Volume 2
Capítulo 103 :Feriado I
Noite, 02 de março 1591 – Grande Continente, Montgolfier
– Ray, eu estou orgulhoso de você..., quem diria que hoje você seria o líder de uma armada e estaria trabalhando para Rainha de Libryans, sua madrinha.
– Nunca imaginei padrinho, quando paro para pensar neste assunto eu tenho até medo de fazer algo errado.
– Não se preocupe Ray, você foi bem instruído e olhe ao redor, estamos em pleno ar na incrível invenção “Montgolfier”, uma como poucas. Estamos indo resgatar inocentes de guerra, antes que a situação piore, não terá como falhar em uma missão como esta.
– Assim espero.
– E você escolheu um grupo bom para ajudá-lo nisso, sem falar dos seus amigos que estão à frente da missão, Baltazar guia o “barco voador”. Onurb, Anirak e Alexia lideram os homens e mulheres selecionados hoje cedo, em um treinamento com várias instruções sobre ataques e defesas. Lili e Jhon irão cuidar das questões diplomáticas em Abraham assim que chegarmos e Kyran é o nosso guarda costas.
Ray olha para todos no convés, depois para a paisagem e diz:
– Mesmo assim padrinho, foi a Erèm que teve a ideia de usar os poderes de Jhon e os seus para ativar uma torre de cristal, para que a gente se aproxime do inimigo e resgate os inocentes.
– Só porque ela teve a ideia não quer dizer que você tenha pouca participação nisso Ray, afinal você foi selecionado para executá-la.
– Mesmo assim...
– Eu sei o que está acontecendo, você evoluiu muito rápido em pouco tempo, o seu costume de “seguir” ordens mudou para dar ordens e você se sente menos útil ou menos importante por temer o erro.
– Sim... Também tenho medo de não ser um bom líder... Eu vejo tantos líderes no Grande Continente fazendo escolhas duvidosas... Muitas escolhas egoístas ou muito ariscadas.
– Você diz isso por causa da reunião que Erèm teve com os reis?
– Sim... Sei que não fazem por mal, mas sim pelo o que acham ser mais certo a se fazer e o melhor para eles e seu povo.
– Sim, mas não se preocupe Ray, você está indo bem, faça uma pequena análise, após as escolhas de ontem, dos homens e mulheres para essa missão, até neste exato momento, você teve alguma reclamação?
– Sim, umas dez.
– Tirando as reclamações de Onurb.
Os dois riem e Ray responde:
– Não lembro, acho que uma.
– É um número bem razoável... Vejamos, a missão é simples e serve como um treinamento de liderança para você, você não está indo reger uma batalha ou uma guerra campal, mas sim guardar uma cidade e se preocupar com os refugiados da batalha que deve estar acontecendo em Sodorra ou arredores.
– Sim, verdade, eu devo estar fazendo muito drama.
– É compreensivo, não se culpe por isso, e esta preocupação também é importante a meu ver, mostra que você está preocupado em cuidar bem de seus subordinados, ou melhor, companheiros e amigos.
– Sim... Meu pai era um líder... Líder dos Octoniões, os Imortais...
Ray demostra se emocionar e Maxmilliam o abraça:
– Ray você sempre foi motivo de orgulho e é incrível você seguir os passos de seus pais.
– Sim, obrigado por estar ao meu lado nisso tudo.
– Sempre, afinal, foi por isso que me convidaram para ser seu padrinho.
Ray abraça forte Maxmilliam e depois os dois olham para a paisagem do céu e Ray fala:
– A noite está muito bonita.
– Sim, mas temo por isso.
– Por quê?
– Nem tudo é o que parece... A noite esta calma, mostrando que algo turbulento está para vir...
– Já ouvi isso antes.
– Sim... Tendo os poderes que eu tenho, me fazem sentir o destino se movimentando, não que eu veja o futuro, mas sem eu querer eu sinto más ou boas vibrações.
– E como te conheço sinto que são más vibrações.
– Sim... Temos que tomar muito cuidado, algo grande e perigoso está acontecendo no Grande Continente e no Império de Cristal.
