Volume 1

Capítulo 10: O Touro, o Raposo e a Gata

Ray vai em direção à entrada da caverna do clã dos ladrões e, ao se aproximar, ele ouve um sussurro lá de dentro.

— Você trouxe a joia?

Ray tira a joia de sua mochila, deixa à mostra, e o sussurro questiona:

— Você não contou para ninguém sobre a joia?

O garoto olha para trás e não vê nem rastro de Anirak, e assim responde:

— Ninguém mais sabe sobre a joia.

— Entre!

Ray guarda a joia novamente, entra na caverna e chega ao salão dos ladrões, onde estava sendo esperado por Onurb no altar. A cortina atrás dele estava mais aberta, e podia avistar um senhor sentado em um grande trono rodeado de ouro. Ele usava um grande manto vermelho.

Ray olha ao redor e vê os outros ladrões, mas sem sinal de hostilidade. Baltazar ainda estava desmaiado, deitado em uma cama improvisada de pedras e panos. Onurb começa o discurso.

— Olhem! Impressionante, ele conseguiu… Cadê a joia?

Quando Ray abre sua mochila à procura da joia, o senhor do manto vermelho informa:

— Cuidado! Ele não está sozinho.

O fogo das tochas diminui por uma corrente de ar forte que vem da entrada, como se alguém tivesse entrado depois de Ray. O local fica à meia-luz. Onurb olha para Ray e se espanta por ver olhos amarelos atrás do garoto.

— Assassina!

Anirak sai de trás de Ray correndo e rodeando o altar. Nesse movimento, Anirak saca uma de suas adagas e ataca os ladrões. Com a outra mão, ela saca pequenas lâminas sem cabo e ataca o senhor do manto vermelho.

Onurb tira uma adaga das costas, entra na frente do senhor e apara as lâminas com movimentos rápidos. No trajeto, Anirak consegue ferir dois ladrões, imobilizar três, incapacitar um e, quando atacada, usa outro como escudo contra facas arremessadas e até golpes de espada curta.

Toda vez que Onurb pensava em descer para atacá-la, Anirak atacava com mais lâminas, deixando-o na defensiva e protegendo o possível líder dele ou mestre.

Ray consegue sacar sua espada e batalha com dois ladrões no caminho até Baltazar. Com a distração de Anirak, os ladrões deixam Ray de lado, focando nela, que quanto mais luta, mais estrago causa. Quando Ray se aproxima de Baltazar, o senhor do manto vermelho levanta e diz impaciente.

— Basta!

Anirak, com um combo de chute, empurra um ladrão em cima do outro em direção ao altar, improvisando uma escada para ela subir mais rápido no altar e atacar o senhor. Onurb novamente entra na frente, defendendo o golpe e empurrando-a para trás.

Onurb e Anirak se posicionam frente a frente, esperando pelo primeiro ataque. Os ladrões ajudam uns aos outros, tentando salvar os mais feridos. Ray tenta acordar Baltazar, mas para a fim de ver a luta no altar. Para tentar tomar o controle da situação, o senhor diz para Anirak:

— Garota, não precisa ser assim, sabe que não sairá viva daqui.

— Precisa, sim, pois vocês todos morrerão aqui.

— Tola!

Onurb avança mirando com sua adaga as partes superiores de Anirak, enquanto ela ataca as suas partes inferiores. Os dois mostram ter muita habilidade e agilidade com a adaga, conseguindo esquivar e aparar os golpes. Ray fica surpreso por ver tanta agilidade de mãos e tronco.

— Um único erro pode dar a vitória para o outro, incrível.

O senhor ouve o que Ray falou e olha para ele com um ar desconfiado. À medida que os golpes vão sendo aparados e esquivados, Onurb e Anirak mudam de sequência, alternando em socos, chutes e mais golpes de adaga em outros pontos vitais.

Para melhorar os ataques, Anirak saca outra adaga e faz uma grande sequência de golpes na arma de Onurb, que, com sucesso, o desarma, mas Onurb consegue sacar uma pequena faca de um de seus braços e de raspão acerta o pescoço de Anirak, que contra-ataca com um soco no estômago, e, ao se curvar, desmaia Onurb com uma pancada com o cabo da adaga em sua nuca.

Ela se sente fraca, mas ataca o senhor do manto, que com alguns golpes de mão nua a desarma e a segura pelo pescoço.

— Ele mirou certo, no pescoço o veneno se espalhará rápido.

Anirak fica fraca e totalmente imobilizada, e cai até desmaiar. O senhor continua:

— Desnecessário terminar assim.

