Volume 3
Capítulo 3
Parte 1
O barulho baixo dos motores enchia uma seção de Grimnoah Segundo.
Mas não porque alguma nova arma bizarra tivesse sido acionada.
Grandes máquinas de lavar estavam alinhadas dentro de uma lavanderia. Elas eram modelos que funcionavam com pagamentos, ao se segurar o telefone na frente delas.
O navio da Academia tinha se tornado um labirinto mortal repleto de Ameaças rastejantes, mas também era a casa de Karuta, Marika e dos outros. Suas salas de aula e dormitórios estavam ali. Assim como seus refeitórios e banheiros.
Eles poderiam usar qualquer parte da infraestrutura escolar que desejassem.
Isso só parecia tão distorcido porque a Ameaça havia assumido o controle.
“Ugh... Isso é simplesmente horrível.” Amaashi Marika disse.
Karuta e Aine estavam de guarda do lado de fora. Apenas as três garotas permaneceram dentro, mas ela, Matsuda Imi e Hashizaki Tayori haviam tirado todas as roupas. Todas as máquinas estavam abertas para uso, então elas separaram suas roupas íntimas, blusas, blazers, saias, etc. e as colocaram em máquinas separadas em diferentes ambientes para a verdadeira experiência de luxo.
A gyaru Tayori olhou para o teto (enquanto estava nua). “Estão fazendo muito barulho. A Ameaça não notará?”
“É um navio muito grande e há ruídos mecânicos vindos de todos os lugares.”
Por que elas estavam fazendo isso?
“Eu detectei uma substância química muito semelhante ao dissulfeto de dialila no líquido da Ameaça encontrada em todo o grupo da Senhorita Marika. Não está no Sacri-sama ou em mim, então pode ser usada para ajudá-las quando atacarem.” Aine explicou do outro lado da porta fina. “Isso normalmente é usado como repelentes de corvos, mas também pode ser usado como um marcador para rastrear um alvo quando combinado com um cão de caça ou outro animal com um excelente olfato. É incolor e, quando diluído, não possui um odor forte o suficiente para ser detectado por humanos. A melhor solução seria remover todas as suas roupas e raspar todos os pelos do corpo, mas se você se opõe a continuar a missão sem roupas, recomendo lavá-las bem com um detergente químico. Imediatamente.”
Tayori inclinou a cabeça.
“Por que ela consegue detectar cheiros que os humanos não conseguem?”
“Os sentidos de Aine-chan são iguais aos de um humano, mas ela aparentemente armazena as coisas em sua mente de forma diferente. Se ela lamber sal, ela não o sente como ‘salgado’ – ela sente qual dos seis sabores ele estimulou. Então ela provavelmente esqueceria algo se a magnitude fosse muito baixa, mas eu acho que ela ainda pode classificar as coisas se elas simplesmente estiverem misturadas com outros cheiros.”
Aquela garota de cristal não tinha vergonha de deixar as pessoas saberem que ouro puro era sua comida favorita, então ela tinha uma ideia muito diferente sobre o que era ‘dar água na boca’.
De qualquer forma, elas foram forçadas a tirar até as roupas íntimas e jogá-las nas máquinas de lavar, apesar do perigo. Elas haviam evitado qualquer lavanderia com janelas cobertas por Ameaças, mas todo o barulho ainda era enervante.
As garotas também tiveram que despejar detergente na cabeça, não importando o quão ruim fosse para a pele. Tayori devia ser confiante em sua aparência, em comparação com Marika, pois não fez nenhuma tentativa de se cobrir enquanto soltava o cabelo molhado e o secava com uma toalha.
“Ele cortou aquela coisa, não foi?” Ela disse. “Sim...” Marika respondeu com um olhar pensativo.
O que havia criado a diferença entre o grupo dela e ele quando foram presos pela ilusão da Gestalt?
Marika tentou encontrar uma resposta quando a voz calma de Tayori alcançou seus ouvidos.
“Tínhamos visto as águas-vivas e os girinos podiam ser contados como sapos, então era possível que houvesse uma Ameaça que usasse camuflagem... Faz sentido quando se pensa nisso, mas Utagai Karuta previu com antecedência. É como se ele tivesse uma imaginação mais ativa ou como se ele fosse extremamente cauteloso. Então, novamente, isso realmente salvou nossos traseiros.”
Aquele garoto se preparou com base na suposição de que cairia direto em qualquer armadilha que o aguardasse, seu oponente sempre estaria tentando enganá-lo e haveria uma abertura em algum lugar que ele pudesse usar.
Marika suspirou com os comentários de Tayori.
“Sim, mas há uma desvantagem. Sua maneira de pensar pode facilmente levar à paranoia se ele não for cuidadoso. E isso é muito bom para ele se ele consegue manter as coisas em equilíbrio, mas como podemos saber se ele está fazendo isso quando sua única explicação é ‘ele sentiu algo’?”
Tudo parecia imprevisível, mas elas sabiam que a Ameaça poderia ser derrotada. Isso era alguma esperança, pelo menos.
Tayori olhou para as máquinas de lavar.
“Além disso, você não colocou amaciante em nossos uniformes, colocou? Com base na etiqueta, isso fará com que eles desbotem como loucos. Embora possa ser como jalecos de laboratório, que são feitos para manchar facilmente, então você notará qualquer coisa tóxica que tiver ali.
“Oh? Você é surpreendentemente bem informada sobre essas coisas.”
“Esse ‘surpreendentemente’ era realmente necessário?”
E…...
“Eek, eek, eek, eek.”
Um estranho som de respiração veio de um ponto da sala.
Marika e Tayori olharam para ver Matsuda Imi enrolada em um canto da lavanderia. Havia bancos disponíveis, mas ela ainda estava com a bunda nua diretamente no chão de ladrilhos molhados com poças de água do mar. Ela estava com as costas contra a parede e as mãos na cabeça.
Ela estava agindo de forma estranha.
Ela não parava de tremer desde que derrotaram a anêmona Gestalt. Ela sempre fora uma garota inocente e ativa. Ela costumava abraçá-las provocativamente enquanto se trocavam para a educação física, mas agora estava tentando rejeitar tudo sobre o mundo e fugir.
Sua personalidade brilhante e extrovertida poderia tê-la deixado despreparada para se retrair em momentos como este.
Ela nem mesmo tirou as roupas. Marika tinha visto como Tayori fora forçada a ajudá-la a se despir como um pai faria com uma criança pequena. Depois do que aconteceu, sua idade poderia realmente ter regredido.
Elas não sabiam o que a camuflagem da Gestalt havia mostrado a ela, mas ela poderia ter se apegado a isso.
A voz de Karuta as alcançou através da porta.
“Ei.”
“Não, não é sobre isso.”
Tayori casualmente rejeitou a ideia enquanto pegava o secador.
Sim, Marika também sabia por que isso acontecera com seu amigo. Agora não era o momento de se refugiar em ideias ridículas, como ela se apegando à camuflagem.
Os olhos temerosos de Imi não estavam voltados para a porta fina onde Karuta e Aine esperavam além. Não, aqueles olhos foram direcionados diretamente para Amaashi Marika. Na amiga com quem ela se dava bem e com quem sempre andava.
“Não...”
Sua voz estava baixa, mas a entonação não era natural.
Continha a tensão de quem descobrira munições não detonadas que poderiam explodir a qualquer momento.
“Não... Vou voltar para os outros.”
“O que...”
Karuta começou a perguntar algo pela porta, mas Marika apenas balançou a cabeça silenciosamente. E depois de perceber que ele não podia ver isso, ela falou em voz alta.
Ainda nua, ela pressionou as costas contra a porta.
“Deixe-a em paz.”
O grupo de Marika experimentou seu próprio drama. Um tipo diferente de drama que Karuta e Aine não podiam imaginar. As três garotas não ‘apenas’ sobreviveram. Se você não criasse sua própria razão de sobrevivência, qualquer um morreria neste mundo.
A próxima a falar foi Tayori, em seu jeito gyaru e maduro.
Depois que seu cabelo estava seco, ela prendeu o laço na boca e estendeu a mão para pentear o cabelo comprido de uma forma complexa.
“Ei, Utagai-kun. Você viu uma perna em algum lugar no seu caminho para cá?”
“S-Sim.”
“Aquilo era da Imi.”
Elas ouviram um óbvio suspiro além da porta.
O honesto e gentil Karuta poderia ter assumido que o medo e a dor haviam quebrado Imi e ele poderia ter sentido que essa era a reação apropriada para uma pessoa normal. Ser funcionalmente capaz de lutar não era a mesma coisa que ser emocionalmente capaz de lutar. A predefinição de regeneração não eliminava o medo. Continuar lutando era enfrentar de frente o medo e a dor. Assim, os aliados que sempre o empurravam para a frente podiam se tornar uma fonte indireta de medo.
Mas ele teve uma ideia errada.
Depois de usar o laço para manter o cabelo no lugar, Tayori confessou a verdadeira resposta.
“O ataque atravessou a barreira e arrancou a perna dela na base da coxa. Assim como os vasos sanguíneos do pulso, a artéria femoral é bem grossa, então enfaixá-la normalmente não seria suficiente para interromper o sangue. Isso seria fatal.”
“Eh?”
Havia mais confusão do que dor na voz abafada de Karuta, porque, de fato, Matsuda Imi estava viva agora. Um ferimento fatal deveria ter cristalizado seu corpo inteiro junto com suas roupas, em vez de curá-la após apenas 30 segundos.
“Então.” Marika explicou lentamente a ação apropriada que tomou. “Usei meu laser para cauterizar a ferida, ganhando tempo suficiente para que a regeneração fosse concluída. Essa foi a única maneira de salvá-la.”
“Eek. Eeeeek!!!???”
Imi tremeu ainda mais enquanto se enrolava em um canto da lavanderia. Essa colega de classe sempre teve um sorriso brilhante no rosto, mas agora ela estava segurando a cabeça enquanto suas pernas (uma delas recém- regenerada) se contorciam desajeitadamente abaixo de seu corpo. Mesmo com apenas outras garotas ali, ela normalmente teria feito um pouco mais para se cobrir.
Tayori se aproximou dela e deu-lhe um abraço enquanto ela chorava.
“Eu não aguento mais! Eu só quero rastejar na cama para sempre!! Isso não está certo. Achei que fosse a Ameaça que fazia essas coisas terríveis às pessoas, então por que outras pessoas estão fazendo isso agora!?”
A angústia mental de Karuta parecia escoar pela porta. Marika deu um suspiro pesado.
Ela salvou a vida de sua amiga moribunda. Esse foi um fato inegável.
Mas perseguir um mistério e encontrar a verdade nem sempre resolvia tudo. Eles sentiram essa sensação horrível durante sua vingança contra os Solucionadores de Problemas e enquanto lutavam contra a isca da Ameaça na Praia Cristalina. Karuta estava experimentando isso novamente ali.
E...
A voz sem emoção de Aine falou além da porta.
“Sacri-sama, a Senhorita Imi gostaria de ter morrido em vez disso?”
“Aine.”
“Com base nesse relatório, não vejo nenhuma outra maneira pela qual ela poderia ter sobrevivido, então é injusto ver a Senhorita Marika de forma negativa.”
Marika agitou sua cabeça em resposta, espalhando algumas gotas de água de seu cabelo, mas então ela estalou sua língua naquele hábito.
Ela tinha que falar em voz alta agora. Ela havia se despido, mas isso não significava que eles podiam ler seus pensamentos.
“Pare. Por favor.”
As pessoas nem sempre gostavam do que era certo e não gostavam do que era errado.
Todos se sentiam diferentes sobre as coisas.
A maioria das crianças sabia intelectualmente que as vacinas e obturações dentais eram necessárias, mas será que elas poderiam usar esse conhecimento para apagar o medo que sentiam vindo do fundo de seus corpos quando viam a seringa ou ouviam o motor ranger em seus dentes? Elas poderiam continuar sorrindo?
Tayori se agachou e abraçou sua amiga enquanto gentilmente acariciava suas costas trêmulas como se estivesse acalmando uma criança pequena.
“Imi não pode continuar.” Ela disse.
“...”
“Mas não importa o quanto ela queira partir, voar para fora do navio apenas fará com que ela seja cercada e devorada pela Ameaça. Duvido que até mesmo trocar de volta para o traje de mergulho escondido nos níveis inferiores e mergulhar no oceano funcionaria novamente.”
“Provavelmente não.” Karuta concordou através da porta.
Muitas das Ameaças águas-vivas explodiram do oceano quando ele voou pela superfície nos braços de Aine.
Ele já havia explicado isso para as outras.
E dentro do navio, eles derrotaram a anêmona, aquela que o grupo de Marika chamou de Gestalt. Depois de perturbar a Ameaça dentro e fora do navio, a Ameaça provavelmente mudara sua formação. Eles tinham que assumir que o que funcionou um momento antes poderia não funcionar de novo.
Depois de um tempo, Karuta conseguiu falar.
“Temos que continuar e matar o leão no telhado para tornar o céu seguro para o voo. Então podemos chamar todos de Grimnoah. Reiniciar Grimnoah Segundo não exige nenhum de nós como indivíduos. Teremos alcançado nosso objetivo enquanto derrotarmos a Centelha. Quem quiser sair pode voltar para o aeroporto durante toda a confusão.”
