Volume 2
Capítulo 136: A Redenção do Ignorante
– Eu mato quem se aproximar da casa!
Um trovão ecoa nos céus e um raio que cai entre eles, o impacto e a eletricidade se expandem mais do que um raio comum, empurrando os homens, fechando portas e janelas do casarão, mas não afeta Onurb, após cessar o impacto, no lugar onde caiu o raio surge uma adaga.
– Nagga?
Nagga está flutuando esperando ser pega, a presença de uma arma Zordrak dentro da Magia Electi intriga Christopher.
– Como isso chegou aqui?
Onurb pega Nagga que o envolve em uma eletricidade que arremessa todas as joias, insígnias e broches de sua roupa, alguns desses itens machucam alguns homens, que avançam atacando Onurb.
No percurso esses homens revelam serem demônios, ganhando deformidades em seus corpos, mau cheiro e uma aura estranha, Onurb identifica seus inimigos e se prepara para lutar.
– Demônios!
Os demônios o cercam e atacam com adagas e espadas, Onurb avança com tudo, dando ataques fortes e precisos e matando rapidamente seus inimigos, ele vê que o foco do grupo não é ele e sim o casarão e volta a proteger a entrada.
Os que abrem a porta ele mata e os joga para longe da porta, as crianças gritam deixando Onurb preocupado que olha para ver se tem algum demônio lá dentro, ao olhar, Christopher o ataca com uma energia fria que o joga para dentro do casarão.
Ele logo se levanta e se posiciona para o combate falando de uma forma animada para as crianças.
– Meninos e meninas, lembram-se das nossas aventuras?
Elas recuam inicialmente, mas depois começam a se atentar nas ações e nas palavras de Onurb:
– Vamos lá, vocês se lembram do “Forte do Raposo”?
Algumas crianças se animam e respondem Onurb, enquanto alguns demônios batem nas janelas tentando arrombá-las.
– Raposas são fracas, mas são espertas!
– Isso! O forte está em ataque, vamos para o plano um, lembram-se dele?
Algumas crianças se questionam desanimadas e ainda com medo, mas outras mais motivadas por Onurb falam com as outras, lembrando do plano de se esconderem em esconderijos bem elaborados do casarão, elas correm para cantos do casarão se escondendo, alguns demônios entram pela porta e correm atrás das crianças.
Onurb se posiciona e impede o avanço deles dentro do lugar mantendo a luta na entrada, os ataques de Onurb parecem não causar muitos danos, mas a eletricidade e a ressonância de Nagga fere muitos deles até com golpes simples, dando vantagem para Onurb na batalha que está em desvantagem numérica.
– Uma arma digna.
Cada um que ele mata vira um pó de gelo, que o vento leva para fora do casarão, alguns consegue arrombar algumas janelas e a porta dos fundos, Onurb grita para as crianças ouvirem:
– Plano dois! O Raposo é o pior?
Algumas respondem:
– O Raposo é o melhor!
Elas acionam armadilhas em toda parte de dentro do casarão, entre elas estão alçapões, portas e janelas secundarias para as que foram destruídas, gosmas, fumaças, veneno paralisante, líquido fedorento, gás de pimenta e barricadas que fortificam os esconderijos de algumas crianças.
Todas as armadilhas prejudicam e atrapalham a movimentação e as ações dos demônios, dando total vantagem para Onurb que corre pelos cômodos, corredores e escadas do casarão matando todos, alguns conseguem destruir as barricadas chegando perto de atingir as crianças, mas Onurb as salva e tenta tranquilizá-las.
– Viu? Eles são feitos de neve, não precisam ter medo.
– Como os truques do vovô?
– Isso!
Um menino se aproxima do pó gelado e Onurb avisa empurrando-o amistosamente.
– Mas não toque, pode dar coceira.
Onurb volta a enfrentar os demônios e percebe que a quantidade deles diminuiu junto com a temperatura do lugar, o frio está forte e uma ventania tenta entrar no casarão, fazendo as portas e as janelas estremecerem, Onurb volta a gritar para as crianças que o respondem em seguida:
– Raposa boa é?
– Raposa viva!
