Volume 2

Capítulo 108: Sodorra

Tarde, 04 de março 1591 – Grande Continente, Oratio Tenebris

– Já descansamos o suficiente... Vocês sabem que agora é o último momento para se arrependerem e seguirem com suas vidas, ou para continuar com meu plano. O que vocês decidem?

Todos olham uns para os outros e acenam para Leafar, concordando que irão continuar com o plano dele, todos estão em uma sala reformulada por Leafar, todos os cantos, pilastras, paredes, teto e partes do chão estão cobertos por cristais corrompidos que estão encaixados, fundidos ou cravados.

Na mão de Leafar está a lança de Ivan, que está um pouco diferente, ele sorri para todos e admira a lança que emana uma energia estranha e que aos poucos vai se ligando com cada cristal da sala, enquanto tudo acontece Leafar fala:

– Anos de estudo me especializaram mais do que os próprios criadores desse cristal amaldiçoado...

A sala é tomada por uma ventania, os cristais além de brilharem, começam a vibrar, causando um pequeno tremor no local, todos demonstram ansiedade pela batalha, segurando suas armas em posição de batalha e Leafar continua dizendo:

– Sabem de suas tarefas e das limitações que eu dei, não façam nada além.

Todos concordam fazendo um sinal positivo com a cabeça, girando suas armas ou trocando elas de mão esperando a luta eminente, Leafar se anima por ver o moral de todos e informa:

– Como já havia dito, Sodorra tem quatro salas de teleporte e usaremos todas elas!

Leafar aponta sua mão para grupos separados teleportando-os, Leafar diz grupo por grupo para onde irá cada um.

– Um grupo pelo Centro, outro pelo Sul e o último pelo Norte...

Amanda, Chris, Kisnar, Primus, Samuk, Sokushin, Jajesado, Fainaru e outro recrutados são teleportados, antes de chegarem aos seus destinos ouvem a última frase de Leafar.

– Atacaremos por todos os lados, e os destruiremos!

Na sala Leafar fica um pouco pensativo e depois de um tempo ele fica receoso, Ynis entra na sala para avisá-lo:

– Estou indo.

– E o rapaz?

– Surrex?

– Sim, e os outros que decidiram não ir para Sodorra.

– Foram poucos, mas eu fiz um grupo e os levarei em segurança para longe da guerra.

– Ótimo, é bom vocês irem, não será muito agradável daqui para frente.

– Está desagradável há um bom tempo.

– Se você diz...

Leafar estende a mão e um artefato voa em sua direção, uma esfera, grande e negra, que para no ar e fica flutuando ao lado dele, Ynis olha surpreso e questiona:

– Você realmente precisa de um grupo para fazer o que você quer fazer?

– Acha que não?

– Pelo pouco que vi e sei de você, suspeito que sozinho você faça muita coisa.

– Obrigado pela confiança, sou um homem com pouca credibilidade, mas não podemos subestimar o inimigo...

– E eu não subestimo você.

Leafar sorri e energiza a lança, abrindo um portal para outra sala de teleporte em Sodorra, o vento empurra um pouco Ynis para trás, que questiona:

– Essa é a sala dos portões do castelo?

– Sim!

– Você vai sozinho para essa parte da cidade?

– Não... Só vou devolver algo deles.

Leafar vê através do portal alguns magos do Império, tentando fechar a conexão ou tentando atingí-lo com magias que não passam pelo portal, Leafar ri ao ponto de gargalhar, ele demostra um grande esforço reunindo energia e diz depois de reunir poder o suficiente:

– Omnia-quaestio-tempus!

Do outro lado do portal aparece a espada “Bispo”, trincada ao ponto de explosão e congelada no tempo pelos poderes de Leafar, os magos se espantam e, antes de reagirem Bispo explode, o portal some e Ynis por reflexo se assusta, colocando as mãos em frente ao seu rosto.

– O que você fez?

– Eu devolvi a arma que foi usada para nos destruir...

Ynis olha espantado e Leafar diz com ironia:

– Não me olhe assim... Não foi maldade, eu diria que foi “justiça”.

– Melhor eu ir embora, se não, não chegarei a tempo para com meus aliados.

– Certo, eu também vou...

Leafar se envolve em energia conectando novamente todos os cristais da sala.

– Adeus Ynis, foi um prazer.

Ynis sorri e reverencia Leafar enquanto a energia o consome e o teleporta junto com a lança e o artefato, Ynis respira, olha ao redor e diz:

– Sinto muitas mortes a caminho... Guerra é sempre triste, e nunca necessária.