– Parece Erèm falando.
– Ela estava certa Ray, sei que seu instinto de “herói” é alto, mas não faça nada ousado.
– Certo, eu já entendi isso.
Maxmilliam ri e se apoia na beira do “barco” dizendo:
– Como se adiantasse.
– Como assim?
– Você acha que eu não te conheço Ray, conheci seus pais também, Raquel era assim, se alguém falava “não”, ela ouvia e mesmo assim seguia o que ela achava certo.
– E isto é errado?
– Com tantos ocorridos certos e incertos eu não sei dizer, mas confio em Erèm, se ela disse para não avançarmos, não podemos ir contra a vontade dela.
– Sim, isso eu já sei.
– E é um teste de liderança também, saber ouvir e também ser liderado.
– “Sim senhor”!
– Você me entendeu.
– Entendi sim.
– Bem, se você me der licença, líder dos Koètuz, eu vou beber algo e me preparar para dormir, esse mestre não está tão jovem para virar a noite acordado.
– Fique à vontade, Mestre de Magia.
Maxmilliam se afasta deixando Ray sozinho, que ainda observa a paisagem, depois de pouco tempo Ray anda pelo Montgolfier observando todos no barco fazendo os seus afazeres, alguns estão conversando, comendo e bebendo, sempre que Ray é notado ele é cumprimentado de uma forma bem empática, Ray chega até o leme e vê Baltazar com o semblante otimista:
– Líder dos Koètuz! Algo que eu possa fazer por você?
– Pare com isso, não precisa de formalidade comigo.
– Quero animá-lo, de líder de grupo agora você é um líder de armada.
– É, quem diria não é mesmo?
– Eu diria, com certeza, você merece, lembra do que passamos naquele Império?
– Sim.
– Então... Bem merecido.
– Mas existem ainda homens e até mulheres mais experientes que eu.
– Como assim?
– Acho que os mais velhos deveriam liderar.
– Bobagem... Sua preocupação é por causa da sua idade, por ser um líder jovem?
– Sim, não quero tirar o lugar de ninguém.
– Você acha que para liderar é preciso ter cabelos brancos?
Baltazar ri e continua:
– Não Ray, você não está tirando o mérito de ninguém, só está conquistando o seu... Sei que estamos entrando em uma época que os mais jovens são requisitados, mas os mais velhos ainda são ouvidos e respeitados.
– Será que esta época vai acabar um dia?
– Se acabar espero não estar vivo, porque se não, eu vou dar muita surra em jovens.
Baltazar ri e Ray fica animado com a conversa:
– Obrigado Baltazar... Vou caminhar mais um pouco.
– Isso mesmo, como líder vá ver se todos estão bem, se precisar de ajuda é só me chamar.
– Pode deixar, obrigado.
Ray anda um pouco e vê Anirak e Onurb conversando:
– Eu ainda acho que deveríamos ter chamado mais gente.
– Como Onurb? Se não, esse “barco” não voaria.
– Mesmo assim.
– Não estamos indo conquistar, estamos indo ajudar... Olha Ray aí, nosso líder pode te informar melhor.
– Líder? Ele é o guia da morte, nos levando direto ao Vale das Sombras.
– Só se você tiver pecados.
– Como se alguém nessa “nave” não tivesse.
– Eu sei que eu não tenho.
Anirak ri piscando para Ray, que entra na conversa:
– Calma Onurb, não precisa de um exército só para resgatar refugiados de uma batalha.
– Batalha? Tenho certeza que será uma guerra, e você vai querer ir até lá.
Ray fica surpreso com a alegação de Onurb e questiona:
– Por que diz isso?
– Vejo nos seus olhos, é claro para mim, um jovem com temeridade é um perigo para si e para quem o rodeia.
– Não, prometo que não farei nada no impulso.
– Claro que não, você já está pensando nisso desde de manhã, não?
Ray e Anirak riem e ela se afasta dizendo:
– Onurb está doido, vou pegar algo para beber e ver como estão as meninas.
