Volume 1
Capítulo 1: Nossos Sonhos
Notas do autor: Apenas um Sonho é uma história que já existia antes, mas eu não estava satisfeito com o desenrolar dos eventos e a qualidade da escrita da versão anterior. Mesmo com um bom feedback, achei que fosse melhor reescrevê-la do zero. A história continua praticamente a mesma, com uma escrita melhorada e um enredo mais bem desenvolvido. Aos que leram a versão antiga, garanto que valerá a pena rever novamente, afinal houveram muitas mudanças principalmente na construção dos eventos e personagens. ;) Boa leitura!
Volume 1 - Almas Entrelaçadas
Sob a macia grama de um campo infestado de flores rosas e amarelas, com pétalas tão gentis quanto um leve pedacinho de seda, o vento assoprava enquanto arrastava consigo uma brisa de pétalas coloridas, cada uma resplandecendo um sentimento único por meio de cada pequeno brilho. O sol parecia um pouco esbranquiçado, como uma neblina, iluminando o belo campo com uma suave luz branca — como um véu ofuscando o céu.
Uma garota observava a palma da própria mão enquanto deitada pela grama, entre as flores. A luz passava entre seus dedos de um modo mais fraco, delicado. Logo, a jovem inclinou o corpo para olhar ao redor. Seu olhar, ao mesmo tempo que confuso, demonstrava grande curiosidade. Os seus cabelos eram pretos, gentilmente descendo pelos seus ombros. O verde dos campos mesclavam perfeitamente com o verde dos seus olhos, que apreciavam tudo ao redor como algo novo. A garota também havia acabado de chegar naquele lugar.
Cuidadosa com as flores ela se levantou, delicadamente sacudiu o vestido branco e assim as folhas foram caindo, tão suaves, tudo parecia estar em câmera lenta. Conforme ela seguia caminhando pelo campo, o mundo ao seu redor se expandia aos seus olhos. A sensação de estar numa neblina, causada pela luz estranha daquele lugar, foi se dissipando e abrindo passagem para uma luz morna e acolhedora. Sentia como se recebesse um abraço do próprio sol.
A jovem sorriu, abriu os seus braços para receber aquele calor de volta enquanto rodopiava pelas flores. Seu vestido acompanhava os passos da dança, sentia-se uma princesa, porém, imaginária. Com o mesmo espírito de uma criança que descobria as primeiras sensações no mundo, de repente, uma felicidade tomou o seu peito. A garota ria, gargalhava sob a vista encantadora, mesmo sem motivo algum.
Mas sua felicidade se transformou em constrangimento quando em meio a sua dança graciosa, acabou vendo uma figura que lhe observava por trás da única árvore presente no campo florido. Antes que pudesse parar de rodopiar, ela acabou caindo pelo choque do que viu, e seu olhar logo voltou a buscar aquela árvore, mas ela tinha desaparecido.
Aquela visão a despertou para a realidade, percebendo que estava em um lugar completamente vazio. Sem mais ninguém além da própria menina, sem nenhum outro som além dos seus passos, apenas um campo que parecia ser infinito. Sua tensão ia aumentando, e o ambiente ao redor ia se movendo de uma forma mais lenta… quase parando no tempo.
“Aria.”
Foi quando ouviu um sussurro bem tímido vindo de algum lugar. Rapidamente ela se virou para trás, e o cenário havia mudado completamente. A brisa aconchegante desapareceu junto das pétalas, e cada pequena folha daquele campo florido se tornou em água. Ela estava sentada sob a superfície de um mar tranquilo, e tudo o que restou do antigo cenário foi o aconchegante calor do sol.
Um pouco adiante, de pé sobre as águas misteriosas que surgiram, estava um jovem de aparência semelhante a dela. Cabelos pretos, porém curtos, e seus olhos eram azuis. Vestia uma camisa branca e calças da mesma cor. Os dois jovens estavam vestidos de branco.
— Você… — O garoto deu um passo à frente. A água do mar vibrou em resposta, eles ainda estavam firmes sobre ela. A garota, mesmo curiosa, se afastou um pouco. Ainda estava um pouco assustada.
Por um momento, o garoto a reconheceu perfeitamente. Sabia o seu nome, sabia quem ela era. E no instante seguinte, suas memórias desapareceram, como se tivessem sido destruídas de alguma forma. A cada passo que dava em direção a garota sentada sobre a água o fazia se esquecer cada vez mais sobre quem ela era.
— Quem… é você? — perguntou, e sua mão se estendendo para tentar alcançá-la foi a última coisa que pôde ver antes que tudo se iluminasse ao seu redor…
Abruptamente, seus olhos se abriram para vislumbrar o teto frio e sem cor de um quarto de hospital. O garoto acordou deitado na cama ao canto do quarto, a silhueta de algumas mulheres conversando de pé do outro lado das cortinas que envolviam sua cama se destacava. Foi então que ele percebeu uma coisa: a mão que estava estendendo para a garota que encontrou no sonho, na vida real, estava enfaixada completamente junto com o restante do braço. Ele sequer conseguia mexer essa mão.