Surrex entra na sala.

– Senhor Ynis? já estamos prontos.

– Bom! Vamos, esse lugar me dá medo.

 

Sodorra é a cidade onde se localiza o Castelo de Cristal, o centro do Império e do Grande Continente, a cidade é dividia por muros e grandes portões, formando quatro níveis diferentes em forma de quadrados, no centro, no primeiro nível está o Castelo de Cristal, ele é imenso e pode ser visto de longe, é fortificado com cristais corrompidos e com várias torres, no segundo nível está a área militar com quartéis, barracas, barricadas e campos de treinamentos, o terceiro nível é dos aldeões, composto por casas para as pessoas que trabalham para o Império, todos os aldeões trabalham muito e têm algumas semelhanças com a escravidão, o quarto nível tem uma grande muralha com mais casas para aldeões, torres para prisioneiros e estábulos para animais de uso doméstico. O maior dos quartéis, no segundo nível, explode pelo poder de “Bispo”, o poder da explosão abala toda a cidade, mata vários homens do Império, destrói metade do segundo nível e suas torres e muros e também destrói uma pequena parte do terceiro nível, e o Castelo de Cristal sofre um pequeno dano, por estar protegido com uma proteção poderosa que se dissipa com o impacto da explosão, os homens do Império entram em alerta, se preparando para o combate, se armando com tudo e preparando os animais de guerra, todos os aldeões correm para salvar seus familiares levando-os para galpões improvisados por eles e alguns esconderijos debaixo de algumas casas carentes da atenção do Império.

 

Leafar surge na sala de teleporte inacabada no quarto nível da cidade, alguns aldeões que trabalham na construção do lugar se escondem e um mago empunhando um chicote, usado para punir os trabalhadores, estranha a situação e questiona demostrando autoridade:

– A sala não está terminada! Como você conseguiu chegar aqui? Quem é você?

– Muitas perguntas e nenhuma lhe importam.

Leafar anda pelo salão, olhando para todos os lados como se procurasse por algo, o mago ameaça atacá-lo e chama por ajuda.

– Guardas! Temos um invasor.

Leafar sai da sala e o mago o segue, ao ver a lança de cristal e a esfera flutuante, o mago fica recuado e observa os passos de Leafar que vasculha o lugar, ao achar uma sala com os aldeões amedrontados Leafar se alegra de uma forma aparentemente maldosa:

– Finalmente... Achei os primeiros inocentes.

Guardas do Império chegam e atacam Leafar com suas espadas, os olhos de Leafar ficam vermelho-sangue, em seguida os guardas se atacam deixando Leafar em paz, os guardas matam uns aos outros deixando todos os que veem a cena, assustados.

– Essas pessoas do Império são estranhas, não?

Os aldeões ficam com medo e fogem, Leafar estranha:

– Eu disse algo errado?

Os aldeões saem do casarão, usando os cantos e evitando entrar na batalha, enquanto os soldados se atacam no meio, o mago usa seus poderes para identificar a magia usada e quem é Leafar, mas não consegue, com raiva ele ataca um aldeão que foge, derrubando-o no chão.

– Miseráveis! Vocês têm que lutar pelo Império.

O mago encanta o chicote e ataca novamente o aldeão, o chicote para no ar dando chance para o aldeão fugir, Leafar se aproxima e diz:

– Na minha humilde opinião, eu acho que chicote já é uma arma maldosa, mas encanta-la para torná-la ainda mais forte, foge do bom senso...

Leafar ri enquanto o mago sente seu corpo paralisado igual seu chicote parado no ar.

– Quem sou eu para julgar, não... Responda-me com sinceridade, você conhece a dor da escravidão?

O mago demostra raiva e tenta fugir, mas sem sucesso, Leafar chega bem próximo do mago e fala em seu ouvido:

– Imaginei que não... Parabéns, hoje você vai conhecer.

Uma força gravitacional joga o mago contra a parede e o mantém lá, o chicote por força de magia chicoteia o mago até a morte, Leafar olha a um pouco a tortura e para os homens se matando e comenta:

– Os soldados daqui são mais fracos dos que eu encontrei na prisão, pelo menos o primeiro turno está fácil.

Leafar sai do casarão e analisa tudo ao redor, seus olhos mudam para várias cores em segundos até voltarem ao normal e diz:

– Uma magia poderosa está no castelo, o inimigo está tentando fugir... Tolo! Trouxe alguém que não consegue conter, patético.

Leafar ri alto e comenta olhando para a área humilde da cidade:

– Os aldeões criaram esconderijos próprios, o Império não consegue ver o que está em seus próprios domínios...

Leafar flutua a poucos centímetros do chão e em grande velocidade se locomove até um alçapão ocultado por aldeões, no caminho ele encontra alguns soldados do Império que o atacam, os golpes são aparados por um campo de energia poderoso, pela esfera flutuante e pela lança de cristal que ele maneja com maestria.

Alguns homens são jogados para trás com seus ataques repelidos e outros são mortos pela lança que atravessa as armaduras facilmente, chegando no esconderijo Leafar estende sua mão e a passagem se abre, ainda flutuando ele entra e vê várias famílias reunidas em uma sala subterrânea suja de terra e lama, todos estão com medo.

Leafar por um momento demostra tristeza por ver muitas pessoas judiadas, maltratadas, doentes e abusadas, tudo por negligência e maldade do Império que servem por anos.

– Quanto sofrimento...

Os olhos de Leafar ficam azul e depois de olhar com atenção ele demostra raiva.

– Um lobo entre as ovelhas.

Leafar aponta sua lança para a multidão e um homem escondido entre os aldeões é puxado até a lança que o perfura, causando grande dano e dor, Leafar o olha com nojo e diz:

– Hoje é o dia do julgamento... Pessoas como você sofrerão antes de irem para o Vale das Sombras.

O homem morre assustando os aldeões, um mais velho se aproxima de Leafar e diz se curvando a ele:

– Por favor, somos trabalhadores do Império, não somos de guerra, poupe-nos.

Leafar joga o corpo do morto para o lado e olha para o idoso dizendo:

– Não se preocupem, pois vocês irão para um lugar melhor do que este aqui, e ao contrário dele, será uma passagem sem sofrimento.

Soldados do Império se agrupam e seguem o rastro de luta e morte deixado por Leafar, eles chegam até o alçapão que leva ao esconderijo e ouvem um barulho alto e uma luz forte saindo da passagem secreta, todos entram correndo e veem Leafar sozinho com um soldado morto ao lado, os homens olham ao redor e questionam:

– O que houve aqui? Quem é você?

Leafar vira de frente para os soldados e diz:

– Todos os que estavam aqui foram libertados desse mundo, de dor e sofrimento.

– O que isso quer dizer?

Outro soldado identifica o soldado morto e anuncia o ataque.

– Aquele é um dos nossos, cuidado!

Todos entram em formação, em posição de ataque e avançam contra Leafar, ele usa sua lança para contra-atacar, neutralizando todos os ataques e facilmente todos os homens, depois de matar o último Leafar energiza a lança e fala:

– Em nome da balança sagrada eu a nomeio “Lança da Justiça”.

Uma fumaça negra sai do corpo de Leafar, o mesmo efeito que é usado para criar suas armas, essa fumaça penetra na Lança e a molda deixando-a negra, mais afiada, mais poderosa e aparentemente indestrutível, Leafar ri e depois sussurra para a lança:

– Com exceção dos Atilados, você buscará todos os corações que se aproveitaram e tiveram prazer no sofrimento alheio... Focando principalmente naqueles que causaram esse “sofrimento”.

A lança parece ganhar vida, vibrando e canalizando energia própria e sozinha, Leafar ri admirando a cena até gargalhar.

– Mande-os para o Vale das Sombras!

A lança sai como um trovão, voando e perfurando homens do Império, a lança perfura escudos, armaduras e destrói armas que são usadas para se defenderem dela. Leafar sai do esconderijo e respira fundo:

– Ótimo, tudo caminhando bem...

A esfera vibra e fala mentalmente com Leafar, ele ouve atento e responde:

– Calma, estamos no primeiro turno ainda, não podemos mostrar tudo que temos... Tem muito poder no lado do inimigo que ainda vai ser revelado. Vamos aguardar o movimento dele.

A esfera se acalma e Leafar diz flutuando novamente:

– Magnífico... Vejo os Atilados entrando em ação...

Leafar ri olhando para o céu e diz:

– Esse dia entrará para a história!

Grupos grandes do exército de cristal se agrupam e se preparam para enfrentar os Atilados em pontos diferentes da cidade, os olhos de Leafar mudam para várias cores, os dando visões de toda a cidade, com exceção da área do Castelo de Cristal, ele tenta uma segunda vez, mas sem sucesso comenta baixo:

– Realmente... O Império tem os grandes de cada classe em seu poder, mas eu trouxe os reis de cada classe para combater...

Leafar ri alto e diz com satisfação:

– Glorioso!



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