Volume 1 – Arco 1
Capítulo 21: Teorias de Uma Louca com Razão
Éeh... eu sei o que vocês tão pensando.
Ou talvez nem estejam, porque, sinceramente, ninguém lembra dele mesmo.
Daquele garoto que sumiu na mesma noite em que o Gumer surtou na enfermaria.
Pois é, o moleque evaporou. Puf. Sumiu do mapa.
Os Detetives Temporais — sim, os fodões do governo — vieram todo metidinhos com varinhas, relógios mágicos e cara de quem acha que manda no tempo. Vasculharam tudo, cada segundo, cada átomo. E adivinha?
Nada. Nenhum rastro.
E vocês sabem, né?... Só teve uma pessoa nesse internato inteiro que já conseguiu enganar esses caras antes.
A mesma que "reconstruiu" as crateras.
A mesma que apagou aquele estrago como se o tempo fosse brinquedo.
Pois é, ainda não acharam essa pessoa.
Ela ainda está aqui.
Escondida.
Assistindo tudo de dentro dessa escola como se fosse um jogo.
E não é difícil juntar as peças — já deu pra perceber que tem um feiticeiro maligno rondando essa escola.
Acho que todos os professores já sabem disso.
Mas, relaxa. Poucos perceberam. E o resto nem vai perceber.
Sabe por quê?
Porque tá todo mundo ocupado demais sendo fútil.
Esses riquinhos dessa escola só querem terminar o ensino médio, tirar fotos com diploma e usar seus poderes pra absolutamente nada.
Como se alguém com a vida resolvida fosse usar magia pra trabalhar.
Me poupe.
Mas enfim. Ontem no festival, uma garota sumiu.
Pouco antes da Marry cair no chão gritando e ter aquela convulsão no meio da cidade, lembra?
Pois é. Agora os jornais só falam disso.
"Fenômeno misterioso." "Menina desaparecida."
E o resto? O Gumer? O garoto que sumiu?
Viraram rodapé de notícia.
Agora tão atrás de uma menina que ninguém vai achar.
Porque o tal do novo bruxo sequestrador de crianças sabe muito bem o que tá fazendo.
E é isso que mais me assusta — ele sabe.
E eu tenho dó dos pais desses jovens que sumiram, andando por aí com cartazes nas mãos, acreditando que vão achar alguma coisa.
Porque, olha... se acharem, não vai ser do jeito que esperam.
E se não acharem — o que é bem mais provável — vão passar o resto da vida tentando entender o que aconteceu, e não vão conseguir.
E eu garanto pra vocês: não vai demorar até essa cidadezinha de merda entrar em colapso.
As ruas vão ficar vazias, os pais vão trancar os filhos em casa e achar que isso vai adiantar alguma coisa.
Mas eu tô dizendo agora — quando essa merda explodir, ninguém vai poder fingir que não viu vindo.
Mas saindo desse assunto... Vocês querem saber da volta às aulas, né?
Tá bom, respirem fundo, porque foi uma bagunça do caralho.
Logo de manhã já tinha balão, confete, som alto — e um diretor fingindo que tava no controle de tudo — Aelzy — tentando bancar o animado, mas dava pra ver que ele só queria que ninguém explodisse nada dessa vez. O salão principal parecia uma convenção de gente tentando parecer empolgada com o futuro.
E sim, como vocês já sabem, a Trrira saiu da escola. Ainda dói um pouco pensar nisso, mas tudo bem — a gente ainda se fala, somos amigas, e sinceramente, ela tá melhor longe desse manicômio com farda.
Mas enfim, o foco é que eu, Faelynn, Anaru, Firefy e Glomme viramos os "heróis destaque" da escola.
Éhh, heróis.
Nem eu acredito.
Mas foi isso mesmo: foto no telão, gritos, aplausos e tudo. E olha... eu vou aprender a amar isso.
Principalmente porque me disseram que vai ter patrocínio pra gente.
E eu quero dinheiro. Quem não quer, né?
E claro, sempre tem a parte boa — e a parte podre.
Tinha uns rostos ali que davam vontade de rir.
Os Caçadores encarando a gente com aquela cara de "quem deixou esses estranhos subirem no palco?".
Três Bambis, uma nativa e uma chifruda na linha de frente.
Éehh... eu sei que muita gente odiou isso.
Mas adivinha?
Eles vão ter que engolir, sorrindo.
E eu adoro ver as caras impagáveis deles tentando lidar com o fato de que a gente venceu.
O Aelzy me elogiou pessoalmente — e olha que esse homem nunca elogia ninguém.
