Volume 2
Capítulo 30: O Gavião Vermelho
GRIS
— Cara, já falei para vocês como que eu acho maneira esta cabana? — diz Alienor. — Vocês estão no céu e não sabem. Além disso, nunca comi tanta carne seca. Vocês deveriam vendê-la em Galantur, pois lá tem bastante gente com dinheiro. Quero dizer, depois que eu conseguir resolver aquele... problema familiar.
— Eu posso lhe proteger aqui, porém não quero me envolver em assuntos políticos de Galantur — diz o professor.
— Ah! Sim, nem estou pedindo isso. Na verdade, nem eu quero me envolver muito com essas coisas também.
— Como é Galantur, Alienor? É bonito por lá?
— Se você gosta da cor vermelha, sim, é um lugar bem bonito. Como você já sabe, lá é uma cadeia de montanhas com uma depressão bem grande no centro, pois ali era um vulcão antigamente, e a rocha que saia era vermelha. Em Galantur, há uma lenda de que o vulcão era o ninho do dragão vermelho.
— Então ele deveria ser gigantesco, para ter um ninho tão grande — eu respondo.
— Não leve muito a sério — Alienor responde. — São somente histórias antigas para crianças. Minha mãe as contava para eu dormir.
— E vocês não tem medo de que o vulcão entre em erupção?
— Não. Já fazem milênios que ele está adormecido, portanto ninguém se preocupa mais com isso.
Olho para a janela e vejo um animal pequeno, parecido com um gavião, mas suas penas são vermelhas. Alienor também nota o animal, então ela corre em direção à porta, sem pestanejar.
Quando me dou por conta, o professor já está de pé, com uma das adagas na mão. Eu corro para pegar a minha espada, mas antes de alcançá-la eu escuto: — Espere, Alienor! É uma besta! — grita o professor.
A besta voa em direção à porta de entrada, já Alienor ignora o professor e corre em sua direção.
— Pare, Alienor! — eu grito.
Mas ela não nos dá ouvidos. Em contrapartida, a raposa pula e morde a maçaneta da porta, a qual se abre, e ela corre para o lado de fora.
Vejo fogo, semelhante àquele em que Alienor se transformou em humana.
— Não! — exclamo.
Mas que droga. Eu uso impetus para tentar ganhar mais velocidade e alcançar Alienor, então corro e saio pela porta de entrada, já preparado para lutar, entretanto o que vejo é algo inusitado.
— Como você está, minha querida? — diz um homem alto. — Estava preocupado com você, pois me disseram que havia pulado do penhasco...
Ele tem cerca de quarenta anos de idade, de cabelos e barba longos e ruivos, já suas vestimentas possuem várias cores e detalhes, o que indicam que é alguém importante.
— Estou bem, tio Durandal. Você tem que conhecer este lugar, é muito maneiro. Entre aí e fique à vontade.
Você que está muito à vontade!
O Professor coloca sua mão sobre meu ombro, então diz: — Está tudo bem. Ele é amigo.
Percebo que Valefar já guardou sua arma, portanto faço o mesmo com minha espada negra. Todavia, tenho dificuldade de embainhá-la com minha mão esquerda.
— Vamos para dentro. — diz o professor, na medida em que espreita a copa das árvores gigantes. — É perigoso aqui fora.
Durandal balança sua cabeça em afirmação, então todos entram na cabana sem dizer nada.
— Tio Durandal, como você nos achou? — questiona Alienor.
— Não foi muito difícil. Somente segui os sons das explosões, e não é como se estivessem tentando se esconder. Bom, creio que nem precisem. — Durandal diz isso, ao passo que olha para Valefar, então ele prossegue:
— Em todo caso, como você já deve saber, seu tio faz parte do esquadrão de inteligência de Galantur, portanto descobri há pouco tempo que vocês estavam por aqui. E como devem presumir, não sou o único em Galantur que descobriu isso: Sua irmã sabe que você está aqui.
— Aquela biscate... — diz Alienor.
Parece que ela não gosta muito da sua irmã, mas eu não a culpo, pois Loise tentou matá-la.
— Alienor, mais modos. Ela ainda é sua irmã — diz Durandal.
— Você se arrisca ao vir aqui, receio que a condessa não gostará desta sua visita — afirma o professor.
— Não há problema. Tenho boa relação com minha sobrinha. Além disso, ela não terá como descobrir.
— Minha mãe também pensava isso, antes de morrer — contesta Alienor.
— Entendo seu ponto, minha sobrinha. Entretanto, creio que me expressei mal, o que eu quero dizer é que ela precisa de mim, ou melhor, das minhas habilidades.
— Não sei se entendi bem — ela responde.
Já eu não entendo nada.
