Volume 1
Capítulo 7: Ao Alto da Montanha
Passaram-se algumas horas desde que a apresentação de Aria havia terminado. Ela tocando as teclas do piano sincronizadamente com Ethan, que tocava também, no salão de músicas da sua casa. Agora, o garoto se sentia estranhamente revigorado. Uma sensação alegre tomava seu corpo inteiro, enquanto ele pintava em um pequeno cavalete em seu quarto. Após tocar o piano, sentiu uma grande inspiração para iniciar uma pintura, e assim começou a pintar.
Conforme molhava os fios de seu pincel na paleta de tinta, sua mente se abria para um novo mundo. Um lugar onde só existia aquele belo momento, tranquilo e pacifico, com pássaros voando em volta do garoto, sentado em sua cadeira, em um jardim coberto por flores amareladas. Esta era a cena que ele podia ver, em sua mente. Mas na verdade, ele continuava dentro do quarto.
Ethan permaneceu por um bom tempo em seu mundo imaginário, fazendo aquela pintura que até então era um mistério. Mas sua paz foi dissipada pelo som de sua campainha tocando várias vezes ao lado de fora. Katherine havia saído para fazer compras então não poderia atender a porta. Ethan ignorou os sons, estava focado em sua pintura. Porém, a campainha não parou, o que acabou extinguindo completamente sua paz. O garoto se levantou do banquinho, colocou a paleta de tinta sobre uma pequena mesinha ao lado do cavalete, e desceu as escadas até o primeiro andar.
Quando chegou até a porta, hesitou um pouco segurando a maçaneta, e então abriu. A imagem que via definitivamente não era de se esperar. David Cohen, seu colega de quarto, estava em frente a sua casa tocando a campainha com uma grande sacola em mãos.
— Olá, senhor Kim! Vim te fazer uma visitinha, você não se importaria, né? — perguntou David, com um grande sorriso estampado em seu rosto, e um tom de voz que mostrava o quão animado o pequeno garoto estava naquele momento.
Ethan o observou por um tempo, sem responder, com um olhar de desprezo. Aquele garoto conseguiu de alguma forma o endereço de sua casa, provavelmente, do jeito que David parece obcecado por Ethan, ele não duvida que o garoto tenha o seguido desde a Betrayal Lines. Logo, Ethan retomou sua postura, e respondeu-o suavemente.
— Do que você precisa, Cohen? — perguntou, tentando não mostrar surpresa ao ver o garoto ali.
— Passar um tempo contigo, senhor Kim! Acho que como somos parceiros de quarto agora… deveríamos fortalecer nossa amizade! Não acha? — perguntou, enquanto seu sorriso se expandia. Ethan continuou o observando, e percebendo que se recusasse provavelmente o garoto iria continuar o perseguindo, ele decidiu concordar.
— Claro… — respondeu, com um suspiro.
Ethan abriu mais a porta, e David entrou passando por baixo do braço de Ethan. Ele adentrou a casa, eufórico, como uma pequena criança. Ethan vendo aquela cena, soltou um breve rosnado, e então fechou novamente a porta.
Na cidade, Aria caminhava por um shopping. Estava com uma imensa felicidade por conseguir executar a apresentação com sucesso. Ligou para sua amiga Emma, enquanto subia por uma escada rolante. A garota estava agitada, como se acabasse de concluir um sonho. Logo, Emma atendeu o celular, e Aria começou a contar toda a história, com euforia.
— Eu consegui! Todos me aplaudiram… foi tão lindo! Eu fiquei muito tranquila na hora… não sei como, mas meus dedos não tremiam como nos ensaios. Algum anjo deve ter me ajudado a ficar calma na hora!
“Sério?” respondeu Emma, no celular. “Incrível! Infelizmente eu não pude ver… estava meio ocupada, mas fico feliz que tenha conseguido” completou, em um tom de voz seco. Emma não parecia tão animada com aquela conquista, assim como Aria estava.
— Mas… enquanto eu tocava… aconteceu algo bem estranho também… — disse Aria, relembrando de ter visto Ethan tocar junto a ela, do outro lado do piano.