— Ethan! Finalmente… — exclamou uma mulher que abriu a cortina assim que as enfermeiras saíram do quarto. Ela estava usando roupas pretas e brancas de uma empregada, seus cabelos marrons estavam presos em um rabo de cavalo, e a mulher também usava um pequeno chapeuzinho preto, bem fofo. Aquela estranha parecia muito aliviada de vê-lo acordado. — Como você está? Se sentindo bem?
Uma nova memória foi aparecendo em sua mente, Ethan, era o seu nome. Mas por que não conseguia se lembrar de algo tão simples quanto o seu próprio nome?
Não conseguiu responder as perguntas da mulher de primeira, seu raciocínio estava fraco… sua visão ainda meio embaçada, e quando ouviu o questionamento sobre seu bem-estar, uma leve dor de cabeça surgiu. A desconhecida se aproximou para se sentar ao seu lado na cama, gentilmente acariciando seus cabelos.
— Como é que eu acabei desse jeito? — Ethan questionou, tentando se erguer da cama com um certo esforço.
— Você não se lembra? — ela foi ajeitando os cabelos bagunçados de Ethan enquanto explicava. — Foi um acidente, você acabou sendo atropelado… não sei o que deu em você, se jogar na frente do carro daquele jeito. Não parecia você na hora.
Ethan não teve uma reação concreta sobre isso, apenas continuou olhando estaticamente para o cobertor da cama de hospital. Então, há algumas horas ou talvez até dias atrás, Ethan acabou se jogando na frente de um carro aparentemente do nada. Quando olhou novamente para aquela mulher, teve vagas memórias da expressão e de alguns gestos dela. Como se suas lembranças sobre aquela pessoa estivessem fragmentadas em vários pequenos pedaços.
— Você… é minha mãe? — questionou, prestes a abrir um pequeno sorriso.
A mulher ficou surpresa com a pergunta, confusa também. Demorou um pouco para responder, deixando um silêncio constrangedor no ar.
— Também não se lembra de mim? — Foi a única coisa que perguntou enquanto continuava a alisar os cabelos do menino.
— Creio que não…
— Sua mãe, Ethan… já não aparece há um tempo. Bastante tempo. Eu sou apenas uma empregada que acabou ficando com a tarefa de cuidar de você.
Um pouco decepcionado, Ethan apenas deixou sair um leve suspiro. Não foi tão chocante pois já sabia dessa informação, apenas acabou de se lembrar dela.
Ver a decepção nítida na face do jovem acabou magoando a mulher por dentro. Mas mesmo sentindo essa fagulha no peito, ela ainda tentou o acolher como podia.
— Eu sou Katherine Brown, e foi um prazer ter a chance de cuidar de você desde que era pequeno até aqui. Você acabou se tornando um garotão! E também… — ela envolveu a cabeça de Ethan em seus braços gentilmente. — Eu não me importaria se você quisesse me chamar de mãe, se isso te deixa mais confortável.
Mesmo assim o jovem continuou com o mesmo semblante. Parecia indiferente aos afetos de Katherine ao relembrar que aquela mulher não era a sua mãe de verdade.
Quebrando um pouco o clima melancólico, Katherine acabou lembrando de algo que havia esperado tanto para poder mostrar a ele. Talvez o animaria um pouco.
— Ah, é mesmo! Tenho um presentinho para você. — Se levantou da cama e foi até as gavetas de pertences, onde estavam as roupas de Ethan. De lá, ela tirou um longo cachecol branco, que de vista aparentava ser bem confortável. O algodão era tão fofo quanto os pelos de um cachorrinho, tecido com atenção e delicadeza. — Na verdade, foi o seu pai quem escolheu dar ele a você…
— Meu pai?
Quando Katherine deixou o cachecol nos braços de Ethan, o aroma de roupa nova subiu no ar. Mesmo sendo de alta qualidade, requintado e belo, aos olhos do garoto aquilo já não era tão especial. Talvez a ideia de ser um presente de seu pai não o agradasse muito, mesmo ele não se lembrando perfeitamente quem era o seu pai.
Ethan acabou recusando, devolvendo o cachecol para ela, ainda com o mesmo tom de decepção no rosto.
— Pode… devolver para ele.
— Devolver? Mas, por que você-
— Eu prefiro o meu cachecol antigo. Você guardou ele também, não é?
De alguma forma, Ethan se lembrava nitidamente de um acessório que o acompanharia onde quer que ele fosse. O seu antigo cachecol, velho, de uns dez anos atrás. Mas não se lembra do porquê dele ser tão especial, e nem como o adquiriu.
— Você não pode ter se esquecido dele, está guardado… você não o perdeu, né? — preocupou-se Ethan, a ideia de perder aquela coisa lhe era agonizante.