— Creio que uma guerra esteja emergindo. Há boatos de que Nila Velum vem se fortalecendo há aproximadamente dez anos.
— Não faz sentido — interrompe o professor —, porque eles não têm como chegar aqui. As águas que cercam aquele continente não permitem que qualquer navio o atravesse. O Mar de Betume possui demônios marinhos muito poderosos. Uma ou outra embarcação pequena até pode passar despercebida, mas um exército jamais.
— Vejo que os boatos sobre você são reais, Sr. Valefar. Você tem razão, um exército não conseguiria atravessar o oceano, porém o fato é que o continente demoníaco vem se preparando para algo grande. E demônios começaram a surgir em lugares aleatórios por toda Kordara. Entretanto devo pedir que guardem segredo sobre isso, pois posso ser morto por transmitir tais informações.
— Vou guardar segredo, eu prometo — respondo a ele.
— E você deve ser o garoto imune que espancou o filho do barão e que salvou minha sobrinha. Sou grato a você, meu jovem. Como devo chamá-lo?
— Sou o Gris, filho... Espera! Você disse que sou um imune?
— Ah, sim! Um tenente quase morto reportou há seis meses uma história interessante. Ele disse que um garoto manipulou fluxos de vida e morte sem precisar conjurar, fazer os sinais e tampouco um ritual. Além disso, outro soldado conseguiu retornar e confirmou em parte o depoimento do oficial, salvo que ele disse ter visto um garoto invocar um demônio sem um ritual.
— O tenente era o Fineas? — eu perguto.
— Não, ele estava bem mortinho. Explodiu pelos ares e tal — argumenta Alienor.
— Vocês esqueceram de checar o corpo, verdade? — diz Durandal.
— Bom, eu desmaiei. Então não lembro de mais nada — digo a eles.
Todos olham para a raposa.
— O quê? — ela responde. — Eu estava toda acabada, tão próxima da morte e sem fluxo que mal consegui voltar à forma de raposa para sobreviver. Depois eu somente fui carregada pelo Sr. Bigodes e não consegui fazer mais nada. Já o Fineas estava muito longe, pois ele voou bem alto. Vocês precisavam ter visto. Hahaha.
— Em todo caso — diz Durandal —, ele conseguiu chegar em Galantur, contou uma história bem interessante, mas morreu em seguida. Todavia eu só soube do conteúdo de seu relatório há pouco tempo. Além disso, percebo agora que ele não foi o único que saiu lesionado — Ele diz isso, ao passo que observa meu braço direito.
— Foi ele quem fez isso, mas logo estará normal — eu respondo.
— Vocês precisariam de um mago de vida muito poderoso para curar isso aí. Até onde eu sei, o braço foi cortado. Vocês já encontraram um curandeiro?
— Nós vamos a Ticandar — diz Valefar —, e lá eu conheço alguém que pode curá-lo. Aliás, curá-los.
Durandal olha para a raposa, então argumenta: — Entendo, o festival está próximo. Fico feliz que você esteja em boas mãos, sobrinha. Tenho que admitir que fiquei preocupado que você estivesse aqui no meio da floresta, mas foi bobagem minha.
— Em todo caso — aduz o professor —, Alienor está sob minha proteção, portanto seria bom que os soldados de Galantur não viessem atrás dela.
— Loise já se consolidou como condessa agora, e não deve mais causar problemas. Além disso, ninguém teria coragem de vir até aqui.
— Ufa! — exclama a raposa. — Eu já estava de saco cheio de correr deles.
— Porém receio que minha visita esteja em seu fim — diz Durandal. — Se eu demorar a retornar, as pessoas erradas poderão fazer as perguntas certas. Lhes desejo sorte rumo a Ticandar, porém creio que com o Sr. Valefar como guia, a sorte será desnecessária. Espero que você consiga retornar em algum momento a sua casa, Alienor. Lembre-se que você ainda tem família.
— Obrigada, tio. Em algum momento eu voltarei para chutar a bunda da minha irmã. Portanto, darei uma passadinha em sua casa.
— Você não tem jeito, verdade? — pergunta o ruivo.
Durandal se levanta da cadeira, cumprimenta Valefar, acaricia a cabeça de Alienor...
— Hey! Não sou um animal de estimação! — esbraveja a garota.
— Por favor, continue a cuidar bem de minha sobrinha, Gris. Eu estarei em dívida com você. — Durandal estende sua mão, e eu a aperto.
— Vou cuidar, Sr. Durandal.
— Você não sabe nem cuidar desse seu nariz escorrendo! — exclama Alienor.
O Ruivo vai até a porta e a abre. Ele vira seu rosto e diz para Alienor: — Galantur.
— Um dia, ele voltará — responde a raposa. — Um dia, também voltarei, tio.
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