

– Obrigado já estou a caminho.

Ray segue o senhor até o lado de fora da caverna, Alexia, Anirak, Baltazar, Maxmilliam e Onurb estão aguardando Ray, todos com o mesmo estilo de vestes da cor branca. O senhor olha para todos e diz:

– Ótimo, estão todos reunidos, agora podemos seguir, por favor, sigam-me.

Todos seguem o senhor subindo em uma estrada estreita que circula a grande montanha, no caminho o grupo analisa a vista, um lugar agradável e bonito.

Depois de uma caminhada todos chegam perto do topo, uma caverna maior com algumas escritas no local de entrada, Ray admira identificando como símbolos dos Electi da primeira, segunda e da terceira geração, ainda seguindo o senhor todos entram na caverna, todos demonstram estar sonolentos por terem sido acordados tão cedo.

No fundo da caverna sem bifurcação é possível ver uma luz forte, uma pedra aparentemente mágica, em um pedestal perto da parede no salão bem lapidado feito no fim da caverna, bancos e mesas de pedras e rochas, alguns jovens sentados em frente de um palco, todos estão usando o mesmo padrão de roupa que o grupo de Ray veste.

O senhor anda pelo corredor até chegar no palco feito com a rocha da própria caverna e diz:

– Minha senhora, seus convidados estão aqui.

 

No palco a Electi, uma mulher loira de estatura média com idade aparente de cinquenta anos, porte físico normal, magra, cabelos curtos e lisos, olhos azul-claros, uma beleza comum, mas com um semblante e sorriso empático e atrativo, ela está usando um belo vestido fino branco, com peitoral, braceletes e sandálias de ouro, na mão ela usa uma lança em miniatura de trinta centímetros.

 

Para articular a história que está contando para seus alunos, ela se aproxima do grupo e com um ar amigável diz:

– Bom dia, vocês são o Koètuz, não? E você deve ser o Ray?

– Sim, eu sou Ray.

– Você é bonito como seu pai, parabéns... Por favor, sentem-se vou terminar minha aula e já falaremos, tudo bem?

– Sim senhora.

Ray e os outros se sentam, o senhor sai da sala e a Electi volta a falar com os jovens:

– Voltando ao que eu estava dizendo, magia, todos nós temos um dom próprio focado em um ponto específico, poderes elementais, mente, corpo, entre outros que já falamos antes, mas a questão que vocês me trouxeram hoje foi: “Se temos poder, porque não podemos usá-lo dentro do corpo vivo de outro ser”. Vocês não podem, porque é impossível, esse mesmo poder dentro de vocês serve como “ataque” e “defesa”. Por exemplo, se um mago consegue criar fogo, por que não criar fogo dentro do corpo de um inimigo? Porque não, nosso criador, Deus, fez nos a sua imagem, mesmo tendo raças diferentes, nós somos elementos feito pelo divino e assim somos “perfeitos”, imunes a esses poderes hostis, por isso atacamos com magia o alvo ao invés de criar magia dentro dele.

Uma menina questiona:

– E magias de curas?

– Essas magias não são agressivas, mesmo tendo alguns que usam essa “propriedade” para fazer mal. Ela funciona da seguinte forma, o corpo está frágil, doente ou machucado, a magia de um curandeiro diz para o corpo alvo que ele está lá para ajudar e auxiliar, seria como se você desse parte de seu poder para esse ser que você quer ajudar, o corpo entende essa bondade e aceita esse vínculo, por isso que magias de curas são “aceitas” em outro indivíduo... Já houve relatos de pessoas que não queriam viver, então elas ficaram imunes à magia de cura.

– Essa regra vale para todo ser vivo?

– Seres intelectuais sim, animais mais simples são facilmente encantados, manipulados e até mortos por magia, lembrando que os Grandes Animais são animais com intelecto, então eles entram na nossa regra.

Onurb pergunta:

– E magia que controla a mente ou corpo dos outros?

– Gênero peculiar de magia, eu diria até raro.

– Ray aqui tem o dom de atrair esse tipo de raridade.

O grupo demostra insatisfação pelo comentário do Onurb, a Electi ri e responde:

– Certo, essa magia que faz seus inimigos de fantoches, afeta as extremidades do corpo, como se tivessem cordas conectadas nos pontos principais dos nossos nervos e os controla, mas a nossa própria mente tem mais força do que essa magia, o conjurador tem que ser mais forte que seu alvo... Eu diria que seria mais fácil controlar itens inanimados.

– Como corpos mortos?

– Sim, já houve caso assim... Qual o seu nome querido?

– Onurb...

– Onurb, ótimo... Respondi sua pergunta?

– Sim, e mudar algo no corpo de alguém?

– Transmutações são possíveis, são até muito utilizadas no “Antigo Mundo”, mas esse poder dura pouco tempo, por causa dessa defesa que eu falei.

– E uma mudança de sexo?

– Como disse?

Anirak e Alexia tentam interromper Onurb, mas a Electi diz:

– Não se preocupem, aqui toda dúvida é bem-vinda...

A Electi fica pensativa, desce do palco e se aproxima do grupo de Ray.

– Ouvi falar de alguns casos de seres que nascem com a mente do sexo A no corpo do sexo B, não coincidindo com a maioria de nós, eles não identificam a própria natureza do corpo.

Onurb estranha e comenta:

– Não, sexo macho e sexo fêmea.

