Volume 1 – Arco 1
Capítulo 24: Além das Revelações - Parte 1
Tiruli rastejou pelo chão frio da lavanderia, seu corpo trêmulo não pelo frio, mas pelo impacto do que acabou de acontecer. Seus braços tremiam, fracos, mal conseguiam sustentar seu peso, e cada movimento era lento, pesado, como se carregasse um fardo invisível em seus ombros. Ele se arrastou até uma das máquinas de lavar e apoiou as costas nela, sentindo a vibração rítmica do motor ecoar contra sua pele encharcada. Sua respiração irregular, como se cada fôlego fosse um lembrete do que acabara de acontecer. A lavanderia, antes um lugar de paz e solitude, agora parecia um campo de batalha onde ele havia sido derrotado de forma humilhante.
Ele encarou o teto por um momento, seus olhos arregalados, cheios de desespero e raiva. O gosto da água ainda impregnava sua boca, e sua respiração saía em suspiros trêmulos, um lembrete amargo da bolha sufocante que quase o matou. Cada gota escorrendo de seu cabelo e roupas o fazia sentir o peso da humilhação de novo e de novo. Ele apertou os punhos, os nós dos dedos ficando brancos com a força do aperto.
O arrependimento queimava dentro dele, por não ter reagido, por não ter lutado. A cena repetia-se em sua mente como um ciclo vicioso—o momento em que a bolha d'água envolveu sua cabeça, o desespero crescente, os olhares frios de Quinn e Makkolb, as palavras que pareciam facas cravadas em sua pele. Ele deveria ter revidado. Não deveria ter hesitado. Deveria ter feito o chão vibrar sob seus pés e convocado as rochas mais colossais para esmagar eles antes mesmo que tivessem a chance de atacá-lo. Poderia ter feito estalagmites pontiagudas brotarem sob os pés deles, poderia ter destruído aquela lavanderia inteira, feito os canos explodirem, o teto desmoronar sobre eles. Ele queria tê-los visto sangrar, queria ter visto o pavor em seus olhos enquanto eram soterrados por sua fúria. Mas... simplesmente não fez.
Por que diabos não tinha reagido? Por que ficou ali, confiando que Quinn e Makkolb não fariam nada? Ele sabia. Sempre soube. Desde o momento em que viu Quinn enforcar Misha, quando os dedos dele se fecharam como uma armadilha em volta da mandíbula dela, seus olhos frios, impassíveis. Naquele instante, algo dentro de Tiruli gritou, avisando-o de que Quinn não tinha limites, que ele não hesitaria em machucar qualquer um, até mesmo dentro do próprio grupo.
E, ainda assim, ele hesitou.
Mas Quinn não hesitaria em espancá-lo. Makkolb também não. E Tiruli... bem, ele sempre teve facilidade em se submeter, em escolher o caminho menos perigoso.
Mas essa noite foi diferente.
Enquanto era forçado a passar pela humilhação, enquanto sentia a risada de Quinn e Makkolb ecoando em seus ouvidos, pensamentos tinham surgido em sua mente: "Eu vou matar eles. Vou esmagá-los até que não sobre nada além de carne dilacerada no chão. Arrancar cada risada nojenta desses desgraçados enquanto esmago seus crânios com as minhas próprias mãos."
E isso o assustou.
Tiruli sempre foi o garoto perfeito. O filho que nunca causava problemas, que obedecia, que tirava boas notas, que seguia regras. Seus pais nunca precisaram se preocupar com ele. Ele era inteligente, educado, confiável. Mas ali, no chão da lavanderia, ofegante, com o gosto amargo da humilhação na boca, ele percebeu que talvez esse garoto perfeito estivesse morrendo.
Ele pensou tanto nas consequências que um ato violento poderia trazer, que esqueceu de reagir no momento certo. Não porque não soubesse lutar, mas porque sua mente ainda estava condicionada a pensar antes de agir, a calcular antes de arriscar.
Mas o que adiantava ser racional se isso só o tornava um alvo fácil?
O que adiantava pensar antes de agir, se quem agia primeiro sempre saía por cima?
Mas agora ele via tudo com mais clareza. Quinn e Makkolb nunca o respeitaram. Eles só o usaram. E ele permitiu.
Mas não mais.
A questão não era se ele faria algo. A questão era quando.
Voltar ao dormitório estava fora de questão. Ele não suportaria olhar para a cara de Quinn e Makkolb, fingindo que nada aconteceu, ouvindo possíveis risadas abafadas, sentindo os olhares deles perfurando sua alma. Ele não daria esse gostinho a eles.
No dia seguinte, ele iria para casa. Passaria alguns dias longe dali, e isso significava que não haveria punição por dormir fora do dormitório. Era um pequeno alívio. Ele não queria se mover. Não queria pensar. Queria apenas desaparecer naquela noite, naquela lavanderia vazia, onde o som monótono da máquina de lavar girando as roupas sujas era sua única companhia.
