Apenas um Sonho Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1

Capítulo 20: Propagação do Ódio

Ao meio-dia, serviram bastante coisa pois estavam na véspera de natal. Tinha ensopado de peixe, frango assado, frango parmegiana, entre outros pratos. De sobremesa tinham várias coisas também; pudim de leite, bolo de chocolate com mel, donuts e torta de maçã. Aria e Emily Turner já estavam na cantina atacando a comida junto da maioria dos que ficaram para decorar a Betrayal. David, como sempre, já estava no terceiro prato de parmegiana e logo iria pegar um pedaço da torta.

O clima estava bem animado até que Christopher Santiego apareceu. Estava com um braço enfaixado e o rosto inchado. Havia desaparecido desde que Joey o viu no galpão tentando negociar com Ryan Garcia antes da última prova. Todos o fitaram das mesas, enquanto ele tentava caminhar para pegar comida também. De primeira, pensaram que Joey teria feito aquilo com ele por raiva de o estar espionando, mas surpreendentemente, Joey foi o primeiro a correr até ele para verificá-lo.

— Chris! — ele se apressou até o seu irmão. — Quem fez isso com você?!

— Jo-Joey… — A voz do garoto estava fraca. Ele se deixou cair no peito de Joey, e o irmão o abraçou.

— Quem foi o desgraçado que fez isso com você?!

Christopher não respondeu, continuou agarrado no irmão. Parecia estar prestes a chorar. Joey também parecia muito surpreso com aquilo, e ele não era o melhor em atuar. Provavelmente sua reação foi genuína, então não foi ele quem machucou o seu irmão. A expressão preocupada de Joey logo se acendeu em fúria, e ele olhou para as pessoas na cantina.

— Alguém aqui viu alguma coisa? É melhor falar agora. Se algum de vocês tiver colocado as mãos no meu irmão…

— Calma, Joey, ninguém fez nada por aqui — tentou tranquilizá-lo Francesco Ricchi, que estava almoçando por ali também. — Ele parece assustado. É melhor nos acompanharem até a administração para tentarmos resolver a situação… Se realmente foi algum de nossos competidores que causou isto ao seu irmão, tomaremos as devidas providências.

— Providências? Vocês não vão fazer nada. Se alguém daqui realmente encostou no meu irmão… eu sou capaz de explodir esse lugar com todos vocês socados aqui dentro.

— Santiego, peço que tenha calma...

Logo, Francesco acompanhou Joey e Christopher para a administração, para que pudessem conversar com o jovem. Ele continuava bem assustado, com os olhos arregalados e o corpo trémulo. Joey parecia mais indignado do que já estava com a sequência desagradável de eventos, e parecia que dali, só iria para pior.

Enquanto tudo isso acontecia, Ethan não estava na cantina. Estava no segundo andar, procurando por Emma Brown. O segundo andar estava bem vazio, até porque ali só tinha apenas dormitórios. Emma estava sentada ao lado da janela, observando o pátio abaixo. Ela deu um olhar melancólico ao Ethan quando ele chegou.

— Eu sei como se sente — disse Ethan. — Mas ela ainda não excluiu você totalmente.

— Não sei… do que você está falando.

— Sei como é difícil, ainda mais para quem divide quarto com o Joey. Mas ficar aqui remoendo enquanto ela te esquece aos poucos não vai mudar sua situação.

— … e o que você quer que eu faça?

Ethan olhou para a janela também, observando o pátio abaixo. Os pássaros voavam ao redor da fonte no centro, com borboletas amarelas perto das árvores e arbustos. David agora estava sentado em um dos bancos, comendo a torta de maçã. Ryan Garcia, encostado na fonte, tomando café em uma xícara.

— Talvez ir lá enquanto há tempo, tentar conversar com ela.

— Ficar lá enquanto ela não para de falar com aquela… Turner…

Emma se retraiu um pouco, coçando o braço, jogando todo seu peso na parede.

— Vai ter que se acostumar com isso — Ethan se levantou, e caminhou para o meio do corredor enquanto dizia. — Enquanto você está aqui, no esquecimento, ela está fortalecendo a amizade com a outra — ele a olhou por cima do ombro. — É melhor você se mexer logo.

Emma pensou um pouco, respirou fundo, e se preparou para tentar fazer alguma coisa. Deu um último olhar ao Ethan, um olhar de gratidão pelo conselho, e então desceu um pouco sem jeito pela escadaria. Antes de descer também, Ethan notou que ela deixou um lenço branco para trás, em cima da janela. Ele não hesitou em pegar o lenço e por nos bolsos, e então desceu as escadas também, mas não foi atrás de Emma para devolver o lenço.

Emma chegou até a cantina, ansiosa para se reunir com Aria, mas ao mesmo tempo receosa com o fato de que ela provavelmente estaria com Emily agora. E de fato, quando chegou, as duas estavam comendo juntas.  Ela se aproximou timidamente das duas, mas antes de se juntar, tentou escutar um pouco a conversa.

— E o que tem de tão estranho nos seus sonhos, Ari? — perguntou Emily.

