Volume 1
Capítulo 9: Divergente
Parte 1
Após acolher a pequena Lilly em sua casa, Ethan saiu novamente em direção a Betrayal Lines. Agora estava dessincronizado com Aria, que já estava em frente ao colégio dos eventos.
Logo em frente a fachada do colégio, Joey Santiego e Kevin Jhonson humilhavam um pequeno garoto, que estava encolhido no chão. Os dois o chutavam, e uma multidão observava ao fundo. Aria correu para verificar o que estava acontecendo de perto, e notou que aquele pequeno garoto sendo humilhado era o colega de quarto de Ethan, David Cohen.
Aria, ao ver o pequeno garoto sendo judiado daquela forma, sentiu uma fúria incomum em seu peito. A garota gentil que nunca teve coragem de machucar ninguém, agora, sentia vontade de enfiar a cara daqueles dois dentro da lata de lixo. Mas mesmo com toda aquela raiva, seu corpo não conseguia avançar. A garota não conseguia ajudar o pobre garoto, que obviamente suplicava por ajuda em seu interior.
— Desembucha, porra! Cadê o merdinha do Kim?! — gritou Joey, tentando fazer com que David revelasse o paradeiro de Ethan. Coisa que David obviamente não faria, pois era leal a suas amizades, mesmo que não fossem tão próximas.
— Vai para o inferno! — exclamou, com lágrimas no rosto. — M-me deixa em paz…
Aria, com um aperto no peito, tentou mover seu corpo em direção a eles para impedir aquela atrocidade que ocorria perante seus olhos. Deu um passo para frente, com corpo trêmulo e pensamentos relutantes. Mas logo, regressou o passo, sem coragem para avançar. Com uma expressão decepcionada, a garota apenas dirigiu-se para dentro do colegial, ignorando tudo que estava acontecendo naquela parte.
O movimento em frente ao colégio foi cessando, e as pessoas abandonaram os três ali. David continuou sendo judiado por eles, mesmo com ninguém para assistir.
Ethan, que estava a caminho da Betrayal, viu toda aquela cena de longe. Seu amigo sendo forçado a dar informações sobre ele, mas recusando-se a dizer, mesmo que isso significasse apanhar mais. Ao notar isso, o olhar de Ethan se abriu levemente, mas logo voltou a sua forma monótona de sempre. David viu o garoto se aproximar, e um sorriso se instalou em seu rosto.
Ethan chegou à fachada do colégio, e sem sequer parar para observar mais, ele apenas passou direto. Não desviou o olhar para o conflito, não tentou ajudar, ele apenas seguiu seu caminho, como se estivesse passando por três mendigos brigando em uma esquina. Joey e Kevin desviaram olhares para o garoto, notando que ele havia retornado para a Betrayal. Agora não precisavam mais de David, e apenas o largaram sozinho ali, humilhado.
David ergueu-se, com o corpo dolorido e pesado, e mancou até a entrada. As pessoas que estavam em volta olharam para ele, com olhares curiosos. Alguns demonstraram desgosto, outros pena, e outros apenas o observavam, como se fosse uma atração. Sentindo-se a escória da terra, o garoto seguiu o caminho até as escadas com dificuldade para subir os degraus.
David caminhou até a porta de seu dormitório, mostrou o bracelete ao scanner, e a fechadura destravou. Adentrou ao quarto, e Ethan Kim estava sentado em uma pequena cadeira em frente a cômoda, lendo um livro de fantasia medieval.
— Eles… acabaram comigo… Senhor Kim… — resmungou, com um olhar depressivo. Mancou lentamente pelo quarto, e então caiu com tudo em cima da cama de beliche. Afundou sua cara no travesseiro, e começou a chorar.
— Hum, entendi — disse Ethan, virando uma página do livro.
— Eu não aguento mais… me ajude, Senhor Kim! Por favor… — suplicou David Cohen, com voz de choro.
— O quer que eu faça, Cohen? — perguntou, sem tirar os olhos do livro. Aparentemente, o garoto estava muito centrado.
— Eu não sei! — exclamou. — Apenas me ajude…
— Farei o que você me mandar fazer. O que quer que eu faça, Cohen?
O garoto segurou o travesseiro com firmeza, forçando-o contra o próprio rosto.