“Isso provavelmente é melhor. Imi só será um fardo agora que perdeu a vontade de lutar, mas vamos carregá-la conosco por mais um tempo.”
“Claro.”
Ele estava dizendo que não tinha problemas com isso.
Eles já tinham visto o leão e a anêmona, então sabiam que a Ameaça era mais do que apenas forte e violenta. Grimnoah Segundo estava repleta de tipos que eles nunca tinham visto antes, então não havia zona segura ali. Marika estava mais exasperada do que impressionada por ele poder afirmar isso com tanta confiança. Ele não poderia deixar para trás aquela colega que não conseguia enfrentar sozinha o seu medo. Não havia benefício nisso, mas ele ainda não suportava deixá-la ali.
Mas Tayori parecia confusa, embora tivesse sido a mesma quem fizera a sugestão.
“Estou surpresa.”
“Por quê?”
“Três dos quatro ‘mais fortes do mundo’ estão aqui, então eu não esperava que você aceitasse tão prontamente a opinião de outra pessoa. Achei que ‘o obstáculo’ se tornaria maior e eu seria excluída por não conseguir o transpor.”
Por um tempo, Karuta ficou em silêncio.
Marika sabia o que isso significava. Ele estava sorrindo amargamente.
Fora assim que funcionou com os Solucionadores de Problemas. Esse era o ponto principal.
Marika sabia exatamente como aquele amável amigo de infância responderia e, logo em seguida, ela se provou certa.
“Estou trabalhando para não ser esse tipo de mais forte. Marika também.”
Tayori encolheu levemente os ombros. O curto silêncio devia ter dito a Karuta que ela não estava em pânico como Imi, então ele fez outra pergunta. “E quanto a você? Quer ir?”
“Vou seguir quem estiver certo.” Hashizaki Tayori disse secamente. Sua voz era diferente da de Aine, que não entendia as emoções humanas. “Eu não escolho com base no que eu gosto ou desgosto, como essa garota faz. Mas não fique à vontade com isso. Se você parar de fazer a coisa certa, ficarei desapontada com você e desistirei, então mantenha isso em mente.”
“...”
Ele demorou 0,5 segundos antes de dizer que entendia.
Isso é muito duro. Marika pensou enquanto ainda estava nua.
Marika entendia que Karuta estava pensando nos sobreviventes do primeiro navio. Ele não precisava explicar a ela. Ele estava colocando os alunos e professores ainda vivos do segundo navio em perigo para salvar seus amigos mortos do primeiro navio. Ele estava claramente avaliando suas vidas de forma diferente e ele devia ter notado a contradição.
Mesmo que fosse mais fácil se ele simplesmente fosse e fizesse.
Marika usaria todo seu poder como a mais forte do mundo para proteger aqueles com quem ela se importava, mas Karuta vivia uma vida muito mais estranha. Se ele usasse o regador para regar o vaso de flores, a flor desabrocharia, mas em vez disso ele tentava regar todo o deserto com ele.
Então...
Eles ouviram um bipe quando as grandes máquinas de lavar pararam de girar. Terminaram a fase de drenagem e secagem.
Por isso, preciso protegê-lo. Não importa o que aconteça. Ela soltou um suspiro suave e alcançou a tampa da lavadora. Ela não tinha chegado a tempo para Imi.
Mas ela conseguiu salvar a vida daquela garota. E a vida deu a ela o direito de odiar Marika por isso.
Isso era milhares de vezes melhor do que aceitar a morte e deixar sua amiga morrer.
Essa foi sua decisão, não importando o quão dura fosse. E esta não foi apenas uma desculpa criada aos prantos que ela dera a si mesma – ela realmente poderia fazer isso. Isso poderia ser o que a tornava quem ela era.
“Agora, todos os nossos preparativos estão completos.” A garota disse ativa e alegremente. “Então, vamos dar outra olhada nas profundezas do inferno.”
Parte 2
Eles estavam de volta à torre de controle do aeroporto flutuante.
“Não, como eu disse em meu relatório, precisamos repensar profundamente o risco apresentado pela Ameaça e – Não, não é isso que estou dizendo. Se você apenas olhar o Documento #4495 que enviei, verá que devemos ser cautelosos ao usar o Pinaka III porque...”
Letnahe repetia sua explicação várias vezes em seu smartphone militar.
A Presidente Omotesandou Kyouka deu de ombros e esperou até que a ligação terminasse.
Enquanto isso, a secretária ruiva sussurrou em seu ouvido.
“Obrigada por trabalhar tantas horas para nós. Que tal usar esse tempo para trocar suas meias?”
“Por quê? Meus pés ainda não estão inchados.”
“É fundamental que você dê um pouco de descanso aos seus pés antes de começar a sentir tais coisas.”
A garota ruiva ajoelhou-se no chão sem esperar por uma resposta.
Kyouka sorriu amargamente e levantou um tornozelo com as longas pernas ainda cruzadas. Ela conseguia movê-los até certo ponto, mas ainda tinha dificuldade com sapatos e meias. Este não era um dever normal de secretária, mas ela ainda estava feliz por ter uma subordinada que ia além de suas atribuições ao cuidar dela.
Ela não havia pedido, mas a garota lhe deu uma massagem enquanto tirava os sapatos e as meias de couro. Seu dedão e o segundo dedo do pé se abriram em resposta ao estímulo da sola do pé, mas então ela ouviu um suspiro pesado. Letnahe deveria ter encerrado a ligação, pois enfiou o telefone no bolso.
A morena de cabelos prateados se virou para Kyouka.
“Foi inútil. Eles insistem que uma enviada especial deve apenas transmitir a opinião, não apresentar uma opinião própria.”
“Eu imagino.”
“Como você pode simplesmente aceitar isso?” Letnahe envolveu a mão esquerda com a direita e falou com algumas farpas na voz. “Foi você quem disse que não podemos esperar que um ataque nuclear funcione contra a Ameaça.”
“Bem, Letnahe-san. Você não se importa se eu usar seu primeiro nome como um sinal de afeto por alguém que conhece a verdade, não é?” A Presidente sorriu enquanto sua subordinada ajoelhada colocava meias novas em seus pés. “Eu disse ‘imagino’ porque sei que seus superiores não vão mudar seus planos só porque receberam novas informações. Eles haviam decidido desde o início que fariam um ataque nuclear. Eles inseririam os códigos de lançamento, não importando a situação. Eles sempre poderiam encontrar uma desculpa ou outra: talvez você não conseguisse contatá-los ou talvez houvesse um defeito mecânico.”
“Mas por que?”
Letnahe piscou por trás dos óculos enquanto olhava atentamente.
Um ataque nuclear era algo grande. Se tiver sucesso, eles poderiam simplesmente derrotar a Ameaça ao custo de muitas vidas. Mas se falhasse, eles perderiam apenas aquelas vidas e possivelmente mais. Era uma aposta de alto risco e alto retorno, então certamente a Força Espacial Indiana iria recalcular tudo cuidadosamente se a situação mudasse, certo?
Kyouka suspirou antes de responder. “Porque eles não se importam caso falhem.”
“Eh?”
“Eles têm um plano pronto para caso o ataque nuclear falhe. Eles têm os trilhos configurados para que possam se beneficiar mesmo assim. Então, eles não vão recalcular nada. Mas eles teriam muito mais dificuldade se soubessem de antemão que o ataque iria falhar, certo?”
“M-Mas isso não faz nenhum sentido! O país inteiro não quer cometer suicídio diplomático, então por que escolheriam o caminho do fracasso desde o início!?”
“Estranho, não é?” A Presidente inclinou a cabeça como uma criança. “Mas permanece o fato de que a Força de Coalizão continuou a realizar ações que claramente não têm chance de sucesso. Até você notou como isso parece antinatural, não é? A Força Espacial Indiana não é incompetente, mas rejeita um plano que faz todo o sentido se você pensar nisso por dois segundos. Por que será?”
“...”
“Quer saber a resposta? Mas sua curiosidade também é estranha.” Kyouka continuou suavemente. “Você é uma estranha aqui, então você pode esperar até que esteja segura, fora do Japão, antes de tudo aqui quebrar. Você está preocupada com seus vizinhos asiáticos, como membro do exército indiano? Ou você se sente responsável como parte da Força de Coalizão? Mas esta área está infestada de Ameaças reais e seus aliados podem lançar uma arma nuclear a qualquer momento. Para ser honesta, duvido que todas essas sutilezas realmente se apliquem a uma situação como esta.”
“Bem...”
“Você tem algum motivo pelo qual não pode deixar o país e pensar sobre tudo isso enquanto toma um chá? Hee hee. Sim, desculpe. Eu sei que você nunca poderia fazer isso.”
Letnahe ergueu os olhos com um suspiro.
O demônio em uma cadeira de rodas sorriu para ela como uma criança e não hesitou em apresentar a resposta.
“Sua mão esquerda”
Seu tom era inocente e, portanto, preciso.
Ela imediatamente atacou diretamente no ponto fraco da mulher.
“O anel é algo bastante sensível, mas esse relógio não faz sentido. É barato e não faz o seu estilo. Na verdade, é um relógio masculino.”
Kyouka havia mencionado anteriormente que era um modelo antigo.
Era uma antiguidade de mais de uma década atrás e a empresa há muito havia parado sua fabricação.
Continuar a usar porque gostava não funcionava neste caso. Quando a empresa parava de oferecer suporte a um dispositivo conectado à Internet, ele parava de funcionar. Além disso, os militares eram rígidos quanto ao gerenciamento de dados, então um soldado não podia simplesmente sincronizar algo assim com seu próprio telefone. Na verdade, o telefone que ela carregava era um modelo militar não disponível para o público em geral.
No entanto, ela fez tudo funcionar.
Se ela tivesse mantido o dispositivo móvel funcionando sem o suporte da empresa e resolvido manualmente quaisquer problemas de segurança que surgissem, ela teria que ser extremamente apegada a ele. Ela não teria feito isso por todo esse tempo se simplesmente gostasse de sua cor ou forma.
“Usar o presente de outra pessoa na mesma mão que sua aliança de casamento é bastante impuro, não acha? Mas você tem uma razão sólida para fazer isso.”
Houve algumas dicas espalhadas. Por exemplo, sua idade.
Ela estava familiarizada com a umidade e a qualidade do ar no Japão de uma forma que sugeria uma experiência pessoal.
Também era curioso que ela tivesse seguido a Presidente sem precisar de nenhuma explicação adicional quando discutiram a Magia Cristalina.
Sem mencionar como ela colocava tanta ênfase na respiração.
Ela tinha o hábito de segurar a mão esquerda com a direita quando se sentia nervosa, mas não segurava o anel quando o fazia. Seu ‘encanto protetor’ era outra coisa que ela tratava como algo valioso e mantinha mesmo quando tomava banho.
A Presidente poderia deduzir algumas coisas de tudo isso.
“Sua lealdade aos militares indianos nunca foi realmente importante para você.”
“Pare.”
“Se você tivesse permanecido em sua casa confortável cercada por seus adoráveis marido e filhos, você nunca teria sido exposta ao perigo da Ameaça e um ataque nuclear. O que acontece com o Japão é irrelevante para quem mora na Índia, certo? No entanto, você viajou todo o caminho até aqui. Para cumprir algum outro objetivo.”
“Por favor pare!!”
O enigma de Letnahe foi resumido por sua mão esquerda. Ela usava um anel no dedo anular e um relógio no pulso. Aquela mão infiel carregava presentes de duas pessoas diferentes.
A demônio declarou sua conclusão para a outra demônio.
“Kiyosawa Hadome era um amigo de seus tempos de escola? Alguém que você não conseguia esquecer mesmo depois de se casar com outra pessoa? E agora você queria tirá-lo deste lugar mortal. Esse é o seu verdadeiro propósito aqui, não é?”
Os joelhos de Letnahe Kurent cederam como se ela tivesse recebido um tiro direto no coração. Um leve bipe soou de seu relógio. Era um aviso sobre sua respiração e frequência cardíaca.
“Você queria parar isso desde o início.”
A soldado morena de cabelos prateados que tinha ido tão longe para gerenciar externamente seus órgãos internos havia abandonado tudo isso.
Apenas as palavras de Kyouka encheram a sala.
“Você queria parar o ataque nuclear da Força Espacial Indiana. Por que tentou obter um relatório sobre o nosso plano? Você esperava usar seu ponto de vista como soldado profissional para corrigir secretamente todos os nossos erros para que pudesse convencê-los de que ainda não era hora de lançar a bomba nuclear?”
Os militares eram o sistema de hierarquia final, onde tudo progredia de acordo com um fluxograma completo de perguntas com respostas simples de ‘sim’ ou ‘não’. Mas isso significava que um soldado que soubesse quais eram essas questões poderia preparar os dados como um problema de xadrez, a fim de evitar que a bomba nuclear fosse lançada.
Ela poderia evitar que isso acontecesse, não importando o quanto o manipulador nos bastidores quisesse apertar o botão de lançamento com base na emoção.
A Presidente suspirou suavemente.
“Eu não acho que você tenha feito nada de errado.”
“...”
“Estou quase com ciúmes de você por viver uma vida satisfatória o suficiente para ter que escolher entre seu casamento e seu primeiro amor. Saber quais são seus desejos é uma forma de garantia. Eu sei que posso confiar na atual Letnahe Kurent que abandonou suas ordens militares e sua confortável família para proteger uma velha memória.”
