Volume 1

Capítulo 6 : Achei na Floresta

Na cama, ainda com febre e dores pelo corpo, o homem-cão, apesar de desconfiar de tudo ao seu redor, se deixou ser cuidado pela idosa que foi ajudá-lo com seus ferimentos.

– A...a senhora também mora aqui? – pergunta o homem-cão

– Não! Eu moro em outro barraco. E quanto menos você falar mais rápido vou fazer meu trabalho! – responde a idosa de maneira um pouco ríspida.

Já tão intimidado pelo local, agora ele se sente ainda menos à vontade com a resposta desta velha senhora, que sem falar mais nada, finaliza os primeiros-socorros feitos no homem-cão, dá um prato de sopa a ele, e se vai tão quieta quanto veio, dando assim chance do homem-cão se perder em seus pensamentos, movidos naquele momento pelo medo e desconforto que sentia.

"Se eu ficar aqui eles vão querer me meter nesses problemas daquela garota cega!" pensa o homem-cão com apreensão.

"Mas se eu disser não… eles vão me bater ou até me matar!... É… Bom...Pelo menos…pelo menos  eu acho né...Eu...eu não sei muita coisa mas....acho que ninguém ajuda de graça assim...Eu...eu vou sair daqui...É isso aí...Mas…não dá agora...Eu não aguento sem descansar…Estou tão cansado!...E meus olhos estão tão pesados...Acho...acho...que...vou dormir só...um...pouquinho...."

Faltavam alguns minutos para às vinte horas. E após tanto tempo de febre, dor e medo, o homem-cão termina sua sopa e logo em seguida cai em sono profundo.

Eram quatro horas da manhã, e Paragor entrava pela porta animado, vindo de sua jogatina da madrugada com sacos cheios de moedas, além de um par de botas e duas espadas. Ele ia em direção ao seu quarto para descansar, porém, encontra a mulher cega acordada no meio do caminho. E estranhando sua protegida acordada nesse horário, Paragor fala para ela.

– Ha! ha! ha! Olha isso menina!!! – Paragor mostra seus espólios de jogo para a mulher cega

– Ainda estou afiado nas cartas! E os soldados ainda são tolos em tentar recuperar as calças He! he! he!...Menina!...Apesar de ser estranho confiar no que não se entende direito...Fique tranquila! Porque é verdadeiro! Então vai funcionar! Relaxe e não fique preocupada… Vai descansar! A noite ainda não acabou.

A mulher cega se mantém quieta com um aspecto pensativo e distante. Então paragor pergunta.

– O que foi? O bicho peludo não tem nenhuma habilidade e você acha que vai virar babá dele he!he!he! Eu te conheço menina!

– Ele tem uma habilidade… – Responde a mulher cega.

– Haaaaa! Eu sabia!!... E qual é? – Pergunta Paragor curioso.

– Habilidade de desaparecer! Ninguém o encontra em lugar nenhum!

– O que!? Mas você não viu para onde ele foi?! – Pergunta Paragor em voz alta.

– ....Vou fingir que não ouvi isso… – Retruca a mulher cega com olhar de descrença.

Mas....Paragor para...sua respiração pesa...seu olhar se perde...e sua feição se contraria.

A mulher cega percebendo que o silêncio toma a fala de Paragor, tenta amenizar a situação.

– É como eu falei velho.... Você não tem culpa de nada! Mesmo seguindo esses instintos sobrenaturais que você falou...As coisas terminam dando errado do mesmo jeito. E é melhor assim!

Paragor ainda pensativo se vira para a mulher cega e fala.

– Não desfaça suas malas menina...

– Vou dormir! – responde a mulher cega. –... E você velho… Não vai correr atrás dele! É sério! 

Paragor dá metade de um sorriso, mas continua com a mente vagando em questionamentos e certezas que aparentemente não vão deixá-lo tão cedo.

Andando receoso e de maneira cuidadosa, o homem-cão passa por ruas e vielas da cidade com seu único item tão precioso em suas mãos. Tentando evitar cometer o mesmo erro de quando chegou na cidade, agora ele sempre olhava bem para cada rua à sua frente. Seu objetivo era voltar para a floresta de onde veio, com a intenção de tentar descobrir qualquer coisa que o ajude a saber quem ele é de verdade.

Algum tempo após sair da cidade, o homem-cão chega a floresta de sua origem. Ainda era manhã, a febre estava um pouco mais baixa e os ferimentos razoavelmente enfaixados. 