— É… complicado. Já vem acontecendo há um tempo, até antes da Betrayal… — Emma ficou desconfiada daquela resposta, Aria nunca tinha comentado nada sobre sonhos estranhos com ela antes. — Eu nunca contei isso para ninguém, além da minha mãe… Nem mesmo para Emma.

Aquelas palavras despertaram a curiosidade de Emma, e ela continuou escondida atrás das duas para escutar mais. Seu coração acelerou, e sua respiração ficou um pouco mais tensa. Como se estivesse ouvindo uma traição bem no momento.

— Na verdade… — continuou Aria. — Eu não confiava nela o suficiente para contar. Mas sei lá, acho que você não vai… fazer nada demais se você souber.

— Pode contar comigo — tranquilizou Emily. — Vou guardar qualquer segredo que você tiver, tudo bem? Se for tão importante assim, eu posso te ajudar…

— É que… eu venho tendo sonhos estranhos com… o Ethan já faz muito tempo… Mesmo antes de conhecê-lo aqui. Mas são sonhos bem estranhos…

Ela continuou explicando a relação dos dois com os sonhos, que acontecia algumas semanas antes da Betrayal ser anunciada. Emily achou que fosse apenas uma paixão de Aria por Ethan, mas quando ela disse que não o conhecia e nem sequer tinha o visto na vida antes disso, ela começou a ficar surpresa com a história. Emma ao fundo, foi ficando cada vez mais indignada. Como sua melhor amiga poderia ter escondido tudo aquilo dela assim? Por que ela não confiava em Emma no fim das contas? Ela sempre pensou em Aria como sua amiga mais confiável, que estaria com ela nos momentos difíceis e compartilharia as dificuldades. Mas agora, Emma ficou sem chão. Não sabia se queria tentar conversar mais, e nem queria voltar para o dormitório. Ela estava vazia. Aquela revelação destruiu a última gota de esperança que a garota tinha consigo.

— Isso é… certamente esquisito. Mas obviamente o Kim não tem esses sonhos com você também, né. Seria loucura tentar imaginar isso. É melhor você não… se iludir com sonhos assim. Se realmente gostar dele, pode até tentar, mas não confunda os sonhos com a realidade… — aconselhou Emily, com uma cara melancólica. Tentando compartilhar o mesmo sentimento de perdição que Aria, para confortá-la mais ainda.

— Acho que… acho que você tem razão.

Emma ficou sem palavras. Não teve coragem de ir até ela e dizer qualquer coisa, então apenas correu para fora da cantina sem que ninguém percebesse. Ela voltou correndo, com um aperto no peito, em direção ao pátio.

Passou-se algum tempo, e as duas terminaram de comer. Aria despediu-se de Emily, e estava fazendo o caminho para a biblioteca para procurar algo para fazer. Virando em um dos corredores, deu de cara com Ethan, que estava parado ali, como se já esperasse que Aria faria exatamente aquele caminho.

— Oh! O-oi, Ethan…

Ethan a abraçou. Ela ficou surpresa e envergonhada, definitivamente não esperava por aquele abraço repentino. O olhar de Ethan permanecia indiferente mesmo demonstrando afeto, mas talvez, fosse para demonstrar algo a mais. Mia viu os dois abraçados no corredor de longe, e fez uma cara de desgosto.

— Você ainda fala com a Emma?

— A… Emma? Faz um tempo que não converso com ela… — Aria estava totalmente persoadida com aquele abraço, tão quente, tão suave.

— Então é melhor permanecer desse jeito. Já faz um tempo que venho observando vocês duas, e Emma não está com boas ideias. — Ethan apertou mais o abraço, deixando Aria mais vermelha. — Você já deve imaginar que ela não se importava tanto… Simplesmente se afastou de você quando viu que não precisava mais da sua ajuda.

— Ela… se afastou de mim?

— Veja você mesma. Ela não liga mais para você já faz tempo. Nem se junta com você e a Turner, e nem te dá um simples oi quando te vê. Na próxima vez que encontrar ela… tente conversar. Vai ver como ela vai te tratar de um jeito bem diferente agora.

— Como você tem tanta certeza? — Aria estava mais centrada no abraço, incapaz de raciocinar muito bem.

— Conheço esse tipo de pessoa… — Ethan acariciou os cabelos dela. — Ela vai te rebaixar para o mínimo possível. E se eu estiver certo, apenas não acredite mais no que ela te disser. Estamos numa competição, e provavelmente para ela, você deve ser o alvo mais simples de expulsar.

— Certo… acho que entendi.

Ethan sorriu, e largou o abraço. Aria continuou bem envergonhada, dando alguns passinhos curtos para trás.

— Está entediada?

— Um pouco.

— Se quiser, posso te ensinar a tocar piano. Eu ia praticar agora.

— Piano?... Você também toca?! — o entusiasmo de Aria cresceu. Ela segurou a mão de Ethan, e correu para o salão de músicas do colégio. Ali tinham vários instrumentos nos cantos, incluindo um piano.

— Acho que gostou da ideia…

— Sim! Quero ver o quão bom você é. Vem!