“Como...?”
Isso não era para proteger alguém ou para derrotar a Ameaça.
A soldado soltou o mínimo de voz que conseguiu depois de ter tudo revelado e destruído por essa adolescente.
“Como você pode confiar em alguém tão desprezível quanto eu?”
“Eu posso confiar na pureza que trouxe você até aqui, mordendo seu lábio todo o caminho. Bondade e pureza nem sempre são a mesma coisa. E eu gosto muito mais de você por se aproximar de uma possível morte mordendo seu lábio, do que dos poderosos que podem dar desculpas públicas como se não fosse nada. Não importa o quão terrível você seja, eu sei que você nunca mentirá quando se trata de Kiyosawa Hadome. Não é verdade?”
Ela ficou em silêncio.
Letnahe Kurent sentou-se no chão, sem expressão, enquanto cobria o rosto com as mãos.
Omotesandou Kyouka sabia que essa soldado fazia parte dos manipuladores. Ela era a mulher perversa que se aproximou de Natalena, a colocou como vingadora e lhe deu uma identidade falsa para mandá-la para Grimnoah Segundo.
Mas o que ela pensou quando percebeu que Kiyosawa Hadome estava naquele navio? E quando ela soube que ele estava sendo atacado pela isca da Ameaça naquele resort artificial na Islândia, ou quando ela soube que ele corria o risco de ser morto pela Ameaça real ou por um ataque nuclear aqui no Japão?
E se ela não fosse uma dos manipuladores, mas apenas uma de seus agentes? E se ela não estivesse em uma posição em que pudesse protestar contra uma decisão tão importante?
Kyouka colocou a mão em sua bochecha.
“Você não poderia ter levado apenas Kiyosawa-sensei embora com você? O nocauteando ou o drogando?”
“Eu não poderia.” Letnahe parecia que estava lançando uma maldição com as mãos ainda sobre o rosto. “Eu simplesmente não conseguia. Levar apenas Hadome-kun para um lugar seguro não o salvaria. Eu o conheço. Saber que tantos alunos morreram sob seu comando o destruiria. Ele nunca será como nós. Isso quebraria seu coração.”
Essa angústia era algo que ela não conseguia compartilhar com ninguém no exército ou em sua família.
Mas outra mulher perversa poderia ajudar a aliviar a dor enquanto seu coração estava sendo esmagado pela bondade que permanecia ali.
“Tenente Coronel Letnahe Kurent.” Kyouka sussurrou. “Esta é uma pergunta que nunca pode ser respondida enviando-a para seus superiores e esperando uma resposta como de costume. Mas você pode encontrar uma resposta se der um pequeno desvio dessa direção.”
Com os dois sapatos calçados, Kyouka girou sua cadeira de rodas. Ela pegou o fone de ouvido de algum equipamento de controle.
“Todos os tipos de transmissão estão flutuando por aqui e posso interceptá-las com isso. Mas a tabela de números aleatórios necessária para descriptografá-las é outra questão. Letnahe-san, você teria essa tabela graças à sua posição na marinha indiana, não é?”
As mãos baixaram de seu rosto.
A soldado falava com um tom que era como o ressentimento de uma criança amuada.
“Você está louca? Isso pode salvar o mundo, mas me tornaria uma traidora.”
“Tornaria. Por isso é um pedido, não uma ordem ou sugestão.” A Presidente disse. “Mas há uma decisão que você pode tomar que protegerá a pessoa que você veio aqui para proteger. Você correu o risco de visitar o alvo de um ataque nuclear planejado, certo? Tudo para que você pudesse impedir que o ataque ocorresse.”
“Você não poderia me atacar e pegar? Talvez você não possa mais usar Magia Cristalina, mas você tem muitos ‘cães’ que poderiam me atacar.”
Ainda sentada no chão, Letnahe olhou para a garota ruiva que estava se levantando lentamente. Ela era uma Maga Cristalina de Grimnoah e a Presidente fez questão de mantê-la por perto durante a conversa.
Mas Kyouka balançou a cabeça.
“Isso poderia ser mais fácil, mas não vou fazer assim.”
“Por que não!?”
“Porque somos ambas o tipo de pessoa que trabalha nas sombras e compartilhamos nossos segredos aqui. Portanto, não vou atacá-la e fazer de apenas uma de nós a vilã. Se você deseja fazer isso, você deve aceitar tanta responsabilidade quanto eu.”
A soldado fechou os olhos com força.
Ela cerrou os dentes e olhou para o teto. Ela parecia prestes a bater os pés em frustração.
“Você não pode fazer isso agora que seu impulso foi interrompido?” A Presidente sussurrou. “Então deixe o Japão agora mesmo e deixe seus velhos arrependimentos aqui. A Ameaça está aqui e um ataque nuclear será lançado em breve, então o Japão não é lugar para ficar sem um bom motivo.”
“Eu sou a mensageira especial enviada para fornecer uma mensagem da Força de Coalizão como um todo.”
Um som baixo e estridente veio de seu pescoço.
Mas esta não era a sua identificação. Quando ela removeu uma corrente fina do pescoço, um dispositivo flash menor do que um tubo de batom foi puxado de seus grandes seios. Ela mostrou sua determinação como a mulher perversa que usava um anel e um relógio na mão esquerda. Ela jogou o dispositivo flash para Kyouka enquanto tentava se livrar de suas dúvidas, falando:
“O que quer que os militares indianos estejam planejando, é improvável que um lançamento nuclear beneficie a Coalizão como um todo, então devo reavaliar algumas informações.”
“Hee hee. Você está disposta a ir tão longe pelo primeiro amor que você não conseguiu esquecer, mesmo depois de se casar e ter filhos?”
Kyouka levou a mão à boca enquanto ria e não hesitou em continuar a partir daí.
“Se isso for descoberto e os militares indianos expulsarem você,
venha até nós. Grimnoah irá contratá-la. No mínimo, você estará mais perto do centro do mundo aqui do que com aquela força de Coalizão.”
As duas mulheres perversas apertaram as mãos.
Letnahe sabia que nunca poderia contar a ninguém sobre isso, e nunca mais poderia andar com a cabeça erguida.
No entanto, havia algo neste mundo que ela queria proteger.
Parte 3
“Continuem, continuem! Por aqui!”
A chuva artificial de iodeto de prata encharcava a fumaça do fogo consumindo o óleo, criando uma chuva verdadeiramente imunda que grudava o cabelo louro de Sophia Firenze em sua bochecha. Ela estava olhando para o céu noturno e acenando com as mãos. Mesmo sendo adulta, ela tinha uma aparência enérgica de um cachorrinho em seu rosto.
Não estava claro o quanto isso afastaria o fogo inimigo da cidade, mas Natalena Blast e os outros alunos estavam pousando com precisão no aeroporto flutuante. Eles fizeram uma descida quase vertical mais parecida com o pousar de um helicóptero do que de um avião que precisava de uma longa pista de decolagem.
A mulher em um terno ensopado sorriu (embora completamente inconsciente de que sua roupa íntima, de cores inesperadas, estava aparecendo através de sua blusa branca).
“Bom trabalho, pessoal. Vocês podem tomar um banho ou trocar de roupas no saguão dos funcionários. Também temos uma refeição quente pronta para vocês. Heh heh! Se vocês quiserem um pouco de comida, visitem o refeitório.”
Natalena suspirou com a menção de roupas limpas. Ela voltaria para fora e ficaria encharcada novamente depois de uma pequena pausa, mas roupas secas ainda a fariam se sentir melhor.
Ela ouviu Yamanen Deiri e Nekoumi Hirosuke conversando enquanto pousavam no flutuador artificial atrás dela.
“Tch. Do que Karuta estava falando quando a chamou de cachorrinho!? Tudo o que ela faz é dar longos sermões, não importa o que você faça. Na verdade, ela é uma gata mal-humorada. O tipo que arranha suas paredes e móveis!”
“T-Talvez isso signifique que ela só se abre com Utagai-kun. Droga, estou com ciúmes.”
“Senpais?” Natalena disse enquanto se virava lentamente, fazendo com que os garotos do ensino médio pulassem e se separassem. Eles eram o exemplo perfeito de ‘garotos desapontantes’. Natalena suspirou ao ver como sua visão ideal dos garotos mais velhos estava desmoronando diante de seus olhos.
Karuta-senpai deve ter realmente trabalhado muito para parecer um adulto responsável.
De qualquer forma, ela entrou no espaço oculto por uma pequena entrada exclusiva para funcionários e aceitou um uniforme extra e roupas íntimas. Ela ficou extremamente tentada quando viu a placa na parede para o banheiro, mas balançou a cabeça. Ela iria sair novamente em breve, então queria evitar se aquecer muito antes de voltar para a chuva fria. Em vez disso, ela usou o vestiário para tirar as roupas e secar o cabelo e o corpo com uma toalha.
Ela estendeu a calcinha fornecida entre as duas mãos.
“Ugh... Esta é uma cor ainda mais ousada do que eu esperava.”
De quem era esse gosto? Ela teria preferido uma cor mais suave, já que ia ficar encharcada na chuva e eles não tinham fornecido outra roupa interna esportiva grossa. Não que ela quisesse uma calcinha bege ‘da vovó’.
A incapacidade de escolher intuitivamente algo entre esses dois extremos sugeria que elas haviam sido escolhidas por Sophia (que estava usando algo surpreendentemente ousado). Natalena vestiu-se rapidamente com as roupas novas, colocou as roupas molhadas em um pequeno recipiente de plástico, colou um adesivo com sua turma e nome escritos nele, e o entregou à aluna de serviço de lavanderia.
Bem, eu não escolhi essa calcinha, então não será meu segredo revelado se transparecer. E eu tenho minha perfeita defesa de band-aids para o caso de isso ocorrer.
Alheia a seus próprios pontos de vista incomuns sobre o assunto, ela caminhou até o refeitório, onde se deparou com o cheiro de especiarias. Ela inclinou a cabeça com seus cabelos ainda levemente úmidos e percebeu que havia esquecido de usar o secador.
“Eu me pergunto com o que eles estão alimentando a todos. Arroz com curry???”
“Oh, Jane-san! Por aqui!!”
A professora saltava para cima e para baixo, e correu até ela com alguns bolinhos de arroz e sanduíches sem que Natalena pedisse nada. Jane Ignition era o nome falso que recebera quando se infiltrou em Grimnoah Segundo para sua vingança, mas ela não tinha muito apego a ele agora. Ela simplesmente não tivera a chance de dizer à professora qual era seu nome verdadeiro, então ela estava um pouco insegura sobre o que fazer agora.
Sophia Firenze sorriu de uma maneira perfeitamente infantil.
“Aqui, coma um pouco. Você deve começar com algo leve, mas se quiser algo mais, temos curry de frutos do mar, rolos de repolho e chukadon.”
Aquele menu era terrivelmente internacional, ou uma bagunça confusa, na verdade. Natalena se perguntou como eles haviam resolvido isso, mas então percebeu que estavam pegando emprestados os ingredientes disponíveis nos cafés e restaurantes do aeroporto. A seleção desnecessariamente sofisticada e internacional significava que provavelmente havia um buffet em algum lugar do aeroporto.
“Eu recomendo o tonkotsu ramen! Eles tinham muitos pacotes de souvenirs em estoque e o que eu experimentei era igualzinho ao de verdade! Muito excitante!!”
Essa professora não tinha se fixado em um macarrão caro de um famoso restaurante japonês quando eles estavam na Praia Cristalina? Não conseguir nenhum deveria ter feito seu medidor de desejo encher ainda mais.
“Hum... Por que uma loja de souvenirs japonesa venderia tonkotsu ramen, que é igual em todas as partes do país? Sem mencionar os misteriosos biscoitos amanteigados...”
“Eu não sei.”
A adulta parecia legitimamente perplexa. Então, relembrando, Sophia não era japonesa, então por que ela saberia tanto sobre o Japão? Seria melhor para Natalena perguntar a alguém como Utagai Karuta sobre esse mistério, semelhante a como os bentos da estação de trem de Tóquio vendiam melhor do que os de qualquer outra estação do país.
Natalena pegou um sanduíche embalado e sentou-se em um dos sofás individuais alinhados ao lado das janelas de vidro reforçado.
“Sophia-sensei!” Algumas garotas chamaram à distância, então a professora de saia justa correu até elas. Aparentemente, ela era bastante popular.
Natalena olhou para a caixa transparente em seu colo.
Ela esperava presunto ou ovo desde que Sophia o chamara de ‘leve’, mas descobriu que era bem grosso quando o pegou. Era um sanduíche, mas tinha uma quantidade excessiva de frango. Estava tão gorduroso que ela mal conseguia sentir o gosto das especiarias.
Ela acha que as garotas precisam comer muito para crescer?
Natalena sentiu que Sophia Firenze e Amaashi Marika se dariam bem. Enquanto isso, ela agarrou uma fatia triangular do sanduíche com as duas mãos, deu uma pequena mordida em um canto e engoliu. Ela percebeu que tinha esquecido de pegar uma bebida, mas agora não tinha vontade de esperar na fila.
Ela terminou as três fatias do sanduíche, embora tenha ficado difícil no final.