Ele larga Anirak no chão e verifica se Onurb está bem, checando a pulsação no pescoço. Ray se manifesta:

— Não queria que terminasse assim.

— Sim, mas terminou.

— Como?

— Você me ouviu, essa mulher, esse brutamonte e você… A história termina para vocês.

O senhor demonstra hostilidade e se prepara para fazer algo. Ray tenta interromper:

— Não pode, eu trouxe a joia.

Ray pega a joia de sua mochila. Ao segurá-la, ela ganha novamente a cor dourada, deixando o senhor do manto vermelho espantado.

— Ouro?

— Pode me dizer pelo menos o que esta joia é? O que representa? Por que ela causou tudo isso?

Os ladrões se posicionam para atacar Ray, mas param quando veem o sinal do senhor indicando para recuarem. Ele se aproxima um pouco, observa Ray e em seguida começa a rir sem controle. O garoto fica sem entender. Onurb recobra a consciência e levanta com dor na barriga e na nuca.

— O que houve?

O senhor volta a sentar no trono e, ainda rindo, lhe diz:

— Eu falei, eu falei…

— Você a trouxe aqui! Vai pagar.

Ray retruca:

— Não! Você vai pagar, fiz o que você mandou.

Onurb para e olha para a joia, e Ray continua:

— Lembra? Sem regras, a joia chegou aqui como você pediu! Como o jogo exigiu.

— Sim, mas…

— Mas?

— Enfim! Me entregue a joia, então.

O senhor, que já estava mais calmo, diz para Onurb:

— Deixe a joia com ele.

— Como? O senhor está louco?

— Quem queria a joia era eu, e agora eu a dou para esse garoto.

— Tudo isso por nada?

— Não! Agora tem a recompensa do garoto. Ray, esse é seu nome, certo?

— Sim, Ray Blok W.

— Blok W… Interessante…

— Quem é o senhor?

— Um velho sem importância.

— Por que mudou de ideia tão rápido?

— Um antigo mestre me deu a missão de caçar essa joia que há muito tempo se perdeu pelo Grande Continente, e uma amiga pediu para que eu agisse em favor de quem valesse ouro.

Sem entender, Onurb questiona:

— E o que tem a ver uma coisa com a outra? Como sabe que ele vale isso?

— Olhe para a joia e verá.

Ray fica olhando para a joia e se admira por ela mostrar que ele é uma pessoa importante. Nisso, um dos ladrões pergunta para Onurb:

— Chefe? O que faremos com a assassina e o guerreiro?

Ray intervém:

— Como eu consegui trazer a joia, eu quero liberdade para todos e que me ajudem na minha missão.

Onurb fica impaciente.

— Não acredito! Vou te matar, trapaceiro, como quer exigir coisas agora…

— Você falou que eu poderia pedir qualquer coisa, menos ouro, se eu trouxesse a joia.

— Sim… mas… Certo, certo… Tudo para você ir embora logo.

— Como dizia, quero os três como amigos e que me ajudem na minha missão.

— Eu imaginava isso, pode levá-los… Como disse? Você disse três?

— Sim, aprenderei muito, e seria de grande ajuda companheiros como Baltazar, Anirak e você, Onurb.

Onurb ri:

— Você deve ser louco.

O senhor do manto vermelho questiona:

— Tem certeza disso, garoto?

— Sim.

— Muito bem… Onurb, vá com ele!

Onurb fica espantado e brabo.

— Até você?! O que esse garoto fez com todos? É um demônio? Deve ter um galo de ouro, não é possível!

Ray não entende a referência, mas tenta convencer Onurb:

— Tenho uma missão pelo Grande Continente, uma aventura por conhecimento, experiência e até recompensas. O senhor sentado no trono deve estar onde está, pois deve ter conhecido muito dos territórios do Grande Continente e enfrentado de tudo em Arbidabliu. Acredito que você quer uma posição dessa um dia.

Onurb demonstra interesse, mas não cede.

— Não quero, estou ótimo onde estou.

O senhor comenta:

— O rapaz tem lábia, sem falar que você deve isso a ele, Onurb, por causa do seu joguinho bobo.

Onurb senta no altar com um ar desanimado.

— Isso não é justificativa…

— Então a justificativa será que eu estou “pedindo”.

— Não.

— Onurb? Não me faça perder a paciência.

— Certo, já que você está “pedindo”, vamos ver no que isso vai dar.

Ray se preocupa com os outros:

— Como ficam Baltazar e Anirak?