Com essas condições, o homem-cão conseguia pensar com mais clareza. Lembrando dos caminhos e lugares onde já esteve.

Ele imagina que vasculhando partes da floresta desconhecidas por ele, talvez tenha algum progresso na busca por sua história.

"É!... Só tem aqui pra procurar… Mas procurar o que!?” Fala o homem-cão em seus pensamentos enquanto anda pela floresta “Eu num tenho por onde começar… Voltar pra casa do velho que eu peguei a espada eu não vou voltar!... ele já deve ter falado mal de mim pra todo mundo que ele conhece! Mas aposto que não conta que me roubou antes!?... Hum...Vou é rodar por onde já devo ter passado mas não lembro!... É... é isso mesmo que tenho que fazer"

Assim o homem-cão começa tentando achar o barranco de onde vieram suas primeiras lembranças. E ao chegar no local, ele inicia seus devaneios e conclusões que parecem trazer mais perguntas do que respostas.

"Tá bom!... Eu acordei na beira do barranco todo machucado!... Então é claro que eu caí lá de cima!... Mas… Porque é que eu caí?" 

Após esses pensamentos, ele olha para cima, tentando ver a altura do local em que caiu.

"Mas que Droga!... Só de olhar pra essa altura toda eu já fico tonto! Eu num ia chegar perto da beira disso nem a pau!... Mas então… eu acho que cai porque alguém me empurrou… Não é!?... Putz!... Poxa vida!... Só nisso eu já sei que tem mais gente querendo me ferrar do que me ajudar!... É uma bosta mesmo!... Mais porque!?.... E quem ia querer me jogar ladeira abaixo?!... Huummm… Huuummm... Mas que droga!! Eu só vi aquele velho nessa floresta toda!... Droga!... Só se esse velho me empurrou lá de cima… Depois ele veio para baixo do barranco para me roubar.....Com o pouco que eu sei é só isso que dá pra adivinhar!"

E frustrado, o homem-cão se sentou escorado no pequeno abismo, de maneira semelhante a sua primeira lembrança tortuosa.

Mas!... Era só um velho… E eu só entrei na casa dele gritando e ele já se mijou todo! Então… ele não iria ter coragem pra fazer esse tipo de coisa… E… Caramba… É mesmo!... Eu nem olhei pra traz quando saí de lá… Será que eu matei o velho, de susto!?... Ah!… Mas também me roubou e nem quis saber se eu ia morrer, se eu ia viver, nem nada… Hum… Mas que droga!… Quer saber… Depois eu olho de longe pra desencargo de consciência"

Se acalmando um pouco mais, o homem-cão parou de buscar culpados e começou a pensar no que realmente importava em seu íntimo.

"Eee… bom… Tem outra coisa também né!?… Será que eu não tenho ninguém conhecido?... Quem sabe algum parente, tipo uma mãe ou um pai me procurando… Talvez um irmão… Sei lá sabe... Eee... Será que isso que eu sou tem laços tipo pai, ou mãe ou alguma coisa parecida!?... Porque eu nem sei como é ser o que eu sou… Seja lá o que eu sou… Hum… Mas se eu tivesse algum parente por aqui… Aí eu teria pra onde ir … ou um motivo pra ter esperança… Ah!... E quantos anos eu tenho!?... Será que eu já sou um velho!?... Pela dor nas minhas costas eu acho que eu tenho uns 100 anos! He! he!... Hum… Mas a verdade é que… eu não sei de nada de mim… Mas que droga!... Eu tô morrendo de medo… e to com um pouco de fome também… E quer saber?!… Eu acho que… num vou conseguir sobreviver por muito tempo assim não… E também… Se eu não tiver ninguém...Eu vou continuar como?"

E conclui com um sorriso triste no rosto.

"… Eu estava com tanto medo de morrer na cidade aqui perto… Mas agora… Pensando bem… Eu acho que só tenho que aceitar… Afinal… Se eu não tenho ninguém… Então… Porque eu iria querer continuar qualquer coisa... Sei lá sabe… Bom… Melhor eu ver um jeito de subir lá em cima… Até porque, eu ainda tenho eu… Eu acho… "

Se levantando, ele seguiu rente ao abismo por um tempo até alcançar um local onde seria possível subir para a parte alta da região. Seu objetivo era chegar ao local de onde se precipitou, abismo abaixo, para forçar qualquer resquício de memória que ainda possa restar em sua mente. 

