WebNovel – Primeira Parte

Capítulo 7: O Que Resta de Um Amigo de Neve

Aiko subiu no banquinho e puxou a cortina com a ponta do dedo. Lá fora, o sol começava a dispersar a névoa, traçando linhas tortas nas poças de gelo, agora derretido. Ela ficou ali por um momento, os olhos fixos no parquinho distante, mal visível, mas ainda presente. Os balanços imóveis, o escorregador coberto por uma fina camada de neve derretida.

E no meio de tudo, o boneco.

Ela e Shirou o haviam feito juntos. Num daqueles dias em que o ar parecia menos pesado. Estava ao lado da gangorra, com um cachecol vermelho enrolado no pescoço e olhos de pedra — torto, mas ainda de pé.

Shirou dissera que ela não devia sair sozinha. Era uma das regras.

Mas o boneco parecia tão só.

Vestiu o casaco mais grosso que encontrou, amarrou o cachecol e calçou os sapatos errados. Estavam frios por dentro. Ainda assim, desceu os degraus em silêncio. A madeira rangeu. Ela não parou. Cruzou o portão com passos pequenos, como se pisasse sobre um chão que podia ceder.

O caminho até o parquinho parecia mais longo do que lembrava. O vento batia de lado, fazendo arder o hematoma no joelho. Ela apertou o passo.

O boneco parecia menor.

Aiko se agachou ao lado dele. O frio passou pelas calças e alcançou os ossos.

— Eu não disse que voltava, né Senhor Gelinho? Mas estou aqui — murmurou, sem saber se queria resposta.

O boneco estava mais torto. Um dos olhos caído, o cachecol úmido. Mas ainda parecia estar ali.

— Tá doendo?

Ela tocou o cachecol com cuidado. O pano gelado colou nos dedos por um instante.

— Eu tô aqui, tá?

A voz dela foi um sussurro, um pequeno consolo, como se fosse o único jeito de dizer algo sem realmente dizer.

Silêncio.

A neve já não caía mais. O chão estava coberto de vestígios pálidos, pequenos flocos que agora pareciam insignificantes. As árvores, ainda estremecendo do frio, quebravam o silêncio com estalos fracos. O boneco de neve, ali perto, estava perdendo sua forma lentamente, cada pedacinho derretendo sem pressa, como se o tempo se tivesse estirado.

— Você lembra do que sonhou?

Ela não soubera bem por que perguntara, mas as palavras saíram assim mesmo, suaves e sem muito peso.

O vento, quase ausente, passou, mas nada parecia ser afetado por ele.

Um leve movimento, talvez um suspiro, talvez nada. Mas o tempo se arrastava sem pressa de ir embora.

Sonhei com uma porta — disse o boneco.

Aiko piscou devagar. Não se moveu.

Ela levava pra cá de novo — ele disse. — Só pra cá. E assim ficava, nesse ciclo interminável. E você?

Ela não respondeu. O peito apertava, mas era um aperto antigo. Familiar.

— Eu sonhei com o céu — ela disse enfim, com a voz suave. — Mas parece que alguém passou tinta por cima dele, como se tentasse esconder alguma coisa.

O boneco não disse nada, mas ela sentiu o olhar dele. Ou o que restava dele.

— Se o céu for só tinta… será que a gente também é?

O botão que sobrava pareceu pender um pouco mais.

Aiko não sabia mais se estava falando com o boneco, com Shirou, ou com outra parte dela. Mas não importava.

Levantou-se devagar e olhou para o céu. O azul estava ali, mas tão distante que parecia mais uma lembrança do que algo real.

— Shirou sempre diz que vai voltar — murmurou. — Mas eu... não sei mais.

Ele vai voltar... Ele sempre dá um jeito de voltar.

O vento pareceu parar. O mundo também.

Aiko se agachou novamente. Seus olhos escarlates, grandes e atentos, miravam o boneco, enquanto os fios de cabelo branco brilhavam sob o reflexo tímido do sol. O boneco estava cada vez menor. Sua forma derretia devagar, como se expirasse. Um corpo em silêncio, sumindo aos poucos, sem pressa nenhuma.

— Senhor Gelinho. Você está... indo embora, não está?

Houve uma pausa. O vento se deteve, como se estivesse aguardando uma resposta que não vinha.

No fim, a gente sempre vai embora — disse o boneco.

Aiko olhou para o chão e depois para suas mãos, sentindo o vazio que se expandia dentro dela. Sua respiração ficou mais lenta, o peito apertado por uma sensação antiga, quase familiar. Permaneceu ali, sem saber o que dizer, engolindo o nó que se formava na garganta.

— Mas eu não queria. Nem um pouco.