“Algo estranho? E o que era?”
Aria ficou pensativa se realmente deveria contar aquilo para sua amiga. Quando estava prestes a começar a falar, algo a impediu, ela sentiu um péssimo pressentimento com a ideia de Emma saber sobre seus sonhos esquisitos.
— Não… não foi nada — respondeu, terminando de subir a escada rolante. Do outro lado do shopping, avistou Joey Santiego, e Kevin Jhonson perambulando por ali também. A garota imediatamente tomou um susto, e apressou-se para se esconder deles. — Merda! Depois eu falo com você, tchau Emma! — despediu-se, desligando o celular em seguida.
A garota correu para dentro de uma loja de sapatos no shopping, e se escondeu atrás de uma das prateleiras. Os dois valentões foram entrando logo em seguida, enquanto conversavam.
— Você anda muito obcecado na Harper, Bro — disse Kevin, ao Joey. — Não para de falar sobre o teatro que ela deu no piano. Você não tava com a Hina?
— Sim, estou. E o quê que tem? — perguntou Joey, ficando zangado.
— Acha que ela vai gostar se ouvir essas coisas que tu anda dizendo? Não sei não, abaixa a bola, cara.
— Ela não vai saber. Para de encher o meu saco — respondeu Joey, dando um tapa na nuca de Kevin em seguida. — Aquele bosta do Kim ta muito chegado na Aria. Ele acha que pode fazer o que fez na cantina e sair ileso. Otário, vai ver onde eu vou esfregar a cara dele na próxima vez que eu o ver.
Aria rangeu os dentes ao ouvir isto. Sua vontade era de sair dali e encarar os dois, mas, aquela definitivamente não era a melhor ideia. Os dois começaram a olhar alguns tênis para comprar, e a garota foi saindo bem devagar, na ponta dos pés. Quando chegou a portaria daquela loja, correu para fora, e se distanciou o máximo que pôde.
Enquanto corria pelo shopping, a garota deu de cara com uma mulher que fazia compras por ali. Desculpou-se, e então olhou nos olhos dela. Aquela era Katherine Brown, mãe de Emma Brown, e trabalhava como empregada doméstica.
— Oh! Katherine, você por aqui! Quanto tempo…
— Haha! Se não é a senhorita Harper? Ouvi dizer que você foi para a Betrayal Lines junto de Emma, hum?
— Uhum! Está sendo… um tanto interessante as coisas por lá. Eu e um outro garoto estamos à frente de todos! Ele é bem inteligente.
Katherine deu uma risadinha, e acariciou os cabelos de Aria.
— O filho dos donos da casa em que eu trabalho está lá também. Mas ele é bem quieto na dele, talvez, você poderia tentar fazer amizade com ele. O garoto anda muito solitário ultimamente e isso me preocupa…
— Hah! Claro que posso, estou sempre disposta a novas amizades. Qual o nome dele, Katherine?
Aria a olhou, com um sorriso no rosto. Ela gostava muito de Katherine, mãe de Emma, pois sempre frequentava a casa de sua amiga. Katherine era uma de suas maiores parceiras.
— O nome dele? Ah, claro… é Ethan Kim.
— Ethan…? — Aria arregalou os olhos, e ficou boquiaberta ao ouvir
— Que foi? Já o conhece?
— N-não… não conheço não! Vou tentar encontrá-lo por lá, ok? Eu realmente preciso ir agora… tchau Katherine! — despediu-se Aria, acenando para Katherine e então apressando seus passos até a saída do shopping. Katherine acenou de volta, com um sorriso.
Enquanto isso, na casa de Ethan, David estava boquiaberto com o tamanho e a elegância dentro daquela casa. Colocou a sacola que havia levado consigo em cima da mesa, e agora o garoto eufórico explorava a casa de Ethan.
— Oh! Isso aqui é um salão de músicas? Que legal! Tem até um violino aqui! — exclamou, logo pegando o violino e tentando tocar uma melodia. Era clara a falta de experiência do garoto com aquele instrumento, pois ele tocava completamente desafinado.
