A Voz das Estrelas Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 1 – Parte 1

Capítulo 24: Sonho Distante

Por um breve instante, ele conseguiu lembrar.

A visão das duas mulheres mais importantes de sua vida morrendo à frente dos olhos...

Incapaz de fazer algo para alterar o doloroso destino.

Desde então, Levi esteve completamente sozinho naquele mundo.

Ao menos era o que ele tinha determinado consigo.

— Por quê? — murmurou para dentro. — Por que insistem tanto... em atrapalharem meu desejo?

Ver a filha de sua mãe afagada nos braços do Marcado de Altair lhe trouxe um arrepio indescritível por todo o corpo.

Após o falecimento de Elisa Doherty, seguido pelo assassinato de sua amada Maria, o homem passou a buscar pelo triunfo na Seleção Estelar através do extremismo.

O principal meio: abusar da garotinha, que também tinha se tornado uma marcada, para sua ambição utópica.

Em retrospectiva, flashes de memórias desse dia retornavam como se diante de suas escleras de novo.

Foi antes mesmo do próprio passar por sua Provação, naquela noite chuvosa onde um delinquente qualquer arrancou a mulher que amava de seus braços.

O Marcado de Regulus sabia...

A Provação de Bianca Doherty foi a morte de Elisa.

Por conta disso, consumiu uma ínfima esperança sobre seu desejo de ter a mãe de volta.

Assim como o próprio almejava rever Maria, contava com a vontade mais plausível que uma criança deveria dispor.

— Não é só você que tem um desejo maior nisso tudo — respondeu Norman, ao escutar as lamentações do inimigo. O abraço apertado em Bianca. — Nenhum de nós foi escolhido porque queria. Todos perdemos algo ou alguém. Mas isso não justifica o que você fez com essa menina.

Ao receber as palavras rígidas do adolescente, Levi ergueu as sobrancelhas e não resistiu às emoções efusivas que subiram de repente.

Uma risada rouca foi proliferada pelo espaço.

— E o que você sabe, por acaso!? Não deve se meter onde não é chamado!! Você não passa de um completo estranho! — Os sentimentos exaltados faziam sua voz soar num tom afônico. — Se não fosse por mim, essa criança já teria morrido! Eu cumpri minha promessa!! Eu cuidei dela!! Graças a mim, nós dois poderíamos...!!!

— Chama isso de cuidar? — rebateu e estreitou as sobrancelhas. — Você só usou ela, né? E diz que cuidou como se fosse uma desculpa pra se justificar, de novo.

— N-não é verdade! Ela também... Ela também perdeu uma pessoa importante! — Apontou o indicador estremecido. — Ela também pensa assim!! Se eu vencer, eu vou poder trazer também ela de volta...!!

— E você perguntou se ela realmente quer isso?

À indagação cuspida pelo inimigo, o Marcado de Regulus encontrou-se inapto a retrucar.

Para ele, o benefício da dúvida sequer era necessário. Afinal, existira alguma resposta diferente?

Por que a menina renegaria a possibilidade de ter sua mãe por perto, como deveria ser?

Por que rejeitaria a oportunidade de abraçá-la, beijá-la e passar toda a vida ao seu lado, algo que foi impedido pela ação de uma doença incurável?

A existência de outro caminho ultrapassava o inviável.

O choro copioso derramado por ela, no dia derradeiro naquele leito hospitalar, comprovava seu ponto.

Questionar os fatos era desnecessário.

Ainda assim, a partir daquele instante, tudo começou a perder sentido.

Ao perceber que havia forçado parte do desejo pessoal como sendo também o dela, enfim o vazio surgiu no seu coração.

Fuzilado pelo olhar dos oponentes, cerrou o palmo livre na busca por uma resposta que não possuía.

Enquanto o inimigo natural situava-se num estado de confusão, Norman caminhou até sua companheira.

Ao recebê-lo, balançou a cabeça para os lados, afirmando que nada poderia ser feito quanto as condições da desfalecida Isabella.

Embora com certo remorso no peito, o rapaz respirou fundo e focou no objetivo principal.

Entregou a criança para Layla, assentiu em silêncio e, ao receber a mesma resposta dela, deu meia volta até reduzir alguns metros de distância do atordoado.

Conforme afundava os passos na areia fria, puxou a pedra esmeraldina do bolso da calça.

— Eu não quero ter novos arrependimentos. Por isso, decidi seguir em frente. Por eles. — Interrompeu o avanço, trazendo de volta a atenção do conturbado. — Também acho que pode ser uma forma de me desculpar por tudo que fiz.