O boneco não se mexeu. Não disse nada. Mas, no silêncio que ficou, parecia haver uma compreensão entre os dois. Algo que passava dos limites das palavras.

Ninguém quer — ele respondeu finalmente. — Mas... às vezes tem que ir.

O vento voltou, mais brando.

Esquecia de algumas coisas com frequência, e isso a incomodava de um jeito que ela não sabia explicar. Mas por que sentir incômodo por perder algo que já não se lembrava? O sentimento de perda persistia, mas ela se sentia como alguém que dava três passos e regredia dois.

Quando falava disso com o irmão, ele sempre dizia: “Não se preocupe, eu vou resolver isso.”

Aiko olhou para os dedos, tentando contar quantas vezes ele havia dito aquilo. Mas, por algum motivo, não passava de cinquenta.

Era estranho, porque, apesar de ser algo familiar, contar até cinquenta parecia mais difícil do que deveria.

Ela passou a mão pela cabeça. Não doía, mas havia algo diferente, como se tivesse acabado de acordar de um sonho que não conseguia lembrar

Às vezes, no meio da noite, sentia que tinha vivido algo, mas não conseguia mais nomear o que era. O mundo seguia, mas algo estava ligeiramente fora de lugar, como se, sem perceber, o chão tivesse se movido um centímetro enquanto ela dormia.

Sentia isso com mais intensidade quando Shirou demorava. Não que ele a deixasse sozinha, mas às vezes sua presença parecia distante, como uma luz que ela não conseguia alcançar.

Nesses momentos, as coisas ao seu redor se tornavam mais difíceis de lembrar. Como se, sem ele por perto, o mundo começasse a desmanchar aos poucos, sem pressa.

Ela confiava nele, mas algo dentro dela — um sexto sentido — dizia que ele queria tirá-la dali.Não que ela não quisesse, mas, às vezes, o medo do desconhecido se misturava à esperança de que talvez o que ela tinha ali ainda fosse algo que valesse a pena manter. O que se desfez, talvez, não pudesse ser reconstruído — ou, talvez, não devesse.

Ela não queria perguntar, mas a dúvida já estava ali, incômoda e inevitável.

— Vai doer... quando eu esquecer de você? — perguntou, sem olhar para ele.

Um pouco — disse o boneco, com uma tranquilidade que parecia ir além do entendimento. — Mas também vai aliviar. Assim, eu não vou mais sonhar com a porta. Com a porta que me leva ao mesmo lugar.

Aiko respirou fundo, como se as palavras dele tivessem um peso que ela só agora começava a entender. Não havia mais pressa em sua voz.

Ela sabia que havia repetições, mas não entendia o motivo. Cada lugar tinha o seu próprio ciclo, uma espécie de reinício que acontecia a qualquer momento. Não era como voltar ao início, mas algo semelhante, em que o tempo se renovava de forma sutil, variando de acordo com o ambiente ao seu redor. Ela não sabia o que causava isso, mas sabia que o irmão tentava corrigir o curso. Ele falava com a certeza de quem acredita que pode consertar as coisas, mas Aiko começava a se perguntar se havia realmente algo a ser consertado.

Ela assentiu. Lentamente.

O boneco, agora quase uma sombra, desaparecia aos poucos. O cachecol de Shirou, ainda pendendo de um lado, parecia segurar algo que não queria se perder. O botão se soltou e rolou, sem pressa, pela neve amolecida.

Aiko ficou ali, sem mover um músculo, apenas olhando. O silêncio a envolvia, e, por algum motivo, não parecia haver pressa para nada. O mundo parecia mais denso, mas ela ainda não sabia se era o peso da neve ou o peso de alguma coisa dentro dela.

— Obrigada... por ter ficado comigo — ela sussurrou, quase como se fosse uma promessa a si mesma.

O boneco não respondeu.

O vento passou pelas árvores, sussurrando baixo, e por um momento ela pensou que talvez ele ainda estivesse ali. Não como antes, não como presença, mas como um rastro de calor que demora a sumir do lugar onde alguém esteve sentado. Um resto de companhia.

Ela se inclinou, pegou o cachecol que tinha escorregado para a neve. Estava pesado, úmido, frio como um pano de prato esquecido do lado de fora. Ainda assim, vermelho. Apertou-o contra o peito, quase sem perceber.

O boneco derretia. A forma já tinha cedido, o rosto diluído, mas havia algo ali que ainda parecia gentil. Como se ele estivesse tentando não ir embora de uma vez.

Ela ficou mais um pouco, olhando, tentando decorar os contornos antes que desaparecessem de vez. Os olhos ardiam, mas ela não chorou. Apenas virou de costas e voltou. Os pés afundavam um pouco na neve. Era como caminhar em cima de algo que não sabia se queria sustentá-la ou deixá-la cair.