— Sim… é um violino — respondeu Ethan, observando da porta.
O garoto colocou o violino de volta no lugar, e correu para fora. Ethan foi monotonamente apresentando a casa para o garoto, que ficava cada vez mais impressionado a cada cômodo que eles iam. Mas, ficou realmente impressionado quando viu o que tinha no quarto de Ethan. Adentraram ao quarto, e a primeira coisa que ele reparou foi na bela pintura incompleta no cavalete.
— Oh! Você pinta também! — exclamou, aproximando-se para observar o conteúdo na tela do cavalete. — Espera… essa daqui… é a Senhorita Harper? — perguntou, apontando para a pintura.
Era claramente uma pintura da Aria, sorrindo, com uma expressão alegre. A pintura estava incompleta, mas mesmo assim era visível a imagem de Aria ali.
— Sim… é a Aria — respondeu, com suas bochechas ficando levemente rosadas. Ele olhou para o chão, meio envergonhado.
— Senhor Kim gosta da Senhorita Harper! Que legal! Já pensou em se declarar? Ela tem cara de gostar de flores, eim!
— Não… eu não… gosto dela — disse, olhando para o chão. — Olha só, eu não terminei a pintura. Inclusive, preciso terminar para colocar junto das outras.
Ethan se sentou novamente no banquinho em frente ao cavalete, e segurou a paleta de tinta. David logo se aproximou, e observou de perto, com os olhos brilhando.
— Vou poder acompanhar o Senhor Kim pintando! Demais…
Ethan resmungou em resposta, e voltou a pintar. David assistia o garoto passar o pincel sobre a tela delicadamente, e seus olhos estavam focados nas habilidades de Ethan. O quadro ia ganhando vida, e a face de Aria ficava cada vez mais visível. Logo, a pintura foi completa, e David acompanhou o garoto para a sala de exposições, onde haviam várias outras pinturas na parede. Os outros quadros eram belos, com artes únicas e diferentes umas das outras. Mas, a pintura de Aria tinha um brilho especial. Como se Ethan tivesse colocado muito mais foco para fazê-la.
Enquanto David apreciava boquiaberto as outras pinturas, Ethan procurava um lugar para deixar a pintura de Aria, mas não encontrou nenhum lugar que se encaixasse. Então, ele teve uma ideia melhor. Voltou para o seu quarto, e a colocou sobre a parede, acima da cabeceira de sua cama.
— Vai dormir olhando para ela, hum? Romântico você… — caçoou David.
— Não pedi sua opinião, Cohen — disse, rude. — Só vou deixar a pintura aí… porque acho que se encaixa melhor.
Logo, os dois voltaram para o cavalete. David disse que queria aprender a pintar também, e como não tinha mais nada para fazer, Ethan concordou em tentar ajudá-lo. O garoto tentava pintar, e Ethan o instruía, como um professor de artes.
Mas, em um movimento descuidado, David acabou derramando respingos de tinta no rosto e nas roupas de Ethan. Eram pequenas gotas, mas mesmo assim, isto era preocupante. O garoto o olhou com um olhar preocupado, e desculpou-se na hora. Ethan o olhou de volta, arrogante, e então pegou o pincel.
— Foi sem querer… eu só… — antes que o garoto completasse, Ethan molhou os fios do pincel com tinta, e balançou-o para cima. Soltando assim vários respingos em David também. O garoto olhou, surpreso com o movimento repentino de Ethan.
— Apenas… dando o troco — disse Ethan, colocando a paleta sobre a mesinha.
— Hah! Não vai ficar assim — David pegou mais um pouco de tinta e respingou sobre o garoto. Ethan o observou, e entrou no clima. Fazia um bom tempo desde que não compartilhava momentos divertidos com qualquer pessoa. Por mais que isso fosse algo bobo, era um tanto revigorante. Katherine que havia recém-chegado das compras observava a cena pela porta, enquanto sorria, vendo que depois de tempos, Ethan estava tendo contato direto com alguém.
