Volume 1

Capítulo 08: O "Raposo"

Baltazar chega furioso e sem nenhum sinal de cansaço.

— Foram eles?

Ray se prepara para a briga iminente e informa a Baltazar:

— Não, os outros já devem ter levado nossas coisas. Como encontramos esses, acredito que tem algum esconderijo deles por aqui.

— Então vão apanhar também.!

Os cinco suspeitos andam em direção de Ray e Baltazar, cercando-os, preparando-se para atacá-los. Baltazar, já armado com seu enorme machado, avança chamando atenção de três, enquanto Ray se arma com sua funda que deixa amarrada em sua cintura, disfarçando um cinto. Baltazar usa seu machado mirando no tronco e cabeça.

Os ladrões se esquivam com facilidade, conseguindo contra-atacar com suas adagas. Ray se prepara para se defender dos outros dois que atacaram com o cabo das adagas e socos e fica na defensiva até entender o método de luta de seus inimigos.

Em pouco tempo, parte para o ataque e consegue desarmar um dos ladrões, pegando a adaga para si e dando chance para nocautear o outro com uma boa sequência de socos; com a funda, puxa uma das pernas do ladrão, fazendo-o cair de costas no chão.

O ladrão desarmado fica enfurecido, e com boas técnicas de luta dificulta a briga com Ray, usando chutes, socos e se esquivando da funda do garoto.

Enquanto isso, Baltazar tem dificuldade com os outros três, pois era muito forte e com uma arma muito pesada, e seus inimigos eram leves com ataques fracos e rápidos. Mesmo recebendo todos os ataques, Baltazar não sofria dano, mas ficava cansado.

Até que Ray percebeu que se Baltazar caísse os três atacariam, podendo perder a briga e até a vida. Mesmo com uma luta difícil, Ray consegue analisar a briga de Baltazar e percebe que ele tenta segurar algum deles sem sucesso e que se conseguir será o fim da briga.

Depois de mais alguns ataques e contra-ataques entre Ray e seu oponente, o garoto usa sua funda, consegue apanhar uma pedra e jogá-la em um dos ladrões que luta com Baltazar. A pedra pega um dos ladrões na nuca, fazendo-o desconcentrar-se, dando a chance para Baltazar agarrá-lo pelo braço.

Nesse momento, Baltazar fica com um ar sádico, intimidando os ladrões e fazendo os outros atacarem para salvar o amigo, mas sem precaução. Em um dos ataques, Baltazar defende-se com o cabo de seu machado, quebrando o nariz do ladrão atacante. Voltando para o que estava agarrado, ele envolve o próprio braço com o do ladrão e o ergue, torcendo-o e em segundos quebrando-o, finalizando com uma cabeçada na testa e nocauteando o ladrão.

Baltazar joga o corpo do nocauteado no que está com o nariz quebrado, fazendo-o cair, e se concentra no que está ileso e com medo. Ray, percebendo que fez uma boa jogada, parte para outra manobra, falando para Baltazar:

— Troca comigo!

Nesse momento, os ladrões trocaram o foco, sabendo que iam enfrentar outro oponente segundo o que Ray delatou. Ray e Baltazar voltam para seus próprios oponentes como uma distração, dando o primeiro movimento e ataque.

Ray ataca com uma sequência de soco na cara, depois na região da barriga do ladrão, fazendo-o cansar e cair nocauteado. Baltazar manuseia o machado com uma mão e ataca como se fosse um pêndulo na horizontal, fazendo o ladrão dar um pulo, assim ele avança e agarra-o pelo pescoço com a outra mão. Ataca com uma cabeçada e ergue o ladrão, jogando-o de costas contra o chão, não sabendo se o matou ou só o nocauteou.

Ray e Baltazar se recompõem, observando em volta se há algum rastro dos outros que levaram suas coisas. Baltazar balanceia seu machado, impaciente, olhando para os lados. Demonstra atacar os ladrões desmaiados, e Ray o interrompe.

— Não é necessário! Vamos atrás dos outros, acredito que tem algo a ver com essa montanha.