— Cala a boca...! — grunhiu entre os dentes.

— Você não vai mais maltratar essa garota. Sua participação vai acabar aqui...

Ao levar o cristal até a boca, executou o processo ensinado pela aliada.

Mordeu o Fragmento do Cosmos até despedaçá-lo em fragmentos diminutos, então o engoliu sem pestanejar.

Tão logo experimentou a exponencial ascensão de sua energia, dentro e fora do corpo, em um mero piscar.

Conforme Levi, enraivecido, contemplava a insistência opositora, Layla pregava as esferas noturnas na sequência de acontecimentos.

O brilho alvo irradiou da marca na testa, mais poderosa em comparação às utilizações corriqueiras do Áster.

Norman Miller abriu ambas as mãos, os braços relaxados enrijeceram nas laterais do torso.

Não só areia começou a ser controlada pela Telecinesia; pedras acumuladas pelos arredores e, até mesmo, as ondas em sua retaguarda receberam a influência do controle.

Assustado com a repentina evolução, o Marcado de Regulus rangeu os dentes.

O olho especial, trêmulo e recheado de sangue, esgazeou no limite.

— Vocês não irão passar por cima do meu desejo!! — vociferou descontrolado. — Não importam os meios, eu vencerei essa seleção e terei Maria de volta!! Por isso vou matar um por um!! Até mesmo essa criança maldita!!

— Não vou deixar... isso acontecer.

Decidido a encerrar o grande conflito de uma vez por todas, Norman sequer permitiu ao adversário executar outro disparo pela pistola.

Com os novos vendavais de areia em sua volta, ainda foi pego de surpresa por rachaduras criadas sob os pés, o levantando com ímpeto, em desprezo às leis da física.

Defronte o combate final, Layla acompanhou o crescimento assustador dos poderes do companheiro sem proferir uma palavra.

Seu semblante, de sobrancelhas levemente alçadas, dizia tudo.

Bianca também conseguiu abrir um dos olhos doloridos, a fim de encontrar as costas da pessoa que o salvou depois de tanto tempo.

Nada além daquele jovem encontrava-se em sua linha de visão. Era seu novo porto seguro. Sua proteção.

Ofuscado pelos minerais aglomerados, Levi saltou da plataforma rochosa arrancada debaixo da areia e tentou realizar o disparo interceptado no primeiro momento.

Sem dificuldades, Norman usufruiu da Telecinesia em prol de interromper o percurso das balas, as derrubando no meio do trajeto.

“Consigo sentir... tudo ‘tá fluindo pelo meu corpo”, experimentava um prazer estranho subir dos pés à cabeça.

Mas, ao mesmo tempo, um ardor pungente se alastrava por todo o corpo.

A corrente de energia calorosa o empurrava de modo impetuoso, munido do brilho estampado na testa.

Pela primeira vez desde a tragédia que vitimou sua família, carregava plena segurança quanto as próprias ações.

Talvez, no fim das contas, a vitória não seria alcançada.

Ele pouco se importava.

O simples fato de conseguir ir adiante com as próprias pernas provava-se o bastante para lhe arrancar um tênue sorriso, repleto de confiança no rosto.

Por outro lado, Levi era acometido pelo desespero.

Prestes a deixar tudo escorrer por entre os dedos mais uma vez, não encontrava a melhor forma de se recuperar dos consecutivos baques emocionais.

A exemplo do ocorrido com Isabella, a superioridade liberada pelo Fragmento do Cosmos passava a ruir gradativamente.

“Não consigo usar!”, rugiu na própria mente ao falhar em controlar o tempo de qualquer um.

A eficácia do Áster adquirido pelo símbolo gravado na vista esquerda se perdeu, junto aos sentimentos deturpados que pareciam lhe amarrar pelos membros pesados.

Ainda que tivesse sucesso em mirar o oponente e ativar o poder, não conseguiria superá-lo.

Ocasiões eventuais não seriam suficientes para lhe entregar o triunfo. Lhe faltava equilíbrio. Contudo, o rapaz obstinado não o permitia encontrá-lo.

Diversas pedras foram lançadas contra seu rosto, o obrigando a deslocar o corpo com agilidade para evitar as colisões.

Com a velocidade crescente nos disparos de Norman, foi inevitável ser atingido por algumas na região superior do tronco, com a última delas direcionada à sua cabeça.

Por sorte não foi uma das maiores que tinham sido desvencilhadas segundos atrás. E ainda foi o bastante para abrir um corte sangrento sobre a vista canhota.