A Faelynn foi elogiada pela Hanvasa, o que é tipo ganhar uma medalha divina.
E a Anaru, a Sennah quase derreteu falando dela.
Foi meio épico, confesso.
Teve até palestra, uma dessas chatonas de "inspiração e futuro brilhante", mas todo mundo só prestava atenção porque a vagabunda da Misha tava quase chorando no banco de trás.
Juro, eu nunca vi uma patricinha engolir tanta saliva tentando disfarçar a humilhação.
E pra completar o circo, Icegren era outra vadia se corroendo por dentro — vendo a Anaru brilhar no palco, o rosto dela estampado nos telões, a nova queridinha da escola.
Dava pra sentir o ódio fervendo só de olhar pra ela. Aquilo era pessoal, e nem precisava ser gênio pra perceber que tinha alguma treta entre elas... e, sinceramente, eu queria muito saber o que tem por trás disso.
E... falando no beijo de ontem.
Foi... meu Deus.
Nunca pensei que ia participar de um beijo a quatro.
Mas foi incrível. De verdade.
Eu ainda tô com o coração batendo estranho quando lembro.
E, sinceramente? Eu já me sinto meio namorada da Firefy e do Glomme.
É bizarro, eu sei — mas é aquele bizarro bom, sabe?
Aquele que dá frio na barriga e te faz rir depois, meio sem entender nada.
E o Gumer... ah, o Gumer.
Eu tenho que me casar com ele nas férias.
É sério.
Nem sei se é piada ou promessa, mas do jeito que as coisas tão indo, eu só espero que ninguém exploda a cerimônia.
Mas, no fim, foi um bom dia.
Caótico, barulhento, e com aquela sensação de que alguma merda gigante ainda vai acontecer — mas, por enquanto, eu só tô curtindo o palco.
Que fase, viu?
Horas se passaram eehh… a noite foi meio bizarra, não vou mentir. Eu deitei achando que ia dormir em paz, mas adivinha? Leonarda e Misha resolveram virar comentaristas de tragédia às duas da manhã. Acho que esqueceram que eu tava ali. Ou fingiram esquecer, o que é bem a cara delas.
Ficaram cochichando sobre a Marry, claro. Desde o festival, ela virou o novo assunto favorito do internato. Leonarda começou a contar o acontecimento que rolou no festival, tipo narradora de documentário barato — o jeito que a Marry foi arremessada pra trás, o corpo tremendo no chão, os olhos virando e brilhando, a garganta gritando até quase rasgar o ar. Disse que a menina parecia possuída, que o poder dela se descontrolou tanto que quase fez metade do festival sangrar pelos ouvidos. E que, depois de tudo, os enfermeiros chegaram pelos portais, levaram ela direto pra emergência, e no dia seguinte... apareceu de volta aqui na escola. Sorrindo. Como se nada tivesse acontecido.
E aí vem o pior: Misha, com aquele tom nojento de quem adora um apelido cruel, soltou que já tão chamando a Marry de Miss Convulsão. É sério. O povo daqui não perdoa nem quem quase morre. Pisou em falso, tropeçou, desmaiou, virou piada no refeitório. A Marry agora é tipo o mascote do bullying. Todo corredor que ela passa, tem alguém imitando um ataque, tremendo ou soltando um gritinho falso. É nojento. O tipo de coisa que me dá vontade de socar metade da escola.
A Leonarda até riu, mas meio sem graça, como quem sabe que é errado esses apelidos, só não tem coragem de dizer. E eu ali, de olhos abertos no escuro, ouvindo tudo, tentando fingir que tava dormindo — mas meu peito doía. Não era raiva, era outra coisa. Um aperto esquisito, uma lembrança que veio igual soco.
Porque o que Leonarda tava descrevendo... era o Gumer. A mesma porra de sequência. Ele também foi empurrado por alguma coisa, também teve espasmos, também caiu, e também ficou entre a vida e a morte por uns segundos. A diferença é que ele não gritou — a boca dele simplesmente explodiu. E depois, do nada, o corpo dele se regenerou. Sozinho. Nenhum curandeiro, nenhuma magia, nada. Foi como se o próprio corpo tivesse decidido ignorar a morte.
E agora, a Marry? Do mesmo jeito. Caiu, desmaiou, fez todo mundo surtar, e depois — pum — acorda como se tivesse só tirado um cochilo. Dá pra fingir que é coincidência? Nem fodendo. Eu comecei a montar uma teoria na minha cabeça, daquelas que só fazem sentido pra quem não dorme direito: e se ela também teve a boca explodida, mas o corpo se regenerou igual ao Gumer?