— Não vou matá-los, só quero saber se ainda estão vivos. Será que contaram onde estão nossas coisas?

— Não sei, mas deve ter algo aqui.

Ray observa as rochas, pedras, árvores, arbustos e tudo que é pertinente, até que repara em uma fresta na montanha com um desenho de uma porta.

— Achei algo interessante.

— O quê?

Ray se aproxima e, ao colocar a mão na montanha e nas pedras, percebe que a pedra entre a fresta não existe, é só uma ilusão de uma pedra. Baltazar o cumprimenta.

— Incrível! Você achou uma entrada.

— Estranho… ladrões usando ilusões? Magias…

— Deve ser um local importante, vamos entrar.

— Não é melhor chamarmos…

— Vamos logo, Ray, só deve ter outros como esses aqui.

Ray fica desconfiado, mas segue Baltazar e entra na caverna. Como eles estão sem iluminação, o garoto informa a Baltazar:

— Vamos entrando devagar, para nossos olhos se acostumarem com a pouca luz.

— Mais ao fundo não veremos nada.

— Mais à frente eu saberei o que fazer.

Ray e Baltazar entram na caverna e admiram, pois ela é totalmente lisa nas paredes e no teto, mas o chão é cheio de pedras salientes. Vão caminhando e, quando chegavam perto do escuro total, veem uma luz no fim do túnel.

Armados com a funda e o enorme machado, eles continuam até chegar ao fim, e, por surpresa, chegam a um lugar igual por onde vieram, porém sem os ladrões nocauteados.

— Saímos?

— Sim, mas não no mesmo lugar.

Eles voltam pela caverna analisando-a melhor para ver se acham outra passagem ou bifurcação, mas só acham o mesmo caminho de volta, e ao sair se deparam com outro lugar diferente dos outros dois anteriores. Ray se indigna.

— Impossível.

— Voltamos pelo mesmo caminho e saímos em outro lugar?

Ray lembra que a entrada é uma ilusão e supõe que dentro da caverna devem existir outras.

— Vamos fazer diferente, vamos correr até o fim, que vou tentar fazer algo diferente.

— Você acha que vai dar certo?

— Acredito que sim, e se prepare, pois deve ter outro grupo nos esperando.

— Certo.

Baltazar e Ray correm para dentro da caverna. Ray fecha os olhos e se concentra nos ensinamentos de Maxmilliam referentes à magia. Quando ele abre os olhos, se depara com um grande salão cheio de itens, armas, ladrões armados. Ele para de correr e fica na defensiva.

Baltazar avança sem pensar à frente de Ray e sai derrubando alguns ladrões pelo caminho, até que, sem entender, ele cai no chão. Os ladrões se preparam para atacar. Ray fica defensivo e focado. Todos ouvem uma voz de comando de um homem que está em cima do altar.

— Esperem! Quero conhecer esse rapaz antes de matá-lo.

Os ladrões abrem caminho para Ray, que tem uma visão melhorada do grande salão dos ladrões, avistando um monte de ouro, grandes estantes cheias de bolsas, mochilas e outros itens, mesas, cadeiras, armorial com armas cortantes e pequenas, adagas de vários tamanhos e formatos e, no altar atrás do homem que deu a ordem, uma passagem escondida por um grande pano vermelho, mas com uma fresta mostrando uma sala escura com uma pequena chama ao fundo dela.

O homem que deu a ordem desce do altar e se aproxima de Ray. Ele aparenta ser o líder dos ladrões. Usa roupas pretas e um grande sobretudo com um enorme capuz que oculta a maior parte de seu rosto. Ray fala para o ladrão misterioso:

— Você deve ser o líder dos ladrões. Por que não se identifica e assume sua covardia?

— Covardia?

— Sim, olha a situação em que estamos.

— Que você está! Se você é azarado, o problema é só seu, e do seu amigo ali também.

— Então uma conversa ou um justo duelo estão fora de questão?

Com um sorriso sarcástico, o homem misterioso responde, tirando seu capuz:

— Vou gostar de te ver morrer.