— Eu… eu não sei…
— Então não farei nada — disse, virando mais uma página do livro em seguida.
O tempo se passou, e a noite foi chegando. O terceiro jogo daria início às 20 horas. Agora, próximo do tempo, todos se reuniram no local designado. Era um grande salão dentro do colegial, que apenas para aquele jogo, foi enfeitado como um salão de festas. Estava impecável, cômodos brilhando, decorações de classe alta, lustres candelabros enfeitados, e uma grande mesa ao centro. Não haviam cadeiras, pois eram muitas pessoas e não caberiam assentos para todos.
Mais um telão, dessa vez conectado à parede ao lado da mesa, ligou-se e exibiu o nome do próximo jogo: “Divergente”.
O bracelete de todos presentes ali se ativou ao mesmo tempo que o telão, e o foco da maioria voltou-se ao bracelete. Uma voz robótica foi emitida de dentro do dispositivo, e dali, as regras para o jogo Divergente foram ditadas.
NESTA TERCEIRA PROVA, UM DOS JOGADORES SERÁ ALEATORIAMENTE SELECIONADO COMO “DIVERGENTE”. SEUS OBJETIVOS SERÃO ENCONTRAR O DIVERGENTE SECRETO. A CADA DEZ MINUTOS, TODOS SE REUNIRÃO NESTA MESA, E VOTARAM EM UM MEMBRO ALEATÓRIO PARA SER DESQUALIFICADO DA PROVA. SE ESTE FOR O DIVERGENTE, TODOS PARTICIPANTES RESTANTES RECEBERÃO 600 PONTOS, E A PROVA TERMINARÁ. CASO NÃO SEJA O DIVERGENTE, TODOS IRÃO PERDER 40 PONTOS.
O OBJETIVO DO DIVERGENTE NESTE JOGO É APENAS TOCAR OS OUTROS PARTICIPANTES. O CONTATO PODE SER DIRETO OU INDIRETO. A CADA PESSOA QUE O DIVERGENTE TOCAR, ELE RECEBERÁ 30 PONTOS. NO MOMENTO DE VOTAÇÃO, CASO SELECIONEM A ÚLTIMA PESSOA QUE O DIVERGENTE TOCOU, ELE PERDERÁ 80 PONTOS.
Isto foi tudo que o bracelete vos disse sobre a prova. Em resumo, o objetivo seria; encontre o Divergente. A este ponto, enquanto o bracelete ditava as provas, o Divergente já estava ciente de que ele foi escolhido. Isto foi exibido em seu bracelete, apenas aos seus olhos.
O jogo então deu início. Todos dividiram-se pelo colégio, e a prova aconteceria apenas no primeiro andar. As escadas foram bloqueadas, para que ninguém se distanciasse muito do salão em que as votações aconteceriam. Sem saber exatamente o que fazer, a maioria apenas agiu normalmente, já que aquele era apenas o começo da prova. Todos tinham dez minutos para investigar ou fazer qualquer coisa, antes que a primeira sessão de votos acontecesse.
Aria foi até o pátio, acompanhada por sua amiga Emily Turner, e as duas se sentaram sobre um branco. Emily bocejou, com um pouco de sono, e descansou sua cabeça sobre a mesa. Aria apalpou o braço de sua amiga, observando-a, com um pouco de sono também.
— Você tinha me dito antes… que a mãe da Emma trabalha na casa do… hum… — Emily não estava conseguindo pensar direito, o sono gritava mais alto. — Do garoto Kim, isso… você meio que anda viajando demais nele… — disse, com voz sonolenta.
— Uhum… ela trabalha lá. Mamãe me disse que eu poderia… pedir pra Katherine… me levar na casa dele, mas… — Aria estava um tanto envergonhada em dizer aquelas palavras. — Não acho que ele iria gostar se eu apenas aparecesse.
— E não ia mesmo… se algum idiota aparecesse de repente na porta da minha casa simplesmente porque gosta de mim, ia tomar um chute na bunda.
Enquanto as duas conversavam, um garoto loiro de olhos verdes se aproximou do banco em que elas estavam. Ele era magro, com cabelo bem lambido, que tampava sua testa. Ele parecia relutante em perguntar qualquer coisa para aquelas garotas, mas logo, palavras saíram de sua boca.