Na varanda, subiu os degraus um por um, devagar, como se cada tábua pudesse ceder debaixo do peso. O rangido era leve, mas preenchia o ar como um sussurro antigo.

Quando abriu a porta, a casa exalava um calor quieto, mas sem vida. Um cheiro morno de sopa esquecida pairava no ar, como se o tempo lá dentro corresse mais devagar.

Fechou a porta com cuidado. Ficou parada ali, a mão ainda na maçaneta. Como se qualquer movimento seguinte pudesse desmontar alguma coisa.

Ela tirou o cachecol e o pendurou no gancho da entrada. Ele pingava no chão de madeira, gota por gota, como se ainda estivesse contando algo. O som era suave, mas ocupava o espaço inteiro.

Sentou-se no chão da sala sem pensar muito. Não tirou os sapatos. As pernas dobradas sob o corpo, o casaco ainda fechado, as mãos encolhidas no colo.

Olhou para os próprios dedos por um tempo. Eles tremiam, quase imperceptíveis. Disse a si mesma que era o frio. E, de certo modo, era. Mas não só.

O silêncio ali não era comum. Era denso. Não era só a ausência de vozes ou ruídos, mas a falta de presença. A falta daquele som que só existe quando alguém está perto, mesmo que não fale. Um tipo de som que só se percebe quando já foi embora.

Levantou-se devagar, como se ainda estivesse sentada. Os passos quase sem peso sobre o chão. Foi até a cozinha, encostou-se à pia, respirando o cheiro doce e abafado da sopa, agora sem gosto, sem nome.

No canto, tirou os sapatos e os empurrou com o pé para perto da parede, num gesto pequeno e automático. O piso estava frio, e o frio parecia mais vivo que ela.

Sentou-se ali, no chão, com as costas na parede. Ficou um tempo observando a luz cinza que entrava pela janela, desfocada, projetando formas suaves no teto.

O teto, com suas vigas escuras e irregulares, parecia mais antigo que todo o resto. As fissuras corriam como cicatrizes, marcas de algo que existia antes dela.

Ele rangia, mesmo sem vento. E às vezes, só às vezes, parecia que estava tentando falar com ela.

— Eu só queria um doce… — murmurou, com a voz embotada.

Não era um pedido real. Era mais como o tipo de frase que se diz em pensamento, mas que, por descuido, escapa pela boca.

Então, ouviu um estalo

Sutil. Como madeira se contraindo. Depois, outro — mais agudo. Em seguida, um som seco vindo do teto.

Ela ergueu os olhos devagar.

Algo caiu. Bateu no chão e rolou até parar perto de sua perna. Uma bala, embrulhada em papel vermelho.

Franziu o cenho. Outra caiu. Azul. Depois verde.

O som era breve, como o primeiro pingo de chuva antes da tempestade.

Toc.

Mais uma.

E, de repente, elas começaram a cair sem parar. O teto parecia ter se transformado em céu — um céu invertido, do qual desciam balas e caramelos embalados em papéis brilhantes, girando no ar antes de tocarem o piso com um estalo leve.

Aiko se encolheu, assustada, mas não fugiu. Olhava ao redor, os olhos arregalados, sem saber se devia rir ou chorar. As balas, antes isoladas, agora caíam como se alguém tivesse aberto uma torneira.

E ela pensou em Shirou.

Ele não gostaria de ver aquilo.

Ele sempre dizia que ela não deveria mexer com coisas fora da normalidade humana, que aquilo a afastaria de seu "eu próprio". Ele temia que ela se perdesse em algo que não poderia controlar, como as ilusões que ela criava com sua imaginação. Ela não queria que ele a olhasse com aquele olhar de desaprovação, como quando ela tentava fazer algo que ele achava perigoso.

Mas ela só queria um doce.

E agora os doces caíam do teto como chuva.

Sem pensar muito, Aiko se levantou de um salto e correu até o sofá. Empurrou algumas das balas para debaixo dele com as mãos, como se isso fosse impedir que mais caíssem. Algumas escorregaram de suas mãos fazendo um barulho ridículo de “ploc”. Ela olhou o sofá como se ele tivesse zombado dela.

— Não, não, não... — murmurou, tentando empurrar outras.

Mas era inútil. Os doces escapavam. Rolavam. Ricocheteavam.

Foi então que ela teve uma ideia. Correu até a porta e pegou o guarda-chuva encostado na parede. Seus olhos brilharam com determinação. Abriu-o com força, o som do tecido se esticando como um trovão manso.

Ergueu o guarda-chuva sobre a cabeça. Uma heroína improvisando, tentando enfrentar a tempestade com o que tinha.

— Parem de cair, balas! — disse, firme, enquanto girava o guarda-chuva de um lado para o outro.