Ao ver o rosto do ladrão, Ray se surpreende.

— Um aurem?

Era um homem com olhos amarelos, pele clara, cabelos rebeldes escuros e curtos, um nariz pequeno, aparência comum, idade entre 30 anos, magro e altura média.

— Surpreso?

— Nunca tinha visto um.

— Que gosto desapontá-lo, mas eu sou humano, só tenho aparência similar à de um aurem, porém será uma pena você morrer e nunca ter visto um.

— Vai me matar na covardia? Em maior número e armados?

— Você tem esse pano como arma, você acha mesmo que apelar para honra vai te ajudar?

— Acredito que um clã da “arte da adaga” teria alguma dignidade.

Antes que o líder respondesse, um sussurro soa na sala escura atrás do altar, que Ray não entende, mas percebe que todos os outros ladrões entendem e abaixam as armas. Nisso, o líder se apresenta.

— Eu sou o Raposo, um dos líderes da arte da adaga.

— Eu sou Ray…

— Realmente! Como você conseguiu escapar da ilusão?

— Eu…

— E ainda fazer o grandão ali escapar também?

— Bom treinamento.

Ray baixa a guarda, mostrando confiança, e Raposo o analisa.

— Treinamento? Será que também foi treinado para arte da furtividade ou até mesmo roubo?

— Por quê?

— Já que você me julgou indigno, vou fazer um jogo com você, mas se não conseguir você admitirá seu fracasso tomando um veneno e morrerá vagarosamente e com muita dor.

Após as risadas dos ladrões, Ray responde:

— Certo. E se eu conseguir?

Os ladrões continuam rindo, e Raposo, com ar de superioridade, fala:

— Qualquer coisa que não seja ouro, mas você não dá confiança.

— Mas eu estou bem confiante.

Raposo fica sério e explica o “jogo”.

— A maior casa de Coniuro… Você deve entrar num dos quartos principais, vai encontrar uma joia do tamanho de um punho num formato de esfera e transparente, como se fosse feita de vidro.

Ray se preocupa.

— E quem eu vou roubar?

Raposo se aproxima e coloca a mão em seu ombro.

— Não se preocupe… Essa joia pertencia ao nosso clã. Na situação em que você se encontra, não tem muito que escolher, não?

— Mas…

— Ou melhor! Tragam os pertences dele! Você pode ir e fugir, você é muito novo para morrer assim, diferentemente do seu amigo.

Ray olha para Baltazar, que estava caindo desmaiado, e sente que deve ajudá-lo. Os ladrões entregam os pertences do jovem, que questiona Raposo:

— Se eu trouxer a joia, eu posso…

— Sim, você pode desejar a libertação do seu amigo. Acredito que você deve ser digno em ajudá-lo.

— A liberação dele e mais um pedido?

— Sim.

— Regras?

— Nenhuma, trazendo a joia para mim você ganha o jogo.

Ray verifica na mochila se seus pertences estão ali e anda em direção à saída. Raposo informa:

— Sem regras, mas você tem até amanhã, isso se você chegar até amanhã, acredite! Não estaremos mais aqui.

Ao sair da visão deles, Ray corre em direção à cidade. No covil dos ladrões, Raposo fala para alguém oculto na sala escura:

— Por que não deixou que nós o matássemos?

Uma voz forte de homem aparentemente velho responde:

— Ele me pareceu familiar, se você o matasse sem mais nem menos teríamos grandes problemas, você nem ao menos sabe de onde ele é.

— Só sei para onde ele vai.

— Está certo disso?

— Você queria que eu lhe desse uma chance de mostrar dignidade? Pena que mesmo sendo digno não vai conseguir pegar a joia sem passar pela “gata da mansão”… Seria melhor ter matado ele aqui.

— Você ainda subestima muito os outros.

— Não estou subestimando! São fatos.

— Eu pensava igual a você… Você sabe o que passei para mudar.

— Você não mudou nada, velho… Deixe, que eu sei o que estou fazendo.



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