“Não deixem seus corpos esfriarem! Concentrem-se em suas respirações enquanto descansam para terem certeza de que seus corpos estejam ociosos por dentro. Relógios são ótimos para medir objetivamente o seu metabolismo, mas não deixe os números controlarem vocês!!”
Ela podia ouvir a voz autoritária e forte de Kiyosawa Hadome.
Ele estava causando uma comoção a uma curta distância. As cadeiras de massagem e bebidas energéticas aparentemente estavam ficando populares, mas Natalena não tinha vontade de se juntar à multidão. Ela sabia que tinha o hábito de buscar paz e sossego em momentos como este.
Assim como sua irmã Anastasia.
“...”
Mas então...
“Tome.”
Alguém falou ao seu lado e lhe jogou algo. Ela o pegou com a mão e descobriu que era um travesseiro em forma de U.
Yamanen Deiri acenou.
“Estaremos saindo novamente após uma pequena pausa. Teremos um longo caminho a percorrer, então durma um pouco enquanto pode.”
“Hum... Isso é realmente o melhor?”
“Isso é uma maratona, não uma corrida. E se você baixar a guarda a qualquer momento, os lasers anti-aéreos a pegarão, então não faça nada que possa prejudicar seu foco mais tarde. Até 10 ou 15 minutos de sono podem fazer muita diferença. Eu sei disso por experiência própria, então ouça o seu senpai aqui.”
“C-Certo.”
“Porque tirar uma soneca na aula dá a você toda a energia de que precisa para aproveitar ao máximo sua hora de almoço! Ah ha ha!!”
Deiri saiu rindo.
Ela se sentiu estúpida por pensar bem daquele garoto mais velho, mesmo que por um momento. Mas era verdade que ela não tinha nada para fazer agora que se trocou e comeu. A Magia Cristalina não exigia reabastecimento ou suprimentos, e nenhuma manutenção ou inspeção era necessária.
10 ou 15 minutos, hmm?
Os feixes de luz verdes continuavam a rasgar ocasionalmente a escuridão do céu visível através do vidro reforçado que era continuamente atingido pela chuva artificial. Outros alunos estavam atraindo o laser anti-aéreo. Eles estavam operando em turnos, mas ela ainda se sentia mal relaxando enquanto eles estavam fazendo isso. O mesmo para o grupo de Marika, que ficou em silêncio depois de partir para Grimnoah Segundo, e com Karuta e Aine, que foram salvar aquelas três. Eles estavam todos lutando com suas vidas em risco, mas aqui estava ela.
Por outro lado, descansar um pouco fazia parte de seu trabalho.
E se preocupar ali não levaria a nada. Ela disse a si mesma que dormir seria melhor do que ficar acordada ociosa, então colocou o travesseiro em forma de U atrás do pescoço, cruzou as mãos na frente do estômago e se recostou no sofá.
Ela fechou os olhos.
Yamanen Deiri e Nekoumi Hirosuke olharam em silêncio para Natalena Blast, de 12 anos, enquanto ela dormia profundamente em seu grande assento.
“Uhh... Karuta-senpai... Zzzz...”
Os dois garotos sorriram amargamente e colocaram um cobertor sobre ela.
Eles estariam saindo em breve, mas decidiram deixá-la em paz.
“Ela tem trabalhado muito duro para uma pirralha.” Deiri disse enquanto se virava.
“Os alunos do ensino médio, como nós, devem proteger os do fundamental. Principalmente as garotas.”
“E definitivamente temos que perguntar a Karuta sobre esse sonho dela, quando ele voltar.”
“É melhor ele nos contar seu truque para ganhar corações no fundamental!!”
Eles eram as iscas que nunca poderiam desferir um golpe final, mas também estavam constantemente em risco. Alguns poderiam ver isso como um péssimo papel, mas eles pareciam perfeitamente satisfeitos.
Deiri girou um braço e estalou seu pescoço com um sorriso selvagem nos lábios.
“Certo, vamos começar a segunda rodada para proteger nosso amigo lá fora.”
“C-Certo. Temos que mostrar como os alunos do ensino médio são legais e avisar aos do fundamental que há um senpai esperando por eles.”
Parte 4
Aine produziu um som suave enquanto abraçava Marika frontalmente.
Ela enterrou o rosto nos grandes seios da garota e cheirou.
“Hm... Aceitável.”
“O-Obrigada?”
“Agora não precisamos nos preocupar com a Ameaça nos rastreando usando seu cheiro. Sniiiiiff.”
“E-Espere... Hum, Aine-chan, i-i-i-i-isso é constrangedor!”
Ter mais pessoas era uma coisa boa ou ruim?
Provavelmente dependia da situação. Em uma batalha tradicional em que ambos os lados corriam um para o outro para lutar, um número maior fornecia uma vantagem absoluta. Mas para uma missão de um franco atirador ou uma infiltração furtiva, mais pessoas apenas aumentavam o risco de detecção.
Mas Karuta entendera algo agora que ele mesmo experimentou. Números maiores pelo menos ajudaram a reduzir o fardo psicológico.
Assim como os termos gramaticais de primeira pessoa, segunda pessoa e terceira pessoa, reunir três ou mais pessoas poderia ajudar a fornecer mais objetividade. Ele fora capaz de manter a calma enquanto observava e entendia o ambiente de forma muito mais eficiente do que quando quase fora esmagado pela pressão paranoica de antes. (Embora parte disso fosse porque ele não podia dividir o fardo com Aine, já que ela nem era humana.) O aumento da objetividade deu- lhes o desejo de compartilhar ativamente os pensamentos em suas cabeças.
Em outras palavras, isso os fez falar. Perigosamente assim.
“Parando para pensar sobre isso, por que a verdadeira Ameaça veio para cá?” Karuta perguntou.
Ele estava atualmente agachado abaixo das janelas do corredor e se movendo lentamente ao longo da parede. A Ameaça havia coberto essas janelas com painéis de metal e outros materiais, como em outros lugares, mas isso ainda era preocupante.
O som de garras arranhando do lado de fora não havia mudado, então eles não deviam ter sido notados. A Ameaça do outro lado dos painéis de metal não conseguia ouvir os ruídos do corredor. E se fossem as baratas e os girinos, poderiam não ter sido anatomicamente estruturados para ‘olhar para baixo’, mesmo que os painéis de metal não estivessem no caminho.
Essa situação parecia ser uma confirmação.
“Isso significa que eu estava certo sobre as baratas e os girinos usarem suas lentes vermelhas para localizar alvos visualmente. Heh heh.” Aine disse.
“Sim, sim. Vou comprar uma chupeta e um pouco de leite em pó para você mais tarde, então fique quieta.”
“....................................................................................................... Encara.”
“N-Não fique me encarando silenciosamente, Aine. É assustador.”
“Criticar-me por obedecer às suas ordens é injusto.”
Ela estufou as bochechas, estando apenas 10cm distante dele, deixando-o sem saber o que fazer com sua atitude.
Por enquanto, ele olhou para uma janela.
“De qualquer forma, por que elas ainda estão agarrados ao exterior assim? Elas devem ser capazes de quebrar o vidro com bastante facilidade e até reforçaram as janelas com aqueles painéis de metal e outras porcarias.”
“Certamente não parece ser o caso de elas desejarem entrar, mas não conseguem.” Marika concordou.
O ouriço-do-mar e a anêmona Gestalt foram confirmação suficiente de que a Ameaça já estava ativa dentro de Grimnoah Segundo. Elas não tiveram problemas para entrar, mas havia claramente um grupo que o fez e outro que não.
A amiga de infância com curly twintails agachou-se abaixo das janelas enquanto se esgueirava pelo corredor.
“Então elas têm algum tipo de divisão de papéis? Hmm... Como talvez as que cobrem o exterior destinam-se a esconder o que está acontecendo dentro do navio.”
“Você está assumindo que o interior é mais importante e o exterior é apenas uma armadura, mas essa é uma forma humana de pensar. Elas podem querer apenas comer a tinta e as cracas presas ao navio. Não sabemos nada sobre a biologia da Ameaça ou como elas pensam.”
“Não estamos falando apenas sobre os que estão do lado de fora do navio.” A gyaru Hashizaki Tayori suspirou. “Vimos uma rede de alerta de águas- vivas e anêmonas cercando o navio, pelo fundo do oceano. Elas foram espalhadas, e é difícil pensar que isso é o que realmente importa. Acho que Grimnoah Segundo é realmente o ponto central.”
Se aquelas espalhadas pelo oceano fossem as mais importantes, então o navio da Academia seria um intruso e seria estranho para a Ameaça, que era uma destruidora total, não eliminá-lo Nesse caso...
“A Ameaça tem algum motivo para ocupar Grimnoah em vez de afundá-lo? Não parece que elas querem apenas destruir nossa base móvel.”
“Mas, Karuta, Grimnoah é apenas uma escola flutuante, certo?
Tínhamos algum material especial a bordo?”
O navio em si havia sido feito com a compra e reforma completa de um navio de cruzeiro. Poderia ser incomum quando comparado a uma vida normal, mas os navios de cruzeiro podiam ser encontrados em todo o mundo. Não havia nenhuma razão real para visar especificamente o navio de Grimnoah.
“Do que você está falando?” Os lábios pálidos de Matsuda Imi moveram-se. Ela soltou um gemido deprimente enquanto seus dentes batiam, embora não estivesse frio. “É claro que há algo especial neste navio. É o único lugar no mundo onde você pode encontrar Magos mortos e cristalizados.”
“...”
“Ela tem razão, Sacri-sama. Se elas estão se preparando para lutar contra os Magos Cristalinos, elas gostariam muito de testar os limites de sua regeneração predefinida. Até onde elas precisam ir para derrotar um? Quanto risco existe de um derrotado retornar à luta? É razoável supor que a Ameaça iria querer investigar essas coisas.”
Os Magos Cristalinos não eram imortais como Susannia Evans, dos Solucionadores de Problemas, mas alguém que não sabia como sua regeneração funcionava poderia vê-los como zumbis que ficavam se levantando de qualquer dano sofrido.
Matá-los não seria o suficiente para relaxar.
Portanto, a Ameaça gostaria de saber até onde teria que ir antes que pudesse relaxar.
Faz sentido!!
O próprio Karuta checou o cadáver (?) de uma isca da Ameaça na Praia Cristalina para descobrir como elas funcionavam, então se ele estivesse na posição da Ameaça, seria exatamente o que ele faria.
Por outro lado, seria errado sugerir que eles fossem verificar Gekiha e os outros.
Eles foram mantidos no nível mais inferior do casco central do navio dos três cascos do navio. Mas para derrotar o leão Centelha, para que seus aliados de Grimnoah pudessem voar até ali, eles teriam que escalar o telhado do prédio do fundamental. Essas eram direções opostas e, ilogicamente, fazer uma meia-volta agora poderia destruir qualquer confiança que Imi e Tayori tivessem nele.
Ele queria evitar criar uma brecha em seu grupo.
Isso não tinha nada a ver com quem era mais forte do que quem. Viajar por Grimnoah era uma coisa arriscada. Se Imi finalmente atingisse seu limite e gritasse, quebrasse uma janela próxima ou pedisse ajuda através da comunicação de longa distância da sua Flor Cristalina, a Ameaça notaria. E então nenhum deles sobreviveria.
E, de qualquer maneira...
Ele parou e fechou os olhos.
Ele cerrou os dentes e arrastou para cima a parte desprezível encontrada bem em seu âmago.
Ele se forçou a pensar isso.
De qualquer maneira, a Ameaça está ocupando Grimnoah há algum tempo. Se elas realmente estão aqui para investigar aquelas estátuas de cristal, Gekiha e os outros não terão escapado ilesos. Com tanto tempo, devo assumir que a Ameaça já fez algo com eles!!
“Aine... e vocês também. Estamos indo para o telhado.”
“Sim, Sacri-sama.”
“Precisamos massacrar esses pedaços de merda não importa o que aconteça, e o primeiro passo é neutralizar os lasers anti-aéreos do leão no telhado. Então...”
Assim que ele espremesse essas palavras, ele e Aine pularam atrás de um pilar que se projetava para fora da parede, Marika se abaixou e deslizou para o espaço estreito abaixo de um bebedouro, e Tayori arrastou Imi para uma sala de aula vazia.
Algo grande havia descido da escada.
Era um ouriço-do-mar-lápis-ardósia, sugerindo que havia mais de um deles no navio. Mas não deveria ter notado os intrusos enquanto se movia, pois vagou um pouco perto do começo da escada e então rolou de volta de onde viera. Eles não sabiam se havia subido ou descido, mas provavelmente estava se movendo regularmente entre cada andar.
Estava em uma patrulha.
“Parece que não podemos usar as escadas.” Marika sussurrou debaixo do bebedouro. “Devemos encontrar outra rota? Provavelmente existem pequenos elevadores para os carrinhos de cozinha.”
Como podiam voar, não precisavam seguir as rotas normais. Marika tinha sugerido um elevador, mas isso não exigia que eles pressionassem o botão e o esperassem normalmente. Eles podiam simplesmente voar pelo poço como se fosse uma chaminé.
Mas onde podemos encontrar um atalho utilizável?
Se eles passassem muito tempo no corredor, outra Ameaça poderia simplesmente encontrá-los, então eles se moveram para uma porta deslizante próxima, abriram uma pequena fresta, verificaram se as janelas estavam cobertas por painéis de metal e outros materiais, e então se esconderam dentro.