Aria pegou um segundo banquinho e colocou na frente do teclado do piano. Os dois se sentaram, e Aria colocou as mãos primeiro. De primeira, não soube o que tocar. Mas logo se lembrou da música que tocou na apresentação que fez, e teve a alucinação de que Ethan a tocava junto dela. Seus dedos delicadamente começaram a teclar, e a melodia deu início. Ethan ficou levemente impressionado. Não esperava que ela iria tocar especificamente aquela música, que ele tinha aprendido a tocar do nada em sua casa.

Ele não hesitou, assim que achou uma brecha na melodia, começou a tocar também. Eles tocaram aquela melodia suave, um pouco melancólica, que transmitia uma conexão profunda entre os dois. Estavam em perfeita sincronia, assim como da última vez. Aria ficou desacreditada por um momento, mas logo se afundou na melodia, esboçando um sorriso enquanto tocava.

No pátio, Emma estava encolhida em um banco de frente para a fonte. Estava vazia, sem vontade de sorrir e nem de chorar. Não sabia o que poderia ter feito para as coisas chegarem naquele ponto. Não sabia o porquê de Aria não confiar nela antes, e nem agora. Contou um sentimento oculto a Emily, e escondeu o mesmo sentimento de sua melhor amiga. O que isso significava para ela? Nem mesmo Emma sabia.

Hina Takahashi vinha chegando para se juntar a Emma. Viu o quão decepcionada e perdida a garota parecia, e se sentou ao lado dela no banco. Nenhuma das duas disse nenhuma palavra por um tempo, até que Hina tentou consolá-la.

— E então, o que faz uma garota tão fofa estar sozinha nesse banco, num dia tão animado?

— Sai daqui…

— Oh.

Hina se sentiu ofendida, mas não deixou seu ego abalar. Se aproximou ainda mais para perto de Emma, pegou uma presilha de borboleta amarela que tinha em sua bolsa, e prendeu uma parte da franja de Emma. O rosto dela ficou um pouco mais fofo com aquele acessório, e ela não conseguiu conter um sorrisinho para Hina.

— Está vendo? Sorrido fica mais bonita.

— Eu… hum… — ela resmungou.

— Sabe, se quiser, pode ficar com ela. Posso até dar mais um presente… Não gosto de ver tanta fofura sendo desperdiçada assim. Vou gravar um sorriso bem largo nesse seu rosto.

Hina olhou para os seus dedos, procurando por um anel para dar a Emma também. Era um anel banhado a ouro que ela tinha, e iria deixar com Emma por um tempo apenas para deixá-la mais sorridente. Mas por mais que procurasse seu anel nos dedos, bolsa, bolsos da calça, não o encontrou em lugar nenhum. Hina começou a ficar desesperada, até que entendeu o que aconteceu.

— Roubaram…

— Hum? — Emma pareceu confusa.

— Roubaram o meu anel! Não! Não, não não… Espere aqui, preciso recuperá-lo agora! — disse Hina, e então saiu apressada. Foi até a cantina, onde estava reunida a maioria das pessoas. — Quem foi o imbecíl que colocou as mãos asquerosas no meu anel?! — exclamou ela, uma expressão tão arrogante que realmente passava um certo medo. Hina sempre manteve um sorriso meigo naturalmente, e vê-la com aquele rosto arrogante ela no mínimo assustador.

— Primeiro o Joey gritando, agora temos outra maluca — caçoou Ryan, ao Michael ao seu lado.

— O que aconteceu, Srta. Takahashi? — perguntou Michael, em voz alta. Hina deu um olhar mortífero para ele, como se pudesse pular e arranhá-lo a qualquer momento.

— O problema é que o meu anel de ouro desapareceu. E eu tenho absoluta certeza de que estava comigo hoje de manhã, então foi alguém daqui que o pegou.

Isabel Rodriguez logo veio correndo para averiguar o que estava acontecendo.

— Que gritaria é essa?!

— Casos de furto, Rodriguez. Hoje de manhã roubaram o meu anel, e eu exijo que o encontrem de volta. Todos aqui estão na responsabilidade de vocês, não é? Devem ter regras nesse lugar, é o mínimo. E acho que roubo não se adequa em algo legal.

— Humph… — Isabel resmungou. — Tudo bem. Pelo amor, pessoal, roubando coisas a essa altura? Vocês não são mais crianças. Vamos resolver isso rápido, por favor, eu tenho mais o que fazer. Ninguém vai sair daqui enquanto este anel não aparecer — disse, enquanto configurava algo em um tablet que tinha em mãos.

Quando terminou a configuração, o bracelete de todos ficou vermelho, impedindo que passassem pela portaria do colégio. Agora, estavam todos presos ali enquanto Isabel não desse permissão para saírem. Uma mensagem de voz foi enviada em todos os braceletes dos que estavam no colégio naquela hora, alertando o ocorrido. O caso do anel teria que ser resolvido de um jeito ou de outro. Isabel também adicionou um adendo… a cada dez minutos com o tal anel desaparecido, todos perderiam dez pontos.

Notas:

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