O dia se passou, e David foi embora. Enquanto isso, Aria continuava andando pela cidade à noite. Foi até um parque de diversões, e a garota estava interessada na roda gigante. Enquanto esperava na fila, teve a surpresa de uma companhia inesperada. Michael Turner aproximou-se da garota, com os cabelos esbranquiçados cintilando ao vento.
— Ora ora, se não é uma das três donzelas mais aclamadas da Betrayal, hum?
— Oh! É o irmão de Emily, não é? Está indo para a roda gigante também? Se quiser pode vir comigo!
— Será uma honra acompanhar a senhorita, Aria Harper… — disse, curvando-se para a garota. O cavalheirismo de Michael era admirável. Não restaram muitas pessoas que agiam desta forma. Mas também, ele era um pouco exagerado.
Logo, chegou a vez dos dois para irem na roda gigante. Eles entraram na mesma cabine, e sentaram-se no banco. O brinquedo começou a subir, e a cidade inteira lentamente começava a ficar visível.
— Percebi que tem uma alta conexão com o garoto Kim… sabe, não te julgarei. Eu vi nos olhos dele que talvez, para você, ele seja confiável.
— Você acha…? Eu não sei se eu deveria confiar tanto assim… pode me levar ao buraco.
— Siga seu coração, e não deixe que as pessoas mudem o que você pensa… pessoas nunca vão querer o seu bem. No fim, todos somos egoístas. Se você tentar ser bondosa demais… será usada como um boneco pelas farsas do mundo. — Aria resmungou em resposta, enquanto apreciava a vista da cidade. Seu cabelo voava com o vento, e os de Michael também.
— Inclusive… Emily me disse algumas coisas desde o último jogo. Se eu fosse você… ficaria atento a senhorita Brown. Sei que Emma é sua melhor amiga… mas não acho que ela te considere da mesma forma.
— Não acho que Emma faria nada demais, ela é legal! Talvez só esteja passando por momentos difíceis.
Michael resmungou em resposta, e cruzou os braços, olhando para baixo.
— Hum… você que sabe.
Os dois continuaram por um tempo calados na roda gigante, apenas apreciando a vista enquanto o brinquedo descia e subia. Na próxima subida, enquanto a cidade lentamente reaparecia, Michael decidiu falar novamente.
— Se pudesse estar em qualquer lugar nesse momento, com alguém especial… onde seria? Eu acho que eu estaria em um belo navio, observando o mar — perguntou Michael, com um sorriso elegante.
— Onde eu estaria…? — Aria olhou para o alto de uma montanha ao longe, a mais alta que havia em volta. — Eu estaria lá no topo… observando as estrelas.
Aria voltou para casa, e lua apareceu entre as estrelas, resplandecendo o céu daquela noite. Até aquele ponto, Aria já havia voltado para a sua casa, e já estava prestes a ir dormir. O dia havia sido longo, e ela estava bem cansada. Quando chegou em seu quarto apenas se jogou na cama, e apagou na hora.
Ao mesmo tempo, Ethan que já estava deitado em sua cama a um tempo, mexendo no celular, também apagou junto de Aria.
A visão do garoto se escureceu, e então, uma luz forte ofuscou sua visão. Durou alguns segundos, e quando a luz desapareceu, ele lentamente abriu os olhos. Agora, se encontrava sentado atrás de uma árvore, no topo da maior montanha visível na cidade. Estava de noite, e o céu estava bem estrelado.
O garoto se levantou daquela grama reluzente, e olhou a paisagem à sua volta. Um pouco adiante, havia um pequeno banquinho de madeira, com detalhes angelicais esculpidos nele. O banco estava ao alto da montanha, e Aria estava sentada ali, observando as estrelas.
Ethan, meio envergonhado, se aproximou do banco e apoiou-se nele. Aria logo desviou o olhar para o garoto e lhe deu um breve sorriso.
Apoiado com as mãos por trás do banco, Ethan olhou para o meigo sorriso no rosto da garota. Ele não devolveu a expressão, mas acariciou lentamente os cabelos dela. Os dois então olharam para as estrelas, apreciando aquele céu belo e estrelado, do ponto mais alto que havia em Nova York.
Notas:
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