A sala era duas ou três vezes maior que uma sala de aula comum. Na escuridão, seus olhos foram atraídos para as makitas, furadeiras e os tornos presos às grossas mesas de trabalho. Karuta não tinha o layout da escola do fundamental memorizado (apesar de ajudar com algumas de suas aulas), mas ele poderia adivinhar que esta era a sala de aula da oficina.
Imi era a mais sensível ao medo, pois se agarrou a sua amiga gyaru e falou com as pernas tremendo.
“O-O que vamos fazer agora? Estaremos perdidos se não conseguirmos chegar ao telhado.”
“Sacri-sama.” Aine apontou sua espada de cristal em direção a uma tampa retangular gradeada na parede, próxima do teto. “Se necessário, podemos usar isso.”
“O duto de ar?” Marika perguntou enquanto olhava para cima. Karuta se sentia igualmente cético.
“Será que podemos realmente passar por um espaço tão estreito?”
“Não estamos em posição de eliminar possibilidades baseadas em especulação. Não podemos saber com certeza sem verificar antes.”
“Tudo bem então.”
Era verdade que nenhum deles tinha ideias melhores. O duto ficava na parede posterior da sala de aula, então eles podiam alcançá-lo subindo nas mesas alinhadas.
Por alguma razão, Marika colocou as mãos nos quadris e estufou as bochechas.
“Por que você fará quase qualquer coisa se Aine-chan lhe pedir?”
“Porque ela não pede coisas inúteis como você.”
Mas...
“Oof... Droga, eu mal consigo alcançá-la na ponta dos pés. Entrar seria difícil.”
“Sacri-sama, me coloque em seus ombros.”
Ele quase concordou reflexivamente, mas então parou.
“Você é uma garota, usando saia.”
“Sim, e?”
Ela apenas inclinou a cabeça enquanto estava de pé na mesma mesa que ele, com suas brilhantes coxas expostas.
A garota de cristal realmente não tinha problema em ser tocada, apesar de não gostar de ter sua pele exposta. Ela ainda tinha muito o que aprender.
Seu vestido branco tinha uma grande fenda em ambos os lados, provavelmente para não atrapalhar seus movimentos. Isso o tornava mais revelador do que um vestido chinês, mas menos revelador do que uma roupa kunoichi.
Isso o incomodava.
Isso o incomodava muito, mas então ela colocou as pequenas mãos em seus ombros e o empurrou para baixo. Ela estava convencida de que ele estava abaixo.
“Espere aí, ei, isso é constrangedor! Eu realmente tenho que enfiar minha cabeça neste túnel!?”
“Sacri-sama, lute muito na mesa e você vai cair.”
“Ah, ahhh... Estou dentro dele...”
Ele parecia ter acabado de vislumbrar um novo mundo, mas teve que se concentrar em seus joelhos e quadris enquanto sentia algo quente e macio apertando contra suas bochechas. Ele lentamente se levantou na mesa instável e Aine começou a se contorcer em cima dele. Ela aparentemente estava removendo a tampa do duto com as duas mãos.
“Hmm. Eu removi a tampa, mas ainda não estou em altura suficiente.
Não consigo ver o interior.”
Ele tentou olhar para cima, mas o interior da saia dela cobria todo o seu rosto. Exalava um leve calor e um aroma doce.
“Pwah!!! A-Aine, o que você está fazendo aí em cima...?”
“Posso ganhar um pouco mais de altura se usar meu voo.”
Suas coxas se ergueram enquanto ainda apertava sua cabeça.
O paraíso de cozas rapidamente se tornou um enforcamento. Karuta agitou as pernas que não conseguiam mais alcançar a mesa abaixo.
“Agwgggghhhh!?”
“O que foi?”
“Estou morrendo!? Minha cabeça vai estourar! Bgweh! Aine, sinto muito! Sinto muito por uma parte de mim que pensou que teria sucesso em fazer isso!! Bweh!!”
“Ah ha ha. Isso é o que chamamos de carma, Karuta.”
Por alguma razão, Marika triunfantemente colocou as mãos nos quadris.
Não durou mais do que 10 segundos, mas foram 10 segundos terríveis,
mais devido à dor nos ossos do pescoço que pareciam que estourariam, do que devido ao sufocamento. A dor que você não estava acostumado a sentir poderia ser uma experiência muito diferente, como esfolar o joelho ou cortar o dedo com uma faca.
“E-Espere, se você podia apenas usar o seu voo, por que subiu nos meus ombros?”
Aine desceu lentamente e libertou a cabeça do garoto, mas ainda estava sentada em seus ombros enquanto inclinava a cabeça.
“Viajar por aqui será difícil.”
“É muito pequeno?” Tayori, no chão, perguntou.
“Não.” Aine balançou a cabeça. “Está preenchido com algo semelhante a teias de aranha.”
“Teias de aranha?”
“Algo semelhante a isso. Pode haver uma variedade de Ameaça semelhante a aranhas. Provavelmente são fios de metal simples com tensão aplicada. Eu os estimo mais fracos do que papel, então se você tocar em um descuidadamente, quebrará e elas irão detectar imediatamente sua presença. Dada a densidade, viajar por aqui sem ser detectado seria efetivamente impossível.”
“Não tinha coisas assim no duto de fumaça.”
Se a Ameaça tinha algo parecido, por que não estava espalhado por todos os corredores e salas de aula? Karuta tinha suas perguntas, mas Aine não tinha todas as respostas. Talvez a Ameaça tivesse materiais limitados para trabalhar, ou talvez elas decidiram que seria ineficiente nas passagens comuns por onde outras Ameaças estavam passando.
Karuta se agachou na mesa para abaixar a garota de coxas macias.
“Podemos ser capazes de usar isso.”
“Você vai ignorar meu aviso e usar essa rota?” Aine perguntou.
“Não, então não fique chateada. Se não conseguirmos encontrar outra rota, podemos quebrar os fios com algum tipo de dispositivo cronometrado para chamar a atenção da Ameaça. Se aquele ouriço-do-mar sair da escada, podemos usá-la nós mesmos, certo?”
Isso seria o último recurso, é claro. O risco de correr através da Ameaça era maior se eles estivessem fora de sua rota normal de patrulha. Se você absolutamente tivesse que se aproximar de um ninho de vespas, preferiria andar na ponta dos pés. Poucas pessoas gostariam de atirar uma pedra e irritar as vespas antes de entrar furtivamente.
Como estão as coisas por ali?
Karuta se agachou em frente à porta da sala de aula e abriu uma fresta para espiar do lado de fora.
A escada estava silenciosa.
Assim que ele começou a se inclinar mais, ele rapidamente puxou a cabeça para dentro. Ele estendeu uma régua de plástico, para usá-la como espelho, e confirmou que o ouriço-do-mar-lápis-ardósia estava realmente lá.
Fazia patrulhas regulares, sem deixar brechas.
Marika se inclinou sobre ele para espiar o corredor ela mesma. Ela poderia pensar que estava apenas colocando a cabeça em cima da dele como dois dangos em um espeto, mas na verdade estava colocando outra coisa em cima da cabeça dele. O que era? Um par de pesos. E ela parecia totalmente inconsciente de quão perfeitamente eles estavam descansando em sua cabeça.
“Sim, não há como chegar lá. Provavelmente poderíamos correr pelo corredor enquanto ela não estiver ali, mas correríamos direto para ela se tentássemos subir as escadas para o telhado.”
“S-Sim. Provavelmente, é mais ou menos isso. Talvez.”
“Por que você está sendo tão evasivo???”
Ele estava muito distraído para dar uma resposta clara, mas então algo lhe ocorreu.
“Espere.”
“?”
Marika inicialmente não podia dizer no que ele estava focado.
“Estou ouvindo alguma coisa.” O garoto disse. “Está vindo deste corredor. Acho que é onde fica o ginásio. Podemos passar por lá, não é?”
“Isso pode funcionar se quisermos apenas uma maneira de atacar a Centelha.” Tayori abriu um pouco a porta da sala vazia e acenou com a cabeça. “O ginásio usa o espaço de vários andares para ter mais altura, de modo que poderíamos voar de lá até o telhado. E ao contrário de um poço de elevador apertado e restritivo, podemos ser capazes de escapar se a Ameaça tiver armado uma emboscada para nós.”
Todos concordaram.
Depois que a Ameaça patrulhando as escadas apareceu e subiu novamente, eles fizeram seu movimento. A rota os levou perto da escada em questão, mas eles a ignoraram. A Ameaça havia ido embora por enquanto, mas eles não podiam subir as escadas às cegas quando poderiam cruzar com ela a qualquer momento.
Em vez disso, eles seguiram para as portas duplas no final do corredor. Elas levavam ao ginásio.
Depois de se aproximar e se pressionar contra a porta, Karuta gemeu.
Ele estava focado na fenda entre as portas duplas.
“(Posso ver luz através da porta. As luzes estão acesas lá dentro)”
“(Isso não parece bom.)”
Marika parecia cautelosa, mas ela estava realmente ansiosa para ir. Isso era diferente de tudo que eles tinham visto antes, então ela poderia ter pensado que encontrariam alguma dica crucial sobre a Ameaça lá dentro.
“(A Ameaça tem algum nível de inteligência.)” Aine foi mais pessimista. “(Com base na escolha de nome da Gestalt, elas são, ao menos, inteligentes o suficiente para enganar os humanos para uma vitória fácil. Nenhum outro lugar tinha luzes acesas, mas poderia facilmente ser uma armadilha, semelhante a um tablet militar sendo ‘abandonado’ em cima de uma mina terrestre no campo de batalha.)”
Ambos tinham razão.
Karuta se agachou, pressionou as mãos contra as portas duplas e fechou os olhos.
Ele cerrou os dentes, reabriu os olhos e falou. Ele havia tomado sua decisão.
“Vamos. De todo modo, temos assuntos a tratar com aquele leão.” “Nós devemos ter sido amaldiçoados...”
O olhar de Imi vagou diagonalmente pelo espaço vazio enquanto Tayori a segurava perto de si. Não estava claro com quem ela estava tentando falar.
Karuta juntou forças em suas mãos e empurrou. A porta se abriu lenta e silenciosamente.
A luz perfurou seus olhos.
Parecia tão brilhante quanto os faróis de um carro. As luzes do ginásio sempre foram tão intensas?
Eventualmente, seus sentidos voltaram ao normal.
Eles haviam entrado no segundo andar do ginásio, em vez da grande área plana usada para esportes. Especificamente, eles estavam no fundo.
Ele ergueu a cabeça, ainda agachado, para ver um arranjo ordenado de vigas de aço e lâmpadas de halogênio. O telhado onde o leão esperava ficava logo acima deles.
Contudo...
“(Eu sabia que algo não estava certo.)”
Ele estava mais focado no andar de baixo do que no destino acima.
Este segundo andar era destinado aos espectadores, mas como tinha uma parede semelhante a um guarda-corpo para evitar que as pessoas caíssem, eles podiam se esconder de qualquer coisa abaixo ao se agachar. A parede era apenas da altura do quadril, mas eles não tinham como ver o que estava acontecendo enquanto estivessem escondidos ali.
Sim.
“(Algo está acontecendo aqui. Mas que som é esse???)”
Ainda agachado, ele se aproximou da parede semelhante a um guarda- corpo. Desviar de seu objetivo apenas atrasaria desnecessariamente a missão e colocaria a vida de todos em maior risco. E, neste caso, ‘todo mundo’ era mais do que apenas ele, Marika e as outras ali. Também incluía Natalena e os demais. Ele sabia disso, mas não conseguiu resistir ao impulso.
Demorou mais de dois minutos para chegar à parede.
Enrolado atrás da parede de pouca altura, ele focou seus ouvidos no barulho desconcertante que podia ouvir.
O que é isso?
Ele não estava falando com ninguém.
A confusão só crescia em sua mente enquanto ele lentamente reunia forças em seus joelhos. Ele hesitantemente se levantou de sua posição agachada para espiar por cima do guarda-corpo.
E...
Ele viu...
Parte 5
A torre de controle do aeroporto flutuante tinha equipamento de comunicação suficiente para interceptar transmissões em qualquer frequência, mas agora Omotesandou Kyouka tinha a tabela de números aleatórios necessária para descriptografar as transmissões do exército indiano.
Uma vasta quantidade de vozes e dados fora revelada a ela.
Mas mesmo com tudo visível e audível, eram usados muitos termos técnicos e palavras-código para ocultar esses termos, então uma pessoa normal teria dificuldade em compreender o que estava sendo dito. Mas ela era diferente.
“Entendo.”
“O-O quê?” Letnahe Kurent perguntou, hesitante.
Ela não escaparia ilesa agora que havia entregado o dispositivo flash contendo a tabela de números aleatórios. Ela se livrou de sua hesitação, mas ainda assim gostaria que algo útil resultasse de tal situação.
Ela havia expulsado seu espírito de justiça por isso.
Mesmo depois de se casar e trocar alianças, ela nunca foi capaz de abandonar seu primeiro amor. Ela protegeria Kiyosawa Hadome desse perigo. Ela não iria recuar, não importando as consequências.
Kyouka removeu seu fone de ouvido.