— Não se preocupe, o veneno usado só causa paralisia para que depois a gente possa matar… Já faz algum tempo que o grandão ali não está mais sob o efeito do veneno, ele dorme como uma montanha.

— Acorde Anirak e Baltazar, por favor.

Onurb tira um pequeno frasco de suas vestes, coloca algumas gotas na boca de Anirak, guarda o frasco e diz a Ray:

— Isso vai ajudar, em pouco tempo ela acordará.

— Obrigado.

Onurb desce do altar e se aproxima de Baltazar. Com os dedos, ele bloqueia o nariz de Baltazar para que não respire. Baltazar abre a boca, volta a respirar e continua dormindo. Onurb olha para Ray e diz:

— Tem certeza de que ele vai ajudar numa aventura? Ronca como um animal.

Ray ri da situação, se aproxima de Baltazar, puxa um pelo de sua sobrancelha, arrancando-o, o que o faz acordar.

— Ladrões miseráveis! Vão pagar!

Baltazar levanta empurrando Onurb e gritando à procura de seu machado. Ray tenta segurá-lo e acalmá-lo.

— Baltazar, calma! Está tudo bem.

Baltazar demonstra um estado de fúria e parte para cima dos ladrões, que se armam para derrubá-lo. O senhor do manto vermelho levanta do trono e, com uma voz autoritária, diz:

— Baltazar!

Baltazar para como se fosse mágica, olha para o altar, sobe nele e anda em direção ao senhor, que continua falando:

— Pare, guerreiro náutico, sua vida foi salva graças ao Ray, que em troca pede sua companhia na missão dele.

Baltazar para em silêncio, e Onurb fala:

— Se não quiser, eu agradeço, pois assim estarei livre dessa “missão” também.

Baltazar responde:

— Errei em baixar a guarda para esses ladrões…

Onurb demonstra desânimo, e Anirak se levanta encarando-o.

— Sorte por você estar vivo.

O senhor fica entre todos e intervém:

— Entendam todos, é uma brincadeira do destino ter nos colocado nesta situação, mas temos que entender o porquê disso tudo… Se a honra de vocês permitir, agradeçam esse garoto.

Baltazar e Anirak se olham e ficam pensativos. Onurb cruza os braços olhando para todos. Ray se prepara para sair:

— Estou atrasado! Amanhã sairei de Coniuro. Obrigado, senhor do clã, e a vocês também, Baltazar, Anirak e Onurb, foi um prazer conhecer vocês… Até outra vez, e espero que seja mais amigável do que esta.

Em um último sorriso, Ray deixa o local e corre em direção a Coniuro e ao centro dela, para se encontrar com Maxmilliam. Nesse tempo, os ladrões arrumam o lugar, e o senhor fala com Baltazar, Onurb e Anirak.

— Já que estamos aqui, numa trégua, peço que fiquem mais um pouco… Comam algo… Tenho uma história para lhes contar…

Em Coniuro. Ray chega ao centro. A noite está fria e nublada. Por ser tarde, há poucas pessoas nas ruas e quase todos os comércios estão fechados. Ray vai para o hotel. Ao entrar no estabelecimento, ele se depara com um lugar bem organizado, limpo e bonito, sendo o melhor hotel entre outras cidades da costa.

Chegando à recepção, é abordado:

— Finalmente…

O garoto olha para o lado e vê Maxmilliam, que continua a falar.

— Atrasado… Você está péssimo, aconteceu algo?

Ray pensa, respira fundo e responde:

— Não…

Então ri e continua:

— Andei por aí, fiz até amizades, mas estou muito cansado, onde é o quarto?

— Certo, amanhã conversaremos mais, então. Seu quarto está no primeiro andar, número 18.

— Obrigado.

Ray demonstra muito cansaço ao subir as escadas em direção ao seu quarto. Ao chegar, vê que está trancado e, batendo a cabeça na porta, ouve Maxmilliam se aproximando.

— Esqueceu a chave, Ray, está tudo bem mesmo?

— Sim, só estou cansado.

— Qualquer coisa, o meu quarto é o do lado.

— Você já verificou o quarto? É confortável?

— Sim, e com uma enorme banheira, um homem da minha idade tem que aproveitar.

Os dois riem. Ray abre a porta com a chave dada por Maxmilliam e entra. É um bom quarto, com uma cama bem acolchoada e macia. Sem pensar, ele coloca a mochila no chão e se joga de qualquer jeito na cama, desmaiando de sono.



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