— Será que… eu posso… me juntar a vocês…? Eu não quero ter que… jogar isso sozinho.
As duas estranharam aquele pedido de cara, mas Aria, bondosa como sempre, aceitou a companhia do garotinho. Aquele era Christopher Santiego, irmão de Joey. Aria acariciou o cabelo do garoto, e lhe deu um sorriso.
— Cla… — antes que pudesse completar, Emily deu um tapa em seu braço, e a olhou com um olhar irritado.
— Não pode, cai fora, muleque — disse Emily, despachando o garoto. Ele baixou a cabeça, com um olhar de tristeza, e regressou para dentro do colégio novamente.
Aria, confusa, olhou para sua amiga com uma expressão confusa. Ela apenas despachou o pobre garotinho, que aparentemente só queria uma boa companhia para não perder todos os seus pontos.
— Por que fez isso, Emi?
— Tá maluca? Confiando no irmão de Joey? — perguntou Emily, dando um tapinha na nuca de Aria. — Se tem Santiego no sobrenome, então não é coisa boa. Vamos manter distância.
— Hum… — resmungou. — Você tem razão.
Na parte interior do colégio, Christopher tentou se esconder entre a multidão nos corredores abertos. Mas, para o seu azar, enquanto tentava se afastar com passos apressados, deu de cara no peitoral de Joey, que tampava o corredor adiante junto de Kevin.
— Por que voltou, pirralho? Não falei para continuar com a Harper? — perguntou Joey, cerrando os dentes. O pequeno irmão de Joey olhou para cima. Seu irmão era consideravelmente maior que ele, e parecia irritado.
— D-desculpe… elas me despacha-... — antes que terminasse, Kevin jogou o garoto contra a parede, segurando-o pelos ombros. Joey apoiou agressivamente o cotovelo nas costas de Kevin, enquanto olhava no fundo da alma de Christopher.
— Você vai acabar me fodendo, moleque — disse, em um tom de voz baixo, porém penetrante, para que apenas seu irmão mais novo e Kevin pudessem ouvir. — Se eu souber que você falou algo óbvio para alguma delas, eu te expulso dessa merda por conta própria, seu bosta.
— E-entendi! Desculpa! — exclamou, aterrorizado. Kevin logo soltou o garoto, jogando-o no chão com tudo. Joey não disse mais nada, e apenas saiu andando, segundo seu caminho.
Passaram-se cinco minutos desde então, e só faltavam mais cinco para que as votações iniciassem. Ryan aproximou-se do pequeno irmão de Joey, caído ao chão, e lhe estendeu a mão, com um sorriso amigável.
— Joey anda te maltratando, não é? — perguntou, e Christopher lentamente olhou para o rosto acolhedor de Ryan. Segurou sua mão, e se levantou com o apoio do garoto. — Não ligue para aquelas garotas. Só se importam consigo mesmas, Aria Harper não passa de uma qualquer nesse oceano de sentimentos.
— O que quer dizer com isso…? — questionou Christopher, que até então, via Aria como uma pessoa gentil.
— Ninguém sabe o que passa na cabeça de ninguém, pequeno… — respondeu Ryan, em um tom acolhedor. — Mas ainda assim, podemos ver através das pessoas.
— O que quer dizer com isso…? A Harper não é… confiável…?
— Me acompanhe nesse desafio, e eu te mostrarei a verdadeira essência das pessoas — disse, estendendo a mão ao garoto mais uma vez. — Confie em mim, e poderá ver até mesmo através do coração egocêntrico do Santiego…
Christopher aceitou a oferta, e segurou a mão de seu novo aliado. Ryan deu-lhe um sorriso delicado, para confortar o garoto. As esperanças do pequeno garoto reacenderam, e um brilho floresceu sobre seu olhar. Os dois avançaram pelo corredor, passando ao lado de Mia Cooper e Hina Takahashi, que vinham correndo na direção contrária. As duas garotas estavam indo até Ethan, que estava recostado no final do corredor, assistindo o pequeno show que Ryan estava lhe proporcionando.
— Ele não cansa de jogar sujo… interessante… — disse baixinho, para si mesmo.
Notas:
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