“A Força Espacial Indiana quer lançar seu ataque nuclear de qualquer maneira. Como eles se recusam a recalcular sua programação, mesmo quando as condições mudam e novas informações chegam, eles provavelmente estão planejando que seu ataque à Ameaça falhe. Já expliquei isso antes, não é?”
“Mas por que!? Se eles lançarem um ataque nuclear, mas esse ataque não mostrar resultados, a reação internacional será violenta. Os militares indianos querem cometer suicídio diplomático!?”
“E se eles pudessem levar outro país com eles?” Kyouka riu e Letnahe olhou, chocada, em silêncio.
“Sobre quem recairá a responsabilidade se o ataque nuclear falhar? Esta missão não está sendo conduzida apenas pelos militares indianos; é dirigido pela maior Força de Coalizão. Não sei se os EUA ou a China estão no comando, mas qualquer superpotência no topo levará a culpa mais do que qualquer um dos países individuais que compõem a coalizão. Todos esses países menores se recusarão a assumir a culpa, insistindo que a superpotência os pressionou para isso.”
“Então, você está dizendo...” A soldado morena de cabelos prateados engoliu em seco enquanto tocava a lateral de seus óculos. “Todos sofreriam danos, mas não na mesma quantidade? E se outro país sofresse mais danos do que o seu, então os militares indianos se beneficiariam? Esse é o jogo deles!?”
“Todos assinam tratados de redução nuclear, mas as armas nucleares parecem nunca ir embora, não é? Por que será? Se o tratado diz que cada país deve reduzir seu arsenal de armas nucleares em 30%, então o fardo é muito diferente para um país com 100 e um país com 10.000. É por isso que eles nunca têm sucesso. Bem, eles podem fazer isso para que eles possam se livrar do excesso que não querem se preocupar por mais tempo, mas um compromisso para trazer a paz? Essa é apenas uma desculpa datada, uma vez que eles pensam cuidadosamente em tudo e sabem que o fardo sobre a outra nação será maior. É um movimento estratégico, semelhante ao shogi ou xadrez.”
Com um tratado normal de redução nuclear, o dano não seria tão grande.
Eles apenas concordariam com uma meta para almejar e não havia
penalidades reais se eles falhassem em atingir essa meta. O país poderia fugir com seu equívoco de costume.
Mas as coisas seriam diferentes desta vez. Eles teriam feito um ataque nuclear que não conseguiria derrotar a Ameaça. Eles teriam causado muitas mortes desnecessárias. E não ficaria claro se a responsabilidade seria dos militares indianos ou de toda a Força da Coalizão.
Isso seria permitido a continuar?
O povo de todo o mundo, furioso, sem dúvidas, exigiria um tratado de redução forçada com penalidades reais para o descumprimento. O valor real da redução pode ser 50% ou 80%, mas independentemente de como fosse, os países com mais armas nucleares teriam que pagar mais para se desfazer delas.
A Índia era oficialmente reconhecida como uma potência nuclear, mas eles tinham muito menos do que a América ou a Rússia. Se pudessem manter os danos para si próprios em níveis baixos, poderiam efetivamente roubar de seus oponentes o poder nacional.
“O que minha terra natal está fazendo?” Letnahe perguntou como se fosse uma maldição.
Ela se preocupava com a família representada por seu anel, mas também não podia jogar fora as lembranças de seu primeiro amor contidas em seu relógio.
Enquanto estava presa entre os dois, ela tinha que estar ciente de que todos no mundo tinham pessoas pelas quais se importavam dessa mesma maneira. E eles conheciam outras pessoas que consideravam insubstituíveis. Mas tudo isso seria derrubado tão simplesmente quanto fazer uma soma ou subtração.
Mas Kyouka deu de ombros.
“Eu realmente não posso culpá-los.” “?”
“Toda a humanidade deve se unir para lutar contra a Ameaça. Essa única desculpa é tudo que qualquer um precisa para expandir infinitamente suas forças armadas nos dias de hoje. Mas a luta contra a Ameaça acabará algum dia. E o que todos farão com suas armas armazenadas? Você realmente acha que eles vão se desfazer deles depois de gastar tanto dinheiro em sua produção? Você honestamente acha que o alto escalão vai jogar fora todos os seus privilégios e ficar desempregado?”
“Mas...”
“A luta contra a Ameaça pode terminar, mas eles ainda encontrarão uma maneira de tornar essas armas necessárias. Que tal lutarem contra desastres naturais? Eles poderiam usar mísseis poderosos para expulsar os gases do efeito estufa de seu país e eles poderiam usar experimentos nucleares subterrâneos para criar terremotos artificiais que forneceriam uma liberação segura para a energia das placas tectônicas. Na verdade, pode ser qualquer coisa, até criação de mísseis ou mineração por drones. Todos encontrarão uma razão ou outra para proteger seu modo de vida... Continuaremos a viver em uma época em que todos os países desejam quantas armas puderem ter. Então, é estranho que alguém decida agora que deve tirar as armas das outras nações?”
Letnahe ofegou desta vez.
Ela não podia acreditar o quão longe essa conspiração ia. Cada peça individual poderia parecer razoável isoladamente, mas o resultado final colocava o Japão de Omotesandou Kyouka na mira. Não só ela havia nascido e crescido lá, mas seus companheiros de confiança estavam lutando na linha de frente pouco antes deste absurdo ataque nuclear que nunca teve o objetivo de ter sucesso.
No entanto, ela ‘não podia realmente culpá-los’?
Ela realmente simpatizava com os planos da Índia e o que eles esperavam ganhar?
“O que está acontecendo na sua cabeça?” Letnahe ficou pasma, mas não conseguiu conter as perguntas, que saíram sozinhas de seus lábios. “Você sabe quantos civis sem conexão com a luta contra a Ameaça vão morrer!? E não apenas da explosão direta e do calor! O vento vai levar a precipitação radioativa por todo o arquipélago!! Este não é apenas um número calculado em um documento. As vidas que estarão sendo destruídas aqui são todas pessoas com quem alguém se preocupa mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Que alguém se preocupa tanto que estaria disposto a violar todos os seus princípios e morais para protegê-la!”
“Sim.” Mesmo agora, Kyouka respondeu tão prontamente como sempre. “Tenho certeza que você já sabe, pois deve ter feito uma investigação completa sobre mim, mas minha família mora em Kyoto. Meus pais, minha avó e meu irmão mais novo. Ah, e as empregadas e motoristas que trabalharam para minha família por tanto tempo que são basicamente uma família para mim. Sua única fonte real de informação é a TV e o jornal. Isso e tudo o que ouvem as pessoas falando na vizinhança, suponho. Eles são tão normais quanto parecem e um pouco acostumados com a paz, então tenho minhas dúvidas se eles iriam evacuar depois de ouvir a sirene tocando. Mesmo assim, eles são bastante conhecidos na região.”
“...”
“Preocupo-me com eles mais do que com a minha própria vida. No caso de uma explosão nuclear, eles receberão uma grande dose de radiação. E se a Magia Cristalina falhar e a Ameaça estiver livre para atacar, ela pode simplesmente destruir Kansai.”
No entanto, ela não se comoveu.
Ela permaneceu como de costume e tomou apenas as ações ideais.
Ela elevou sua mente a um lugar que Letnahe nunca tinha administrado desde que mantivera seu anel mesmo enquanto usava aquele uniforme militar branco.
“Mas por que eu deveria chorar e lamentar? O que isso mudaria?” Qualquer pessoa que visse a Presidente ali perceberia que até os sorrisos eram variados. Este de agora parecia um que folha talhado com um corte crescente em seu rosto. “O primeiro navio me ensinou muito bem que a morte não discrimina. Ore o quanto quiser, nenhum deus vai responder. Deus não é uma máquina de vendas que distribui milagres para quem deseja. Não soam como palavras dos ‘mais fortes’? Escrever uma reclamação formal sobre a vida ser injusta seria uma perda de tempo. Precisamos nos concentrar na boa sorte que temos de nos encontrar aqui e com algumas opções diferentes disponíveis. Ainda podemos mudar a forma como isso acontece. Então, o que podemos fazer? E o que devemos fazer?”
“Você está dizendo... que sabe a resposta para isso?”
“Seja um ‘mal-entendido lamentável’ ou uma ‘falha de comunicação’, a Força Espacial Indiana quer uma desculpa para lançar sua ogiva. Eles querem algo que mostre que Grimnoah perdeu e que os militares adultos devem assumir.”
“Você está dizendo que pode evitar que eles façam isso tirando a desculpa deles? Como... tendo Grimnoah derrotando a Ameaça imediatamente? Não, não estaríamos nesta confusão se você pudesse...”
“Eeeeeeeeeeerrada.” A Presidente interrompeu. Então ela apresentou sua conclusão. “Não podemos derrotar a Ameaça imediatamente, mas você não acha que podemos obscurecer o resultado, garantindo que ninguém saiba se ganhamos ou perdemos?”
Parte 6
Quando Karuta olhou para baixo do segundo andar do ginásio, ele viu a verdadeira Ameaça lá. Eram girinos com pernas, mas muitas. Cada uma rivalizava com um cavalo de caminhão em tamanho, mas mais de 100 delas estavam alinhadas ali.
Sim, alinhadas.
Isso era estranho. O que elas estavam fazendo? Em vez de causar confusão ou rastejar, todas permaneciam inteiramente imóveis enquanto olhavam na mesma direção. Algumas possibilidades vieram à mente – modo de espera, dormir, reabastecer – mas nenhuma delas parecia muito certa.
Um projetor de home theater que poderia ser usado com as luzes acesas estava projetando algum tipo de filmagem no palco.
Aine havia especulado que os girinos usavam sua visão para localizar alvos.
Se isso fosse verdade, então elas estavam assistindo algo ali. Inclui áudio:
“Magia Cristalina produz fenômenos sobrenaturais a partir das diferenças de pressão ocultas invisíveis semelhantes às frentes de alta e baixa pressão que são criadas pela colisão dos poderes fluindo do espaço e o poder emanando do Embrião Cristalino Original no centro da terra. Assim como os sacerdotes e sacerdotisas das eras antigas ganhavam poder suficiente para reunir o apoio do povo e governar países inteiros ou o mundo lendo o vento para prever o clima para uso por navios a vela ou para plantações.”
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Sua respiração parou.
Ele não podia acreditar no que estava vendo aqui.
O que... O que elas estavam fazendo??? Sua mente não conseguia acompanhar, mas a alegre voz feminina do vídeo de referência não parava.
“É por isso que a Magia Cristalina usa o nome de um deus para ganhar a habilidade de ‘ler’ os calendários ocultos e mapas de horóscopos encontrados em diferentes mitologias e religiões. A Magia Cristalina não pode criar o vento do nada e causar milagres dessa forma, mas pode causar fenômenos impossíveis para uma pessoa comum velejando o vento existente e usando o grande poder ali encontrado. Assim como um moinho de vento mói o trigo ou um planador voa alto no céu.”
“A Ameaça... a verdadeira Ameaça está tendo aulas?” Marika gemeu como se também não pudesse acreditar no que estava vendo.
Por que a Ameaça ocuparia Grimnoah sem afundá-lo? Por que elas atacaram o navio da Academia, em primeiro lugar?
Essa era a resposta.
“Isso é ruim.” Hashizaki Tayori disse. Em vez de recuar para o sarcasmo surreal, ela expôs os riscos reais. “A Ameaça já é poderosa o suficiente, mas elas estão analisando nossa Magia Cristalina agora? Esse é o trunfo humano. Se elas aprenderem a fazer a mesma coisa, seus corpos mais resistentes as deixarão vencer.”
É realmente isso?
Karuta tinha suas dúvidas.
Se aquelas Ameaças (que de alguma forma conseguiram passar seus corpos enormes pela entrada) estivessem conectadas a um computador com um cabo e instalassem mecanicamente os dados, ele poderia temer a mesma coisa.
Mas isso era diferente.
A atmosfera da Academia era relaxada. Mesmo que o objetivo fosse aprender, ele sentiu algo mais na atmosfera pairando sobre os girinos.
Sim.
Quando Karuta e seus colegas aprendiam sobre Magia Cristalina como um meio de lutar contra a Ameaça, no primeiro navio, eles não tinham uma visão clara de como isso seria usado. Eles estavam mais focados se iriam almoçar no refeitório ou nas lojas da escola.
Algumas das Ameaças ali estavam cochilando secretamente. Algumas estavam balançando com algum tipo de ritmo. Algumas estavam arranhando o chão com os pés. Elas estavam desenhando rabiscos ordenados. Se esses girinos recebessem livros de papel grosso, provavelmente desenhariam um flip book na borda das páginas.
Mas isso significava...
Elas não têm uma meta? Esses girinos estão apenas passando o tempo ocioso? Quase como se estivessem morrendo de vontade de esta aula terminar. Mas será que meras máquinas podem fazer isso??? Uma IA que reúne dados de previsões do tempo anteriores está apenas fazendo isso porque foi dado esse objetivo específico. As máquinas não podem fazer uma pausa a menos que seja definido como uma tarefa necessária para atingir seu objetivo ideal, como se precisarem resfriar ou limitar o consumo de energia. Não existe um programa que pode ‘matar o tempo’ caso você mande. Então, elas não são máquinas? Elas são como nós?