— Sim, eu o guardei também… mas não esperava que fosse preferir ele. Você e o seu pai nunca se deram muito bem, talvez isso faça sentido…
Katherine então voltou às gavetas do hospital, retirando um velho cachecol cinza com poucos detalhes pretos. Assim que Ethan pôs as mãos nele já o enrolou pelo pescoço imediatamente, sentindo um peso aconchegante por cima dos ombros.
— Obrigado por não ter se esquecido dele…
Finalmente ele pôde soltar aquele pequeno sorriso que estava guardado desde que encontrou Katherine novamente. E poder ver que ele estava bem a confortava da mesma forma. Uma pequena conexão, seja de mãe e filho ou então apenas amizade, com certeza existia no fundo.
— Ele precisará manter as faixas por cerca de uma semana, mas se já não houver dor alguma ao mexer o braço sem elas, então já pode retirar. Mas mesmo assim, procure não fazer movimentos bruscos com esse braço e nem atividades muito pesadas por enquanto — disse a enfermeira quando já estavam deixando o lugar para voltar para casa. — Você deu sorte, falta exatamente uma semana para suas aulas começarem. Justo o tempo necessário para recuperar esse seu braço!
— Muito obrigada! — agradeceu Katherine, bem contente. — Vou garantir que ele não se esforce demais. É normal que ele sempre faça as tarefas sozinho em casa, mas dessa vez acho que vai precisar de uma mãozinha, Ethan.
Pelo resmungo que Ethan deu, não gostou muito da ideia. Não gostava de ser bajulado como uma criança, sempre se mostrou ter um ego maior.
Saindo do hospital e ainda com o braço direito enfaixado, Ethan também pôde voltar a vestir suas roupas de antes. Um casaco azul meio fosco e largas calças pretas, e, claro, seu cachecol favorito no pescoço. Katherine andava com as mãos atrás das costas e com um olhar meio caído, como se sentisse culpa por alguma coisa. Ethan percebeu essa culpa, e sua vontade era de questioná-la. Mas tudo o que fez foi observar, optou por não incomodá-la por enquanto.
O caminho até em casa foi bem tranquilo. Era tudo parcialmente novo quando as memórias de Ethan haviam se tornado apenas uma tela em branco. Viviam em Nova York, e as ruas de Albany — sua cidade — pareciam bem mais interessantes quando vistas pela “primeira vez”. Estavam atravessando uma ponte com estética bem elegante, e a noite acabava destacando as luzes dos prédios e grandes estádios pela cidade. Nenhum dos dois falava muita coisa pelo caminho, e as ruas foram ficando mais tranquilas conforme chegavam mais próximos da parada final. Um bairro residencial bem chique, vários carros de alto padrão estacionados nos campos e garagens das casas. Ethan se surpreendeu quando viu onde morava, era uma casa do mesmo padrão de todas aquelas outras, grande, moderna e com um extenso e belo jardim.
— Então, essa é a casa do meu pai… ele deve ter bastante dinheiro.
— A casa não é dele, na verdade, ela é sua. Ele mora em algum outro lugar por aí e nunca contou a nós onde era exatamente. Então, quem vive aqui são apenas eu e você, mas infelizmente eu não posso ficar aqui o tempo inteiro.
Foi uma surpresa logo de cara, então seu pai não morava junto da família. No caso, a família sequer existia. Ele se mandava para onde ninguém podia visitar ou saber sobre ele, e deixava o seu filho abandonado em uma casa… bem confortável. Talvez não fosse tão ruim assim.
— Ele não deve gostar de visitas então — acrescentou Ethan, com uma leve risada. A ausência do pai no fim não o abalava muito de qualquer forma.
Um tempo depois, já dentro de casa, Katherine havia finalizado a janta, era apenas uma sopa de legumes com carne comum. A tigela estava bem quente e seria um pouco difícil para Ethan manusear com apenas uma mão, foi quando teve que ceder aos apelos de Katherine e deixá-la o alimentar como uma criancinha.
— Vamos lá, segunda colherada. Abre a boquinha! — pegou uma porção de sopa com a colher, tampando a parte de baixo para não respingar no chão.
— Você não precisa fazer isso… é sério.
— Abre a boquinha se não vai entornar!
Ethan abriu a boca para tentar falar alguma coisa, foi aí que Katherine socou a colher para dentro e o fez engolir a sopa de um jeito ou de outro. Ele virou a cara emburrado e envergonhado ao mesmo tempo, resmungando como um velho rabugento. Katherine gargalhou com a colher na mão, e depois deu uma degustada na sopa também.
A noite pela janela estava tão calma que o canto dos grilos era o único som que vinha de fora. Mesmo sendo apenas duas pessoas em uma casa tão grande, as risadas transformavam o ambiente em um clima semelhante ao de uma família feliz. Mas ainda assim, parecia faltar alguma coisa...
— Sabe que eu consigo segurar uma colher com uma mão só, né?
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