Ali, encostado em uma das máquina, no chão frio, molhado, cercado pelo cheiro de sabão e vapor, Tiruli fechou os olhos. Seu corpo estava pesado, sua mente um turbilhão de pensamentos sombrios. Mas, no fim, a exaustão venceu.
E ele dormiu.
No dia seguinte, um céu tingido de tons suaves de laranja e rosa, enquanto o sol nascia no horizonte. A névoa da madrugada ainda pairava sobre os jardins da escola, e o ar fresco da manhã carregava o cheiro de terra úmida. Então, conforme as horas avançavam, o campo da escola voltou a se encher de vida.
Pais, irmãos e parentes aguardavam ansiosamente pelos alunos. O som das conversas se misturava ao barulho dos motores dos carros, criando uma sinfonia de despedidas e reencontros. Alunos se abraçavam, outros corriam para os veículos de suas famílias, e alguns apenas observavam a movimentação enquanto esperavam. A cada segundo, mais estudantes atravessavam os portões, carregando malas, mochilas e uma energia de alívio e animação por finalmente voltarem para casa, mesmo que por poucos dias.
Ártemis caminhava até o carro de seu pai, Armon, sentindo seu coração acelerar de alegria ao vê-lo encostado na porta do veículo, esperando por ela. Seu irmãozinho, sentado no banco de trás, agitava as mãos entusiasmado, acenando para ela com um sorriso largo.
Assim que o avistou, Ártemis abriu um sorriso genuíno e correu para abraçá-lo. Ele a envolveu com firmeza, segurando-a como se quisesse garantir que ela estava realmente ali, que sua presença não era apenas uma sensação passageira.
O calor familiar do abraço trouxe consigo um sentimento de pertencimento, um alívio silencioso depois de semanas longe. A saudade transparecia no olhar.
Armon perguntou sobre as últimas semanas. Ártemis contou que conheceu muitas pessoas e fez mais amigos. Havia um brilho em sua voz ao mencionar isso, uma alegria sincera que seu pai percebeu de imediato.
Sem perder tempo, ela abriu a porta do carro e se acomodou no banco do passageiro, ajustando-se com naturalidade. Então, mencionou o desejo de sair à tarde para encontrar alguns dos novos amigos, lançando a pergunta ao pai com a confiança de quem já conhecia a resposta.
Ele ligou o carro e, antes de responder, olhou-a de relance, um sorriso discreto surgindo em seus lábios. Gostava de vê-la assim, animada, cheia de histórias para contar. Deu-lhe permissão sem hesitação, mas reforçou o aviso que sempre fazia: se precisasse de qualquer coisa, que o chamasse sem demora.
Ártemis riu da superproteção dele, garantindo que tomaria cuidado. Enquanto o carro ganhava velocidade pela estrada, ela sentiu a familiaridade reconfortante daquele momento – o som do motor, a paisagem fluindo pela janela, a presença de seu pai e de seu irmão no carro. Depois de tanto tempo fora, estar ali parecia mais acolhedor do que nunca.
O carro começou a se mover suavemente, saindo da agitação da escola e seguindo pela estrada principal. Ártemis olhou pela janela, observando os outros alunos embarcarem em seus próprios veículos, e se permitiu relaxar. O cansaço da semana pesava sobre ela, mas a empolgação de rever sua família e poder sair mais tarde com os amigos a animava.
A viagem seguiu tranquila, com o ronronar do motor e o balanço leve do carro acompanhando a conversa animada. Ártemis recostou-se, deixando-se levar pelo som do vento entrando pelas janelas e pela sensação de pertencimento que aquele momento trazia.
Na cidade de Michilli, o sol começou a subir mais alto, aquecendo as ruas movimentadas, e o ritmo da cidade ficou mais intenso, com pessoas apressadas e carros deslizando pelas avenidas. As sombras diminuíam, e o céu clareava com tons suaves de azul.
A tarde chegou em um silêncio acolhedor. A luz dourada do sol banhava as elegantes fachadas dos edifícios, e o ambiente, normalmente tranquilo, parecia ainda mais calmo. O ar estava morno, enquanto os moradores começavam a sair, aproveitando a quietude daquela hora do dia.
Ártemis, Tiruli, Vanpriks e Glomme estavam parados diante do portão alto e imponente do condomínio aonde Trrira morava. O porteiro, um homem de meia-idade com um bigode bem aparado, falava ao telefone para confirmar a entrada deles.