“Espere, espere!! Elas poderiam ser...”
Karuta foi interrompido por um estrondo ensurdecedor. Veio de Imi, que ainda estava nos braços de Tayori.
Seus olhos estavam vagando enquanto ela estendia a mão direita. Ela segurava uma arma bizarra que tinha equipamentos médicos, como um bisturi e uma pinça, espalhados como uma multiferramenta no lugar de uma baioneta.
Ela já havia atirado.
Havia um buraco na cabeça (?) de um dos girinos no andar de baixo. Elas tinham sido tão resistentes, mas esta tinha caído tão facilmente...
Esta fora a primeira vez que alguém, além de Karuta e Aine, derrotara uma.
Mas ele não podia se alegrar com isso porque algo parecia errado. “Não. Não aguento maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais!!!!!!” Ela havia sido empurrada até o limite e seu grito ecoou pelo ginásio.
“Sacri-sama.” Aine calmamente anunciou sua execução iminente enquanto ajustava seu aperto em sua katana de cristal. “Alcançamos o limite.”
Todas as formas de intenção assassina atingiram o grupo de Karuta.
Esses girinos estavam frequentando a aula ociosamente, mas isso não significava que estivessem impotentes. Karuta e Marika frequentaram suas aulas no primeiro navio da mesma maneira, mas possuíam poder suficiente para esmagar os Solucionadores de Problemas, não é mesmo?
“Tch! Energize, Tezcatlipoca!!”
Marika se levantou imediatamente. Ela deveria ter decidido que não adiantava mais se esconder. Uma armadura de cristal pontiagudo projetou-se de seu corpo enquanto ela sacava um dispositivo parecido com um florete. Mas essa não era apenas uma arma de curto alcance. Girando a guarda redonda, ela poderia usá-lo como uma unidade de disparo a laser.
Vários feixes de laser caíram como relâmpagos. O chão do ginásio se espatifou.
Os rabiscos desenhados no meio da aula foram destruídos.
Karuta cerrou os dentes enquanto se virava para Aine e gesticulava para a parede com o queixo.
“Sempre tenha uma rota de fuga em mente e cause-lhes alguns problemas sem se matar!!”
“Entendido.”
Aine não hesitava em momentos como este.
Marika tendia a resolver tudo por meio do combate e até mesmo ela fora forçada a apenas atirar do andar superior, mas Aine imediatamente saltou da grade para lutar na linha de frente, abaixo.
Enquanto isso, Karuta se virou para Imi e Tayori.
“Que deuses vocês colocaram nas placas de circuito das suas Flores Cristalinas?”
“Eu usei o monstro nórdico Fenrir, e Imi usou a deusa médica egípcia
Neith.”
Tayori ativou sua armadura de cristal com um som como o de uma mola espessa sendo liberada. Armas grossas semelhantes a garras apareceram presas às costas de suas mãos. Ela estava aparentemente limitada a lutas corpo-a- corpo e não tinha projéteis.
Fenrir.
Uma arma com o nome do lobo que devorou o deus nórdico superior podia possuir grande poder em cada golpe.
“Energização completa. O que você quer que façamos?”
“Não vamos durar muito assim. Eu quero destruir a Centelha no telhado o mais rápido possível.”
“Isso seria difícil. Mas se eu passasse despercebida...” “?”
“Eu sou uma especialista em curto alcance, então eu poderia subir no telhado e morder aquele leão. Chegar perto dele seria a parte difícil, mas se eu pudesse fazer isso...”
Karuta acenou com a cabeça.
Mas então ele ouviu um som incomum vindo do andar de baixo. Esse não era o som de metal pesado e sólido se chocando. Era um som agudo e penetrante semelhante ao de vidro.
Vidro...
Cristal...
“Aine!?”
Movido por um sentimento muito ruim, Karuta se inclinou sobre a parede do guarda corpo e olhou para baixo, apesar do perigo. Foi quando ele viu.
Os girinos sacudiam seus corpos do tamanho de um cavalo de caminhão. Mas mesmo com o disparo do laser e Aine enlouquecendo com sua katana, eles não lutaram. Isso fazia parte de sua divisão de funções? Em vez de tentar lutar, eles estavam tentando fugir para um local seguro para que o conhecimento acumulado pudesse ser passado para o resto. Ou, dito de outra forma, Aine estava perseguindo os girinos que não resistiam e cortando-os impiedosamente por trás. Se seu lado parasse de tentar lutar, esta cena infernal iria embora por conta própria, mas, de outro modo, o inferno diante de seus olhos nunca terminaria.
Isso quase fez parecer que seu lado tinha começado. Tudo o que eles queriam fazer era retomar a escola.
Quando a perna de um girino foi cortada, ele rolou, expondo sua barriga.
Aine usou seu voo para pular direto em preparação para desferir o golpe final.
Nesse momento, o girino fez algo estranho. Ele dobrou à força seu corpo elíptico para trazer a parte em forma de cauda longa na frente de sua barriga para se defender. Quase como se estivesse com medo da dor que se aproximava.
“Esp...!!”
Nem mesmo o próprio Karuta sabia o que ele queria gritar ali. E a espada de Aine completou seu ataque impiedoso antes que ele pudesse dar o comando. Em vez de apontar para a barriga exposta, ela cortou a cabeça do girino começando com sua mandíbula gigante.
A coisa negra gigante gritou, o corte de sua boca distorcendo o grito.
Karuta assistiu em choque enquanto Marika disparava mais lasers. Ela não poderia acabar com eles com isso, mas ela poderia fazer os outros girinos dispersos recuarem. E quando isso os levasse a uma breve parada, Aine atacaria. Tudo sem pestanejar.
Ele pensou que a entendia. Pelo menos um pouco.
Ela havia aprendido a sentir vergonha quando sua pele era vista, mas ela não aprendera a sentir o mesmo quando sua pele era tocada. Ela ficaria ao lado dele com a espada em punho, não importando o quão desesperadora fosse a situação, e ela aceitara a recompensa do tamanho de um chocolate enquanto reclamava que era ineficiente. Quando ele mostrou seu lado feio, ela o segurou contra seus seios modestos e apontou seus defeitos como uma mãe.
Mas sua espada não mostrava nenhuma hesitação. A colheita havia começado.
O quê...?
Ele não conseguia respirar.
A próxima coisa que ele notou, foi que estava segurando sua cabeça e gritando. Mas ele não estava dando nenhum comando claro. Aine continuaria com suas ações atuais até que ele lhe desse um comando adicional. E não foi ele quem disse a ela para ‘sempre ter uma rota de fuga em mente e causar-lhes alguns problemas sem se matar’?
Ele havia causado isso.
Ele destruiu uma escola e tirou vidas.
Como ele era diferente dos Solucionadores de Problemas, que destruíram o primeiro navio e tiraram sua escola pacífica dele e de seus colegas estudantes?
Na verdade, isso poderia ser pior. Era como desencadear um cão feroz e soltá-lo em um parque tranquilo no fim de semana.
Diferente de Aine, Marika parecia enfocada em simplesmente conter a Ameaça. Para garantir que elas não se personalizassem usando os girinos que foram cortados. Mas esse esforço era mesmo necessário? A Ameaça estava sob ataque ali, mas elas estavam focadas em fugir e não fizeram nada para contra- atacar.
O que é isso? O que estamos fazendo???
“Isso começou com Imi atacando, mas ainda é a coisa certa a fazer.” Tayori insistiu. Ela os seguiria contanto que fizessem a coisa certa. Sua postura não havia mudado. “Elas não parecem ter nada como wi-fi de alta velocidade, mas se elas puderem levar o conhecimento armazenado dentro delas e espalhar para o resto como uma formiga enviando sinais de feromônio, nós não teremos chances. O que você faz se precisar impedir que as baratas se reproduzam antes que a maioria delas desenvolva resistência ao seu repelente? Você encontra as que sobreviveram ao repelente de insetos e as esmaga. Esse é o melhor plano.”
O melhor plano.
Se ela realmente pensasse isso, poderia ter ficado quieta. Já que ela havia saído de seu caminho para dizer isso em voz alta e buscar sua concordância, isso deveria ter deixado, em um nível ou outro, um gosto ruim em sua boca. E uma desculpa disfarçada de justificativa não chegaria a Karuta.
O teto do ginásio foi rasgado e o arranjo ordenado de vigas de aço choveu. O leão de laser anti-aéreo caiu junto com a cobertura artificial que havia destruído.
Era a Centelha.
Essa era a sua figura estratégica chave. A Ameaça deveria querer protegê-la mais do que qualquer coisa, mas decidiu sozinha descer ali.
“Esta é a nossa chance!!” Marika gritou enquanto apontava seu dispositivo semelhante a um florete para este novo alvo.
Karuta não conseguia entender por que isso a deixava tão feliz.
Um som tenso encheu o ginásio. Chuva brilhante caía enquanto a raiva governava este lugar. Sua forma de leão havia mudado. Para reiterar, a Ameaça poderia se personalizar em uma forma mais poderosa, devorando os cadáveres (?) dos caídos.
Ele consumiu os girinos.
Seus companheiros foram abatidos indefesamente e ele devorou os restos mortais daqueles que mais desejava proteger e absorveu suas partes para mudar sua própria forma. O leão não era funcionalmente capaz de derramar lágrimas, mas isso não significava que não sentia nada.
A crisálida retorcida criada com o massacre foi rasgada.
“Magia Cristalina é uma das principais candidatas para ser a ‘mais forte do mundo’, por isso deve ser usada para o bem público, sem permitir que as fronteiras nacionais ou raciais atrapalhem.”
A alegre voz feminina parecia tão deslocada agora, enquanto aquele vídeo bobo de referência continuava a tocar no palco.
O leão parou de andar sobre quatro patas enquanto emitia uma pressão ardente de todo o corpo. Aquela massa de metal de 3m agora plantava apenas duas patas no chão, assim como um humano, para exibir um corpo muito mais poderoso do que o de um humano.
Algo que havia absorvido fez com que sua cor mudasse.
Parecia muito com um guerreiro blindado criando uma fusão do Oriente e do Ocidente ao usar uma armadura brilhando em um roxo-avermelhado com cintas pretas segurando-a firmemente em alguns lugares. Os capacitores permaneceram como asas em suas costas, mas a óbvia cabeça e juba de leão haviam desaparecido. Abandonou sua identidade para cumprir seu objetivo. Essa postura parecia escoar de sua armadura. Um par de olhos vermelhos brilhava como chamas em seu capacete recém-adquirido.
Ela segurava uma única espada em sua mão.
A espada era mais longa do que sua armadura púrpura-avermelhada. Era alta e parecia muito pesada para um humano empunhar. Mas havia algo estranho naquela espada. A guarda se estendia para a frente, mas mal existia na parte de trás da lâmina. Em vez disso, havia um laço de metal na frente. Inicialmente, lembrou Karuta de um osciloscópio, mas ele logo percebeu que estava errado.
Aquilo era uma tonfa e algemas.
Isso poderia ser uma resposta à parte semelhante a um jitte da espada de Aine. Mas, ao contrário daquela unidade de arma de laser, isso não parecia ter qualquer uso prático.
Quer tanto roubar o título da justiça? Karuta pensou enquanto cerrava os dentes.
Seus dedos de metal agarraram o punho da espada de forma
inesperada e suave. Isso poderia parecer uma armadura, mas era claramente estruturada de forma diferente. Se fosse oca, não moveria tanto as pontas dos dedos delgados. Aquilo era um corpo, não uma armadura.
A lâmina da espada longa emitiu uma luz tão brilhante quanto uma tocha de soldagem. No porto de Kobe, os dentes dos girinos estalaram com eletricidade, mas isso era ainda mais intenso. A luz branca surgiu como se o hamon estivesse deixando a superfície da lâmina, então o plasma emitido pela ponta poderia correr ao longo da lâmina antes de ser absorvido e estabilizado dentro da guarda. Ou em outras palavras, a espada estava sendo exposta a uma grande quantidade de calor sem nenhum efeito.
Simplesmente liberar seu poder parecia causar um colapso da física. Todos os destroços do telhado molhados pela chuva começaram a desafiar a gravidade flutuando como balões de hélio.
Uma ionização... elétrica?
Um zumbido não natural sacudiu todo o espaço.
Era como o zumbido amplificado de um inseto ou como um transformador que usava correntes de alta voltagem.
Se o excesso de energia que escapava dele era suficiente para afetar seus arredores dessa maneira, a energia armazenada dentro tinha que ser enorme. Tocar descuidadamente o interior daquela coisa transformaria um humano em carvão.
Toda essa energia foi criada dentro da armadura, espalhada por todo o corpo e, em seguida, transformada em uma arma. Ele se deu ao trabalho para criar a forma complexa de uma mão e, em seguida, criou uma espada separada para aquela mão segurar. Por que não combinar a arma com o braço? Por que preparar um braço afinal? A eficiência e a lógica não explicavam nada disso. As decisões eram baseadas em algum outro padrão.
Espada e luz. Grande e forte. E um organismo metálico. Era como um símbolo de justiça – o líder de uma guerra eterna.
Esta não era mais a Centelha, em forma de leão. Esta era uma Ameaça diferente.
Este guerreiro blindado poderia ser chamado de...
“A Marionete Guerreira...” Karuta disse.