Tipo... e se for o mesmo fenômeno? A mesma força, o mesmo “algo” que entrou nele, agora entrou nela? Faz sentido — pelo menos, pra mim. Talvez a coisa que tava dentro do Gumer tenha saído e procurado outro hospedeiro. E achou a Marry.
E eu sei que vocês tão pensando que eu tô viajando. Que eu tô vendo conspiração onde só tem drama adolescente. Mas, cara... olha pras pessoas dessa escola. Todo mundo rindo, fazendo piadinha com a garota que quase destruiu o festival com um grito. Ninguém percebe o perigo, porque é mais fácil transformar o medo em bullying. É o que essa escola faz de melhor.
Talvez a Marry agora seja tipo uma bomba-relógio ambulante. Que mais cedo ou mais tarde, ela vai surtar igual o Gumer. Só que pior. Porque ninguém tá vendo. E quando isso acontecer, vocês vão lembrar dessa conversa aqui. E vão pensar: a desgraçada da Ártemis avisou.
Mas então... na manhã do dia 19 de março, terça-feira, eu tava um trapo. Nem o café desceu direito — parecia que o estômago tava com nó. E pra piorar, o sol brilhava como se o mundo fosse normal, o que é sempre um sinal de que ele tá prestes a acabar. Encontrei a Firefy e o Glomme perto do jardim, e juro, eles pareciam viver num universo paralelo: ela mexendo nas asas como quem espanta pensamentos ruins, e ele lendo um livro que eu duvido que tivesse entendido mais de duas páginas.
Eu cheguei já jogando o assunto na mesa — Marry Carmem. Só o nome dela já fez os dois se entreolharem, tipo “pronto, a Ártemis enlouqueceu de vez”. Mas eu expliquei. Contei tudo. As coincidências, as semelhanças, o jeito como a Marry desmaiou, tremeu, voltou nova em folha ontem. O Gumer também tinha sido assim, e ninguém quis admitir que aquilo não era normal. Só eu.
A Firefy ficou quieta por um tempo, mordendo o lábio, com o olhar perdido, mas parecia esperar por isso, respirou fundo e começou a falar. Não era qualquer conversa, era coisa séria. Ela contou tudo o que o Gumer disse pra ela no sábado, cada detalhe, cada mensagem bizarra que ele mandou depois. Disse que ele tá surtando com as visões — vê o inferno, o diabo, e um espírito dentro da cabeça dele vigiando o tempo todo. Falou que ele sente essa presença, tipo um parasita que não dorme nunca, e que no domingo, no exato momento em que a Marry Carmem foi possuída, ele sentiu outra energia tomando forma.
Tá mais que obvio galera. A Firefy acredita em mim. Dá pra ver no olhar dela. Já o Glomme... ele ficou em silêncio o tempo inteiro, só mexendo as mãos, apertando uma contra a outra. Ele não duvida, mas também não quer acreditar. E eu entendo. A gente vive cercado de magia, mas ninguém tá preparado pra lidar com ela quando ela resolve te olhar de volta.
Mas sabe o que é mais doido? Eu acho que o Gumer tá sentindo ela. A presença dentro da Marry. Como se realmente o que que entrou nele tivesse pulado pra outro corpo, tipo uma troca de energia fodida. E o pior: ela tá aqui nessa escola. No mesmo refeitório, no mesmo corredor, respirando o mesmo ar que a gente.
Eu falei isso pra eles e os dois ficaram me encarando como se eu tivesse acabado de anunciar o fim do mundo — o que, sinceramente, pode ser que eu tenha mesmo.
E antes que vocês pensem qualquer coisa, escuta: o Gumer não tava maluco quando tudo aconteceu. Alguma coisa empurrou ele na minha frente e entrou no corpo dele. E agora ele tá sentindo outra vez. A Firefy acredita. O Glomme não sabe o que pensar, mas ele vai junto, porque é o tipo de pessoa que prefere enfrentar o inferno acompanhado.
Então eu decidi: eu vou falar com ela. A Marry. Olhar nos olhos dela e ver se ainda tem alguém ali dentro. E se ela olhar pra mim com aquele mesmo olhar vazio que o Gumer tinha quando perdeu o controle, eu juro que largo tudo e corro pro inferno rindo. Porque aí, meus caros leitores invisíveis, vocês vão saber que eu tava certa desde o começo. E quando eu tiver, não quero ninguém vindo dizer “nossa, Ártemis, você devia ter avisado”.
Eu tô avisando agora.
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