Ao chegar, o homem-cão começou mais alguns devaneios.

"É... Acho que foi daqui" – Pensa o homem-cão enquanto olha para o fundo do pequeno abismo – "Beleza! Agora é só olhar toda essa parte da floresta!... Mas caramba!… é bem grande!... Dá até desânimo de começar!... Mas...Vamos lá!"

E logo ao olhar para trás, ele vê uma árvore completamente seca e com grandes partes quebradas, devido a seu estado de total falta de vida. Em uma floresta isso não seria digno de  atenção, porém, o homem-cão observou que as árvores só se iniciavam a uma distância de quase dez metros da beira do abismo, fazendo com que essa árvore se destacasse na paisagem por ser a única próxima ao abismo.

"Hum… Que azar!... Essa árvore veio parar aqui sozinha… E morreu… Putz! Que coisa triste! Mas é o que acontece quando se está sozinho… Por mais que a gente tente… Sem ninguém do seu lado… A gente acaba assim... HÁÁÁ DÁ PRA PARAR! NÃO É HORA PRA PENSAR ASSIM! Eu vim saber quem eu sou! E é isso que vou fazer! Hum… Mas também essa droga de floresta tá de brincadeira deixando essa árvore aqui assim! Tô achando que é a floresta que quer me matar! Se não for de empurrão vai ser de tristeza!... Droga!... Melhor eu ir logo procurar e parar de pensar porque se não tô ferrado."

Acreditando que essa árvore é estranha mas não tem nada a ver com sua história, o homem-cão continua a explorar a parte alta da floresta. 

Como era uma região aberta, a floresta mais se assemelha a um grande bosque, e após atravessar algumas árvores ele chega em uma estrada de chão.

"Hum… Tem um caminho aqui..." afirma o homem-cão, que olha com certa atenção os detalhes dessa estrada enquanto anda e chuta algumas pedrinhas no caminho. " Poxa vida!... Não dá pra ver onde começa nem onde termina essa estrada… Com certeza vou passar o dia todo só nesse caminho… "

Respirou fundo para se animar, e continuou buscando em volta na esperança de encontrar a primeira dica de quem ele é, ou de pelo menos para onde fica o próximo passo. 

Mas já quase desistindo de examinar esse local, o homem-cão vê distante uma névoa tênue emanando da parte mais profunda da floresta que seus olhos podiam alcançar. E logo a esperança e o medo do desconhecido tomam conta de seu corpo e da sua mente.

"Como pode!?" pergunta o homem-cão a si mesmo, já que, é mais uma coisa que se destaca do normal nessa floresta "...Nem está tarde! Nem está frio! Não tem motivo pra ter névoa aqui! Será um incêndio!?"

Totalmente imóvel, ele olhou fixamente para aquela névoa, e esperou que, talvez, aquilo desaparecesse como uma ilusão de sua mente, ou então, que o mistério se revelasse totalmente sem que ele precisasse se aproximar do perigo. 

Mas os olhos dele não piscam e a névoa não some. Logo, não era uma alucinação. E o mistério do que é, só vai ser revelado ao encará-lo de frente. 

Assim, o homem-cão começou a dar mais ouvidos à esperança do descobrimento do que ao medo do invisível, e passo após passo, sempre observando a névoa, ele avança. Até que, finalmente, a fonte da névoa se torna visível. 

Quase dez vezes maior que uma pessoa comum, um cristal azulado emanava sua névoa fria por grande parte do solo da floresta. Era impressionante, no entanto inofensivo à primeira vista.

Mais tranquilo, o homem-cão andava normalmente em direção ao cristal, que agora só causava admiração pela grande beleza que se destacava de todo o verde e marrom do ambiente. 

Porém, um borrão escuro dentro do cristal quebra o cintilar azul tão admirado pelo homem-cão, forçando-o a focar no que poderia ser aquilo que, com certeza, não pertencia a um objeto tão belo. 

Devagar, os olhos se franzem e se apertam para auxílio da visão, que melhorava a cada pequeno avanço dado. Culminando no final entendimento da terrível verdade.

O homem-cão é tomado não só pelo medo do desconhecido, mas também pelo terror da morte que a imagem vista empurrava em seu coração. 

Era um corpo. 