As crianças se ajudam e se movimentam pelo casarão enquanto Onurb termina com os últimos demônios, após matar o último, a porta e a parede da entrada são destruídas e Christopher entra falando em um tom diferente de antes, sendo mais sério e intolerante:
– O Raposo? Que meigo, não imaginei que um ladrão, covarde, assassino e imoral teria simpatia com crianças esquecidas.
– Com tantas qualificações ele só pode estar falando de mim.
Onurb corre para chegar rápido ao térreo para contê-lo antes que ele encontre alguma criança:
– Eu estou lembrando aos poucos de tudo... O Império de Cristal não foi destruído... Ainda não...
– Recuperou a memória, que pena, mas isso não muda os fatos.
Atrás de Christopher surgem lâminas de gelo que voam até Onurb para feri-lo, com boa agilidade, acrobacia e com a adaga Nagga ele consegue escapar e se defender de algumas, depois da última lâmina ele ataca algumas adagas que Christopher pega no ar facilmente e as joga no chão.
– Esperava mais.
– Você não me recrutou, eu que vim aqui para pedir a sua ajuda.
– Ajuda? Por que eu devo ajudar você? Você mesmo viu as coisas que você fez aqui.
– Tudo não passou de uma ilusão.
– Não!
Christopher grita fazendo o vento parar, ele se aproxima e afirma:
– Não sou esses magos que brincam com ilusões tolas, tudo o que você passou dentro da magia foi obra da sua mente fraca, desejos ocultos e reprimidos que mostram quem você realmente é.
– Eu nunca abusei e nem maltratei ninguém.
– Será mesmo? A história contada por um agressor é sempre diferente do agredido, por que isso?
Onurb se cala e pensa sobre os fatos e aonde o Electi quer chegar, Christopher olha para os lados e diz com surpresa:
– Então o “Raposa viva” é um plano de fuga, as crianças fugiram.
– Surpreso?
– Ainda não.
Christopher levanta os braços e a casa é destruída, virando uma neve leve que é levada por uma pequena brisa, revelando a Onurb que ele está em um lugar ártico onde só se vê neve e gelo e um céu um pouco nublado. Onurb sente muito frio e Christopher continua a falar:
– Você sempre repudiou muitas pessoas, principalmente os desdentes de Ivo, “As Adéa” não, pois não deve ter tido muito contato, mas os “Ivo” sim.
– Eu era muito jovem e imaturo.
– Mas ainda continua imaturo, não?
Christopher aponta para sua direita e uma criança surge em cima de uma camada fina de gelo mostrando ter uma quantidade grande de água gélida por baixo, Onurb reconhece a criança e demostra tristeza.
– Ele não.
– Então você lembra? Você bateu nesse menino, um amigo seu de infância, e depois de ele ter reagido e ter ganhado de você na briga você ficou com mais ódio dele, você foi criticado pelos seus, por ter perdido por uma abominação, como vocês o chamavam mesmo? “Veado”, algo referente ao animal veado suponho, mas até hoje, eu como Electi, não entendo a mente pequena de vocês, até uma formiga a meu ver tem mais utilidade para as suas do que vocês para os seus.
– Eu mudei...
– Que prova tem disso? Você matou Brent tão rapidamente e sem questionar, em sua mente a magia criou um laço de amizade entre vocês, mesmo ele sendo um servo, e no fim você o matou.
– Eu me senti mal depois.
Christopher diz com ironia:
– Você se sentiu mal? Por que não me avisou antes? Então está tudo resolvido!
Christopher se aproxima e diz sério:
– Se você “agressor” se sente mal agora, pode imaginar o agredido? No caso seria um morto, mas estamos na Magia Electi, muita coisa aqui é diferente.
Christopher se afasta e em sua frente a neve se eleva, formando um boneco de neve com uma cara triste e com lágrimas de gelo, o vento leva a neve e revela Brent por baixo, Onurb se assusta e Christopher diz:
– Como os agredidos reagirão depois? Pedirão paz? Entenderão que a sua ignorância impede você de se um mortal melhor?
Onurb fica irritado e se posiciona para lutar.