– “Meninas”? Elas são todas velhas.
Anirak olha feio para Onurb e ele se aproxima de Ray com olhar suspeito:
– Apesar de tudo, você chegou aqui, parabéns Ray.
– Obrigado, mas não teria conseguido sem vocês.
– Ótimo, sempre diga isso, não sei por que, mas muitos acham que não ajudo em nada.
– Não imagino o porquê.
– Não seja sarcástico comigo.
– Desculpe... Eu ouvi a conversa de vocês, você acha que deveríamos ter mais gente para esta missão?
– Você sabe que eu discordo de algumas pessoas terem sido selecionadas para esta missão arriscada.
– Sério... Como quem?
– Eu, é claro...
Ray ri enquanto Onurb explica:
– Eu deveria ter ficado de reserva em Libryans, comendo, bebendo e dormindo naquelas camas maravilhosas.
– Camas?
Onurb puxa Ray para um canto e comenta baixo:
– Não comenta com ninguém, mas conheci umas mulheres interessantes lá, e as “camas” são bem gostosas, se é que você me entende.
– Tudo bem, mas cuidado, não queremos intrigas internas.
– Viu? Você já fala como um líder chato, mas um líder.
– Se isso for um elogio, obrigado.
– Pare de agradecer sempre, um líder não precisa ser tão amável, isso pode diminuir sua visão, veja como se faz.
Onurb puxa Ray e juntos caminham até Alexia, que está comendo e conversando com Lili, chegando perto delas, Onurb diz em alto e bom tom:
– Alexia! Faça um lanche para mim!
Ela para a conversa no momento em que ele fala e responde proativa:
– Para quando senhor?
– Agora!
Alexia pega duas frutas e as joga em Onurb que reclama:
– Você está doida?
– Você que está! Se quer comer, pegue você mesmo.
– Viu Ray, você mimou esse grupo.
Ray ri e Alexia sorrindo pergunta:
– Ele está te ensinando a ser um líder?
– Sim.
– Não consigo imaginar Onurb como líder, apesar de que, para esta missão ele se daria bem, técnicas de fuga e velocidade para casa serão úteis.
Todos riem e Onurb ressalta:
– E não se esqueça de levar alguns itens importantes, afinal, fugitivos precisam de tesouros para sobreviver em outro lugar.
– Onurb, o maior tesouro é a vida, sair com vida, e com seus entes queridos vivos é o que importa.
– Palavras bonitas Alexia, pena que não funciona, ainda mais para onde vamos.
– Discordo completamente, mesmo sendo o Império de Cristal, existem muitos lá que são de bem... O que você acha Ray?
– Concordo...
Lili vê que Ray ficou pensativo e o questiona:
– Algo o perturba Ray, o que é?
– Vou ser sincero com vocês...
Onurb interrompe:
– Com você falando assim é melhor que eu me distancie, não quero ficar com a consciência pesada se for algo que envolva vidas.
Ray puxa Onurb e diz:
– Não vá, por favor, fique, é importante.
Onurb se solta de Ray e cruza os braços emburrecido:
– Certo então... Diga.
Ray pensa um pouco, olha para cada um e ainda com tom preocupado diz:
– Se essa missão fugir do controle, entrar em Sodorra seria uma boa opção?
Onurb inicia sua resposta, mas Ray o interrompe pegando novamente em seu braço:
– Calma! Pense bem, por favor, é algo sério e muito importante.
Onurb se solta de Ray e comenta:
– Ei. Então não me interrompa, eu sei que a situação é séria, estamos falando de várias vidas lá... Já entramos em várias situações de morte por sua causa...
Ray faz cara feia e Onurb continua:
– Contudo, sempre soube nos livrar delas... Eu te apoio Ray, se você quiser entrar e quiser bater na cara de todo mundo do Império, eu estarei com você.
Lili, Ray e Alexia ficam surpresos, Alexia se aproxima de Onurb e diz rindo animada:
– O que deram para o Onurb beber? Eu quero uma dose!
Lili rindo complementa:
– Eu quero duas!
Todos riem e Ray fica surpreso pelo apoio de Onurb:
– Obrigado Onurb.
– Tudo bem, eu sei que sou complicado às vezes, nem sei se essa seria a palavra certa para me definir.
Alexia ri e diz:
– Verdade, eu diria chato, irritante, pessimista...
– Já entendi... Vamos ao problema do líder... Ray, você sabe que lá está muito perigoso.
– Sei sim.
– Mesmo assim, eu afirmo que te apoio Ray, sei que morrerei e serei esquecido, mas se eu for em uma missão dessas, além de salvar muitas pessoas que precisam, posso achar possíveis tesouros únicos do Império e eu posso ter uma fama merecida.
Alexia olha desconfiada e diz:
– Sabia que não seria só por “bondade”.
– Claro que não, é por muitas outras coisas, não sou motivado a um único objetivo.
– A bondade é algo grandioso.
– Para os pobres sim, grandiosas são as coisas palpáveis e que naturalmente brilham.
Ray abraça Onurb e Alexia colocando seus braços por cima dos ombros dos dois e diz:
– Obrigado... E você Alexia?
– Comigo você pode contar sempre Ray, mas a situação é arriscada, cuidado para não pedir demais para a sua armada, tem pessoas que foram recrutadas hoje.
– Pode deixar, se chegar a isso, só o grupo principal vai, o “principal” que eu digo é nosso grupo inicial.
Onurb cruza os braços e desconfiado fala:
– Hmmm... Principal, os que servem para morrer você diz?
– Não! Porque somos mais experientes e já estamos acostumados a lidar com o Império.
– Eu não sou acostumado com o Império não, lá só tem bicho estranho.
– Você entendeu o que eu quis dizer.
– Sim... Mas você gosta de nos levar para o extremo também, eu vou ler aquele diário que sempre vejo você escrevendo, se não tiver boas anotações referente mim eu rasgo ele todo.
Ray se solta dos dois e Lili comenta:
– Não gostei, eu não sou do grupo principal de vocês.
Onurb olha sério para ela e pergunta:
– Éh. Quer ir no meu lugar?
– Para de ser bobo.
– Seria um favor, depois você me conta como foi em Sodorra, se você voltar é claro.
Alexia aponta para Onurb e diz alto:
– Viu? Pessimista!
– Não, eu sou realista... Se Ray nos perguntou isso, é certeza que as chances de entrarmos em Sodorra é grande.
Alexia olha desconfiada para Onurb e pergunta para Ray:
– É verdade Ray?
– Temo que sim.
Onurb ri e diz:
– Teme? Se você teme imagine eu...
Eles riem e Onurb continua a falar:
– Viu? Eu sinto a presença de perigo... ainda mais quando o perigo é contra a minha vida.
Alexia se aproxima de Ray e diz otimista:
– Mesmo assim Ray, não retiro o que lhe disse antes, pode contar comigo, vamos salvar todos que conseguirmos.
– Obrigado Alexia.
Lili olha bem a situação e diz:
– Pelo o que vocês estão dizendo vai ser bem perigoso, melhor eu ficar recuada esperando vocês para dar suporte.
Onurb ri e implora com tom de zombaria:
– Não! Por favor, troque de lugar comigo.
Ray e Alexia dão risada e ela bate em Onurb dizendo:
– Para de drama... Vamos beber algo.
– Vamos!
– E você Ray?
– Não obrigado, vou dar uma volta.
Onurb sorri, e antes que ele inicie outra brincadeira Ray aponta para ele e diz.
– Eu o advirto! Sou líder de uma armada agora, não me provoque!
Todos riem e Onurb diz reverenciando Ray:
– Claro líder dos líderes.
– Debochado.
– Isso é uma atitude de líder, mandar nos outros e colocá-los em seus devidos lugares, eu no seu lugar depois de uma ousadia dessas, mandaria o “debochado” de volta para Libryans.
– Boa tentativa... Que tal ordenar você para ir à linha de frente, uma missão de reconhecimento em Sodorra?
– Retiro o que eu disse.