Um corpo humanoide de um ser híbrido entre homem e pássaro, que parecia sem vida preso dentro do cristal. A aproximação dele se tornava cautelosa novamente. E totalmente impressionado, com seus olhos arregalados e sua boca aberta, ele não conseguia deixar de olhar para o ser, que tinha como sepulcro o interior de um cristal enigmático. 

Já bem próximo, o homem-cão ainda conseguia ver uma espécie de borrão avermelhado, que se propagava ao redor do ser dentro do cristal. 

Aquilo era sangue. Drenado e captado pelo cristal medonho e igualmente belo.

Características perturbadoras se somavam cada vez mais a aquele objeto. A aversão moldava o semblante do observador mais desprevenido, contudo a curiosidade o impedia de se evadir para longe desse enigma. Um conjunto de sentimentos força a atenção a tal ponto que o homem-cão não foi capaz de sentir a presença que o acompanhava aos pés desse monólito um tanto impressionante. 

Contudo, o deslumbre inicial começava a ser suplantado por um pequeno sentimento instintivo que o dizia para olhar lentamente a base do cristal.

Não parecia ser um sentimento com que o homem-cão precisasse se preocupar. Então ele o faz, sem pensar muito além do que já inundava sua cabeça naquele momento. No entanto, a verdade é que este era um instinto de sobrevivência. Já que, logo ao olhar para as raízes do cristal, ele a vê.

Uma mulher abaixada de costas, examinava o monólito com instrumentos estranhos e luminosos, o que espantava o nosso curioso expectador. Apesar de sua posição, era claro a grande altura dessa mulher. Que chegava facilmente aos dois metros de altura. 

Ela usava um vestido com muitos detalhes extravagantes e bonitos, o que era estranho de se usar em uma floresta, além de ter uma cor que mudava entre azul, verde e vermelho de acordo com a posição que a luz o iluminava.

O homem-cão, no primeiro momento, sentiu o frio do medo subir sua espinha ao ver essa mulher desconhecida. Tudo que ela fazia era examinar e estudar, mesmo assim, um sentimento de risco ao estar tão próximo a ela se fazia presente, como a de um leão deitado próximo a um grupo de antílopes. Tudo que ele queria fazer era se afastar pouco a pouco, sem chamar a atenção do perigo para si. 

Andava para trás com todo cuidado, mas um descuido o fez pisar em um galho seco em seu caminho. O barulho chama a atenção da mulher, que pára bruscamente de fazer sua pesquisa.

Sem escolha, o homem-cão se viu obrigado a se comunicar com essa desconhecida, na intenção de provar que não era uma ameaça. E ao tentar ser o mais diplomático possível, ele se convence de que todo esse temor talvez fosse infundado, já que, aquela era só uma mulher que estava estudando algo que realmente era impressionante. 

– Hãããm… O… oi moça! Bom dia!?... – Falou o homem-cão com a voz embargada.

Ao ouvir a saudação introvertida do ser a suas costas, a mulher começou a se levantar lentamente. E à medida em que ela se levantava, o homem-cão percebia que a parte de seu braço, que não era coberta pelo vestido, muda de uma cor de pele normal para algo escamoso da mesma tonalidade mutante do vestido, o que se demonstrava algo inesperado e ao mesmo tempo extremamente intimidador. 

Sem saber o que esperar, ele só podia observar e torcer para que tudo terminasse bem. E no momento em que a mulher ficou de pé, ainda de costas, ela olhou para o homem-cão sem virar totalmente seu rosto para trás, e nessa posição,  ele começava a ver, aquele olho.

Tomado completamente por um tom de roxo esverdeado com veias negras alimentando uma pupila semelhante a um traço horizontal, igual a de uma cabra.

Totalmente aterrorizado, o homem-cão arregalava seus olhos e respirava profundamente sem saber o que toda aquela reação poderia significar. Tudo nela era extremamente intimidador. A tensão era gigantesca ao seu redor, e ele nem sabia mais se poderia defini-la como uma humana. 

E após alguns segundos encarando um homem-cão completamente imóvel e pávido, ela fala com um tom de voz imponente e aristocrático.

– Posso ajudá-lo?

O pavor era tanto que o homem-cão ficava sem resposta diante desta pergunta tão simples.

– … Hum! Mostre a palma da mão! – Ordena a mulher de maneira calma porém confiante.

Então o homem-cão mostra a palma de suas mãos sem nem exitar, temendo o pior caso contrarie tal entidade. Dessa forma a mulher colocou uma pequena bolsa de ferramentas em suas mãos e falou.

– Sendo assim você pode me ajudar! Segure isso e feche a boca! Preciso me concentrar em meus pensamentos!

Essa reação inesperadamente sociável, e a volta ao normal da mulher, relaxa o homem-cão, que volta a respirar de maneira normal e finalmente responde a mulher.

– Hããã...Sim!... Claro!...

Assim ele segura a bolsa da mulher e a acompanha enquanto os dois observam o cristal gigante que guardava em seu interior um ser animalesco similar ao próprio homem-cão. 

Parando e mexendo em seu bolso, a mulher pegou uma espécie de bola feita de vidro rosado e começou a falar com esse objeto próximo a boca.

– O espécime se assemelha fisicamente com um lycan de ascendência aviária, porém, não apresenta aura de sustentação causado pela autoridade geradora, o que induz a acreditar que sua forma híbrida é sustentada naturalmente.

Parando de falar com a bola de vidro, a mulher, sem deixar de olhar para o cristal, faz um gesto indicando que o homem-cão se aproxime dela, e sem nem mesmo pensar, ele a obedeceu rapidamente. Dessa forma, começa a mexer em sua bolsa, até que encontra uma espécie de monóculo luminescente, que ela põe em um de seus olhos e continua a observar o cristal enquanto volta a falar na bola de vidro.

– Uma observação posterior com um visor de penumbra indicou que o objeto que envolve o espécime não interfere na visão da aura de sustentação, mantendo assim a teoria de que o objeto teve sua criação de maneira espontânea na natureza, ou então, criada sem a utilização de autoridade exterior ou interior. A retirada de material para pesquisa da criatura se mostra necessário, porém impossível, devido a estrutura cristalina que envolve o objeto. Tal estrutura demonstra ter origem não natural, provavelmente criada através do uso de autoridade, e emite um rastro penumbral que acredito ligar o cristal a seu local de origem. Sendo extremamente resistente a impactos, a riscos, a ações químicas, a ações de autoridade e de natureza elementar. Dessa forma podendo ser definida como virtualmente indestrutível até o momento.

Terminando de falar na bola de vidro, a mulher chama o homem-cão novamente com um gesto simples e confiante de suas mãos, e ele a obedece calmamente, já que, não tinha mais medo dessa mulher tão misteriosa que o tratava melhor do que qualquer um até agora. 

Próximo a ela, o homem-cão, mesmo querendo encher essa estranha de perguntas, somente faz o que ele já sabia que essa mulher queria. E assim ele segura a bolsa na frente da mulher, como se estivesse devolvendo o objeto para ela. A mulher olha para ele, dá um pequeno sorriso de lado, e fala.

– Se sentiu útil!?

O homem-cão responde sem jeito.

– Si..sim!...má...mas...

A mulher pega sua bolsa das mão do homem-cão e fala.

– Pois “ser útil” é o melhor cartão de visitas que alguém pode apresentar, sabia!? E você ainda vai ser mais útil do que pode imaginar! – fala a mulher ainda com o sorriso contido e estendendo a sua mão num gesto de comprimento para o homem-cão.

A sensação de medo e tristeza que tomava o homem-cão a medida em que ele não encontrava nenhum rastro de seu passado na floresta dava lugar a uma tranquilidade e segurança devido ao encontro com essa mulher, que o tratou com o devido respeito do começo de seu encontro até o fim com um comprimento amistoso que não poderia ser recusado. 

Finalmente confiante que chegou a hora de fazer todas as perguntas que tomavam sua mente, o homem-cão aperta a mão da mulher ao mesmo tempo que inicia uma conversa mais esclarecedora com a mulher.

– Sim! se a senhora quiser eu posso aju....d....ar.....

Entretanto, o homem-cão começa a sentir uma dormência muito forte em sua mão, que logo se irradia para o resto de seu corpo. E mesmo sendo tarde demais, ele vê que as mãos da mulher tinham voltado a ficar daquela cor vibrante e a exibir aquele aspecto escamoso. Então desmaiando, o Homem-cão olha para o rosto da mulher e percebe que seus olhos haviam retornado aquela forma estranha e tão assustadora de antes. O fazendo acreditar que, aquele sim, seria o seu fim neste mundo.



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