– Quer lutar? Então lute! O que você quer de mim? Sou falho eu confesso, mas eu tento mudar... A imagem que você usou, esse à minha frente é um monstro, não por gostar de outros homens ou sei lá o que mais, mas pelos seus atos.
– Então ele deve morrer?
– Para salvar a vida de outros sim!
– Ouviu isso Brent? Mostre então que ele está certo!
Brent desaparece e aparece atrás de Onurb, ele o ataca com uma espada de gelo e Onurb se esquiva, Nagga parece dar muita vantagem para Onurb por fazer ele se esquivar e aparar facilmente os golpes de Brent que luta com tudo, Onurb o fere algumas vezes, mas não consegue fazer nenhum ferimento grave.
Brent usa várias vezes sua técnica de desparecer e aparecer do outro lado de Onurb para lhe dar vantagem tendo muitas chances de matá-lo, mas Onurb se defende tendo ferimentos leves, em pouco tempo Onurb se adapta a técnica e volta a ter vantagem matando Brent, cortando a garganta dele com Nagga que neutraliza o próximo contra-ataque de Brent.
Onurb se afasta e em seguida vê Brent virar gelo e pó, Christopher fica um pouco admirado e diz:
– Sua técnica de luta é boa mesmo, tenho que admitir.
– Obrigado, é bom ser reconhecido.
– Eu tenho outras coisas para fazer e acredito que você também, então vamos logo ao teste final, já que você conseguiu não ser consumido por sua própria ignorância.
– Teste final? Simples assim?
– Simples? Estou surpreso por achar tudo isso “simples”.
– É que você não sabe como é andar com o Ray, você ficaria surpreso pelas coisas que ele atrai.
– Ray? Estou curioso para conhecê-lo... O protegido de Úrsula.
Onurb lembra que Ray tentou contato com ele para que acordasse do transe da magia.
– Ele falou comigo...
O vento para, a temperatura melhora e Christopher diz, apontando para a criança que ainda está em pé no gelo:
– Aquela criança representa a sua redenção.
A criança muda de forma para um homem com trajes femininos não combinando com seu corpo másculo, Onurb estranha e Christopher continua:
– Posso ver que estranhou a chave da sua conclusão.
– Ele precisa mesmo usar aquelas roupas? Está frio aqui.
– Ele quer estar daquele jeito, isso te incomoda?
– Mais do que ele mesmo.
– Eu já disse, ele não está incomodado, ele se sente bem daquele jeito.
– Certo... O que eu devo fazer? Não tenho que beijá-lo, tenho?
– Não... Você é um mortal muito estranho, mas é sincero.
– Isso é um elogio?
– Sim, um elogio... Tanto que sou ciente que mortais são falhos, você pode não gostar ou não aceitar aquele ser, mas deve respeitá-lo como qualquer outro ser da criação, então prove a sua sinceridade... você sabe muito bem que aquela imagem não é verdadeira, então mate-o.
– Matá-lo?
– Sim, se você não gosta desse tipo de “gente”, mostre que você realmente não gosta, você é sincero, não é?
– Mas...
– Não se preocupe, é só um ato que representa o que você sente, não afetará nada fora da Magia Electi.
Christopher teleporta Onurb para próximo do homem que está ajoelhado no gelo e sem expressão, Onurb olha para o homem, vê que os olhos dele ainda lembram a criança que estava lá antes, associando os meninos que ele cuida em Coniuro e ele mesmo se questiona:
– E se um deles for?
Christopher ao longe pergunta.
– Se um deles for o quê?
– E se um dos meninos for assim... Ou uma das meninas...
– Você vai rejeitá-los?
Onurb começa a chorar lembrando o que muitas crianças passaram e lembrando também de seu sofrimento quando criança.
– Muitos órfãos já são rejeitados por várias situações...
– Uma a mais ou um a menos fará diferença?
– Sim... Muita!
Onurb se aproxima do homem e antes de encostar nele o gelo quebra, o homem afunda e um vento forte afasta Onurb, ele se esforça para se aproximar do homem que demostra estar se afogando na água gelada e Christopher diz alto:
– Onurb, você não pode mentir, se você não matá-lo você ficara preso no gelo e morrerá.