O impacto o fez inclinar as costas para trás, mas a ausência de dores criada pelo fragmento ingerido o permitiu retomar a postura.

Essa rápida sequência lhe ofereceu uma rara brecha a fim de acertar na dosagem do Controle Temporal.

Ao disparar a energia irradiada pelo brilho no globo ocular, tudo nos arredores congelou, junto ao portador da perigosa Telecinesia.

“É minha chance!”, apontou a pistola na direção do irritante adversário, levou o dedo ao gatilho e o puxou rapidamente.

Quando o projétil foi empurrado para fora numa velocidade impactante, a nova dor de cabeça atingiu o Marcado de Regulus.

Isso o fez vacilar no comando do Áster, derivando na anomalia entre as manipulações específicas.

Antes da bala alcançar a testa de Norman, o brilho do símbolo da Constelação da Águia ganhou força, capaz de ofuscar a visão do adversário durante poucos segundos.

O garoto rompeu as barreiras do tempo que prendiam seu corpo e moveu a mão esquerda na direção do objeto minúsculo.

Mesmo atrasado na ação instintiva, pôde mudar a linha tomada pelo disparo, sofrendo apenas um raspão na bochecha.

Diante disso, Levi se enxergava em uma situação crítica; nenhuma bala sequer havia restado no pente da arma de fogo.

O homem só não ficou tão surpreso afinal, minutos atrás, Isabella tinha sido capaz de o superar da mesma maneira.

Ao acompanhar o desenrolar do confronto cair para o lado do parceiro, Layla abriu um pequeno corte no lábio inferior com os dentes.

O espanto cresceu em questão de tempo, vista a quantidade de poder dominada pelo jovem que havia ultrapassado suas expectativas.

Embora fosse fruto da liberação provocada pelo Fragmento do Cosmos, não era um absurdo cogitar um futuro domínio daquele nível.

No entanto, ela não podia perder as estribeiras.

Respirou fundo diversas vezes até retomar o equilíbrio emocional e, de quebra, tomar uma decisão crucial em absoluto silêncio.

Aquela era a hora da definição.

Depois de forçar o Áster imbuído pelo fragmento ingerido, Levi foi assolado pelos efeitos colaterais agressivos.

Parecia uma poderosa descarga elétrica corroendo seu interior e isso o levou a derrubar os joelhos na areia.

O órgão onde residia sua marca tornou a verter rastros de sangue, que coloriam aos poucos os minerais abaixo num tom rubro.

A pressão sobre esse o obrigou a imaginar o possível colapso caso o abrisse mais uma vez.

Não poderia mais seguir adiante com o poder de manipulação temporal.

Para Norman, que havia ingerido o cristal há pouco, a vitória estava na palma da mão erguida.

Mas, com um suspiro profundo, deixou todos os corpos controlados por sua Telecinesia retornarem ao solo.

À medida que o oponente sofria com as consequências de tamanho poder, andou a passos curtos em sua direção.

 Parou à frente do adversário.

Seus olhos verdes pareciam dois faróis, visto o rosto coberto por uma forte penumbra.

“Não vou matar ele... deixar ele incapacitado já é o suficiente”, ergueu a mão destra na direção de uma das pedras desviadas pelo homem abatido.

Moveu o membro aberto com suavidade, trazendo a rocha em sua direção.

Em preparação para o golpe derradeiro, mirou a cabeça agachada do Marcado de Regulus.

Seria necessário remediar a força do impacto, a fim de somente fazê-lo perder a consciência.

“Vamos... Mate ele, Norman”, Layla acumulava expectativas sobre seu companheiro enfim ter adquirido a força de vontade necessária em prol de eliminar os opositores.

Dessa vez seria diferente.

Ele caminharia com o próprio equilíbrio e se responsabilizaria por abrir o novo caminho triunfante a favor deles.

A parcela de confiança que faltava para a Marcada de Vega evoluir junto dele encontrava-se próxima de ser complementada.

Contudo...

Uma sensação excruciante irrompeu pelo interior do garoto, antes que pudesse realizar o golpe final.

O coração palpitou tão forte que todos puderam escutar. Estabeleceu-se a sequência de duas batidas assustadoramente poderosas, capazes de preencherem a aflição geral.

Em seguida, a pedra flutuante foi devolvida à areia com perda da energia telecinética no controle do rapaz.

Ele seguiu o mesmo destino ao afundar os joelhos na areia. As mãos também se apoiaram, a fim de o manterem erguido de alguma forma.