Ele falou alto o suficiente para que qualquer um pudesse ouvi-lo, mesmo quando ele se sentia como se estivesse vagando por um pesadelo lamacento.
“Todos vocês passaram no processo de seleção da Flor Cristalina.” O vídeo continuou. “Mas não é por isso que você deve se sentir orgulhoso. Tenha orgulho de poder usar este poder escolhido para proteger os fracos. Tenha isso em mente, pois seu objetivo é ser um mago forte e nobre. Fique atento aos gritos dos necessitados e corra em seu auxílio mais rápido do que qualquer outra pessoa. Torne-se a esperança do povo. O mundo se tornou um lugar mais brilhante a partir do momento que você escolheu aprender Magia Cristalina!!”
Sua forma bípede era menos estável, seu centro de gravidade estava localizado no alto e ele havia criado uma mão complexa para segurar sua arma.
Se essa forma fosse feita apenas para lutar, sua evolução não poderia ter sido baseada na praticidade. Esse poderia ser o sentido estético que aprendera com Grimnoah.
Ela os observou do mar embaixo, embarcou no navio assim que eles partiram e então aprendeu sobre a justiça.
Aprendera o significado de usar armadura e empunhar uma espada.
Com a tonfa e as algemas, esta Ameaça tentou se tingir de todas as formas de justiça que pôde encontrar, então poderia respeitar os humanos de alguma forma. Não o poder da Magia Cristalina em si, mas o estilo de vida que os levou a exercer esse poder. Mesmo que os mais fortes do mundo atual fossem o tipo de lixo que não hesitaria em cortar vidas sem resistência.
“Ha.”
Utagai Karuta começou a rir. O que mais ele poderia fazer?
Este era um bom lembrete de sua posição na vida. Sim, era um absurdo para ele estar do lado da justiça. Ele era apenas um perseguidor persistente que completou sua busca imunda por vingança. Nenhum dos elogios acumulados sobre ele pelo resto da humanidade poderia mudar o que ele era em seu âmago.
Sempre que ele se levantava, a justiça se levantava para se opor a ele.
Tinha sido assim com os Solucionadores de Problemas, tinha sido assim com as três garotas do fundamental controlando a isca da Ameaça na Praia Cristalina, e agora estava acontecendo pela terceira vez. Nesse ponto, não poderia ser mera coincidência.
Você está salvando o mundo? Você está resgatando seus amigos?
Não, tudo o que você sempre fez foi matar os justos.
Admita.
“Ha ha. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha Heehahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!”
Ele riu.
Ele riu, e riu, e riu.
Então é claro que sua visão ficou embaçada. Rir tanto era capaz de trazer lágrimas aos seus olhos.
Essas lágrimas não caíram ao chão.
Elas foram imobilizadas no ar e começaram a flutuar para cima.
Então ele fez seu movimento. Marika, chocada, tentou detê-lo, mas ele a ignorou, escalou o guarda corpo e caiu do segundo andar. Não havia lógica em sua ação. Enquanto estivesse perto o suficiente para comandar Aine, estaria mais seguro enquanto estivesse escondido.
Mas ele não se importava mais com o que acontecia consigo mesmo.
Seu corpo bateu ruidosamente contra o chão e uma dor insuportável percorreu sua espinha ao invés de sua pele.
Por que você não está morto? Ele se amaldiçoou enquanto se levantava lentamente.
Tanta coisa acontecera ali.
Esta Marionete Guerreira havia perdido tudo.
Ainda assim, ficou perfeitamente imóvel com a longa espada segurada com as duas mãos. Não fez nenhum ataque surpresa. Ela atacaria de forma justa e direta. Isso era diferente do mimetismo da Gestalt. Karuta podia sentir uma vontade definitiva neste guerreiro de armadura púrpura-avermelhada.
O simples fato de juntar forças dentro de si mesmo prendeu as gotas de chuva caindo no ar e fez com que os escombros úmidos flutuassem em desafio à gravidade.
Era uma massa 3m mais pesada que o aço.
Não importava se o guerreiro blindado da Ameaça sabia as palavras reais. O conceito compartilhado apunhalou o coração de Karuta da mesma forma.
‘Eu tenho permissão para buscar a vingança justa. Eu te desafio para um duelo, humano.’
Karuta realmente sentiu ciúmes.
Ele sentiu ciúmes desse monstro horrível e retorcido que se canibalizou para ficar mais forte.
Tudo isso era permitido se fosse feito por uma justa raiva. Aquele guerreiro com armadura poderia permanecer do lado da justiça, então parecia ofuscante para Karuta.
Ele cerrou os dentes e estremeceu com o quão frágil ele mesmo era. Ele se odiava por ser incapaz de morrer. A humanidade teria realmente perdido se o outro lado fosse o justo. Ele falhou em seu dever de mais forte. Ele não protegeu a justiça e simplesmente a entregou ao outro lado. Isso era maior do que ele mesmo. Ele derrubou todos os 5,5 bilhões de humanos.
A luz branca viajando ao longo da curva da espada provavelmente era um jato de plasma. Essa arma decorada com uma temperatura mais alta do que a superfície do sol foi sacada. Como se para provar sua própria justiça.
A distância entre eles não importava.
A armadura sobreposta na parte de trás dos joelhos, atrás do capacete e em outros lugares se abriu e uma explosão verde irrompeu dessas lacunas. Quando Karuta percebeu isso, já estava bem em cima dele.
Isso foi uma forma de reforço.
O gigante de 3m trouxe uma onda de choque ao se aproximar, então seu corpo sozinho já seria tão mortal quanto um projétil de artilharia.
Karuta só conseguia ficar parado em transe. Portanto, o que aconteceu a seguir não foi obra dele. “Sacri-sama!!”
Ele não conseguia entender. Um som abafado soou.
Uma pequena figura branca se moveu entre eles no último segundo. Sua Magia Cristalina parecia derrotada contra aquele gigante de armadura de 3 metros, mas sua lâmina fria segurou a lâmina quente da marionete.
A Marionete Guerreira tinha mais do que apenas força nas pernas. Ela poderia acelerar sua armadura pesada usando a erupção de luz verde atrás dele.
Essa força propulsiva explosiva dava à armadura púrpura- avermelhada uma mobilidade superior à de um caça. Mesmo sem sua espada, ele poderia quebrar um navio de guerra em dois com um simples ataque. Quão poderosos seriam seus golpes de espada se ele tivesse otimizado as técnicas necessárias para matar? O fio de uma espada era determinado por quanta velocidade poderia ser colocada por trás de seu peso.
Um som agudo soou.
Isso foi a quebra da barreira do som.
Era uma prova das habilidades de Aine o fato de ela conseguir forçar sua forma esguia entre o garoto e a Marionete Guerreira e impedi-la com sua espada de cristal.
Mas então veio a segunda explosão.
A luz branca de soldagem acendeu ao longo da lâmina do guerreiro blindado e explodiu para atingir a garota de cristal que tentava travar as lâminas com ela.
Karuta pesquisou sobre espadas desde que Aine empunhava uma. No mundo samurai, havia ataques direcionados ao rosto de um oponente que travava espadas com você. Por exemplo, cuspir agulhas que enviavam um grande número golpes em direção ao rosto do inimigo.
Mesmo que esse ataque diminuísse um pouco a força da Marionete Guerreira, Aine não tinha como bloquear o calor e a onda de choque.
“!!”
Mesmo assim, ela cerrou os dentes com força. Até Karuta podia ouvir o som estridente. Ele também detectou um cheiro de queimado, como se o secador de cabelo estivesse soprando em algo por muito tempo. Aine ajustou seu aperto em sua espada de cristal para proteger o garoto e ela ignorou seu próprio dano enquanto atacava mais uma vez a Marionete Guerreira na sua frente.
Havia um frenesi em sua ação que não era típico dela. Sua lâmina, claro, não alcançou o guerreiro de armadura. Cada vez que aparava seu golpe de espada por conta própria, causava uma explosão massiva que desgastava seu pequeno corpo.
O quê...?
O que estava acontecendo?
Karuta não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele sabia que nunca havia ordenado que ela fizesse isso. Ele havia dito a ela para sempre ter uma rota de fuga em mente e causar-lhes alguns problemas, mas este era o completo oposto.
“Oh.”
Ele percebeu algo enquanto observava aquelas pequenas costas.
Ele percebeu por que ela continuou e continuou se levantando do chão molhado, embora não pudesse ter mais forças.
Era porque o espírito dele havia quebrado?
Ela estava tentando compensar o que ele havia perdido? “Ai... ne.”
Suas pequenas costas pareciam estar trabalhando duro para provar algo.
Para provar que não foi errado tentar retomar o segundo navio.
Para provar que não era errado tentar salvar Gekiha e os outros do primeiro navio.
Para provar que nunca foi errado lutar no lugar de Kyouka, já que ela não poderia fazer isso sozinha, e vir até ali procurando pelo grupo de Marika.
Acontece que a garota de cristal só conseguia se expressar por meio do combate.
“Aine.”
Havia uma obstinação em suas ações.
E ela parecia não entender o que havia feito. Mas...
Ela parecia tão pequena. De costas, ele não conseguia ver o rosto dela. Ele sabia que ela não estaria baixando a cabeça ou mordendo o lábio, mas ele ainda podia sentir algo dela. Mesmo enquanto ela continuava a batalha intensa, era atingida pela parede de vento e gradualmente desgastada. A sensação que ele tinha dela não era de uma lutadora heroica ou uma assassina horrível. Ele sentia algo triste, como se estivesse olhando para uma criança perdida.
Era Aine realmente quem estava errada?
Quem foi que embarcou em Grimnoah para lutar contra a Ameaça? A batalha no ginásio havia começado com a explosão de Imi.
Aine não havia começado nada, mas agora mesmo aquela garotinha tinha sido deixada sozinha com apenas sua espada afiada para trabalhar.
“Já chega, Aine!!!!!!”
Ele reuniu a pouca força que tinha para se aproximar de suas costas. Ele a abraçou por trás.
Sua espada de cristal parou brevemente quando ele colocou a mão sobre a dela.
“Sinto muito, Marionete Guerreira.” Ele tentou recuperar o fôlego enquanto enfrentava o guerreiro blindado novamente. “Sua raiva provavelmente é justificada. Eu estava claramente usando ela da forma errada.”
Isso não deveria importar para a Ameaça.
No entanto, ela não atacou. Esperou que ele falasse com a ponta de sua espada de plasma apontada em sua direção.
Mesmo que provavelmente não entendesse a linguagem humana.
“Isso foi inteiramente minha culpa. Poderíamos ter voltado assim que encontramos o grupo de Marika a salvo. E mesmo que não conseguíssemos encontrar um caminho de volta, isso não teria acontecido se simplesmente não tivéssemos nos aproximado do ginásio. Este não era um lugar que devíamos vir. Só pensei que seria um bom atalho.”
Karuta cambaleou para o lado.
Não, ele se moveu para ficar ao lado da machucada Aine. E ele puxou a pequena lanterna militar modificada que usava como arma.
“Somos um e o mesmo, então Aine terá que lutar também.”
Ele era o culpado por tudo isso. Mesmo se eles fossem o mesmo, ele não recuaria nisso.
“Mas por favor. Por favor, não use isso contra ela. Sua vingança deve ser direcionada a mim. Dê-me essa única coisa, por favor.”
De repente, ele se viu curvando-se.
Ele não poderia escapar dessa vingança, mas a Marionete Guerreira tinha que entender que desafiá-lo diretamente dessa forma introduzia a possibilidade de ser morto na tentativa. Mesmo que isso não fosse necessário. O grupo de Karuta reuniu secretamente informações sobre os Solucionadores de Problemas e depois fez ataques surpresa baratos de todas as maneiras possíveis. Mas a Marionete Guerreira havia deixado uma chance para sua própria derrota.
Era por isso que Karuta queria se desculpar com Aine e dizer a ela para sobreviver.
Para fazer isso...
Para fazer isso, ele estava disposto a levantar a cabeça!!
“Eu te desafio para um duelo, Marionete Guerreira!!!!!!”
Depois de cair para a posição de desafiante desprezível mais uma vez, Utagai Karuta olhou do topo para a lama.
NAS ENTRELINHAS 2
Ele tinha se agoniado com isso.
Ele se preocupou, gritou e lamentou.
Utagai Karuta tinha rugido do fundo de sua garganta enquanto considerava a dor de algo desumano e simpatizava com o sofrimento de algo desumano.
Isso deveria ter sido doloroso de assistir.
Qualquer pessoa gostaria de acabar com isso o mais rápido possível. Mas uma garota era diferente: Aine, a garota de cristal.
O garoto a abraçou por trás. Ele se aproximou dela para impedir algo. Ela olhou para ele com a espada ainda em punho e um pensamento entrou em sua mente.
Se...
O pensamento era como um ruído estático.
Era uma distração da tarefa em mãos. No entanto, lá estava.
Se Sacri-sama pode tratar as coisas desumanas dessa forma... se ele se permitir fazer isso...
O pensamento sumiu ali.
Mas ela hesitantemente se moveu como se lentamente estendendo sua mão pequena.
Poderia ser?
Aquela Magia Cristalina – aquela garota que pertencia ao mais forte do mundo como sua Flor Cristalina – completou o pensamento...
Que ele me vê... desse jeito, também?