Algumas balas batiam no tecido tenso e escorregavam. Outras escapavam pelas bordas. Uma caiu direto na testa dela. Aiko deu um pulo, com uma careta confusa entre dor e surpresa, depois correu para se proteger novamente.

Quando percebeu que estava perdendo, sentou-se no chão. Abriu o guarda-chuva sobre a cabeça, sob a chuva de balas. Ficou ali, com os ombros encolhidos e o corpo todo quieto, como se quisesse desaparecer dentro daquele espaço pequeno. As balas continuavam caindo. Faziam um som abafado, regular. Tocavam o chão como se estivessem testando a realidade.

Ela fechou os olhos.

Não disse nada em voz alta, mas o desejo tomou forma dentro dela com uma nitidez pesada. O barulho, a queda, o absurdo doce que preenchia os cantos da casa.

Queria que parasse.

O som das balas ficou mais espaçado. Algumas ainda caíam, mas aos poucos. Uma de cada vez. Com atraso. Quase distraídas.

Aiko abriu os olhos. O guarda-chuva estava cheio de balas. Fechou-o com cuidado e o deixou tombar para o lado. Depois se deitou no chão, devagar, como se esperasse que ele não a recebesse de imediato.

O teto continuava intacto. Nenhum fio pendia, nenhuma rachadura nova, nenhum buraco. Nenhum sinal de que algo havia passado por ali.

As balas estavam espalhadas pela cozinha, embalagens coloridas sobre o piso de madeira. O ombro encostou num papel amassado, fazendo um estalo baixo. Aiko ficou ali, olhando para o teto, ouvindo o silêncio.

Pegou uma das balas próximas e desembrulhou devagar. O cheiro de morango artificial subiu no ar, espesso e um pouco triste. Encostou o doce na língua. Era doce demais. Doía um pouco.

Deixou a bala repousar nos dedos abertos, como se pesasse mais do que deveria. Shirou não voltou. E, de repente, o cômodo parecia maior. Como se a ausência dele tivesse empurrado as paredes para longe.

Mais uma bala caiu. Toc.

Depois outra.

Ela não se mexeu. O cansaço se arrastava por seu corpo, como um sono chegando.

Outra bala caiu perto de sua orelha. Depois outra. Uma rolou até sumir.

Agora havia só um som pequeno na casa. Pingos dispersos. Um ou outro doce batendo no chão, como se tivessem esquecido o caminho.

O mundo parecia responder ao desejo dela, mas lentamente. Em fragmentos. Como se estivesse tentando lembrar como se fazia isso.

Aiko se levantou devagar. O som das balas era mais alto em pé. Arrastou os pés, os papéis farfalhando sob eles. Parou diante da janela da sala.

Lá fora, a neve derretia. O jardim parecia sujo, manchado, e as poças refletiam o céu de uma forma estranha. Aiko se lembrou do que dissera no sonho: sobre o céu, como se alguém tivesse passado tinta por cima dele, tentando esconder algo. O vidro distorcia a lembrança, borrando o que deveria ser claro.

As árvores, encharcadas, pareciam deslocadas. Suas sombras se esticavam, como se não seguissem mais as regras do tempo.

E então, ela o viu.

Um gato preto, sentado no topo da cerca, o pelo grudado ao corpo, os olhos opacos. Não parecia olhar para nada. Talvez estivesse apenas esperando, em silêncio, à margem de tudo.

Aiko encostou a testa no vidro, o frio a fez estremecer.

De repente, uma pressão no nariz, seguida de um calor súbito. Aiko levou os dedos ao rosto, e o sangue escorreu, fino e discreto. Limpou com calma, os olhos ainda fixos lá fora. O gato continuava imóvel.

Ela apertou os olhos. O mundo parecia instável, como se nada ao seu redor tivesse o peso que deveria. As árvores, o céu, o gato… tudo parecia deslocado. Não sabia se aquilo fazia parte de um sonho ou da realidade, mas sentia que estava acontecendo algo, embora não soubesse o quê.

O ambiente ao seu redor se dissolvia lentamente, como se algo tivesse sido resolvido, mas a resposta escapasse de sua compreensão. Talvez estivesse sonhando. Ou talvez o mundo estivesse mudando.

Subiu as escadas com pressa e, ao olhar pela janela, viu o parquinho vazio. O boneco não estava mais onde se lembrava, nem o vulto, nem a neve. Nada. Aiko sentiu, além do hematoma no joelho pinicando e do nariz ardendo, algo estranho — como se, apesar de ser a primeira vez com aquele boneco, ela soubesse, sem saber como, que não o veria novamente. Algo no ar parecia ter mudado. Mas, ao fundo, uma sensação se manteve: Shirou voltaria. Como sempre.

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