Um grito ecoou contra o som das ondas no litoral, boa quantia de sangue escapou pela boca do marcado.

Com os olhos estremecidos, buscou retomar as rédeas do próprio corpo, porém a dor colossal impedia qualquer reação.

“Não é possível... Ele já está sofrendo os efeitos?”, Layla rangeu os dentes, preocupada ao contemplar o aliado sucumbir logo após o adversário.

Ainda que esse estivesse usufruindo do Fragmento do Cosmos com minutos de diferença, as consequências surgiram sobre ambos praticamente no mesmo instante.

Após regurgitar o líquido vermelho junto a pequeninos pedaços do cristal mastigado há pouco, Norman experimentou um peso descomunal envolver todos os membros.

Em contrapartida, Levi já começava a se recuperar do baque imprevisto, o que permitiu um sorriso desconcertado se formar em seu rosto sujo.

— No fim... o destino sorriu pra mim... — O homem, aos trancos, ergueu o corpo estremecido. — Eu lhe agradeço, moleque...

Tão obstinado em tirar o inimigo adiante do jogo, esqueceu das outras escolhidas presentes naquela região litorânea.

Tal vacilo lhe fez abrir uma brecha impossível de ser recuperada àquela altura.

Com o corpo pesado, o Áster inutilizável e a mente confusa, o homem sequer reagiu quando a Marcada de Vega apareceu em sua retaguarda.

O olho natural se arregalou, conforme experimentava a aura fria da jovem o envolver por toda a espinha.

Sob o olhar do escolhido atordoado, que conseguiu erguer a cabeça na hora exata, a garota perfurou o pescoço do inimigo com sua faca.

Manteve a arma afiada presa na área empalada por alguns segundos, ao passo que segurava a cabeça inerte do homem com a outra mão.

Após certificar a ausência de movimentos por parte dele, retirou a lâmina e permitiu ao sangue jorrar para fora, como uma mangueira rompida.

Perdendo a luz do olho natural aos poucos, Levi voltou a tombar na areia.

Durante a queda final, conseguiu enxergar Bianca a alguns metros de distância, segura enquanto fora da zona de combate.

Apesar de ainda sofrer com a febre alta, ela pôde contemplar o golpe derradeiro da jovem nívea pelas vistas entrefechadas.

“Merda... então eu perdi”, ele remeteu aos momentos do passado, onde foi resgatado por Elisa e, na sequência, escolheu o nome da criança que ela deu à luz. “Talvez eu pudesse... ter feito algo... diferente?”

Lentamente fechou o olho restante, imaginando um possível caminho contrário àquele destino.

Talvez pudesse traçar um melhor rumo junto de Bianca, aquela que prometeu proteger e falhou de forma miserável.

Já era tarde para voltar atrás.

Tudo estava acabado para o Marcado de Regulus que, após tanto insistir, entregou-se à morte inevitável.

Com a famosa ironia pregada pela história, foi derrotado do mesmo modo no qual matou Isaac Morgan.

Incapaz de reagir. Inapto a fazer algo a mais. Deixou-se levar até o sonho que jamais poderia alcançar.

Encarada pelo silêncio de Norman, Layla sacudiu a lâmina a fim de se livrar dos resquícios do líquido rubro na areia.

Graças ao estado debilitado, nada pôde dizer à companheira que simplesmente avançou dois passos e se agachou até o corpo do homem.

A exemplo dos eventos anteriores, levou a palma direita até as costas plácidas dele e fechou os olhos azul-escuros.

O cintilar do símbolo no peito surgiu junto ao crescimento da aura congelante, que sobrepôs o calor irradiado pela luz solar.

— Que você... descanse com as estrelas...

O fraco murmúrio da jovem marcada permitiu ao corpo de Levi ser transformado em partículas luminosas, conduzidas pela brisa fresca em direção ao firmamento ciano.

Mesmo após tanto sofrer nas mãos do homem, Bianca não resistiu em derramar lágrimas de pesar com sua prematura partida daquele mundo.

Livre do peso que corroía seu coração, deixou todos os sentimentos aterrorizados serem levados junto dos flocos de fótons azulados que rivalizavam com o sol.

Restou apenas a troca de olhares entre Norman e Layla, ambos sem palavras para serem trocadas naquele cenário.

De uma forma inesperada, a incursão da meia-noite encontrava seu desfecho no amanhecer do recomeço para os Marcados da Seleção Estelar.

Opa, tudo bem? Muito obrigado por dar uma chance À Voz das Estrelas, espero que curta a leitura e a história!

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