Glomme estava bem. Ele sorria com os olhos, mesmo que houvesse um leve nervosismo em sua postura. Suas mãos estavam nos bolsos de seu casaco, e ele balançava o peso de um pé para o outro, como se quisesse parecer relaxado. Ártemis, por outro lado, estava radiante. Seus olhos brilhavam enquanto ela observava tudo com admiração. Ela nunca havia estado em um condomínio tão luxuoso antes, e isso ficava evidente em seu entusiasmo. Seu longo cabelo balançava suavemente enquanto ela olhava para os lados, absorvendo cada detalhe do lugar.
Vanpriks, sempre imponente, mantinha-se completamente neutra. Nenhuma expressão atravessava seu rosto enquanto seus olhos analisavam o enorme portão diante deles. Se estava impressionada ou entediada, era impossível dizer. Tiruli, por sua vez, também estava nervoso, mas seu olhar denunciava um cansaço evidente. Ele tamborilava os dedos na lateral da perna, evitando contato visual direto com os outros.
Minutos depois, a autorização foi concedida, e os portões se abriram silenciosamente. Eles caminharam pelo condomínio luxuoso, que mais parecia uma cidade, com ruas largas, jardins bem-cuidados e casas tão grandes que beiravam o exagero.
O grupo seguiu conversando enquanto caminhavam pelas calçadas impecavelmente limpas. O vento carregava o aroma das flores dos jardins, e o silêncio do lugar, interrompido apenas por ocasionais passos de seguranças ou moradores distantes, dava um ar quase irreal à cena.
Chegaram à imponente mansão de Trrira e pararam diante da enorme porta de madeira trabalhada. Vanpriks foi a primeira a tocar a campainha. Agora, restava esperar.
Trrira desceu as escadas rapidamente, os passos quase deslizavam sobre o piso polido da casa, mas a empolgação e a energia que pulsavam dentro dela faziam com que fosse impossível segurar. Seu coração batia acelerado, uma mistura de ansiedade e felicidade tomando conta de sua mente, e, apesar da pressa, seus olhos brilhavam com a expectativa de ver seus amigos em sua casa. Finalmente, ela estava prestes a ter aquele momento com eles, a oportunidade de mostrar sua vida para as pessoas que mais importavam para ela.
Quando alcançou a porta, não hesitou. Com um movimento rápido, ela a abriu e, sem dar espaço para qualquer outra reação, lançou-se nos braços de Ártemis, abraçando-a com a força de quem não via a amiga há anos. A sensação de aconchego, de calor e de familiaridade a envolveu.
— Você veio! — a voz de Trrira soou abafada pelo abraço, mas a felicidade transbordava, como uma criança que finalmente recebe o presente que mais queria.
Ártemis riu suavemente, sentindo o abraço apertado e a alegria genuína de Trrira. Sua resposta, simples mas verdadeira, veio com um toque de leveza.
— Claro que sim!
Trrira então virou-se, seu sorriso se suavizando um pouco, quando seus olhos caíram sobre Glomme, a quem abraçou de maneira um pouco mais contida, mas ainda assim calorosa, como quem recebe um amigo querido. Mas quando seus olhos se moveram para Vanpriks e Tiruli, uma leve tensão surgiu em seu peito. Aqueles dois eram completos desconhecidos para ela, e sua mente imediatamente começou a formular perguntas. Seus pais nunca permitiam que ela trouxesse amigos para casa, e agora ela os via, em carne e osso, diante dela, e a incerteza tomou-lhe a mente.
Percebendo a hesitação de Trrira, Ártemis deu um passo à frente, como sempre tentando suavizar qualquer situação, especialmente quando sentia que o desconforto estava no ar. Ela apresentou os dois rapidamente.
— Esses são Vanpriks e Tiruli — disse, um gesto amigável se estendendo para os dois amigos. — Meus amigos. Amigos de Glomme também.
Trrira forçou um sorriso. Era uma reação automática, algo que ela fazia para tentar mascarar qualquer desconforto ou insegurança. Ela apertou a mão deles brevemente, tentando transmitir algo de cordialidade, mas por dentro ainda havia uma batalha silenciosa.
— Bem-vindos — disse, a voz cheia de uma educação que não escondia por completo a apreensão.
Ao entrarem, o ambiente na sala de estar imediatamente se carregou com uma atmosfera densa. Seus pais estavam ali, na penumbra, como sentinelas silenciosas que observavam o mundo com desconfiança. Sylmara, sua mãe, estava parada em um canto, a expressão severa e os olhos afiando-se enquanto percorriam os detalhes de cada um dos convidados. O olhar dela focava especialmente em Glomme, notando a tonalidade esverdeada em sua pele, uma característica que, mesmo entre aqueles que possuíam algum tipo de magia, era rara e desconcertante. Por outro lado, Kael, seu pai, se mantinha em pé, rígido como uma estátua, seus olhos transbordando uma vigilância implacável. Ele estava pronto para agir, como um guardião de um território que não queria ver invadido.
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