Ela ri e continua:

– Forma de dizer, mente de homem no corpo de mulher ou mente de mulher no corpo de homem.

– Isso! É possível?

– Sim, entra na regra que falei, se a mente identifica o próprio sexo como um “problema”, ele pode ser auxiliado por outro ser com mais poder para mudá-lo, mas uma mudança permanente requer muita habilidade e poder.

Todos ficam admirados com a explicação e animados com a aula.

– Respondido?

– Sim...

Baltazar também fica interessado e questiona:

– Minha senhora, quero aproveitar a situação e perguntar.

– Claro, mas me chame de “você”, e você é?

– Eu sou o Baltazar...Gostaria de saber sobre esses poderes que atacam a nossa mente e que diminuem as nossas capacidades.

– Essas magias que debilitam a outra pessoa são auxiliadas por itens naturais, toxinas, por exemplo, seres muito poderosos conseguem usar só com o próprio poder. Essas magias mentais, podem te deixar desacordado, atordoado ou até desligar os seus sentidos e são bem elevadas, elas entram na regra da “cura”, são magias de propriedade “boa”, mas usadas para o mal, mesmo assim somente seres poderosos conseguem usá-las com facilidade.

– Mas porque propriedade “boa”?

– Porque inicialmente, a utilidade dela era para ajudar, um exemplo que eu posso dar é, algum paciente com muita dor, antes de ajudá-lo o conjurador poderia amenizar ou até dissipar a dor até que o tratamento fosse feito.

– Muito bom... Obrigado.

– Não por isso. Pelo seu porte eu diria que você é um guerreiro, de qual gênero?

– Náutico.

– Deveria ter suspeitado, essa pele bronzeada e resistente ao sol, mas você está um tempo longe dos mares, não?

– Sim, tive alguns afazeres no Grande Continente e fiquei fora do sol e da água salgada.

– Entendi, deve estar caótico por lá não?

– Sim... Esse amuleto!

Electi olha Baltazar mostrar o amuleto que Maxmilliam fez para protegê-lo de um estilo de magia.

– Que interessante... Maxmilliam que fez?

– Sim.

– Incrível, muito bem feito, digno da altura de um Mestre de Magia.

Maxmilliam se orgulha e Onurb comenta:

– Digno por quê? Ele só fez um para um de nós.

Electi responde:

– É difícil fazer esse tipo de amuleto protetor, existe uma grande margem de erro para energizar um item inanimado, tanto que essa proteção pode se dissipar a qualquer momento.

Baltazar questiona.

– Esse amuleto não me protegerá sempre?

– As chances da magia se dissipar são baixas, o difícil mesmo é criar o item mágico, lembrando que ele pode ser destruído também, não deixe que seu inimigo saiba que você o usa, tem magos com experiência para agir contra amuletos assim.

– Por que não vejo outros magos usando?

– Porque ele o protege de um tipo de magia e ao mesmo tempo dificulta ou até impossibilita você de usá-la, você como um guerreiro não sentirá essa “desvantagem”, pois não usa magia.

– Interessante...

Onurb fica curioso e pergunta para a Electi:

– Tenho outra pergunta... Eu perguntaria para o velho mágico, mas ele se sentiria ofendido... Eu vejo Maxmilliam usando magias fortes, por que ele não as ensina e foca em usá-las somente nas batalhas? Sei que gasta energia, mas ele é poderoso...

Maxmilliam fica bravo e diz com cinismo:

– Não imagino de o porquê eu me ofenderia.

– Eu disse que você é “poderoso”, foi um elogio.

A Electi ri e responde:

– Magia, além de gastar energia Onurb, ela precisa ter um equilíbrio, imagina uma luta desarmado, você dá um soco com a mão esquerda, para fazer uma “sequência” você usara outro membro para atacar, pois será mais difícil usar a mesma mão, certo?

– Sim.

– Com magia é parecido, quanto mais variedades de magias usadas, mais o conjurador consegue recuperar energia e instabilidade para conjurar outra já usada, além de surpreender o oponente, usar o mesmo chute em uma luta não facilita o oponente a se defender dele?

– Verdade, nunca pensei por esse ponto.

– Alguns seres mais treinados e poderosos até conseguem usar o mesmo poder e energia de forma sequencial, deixando-os até mais forte do que eram, mas são casos raros.

– Bom falar de casos raros, como disse, Ray é ótimo em atrair essas raridades.

Ray interrompe:

– Desculpe, mas gostaria de saber sobre “maldições”, como um coma mágico.

Ela olha com suspeita para Ray e sorridente responde:

– Calma Ray, chegaremos lá, mas já que perguntou, explicarei a parte teórica... Existe magias de extremo poder, mas só podem ser usadas com o sangue Electi, não que você precise sacrificar um para poder usar esses poderes, mas precisa ser um ou ter o sangue de um em mãos.

Um jovem questiona.

– Se tiver o sangue de um Electi conseguimos usar magias mais fortes?

– Sim e exclusivas também, infelizmente não conheço o verdadeiro poder do sangue Electi, do meu sangue. Esse rapaz que está aqui é Ray Blok W, filho de heróis chamados de “Imortais”, ele está com um amigo afetado por uma maldição que protegia a relíquia de um sangue espirituoso.

Todos os jovens se espantam e ficam inquietos conversando entre si.

– “A Relíquia”?



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