Onurb se lembra das palavras anteriores de Christopher e diz baixo lutando contra o vento:
– “Aquela criança representa sua redenção”!
Ao se aproximar Onurb vê que o gelo se formou novamente, deixando o homem abaixo do gelo tentando sair, ainda lutando contra o vento, Onurb usa Nagga para quebrar o gelo e diz:
– Não vou rejeitá-lo, aquelas crianças... Não só elas... Todos merecem ser tratados bem, não é um gosto ou forma que denomina quem ou o que eles são, mas sim os o caráter e amor pela criação...
Onurb se lembra de seu mestre lhe dizendo isso e usa toda sua força para quebrar o gelo.
– Pai, eu nunca vou esquecer-me do que você me ensinou e o que você me deu.
Ao longe Christopher sorri, o reverencia e diz baixo, enquanto desaparece:
– “O Desejo de Deus”...
Ao quebrar o gelo Onurb nota uma nevasca se aproximando, ele consegue puxar o homem para fora do gelo com o corpo todo congelado entrando em estado de hipotermia, Onurb sem pensar abraça forte o homem e diz como se falasse com todos os descendentes de Ivo e Adéa.
– Me desculpe... Nunca quis desrespeitar vocês...
O homem troca de forma várias vezes e rapidamente para todos aqueles que Onurb já criticou e já teve algum ódio oculto, todos aqueles que ele já teve preconceito por serem de cor, raça, classe, origem e de gostos diferentes ou peculiares, a nevasca cobre Onurb que abraça mais forte o homem, lembrando-se do seu amigo de infância.
– Me desculpe, trocamos socos fracos, mas insultos fortes que mataram nossa amizade...
Onurb ouve a voz de Christopher dizendo:
– Você provou o seu oculto Onurb, ser sincero consigo é a melhor das bençãos... Eu sempre soube que você bateu no seu amigo, pois tinha medo de que ele fosse embora para Pando e deixasse você, pois ele era seu único amigo.
– Sim...
– A partir daí você teve ódio de todos os semelhantes a ele, fechando sua mente e coração, criando um preconceito antes realmente de conhecê-los.
– Não quero fazer mais isso...
– E não fará... Matar essa imagem representaria que você não gosta deles, mesmo assim você estaria livre com o meu poder para ajudar o seu grupo, mas ao salvá-lo você além de tudo isso, ganhou a sua redenção, pois não só hoje e agora, uma vida foi salva.
Onurb abre os olhos e se vê em um lugar com clima agradável, com grama, flores e com um lago em sua frente, ele se afasta e se surpreende ao ver quem ele estava abraçando:
– Lili?
Ela demostra estar cansada, mas com muita felicidade e alívio.
– Onurb? É você mesmo ou é alguma ilusão?
Os dois ouvem a voz de Jason que aparece perto deles:
– Os dois são reais, vocês estão no meu jardim...
Onurb olha para Jason e questiona:
– Quem é você?
Lili responde:
– Ele é o Electi do meu teste.
– Seu teste? E o meu teste?
Onurb olha ao redor e aprecia o lugar dizendo.
– Aqui é bem mais agradável...
– Obrigada por ter me ajudado Onurb.
– Não foi nada, somos um grupo.
Jason diz animado:
– E você realmente me mostrou a redenção de alguém que não via pessoas como você com bons olhos.
Onurb retruca:
– Releve, eu já nasci com maus olhos.
Jason sorri e encara Onurb:
– Uma pena você não ter vindo para o meu teste, eu teria um prazer enorme em ensiná-lo boas maneiras.
– É outra coisa que veio mau também.
– Insolente!
Lili pega no braço de Onurb e o puxa:
– Pare de provocá-lo.
– Não estou provocando, estou sendo sincero e já acabamos nossos testes... Ou não? Você terminou o seu?
– Acho que sim.
Jason diz sem muito ânimo:
– Vocês acabaram sim e espero não vê-los novamente.
Onurb sorri e diz com um tom de zombaria:
– Concordo com isso, viu, no fim somos iguais.
– Nunca!
Jason olha feio para os dois e faz sinal com sua mão, em seguida Lili e Onurb acordam fora da Magia Electi: