A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 58: Infiltração ao Globo de Cristal

Para realizar o repentino teste de Luke, o dono da locadora lhes emprestou o sótão. San estava parado no centro de um círculo vermelho no canto do sótão. Havia algumas velas amarelas posicionadas ao redor do círculo, e dentro dele havia linhas aleatórias curvadas pelas extremidades do círculo. San observou aquele padrão, confuso, aquelas linhas pareciam seguir um padrão completamente aleatório.

O sótão, obviamente, estava escuro. Assim como toda a cidade naquele momento. A única coisa visível além das sombras em volta era o círculo vermelho que brilhava ao redor de San. O brilho do círculo deixava visível a pequena escotilha que levava até o andar de baixo.

— Esse “teste” realmente precisa de toda essa decoração pra ser feito? — Perguntou San, desconfiado.

— É só precaução.

— Precaução do quê?

Luke desembainhou sua katana de repente, mas não se aproximou para entrar dentro do círculo.

— Tira o cachecol.

San encarou aqueles olhos sem emoção de Luke, agora, estava começando a se sentir desconfortável. Não esperava que ele soubesse sobre a marca. Talvez, Luke tivesse visto quando San saiu das águas termais sem o cachecol.

— Por que você quer que eu… tire o cachecol? — perguntou San, para confirmar se ele realmente sabia sobre aquilo.

— Porque o alvo do teste é justamente a sua marca do demônio.

San engoliu seco quando Luke revelou. Estava começando a suar frio, mas ainda hesitava em tirar o cachecol.

— Você pode ficar assustado se você ver. Não sei o motivo, mas sempre que as pessoas veem essa marca elas ficam aterrorizadas na mesma hora.

Luke brincou com a katana no ar e deu uma ajeitada no seu quimono preto.

— Não vai dar em nada, você não precisa se preocupar — disse, sem mudar o tom de voz. Luke permanecia neutro, nem tranquilo e nem ansioso. Essa personalidade dele dava uma sensação de estranheza em San.

— Se você insiste…

O garoto desenrolou o cachecol de seu pescoço devagar. Luke, mesmo observando o ambiente ficar meio avermelhado e o ar ficar mais pesado, não mudou sua expressão. San enrolou o próprio cachecol no braço quando o removeu.

— Perfeito. — Agora a marca do X vermelho estava exposta. E assim como antes, não teve efeito nenhum sobre Luke. — Então nós podemos começar.

Luke cuidadosamente entrou na área do círculo brilhante no chão. Ainda empunhava a katana, e estava erguendo-a em direção ao San lentamente. A arma de Luke dava cada vez mais calafrios quando se aproximava.

“Garoto!”

 Ecoou uma feminina voz na mente de San.

“Zephyria?!” 

San respondeu em pensamento.

“O que está fazendo?! Deixando um desconhecido aproximar de você uma lâmina… Você sequer conhece suas intenções. Seu ingênuo!!”

Zephyria parecia irritada só pelo tom de voz na mente de San. 

“Espera! Mas ele não é um desconhecido…”

San pensou melhor quando percebeu que a lâmina da katana já estava prestes a tocar seu pescoço, bem acima da marca. Luke posicionou ela ali, encostando a espada deitada para que não cortasse de primeira.

— Calma, calma, calma! — San relutou, dando dois passos para trás. — O que você tá fazendo?! 

— Observando a fricção da sua marca com a minha espada.

— Você só pode estar maluco.

San saiu de dentro do círculo e ele se apagou na hora. O brilho vermelho sumiu, restando apenas um círculo preto, apagado, no chão. — Quando você disse que ia fazer um teste, não pensei que fosse colocar uma katana no meu pescoço!

— Você está imaginando que eu irei cortar sua cabeça fora? — questionou Luke, guardando a katana na bainha em sua cintura novamente. — Não é tão simples assim, mesmo se eu quisesse. Você só é muito ingênuo de ter confiado em mim até esse ponto.

— Então… você queria realmente cortar meu pescoço!

O fogo se reuniu nos punhos de San, e ele entrou em posição para uma luta corporal. Os punhos pegando fogo eram regenerados quase que instantaneamente da queimadura.

— Na verdade sim. Mas não era com o objetivo de tirar sua cabeça do lugar. Estranho, você parecia confiar plenamente em mim até agora. A katana assustou você?

— Para de enrolar e vá direto ao ponto! — San apertou ainda mais os punhos, fazendo o fogo infundido se enfurecer. — Você só esteve sendo amigável comigo esse tempo todo, porque tem algum objetivo por trás.

— Mais ou menos.

— Então como você espera que eu continue confiando em você?!

Luke desviou seu olhar apático para o chão. Pensou um pouco antes de responder. San continuou mantendo a guarda, com seus punhos flamejantes iluminando um pouco o sótão.

— Olha. — Luke chegou a uma conclusão. — Foi a Kyoko quem teve essa ideia. Ela estava preocupada com a sua marca, e disse isso para mim e para Amélia. Então, bolamos uma solução para deixá-la mais tranquila.

— A Kyoko… estava preocupada comigo…?

— A solução foi fazer um teste de absorção, para ver a real potência do seu poder amaldiçoado. Se continuar dentro dos limites, então acreditamos que não seja um total perigo a você.

San abaixou um pouco a bola, seus punhos pararam de pegar fogo e ele começou a raciocinar um pouco melhor.

— E por que você aceitou?

— Porque a Amélia insistiu.

— Humph… tudo bem então. Mas dessa vez, estou atento aos seus movimentos. Se eu sentir que algo está errado… juro que você vai sair daqui com um buraco bem bonito na barriga. Vai arriscar?

Luke acenou positivamente com a cabeça, como se a ameaça nem fizesse muita diferença. Sacou a espada de novo e a apontou para o círculo, mostrando que San deveria voltar lá para dentro.

— Vou. Mas então não saia desse círculo.

Quando San cuidadosamente entrou no círculo mais uma vez, o brilho vermelho das linhas se restaurou.

Luke encostou a lâmina da latana deitada sobre a marca mais uma vez. E após cinco segundos, nada aconteceu.

— Ainda não houve fricção… — disse Luke, desapontado.

— E o que isso significa?

— Que vamos ter que chegar no seu sangue.

Antes mesmo que San pudesse ter uma reação sobre isso, Luke deixou a lâmina de pé e perfurou o pescoço de San. Apenas o suficiente para que um pouco de sangue escorresse.

Estranhamente, o sangue daquela área era completamente verde e brilhante. Foi se mesclando e se fundindo com a lâmina de Luke, como se ela estivesse absorvendo aquela coisa estranha.

— O que você-

— Não se mexa. — Luke o interrompeu.

O sangue continuou sendo drenado pela espada, até que Luke removeu quando pensou que já fosse suficiente. O sangue verde brilhante continuou escorrendo pelo pescoço de San quando a lâmina foi removida.

Uma mistura de elementos estava acontecendo dentro da katana. O poder absorvido pareceu estável por um momento. Depois do brilho verde na lâmina, não teve mais reação nenhuma.

— Foi como eu imaginei. Esse seu poder não é tão dificil de controlar.

Mas foi quando Luke pensou que estava tudo bem, que sentiu um grande choque na mão que empunhava a espada. A palma de sua mão foi agressivamente queimada, e ele derrubou a espada no chão. A magia do círculo vermelho logo veio à tona. As linhas vermelhas aleatórias no meio do círculo se juntaram sobre a katana, até que o círculo inteiro fosse absorvido por ela. Com isso, o poder antes absorvido pela espada foi purificado.

— Fácil de controlar, você diz? — Caçoou San, mas se esqueceu que aquilo era uma desvantagem apenas para ele.

— Acho que falei antes da hora — assumiu Luke, pegando um pequeno paninho para limpar o sangue em sua mão.

Luke se abaixou para pegar sua espada de volta. Quando a segurou, ficou encarando por algum tempo antes de guardá-la mais uma vez. Deu as costas para San e se dirigiu para a escotilha do Sótão. — Ei, inclusive, a Kyoko nunca teve nada a ver com isso.

— Então você me enganou?! — San ficou indignado de novo.

— Mais ou menos.

Depois de um pouco mais de preparo e um plano mais lúcido para encontrarem a tal gangue dos Estoura-Crânio, San, Luke, Zaha e Kha estavam prontos para partir. O dono da loja de discos os levou até as portas dos fundos onde a saída seria mais discreta, pois abrir os portões poderia atrair lunáticos da cabeça explosiva, mesmo que a maioria provavelmente já havia virado apenas corpos jogados na rua.

— Por favor… protejam os meus filhos. Eles sempre ficam muito empolgados quando se trata das lendas de Cyberion… mas agora, ver uma dessas lendas pessoalmente deve os deixar bem mais agitados do que já costumam ser.

— Contanto que eles fiquem perto da gente, acho que não tem problema — disse San, com as mãos na cintura.

— E o principal… independente do que aconteça, não deixem que suas máscaras caiam. Se isso acontecer, as chances das cabeças deles explodirem será enorme…

— Não vai acontecer, papai! — confortou Kha, segurando a mão de seu pai de forma gentil antes de partir junto deles.

— É! Antes que eles tirem nossas máscaras, nós vamos estourar a cara deles! — exclamou Zaha. Ele era de fato, muito temperamentado.

— Mas o plano não era só negociar? — perguntou San.

O dono da loja de discos continuou bem preocupado com seus filhos após vê-los indo embora pelas ruas escuras. Ele estava vendo da porta traseira da loja a todo momento, mesmo com frio.

O plano para encontrar os Estoura-Crânio estava prestes a entrar em ação.

— Então, pelas histórias que vocês contaram esse grupo de entidades é nativo de Zarah Alkhulood — questionou-os Luke. San já se sentiu excitado pelo tema da pergunta.

— Sim, é isso aí! — Zaha afirmou, animado. — Eles vieram de uma pirâmide voadora! Ela caiu como se fosse um míssil. Os outros pensaram que era um meteoro chegando…

— Então nosso destino é a tal pirâmide. Creio que vocês também saibam como chegamos lá pelos pontos de teleporte…

— E é aí que a primeira parte do meu plano entra… — murmurou Kha, tentando parecer discreta, mas era só por estética. — Precisamos atrair atenção para o Las Stellarie.

Las Stellarie, uma das quatro grandes atrações do planeta de metal. Com o Coliseu Anisium sendo a principal atração, mas o grande coliseu só é aberto a cada um ano estelar. (365 anos)

O grande evento musical acontece em um edifício de magneticidade altamente alterada. Simula o local onde supostamente uma estrela cadente teria pousado. O Las Stellaries era um grande buraco no chão, com estruturas em volta que formavam pequenos ginchos magnéticos, todos apontados para o alto. No topo, havia um globo de cristal bem grande, com seis bolas luminosas brilhantes dentro dele.

A grande tenacidade magnética daquele local fazia com que a gravidade fosse levemente alterada. Semelhante a gravidade da lua.

Abaixo da bola magnética existia uma ponte de metal que se afinava na metade, e quando se aproximava do final, voltava a sua expressura normal. A ponte levava até a grande bola cristalizada, em uma pequena entrada.

Dentro do Las Stellarie, os corpos decapitados estavam espalhados por toda parte. Provavelmente, por ser um lugar naturalmente iluminado pelas seis bolas gigantes, eles pensaram que estariam seguros lá dentro.

Havia apenas a recepcionista, parada acima de um balcão de alexandrite. A recepcionista era a mesma mulher verde, com um olho na testa, que escolheu para que lado os gladiadores competiriam no torneio. Ela estava tranquilamente lixando suas garras, mesmo com o mar de corpos à sua volta.

A expressão de tédio da mulher se alterou quando os passos vieram até a recepção. O som das pisadas nas poças de sangue era o único ruído que surgiu desde que todos os abrigados explodiram.

— Eu encontrei ele. Sei onde ele está — disse Luke, que vinha sozinho pela porta de entrada.

— Ele… quem? — perguntou a recepcionista. Colocou a lixa na mesa e ajustou a postura torta que estava sentada na cadeira.

— Aquele que vocês estão procurando.

A mulher lançou um olhar desconfiado a Luke, lambendo os próprios lábios com uma língua de cobra. O gesto de lamber os lábios não parecia nada atrativo.

Ela hesitou um pouco antes de perguntar. Apoiou a cabeça sobre as mãos.

— Então, onde ele está…?

— Está aqui dentro do Las Stellarie. Bolando um plano para distrair vocês.

— Distrair a nós? — Ela pareceu indignada. — Por quê?! Ele já sabe?!

— Acredito que não — respondeu Luke, tanto sua voz quanto seu olhar continuavam a mesma coisa. — O objetivo deles é interromper a atividade da luz incandescente, e parar as mortes desnecessárias. O que sinceramente, era para ser trabalho de vocês VIPs.

— A incompetência deles o torna impossível — a mulher respondeu, contraindo a cara de peixe com desgosto. — Mas como assim ele está aqui…?

— Apenas observe as câmeras. Você verá o que estão tramando…

Com isso, Luke deixou a recepção e foi até as escadas espirais nas extremidades do globo cristalizado. A mulher o observou partir, curiosa, enquanto seu terceiro olho se fixou com ódio no monitor de câmeras. Eram várias imagens, vários setores diferentes para observar. Mas apenas aquele olho estranho arregalado parecia ser capaz de observar tudo de uma vez.

Nas imagens da terceira camada, no mezanino do local, havia um buraco nas paredes. As bordas do buraco pingavam a cristal derretido, o cristal havia sido aberto com fogo.

Ao lado do buraco, ela pôde ver San ajudando duas crianças a passarem pela entrada que ele abriu. Primeiro Zaha, e então Kha.

— Primeira etapa concluída — murmurou San, fazendo Kha dar uma risadinha atrevida ao ver que seu plano deu início.

Kha ajustou seu vestidinho quando San a colocou ao chão, e ela deu uma olhada geral no lugar. Tudo era incrivelmente belo, tanto as escadarias quanto as paredes curvadas brilhavam e faziam reflexos por serem de cristal. Era como se fosse um grande salão de danças feito de diamante. Acima do centro havia um espaço vazio, onde um lustre em formato de árvore brilhante iluminava parte do lugar. E em volta um mezanino que servia para observar o primeiro andar.

— Que estranho… Luke já deveria estar aqui. Será que aconteceu algo com ele?

Na mesma hora, Luke apareceu subindo a escadaria de cristal. Seus passos faziam um pequeno tinido agudo ecoar pelo globo.

— Eles ainda estavam explodindo lá embaixo, tive que desviar o caminho um pouco.

— Certeza? Não ouvi explosão nenhuma… — questionou San, com incerteza. Estava encarando Luke com uma certa insegurança.

Luke cruzou os braços e o encarou de volta, sem mudar o tom de voz ou o jeito de olhar apáticos. Era quase como um deboche.

— É claro que não viu — disse Luke, de forma irônica. San resmungou e cruzou os braços também. — Nos infiltrar nesse lugar foi mais fácil do que eu imaginei. Alguém se lembra qual era a próxima parte?

A mulher do terceiro olho ainda os observava pela câmera. Podia ouvir suas vozes pelo monitor também, estava analisando sobre o que estavam conversando. Ela não tinha certeza se devia fazer alguma coisa, obtiveram a informação de que San Hiroyuki foi contado com 10/10 de perigo em sua perícia.

— A gente precisa chegar naquela árvore! — gritou Zaha, se pendurou nos corrimões de cristal e apontou para o lustre de árvore brilhante. Seu grito ecoou bem alto dentro do globo.

Zaha ficou confuso quando olhou para trás, todo mundo parecia um pouco constrangido pelo berro que ele deu.

— Acho que você não tem uma Alquimia sólida para fazer uma ponte até lá, San. Considerando que você é o único capaz de usar magia por aqui — explicou Luke.

— Eu sei disso. Mas não necessariamente precisa ser um de nós a entrar em contato com a árvore, podemos usar um desses cadáveres por aqui…

San se agachou para pegar um cadáver de polvo alienígena morto do chão. O corpo daquela pessoa ainda estava quente, até demais. San queimou a mão de primeira e teve que segurá-lo pela camisa.

— Ou então… — começou Luke, se aproximando de San lentamente. Zaha sequer percebeu, mas Kha sentiu algo estranho e cutucou San para alertá-lo de alguma coisa. — A gente joga você lá dentro. Aquela coisa não vai te fazer mal nenhum, é só luz condensada em uma forma diferente…

Luke estendeu a mão enquanto se aproximava de San. Estava chegando perto, um sorriso quase abriu em seu rosto. Mas se dissolveu quando San segurou seu pulso com força antes que ele pudesse tocá-lo.

— Sabe… de início, eu realmente pensei que você fosse apenas muito gentil. Mas você só começou a me ajudar e me seguir quando chegamos em Cyberion… você também não acha isso suspeito?

San jogou Luke para trás pelo pulso e na mesma hora ele puxou a katana novamente. Firmou os pés e avançou para cortar bem no tronco de San. Ele já estava com o corpo do cadáver de antes na mão, então por instinto usou isso para se defender do corte. Luke acabou cortando o polvo ao meio.

— Afastem-se dele! — exclamou San, e as duas crianças correram para se esconder atrás dele. San deu um soco na parede de cristal enquanto recitava as palavras para o seu feitiço. — Adeptio!

Devagar, uma luz dourada piscou sobre a parede e se apagou. Ela já estava enfeitiçada, bem rápido. O feitiço fez com que San pudesse moldar correntes de fogo através da parede enfeitiçada, e assim foi-se seguindo. Luke correu das correntes que apareciam pelo mezanino com sua espada empunhada nas mãos. Saltou por cima de uma das correntes, deslizou por baixo da outra, usou o corrimão para dar mais um salto e quase foi queimado por uma das correntes que saíam da parede como uma âncora pesada.

Luke partiu a última corrente no caminho com a katana, mas não esperava que houvesse uma armadilha no final, quando chegou no buraco que San abriu sobre os cristais. Aquele material derretido estava um pouco brilhante demais…

Luke observou por um breve instante, mas já era tarde.

— Uma armadilha!

Aquela parede inteira em volta do buraco explodiu, lançando Luke para os ares. Ele rodopiou no ar e caiu deslizando-se no andar de baixo enquanto a sequência de estruturas de cristal continuavam a explodir.

— O que é isso?! O que ele fez?! — berrou a bela recepcionista de três olhos.

— Enfeitiçou os cristais! Ele previu o nosso ataque. Temos que chamar reforços ou eles vão explodir esse lugar! — exclamou Luke, tentando se manter de pé com os tremores das explosões.

Dos céus, as naves de supervisão da CSMI detectaram uma anomalia no globo de Las Stellarie. Cinco faróis diferentes das naves iluminaram a estrutura de cristal.

— O que é aquilo?! — berrou um dos cyborgs de supervisão, angustiado. — As cabeças estão explodindo tanto assim, naquele nível?!

— Não… — tranquilizou o comandante Jason, mas vindo com uma notícia pior. — Isso sim é um ataque terrorista…

Luke e a mulher seguiram pelas profundezas do globo, indo até uma escadaria em espiral no meio do salão de festas. Ela chegava até a área de sistemas de controle do campo gravitacional que ficava embaixo do globo, na cratera. Isso incluía também a sala de comunicações.

Os dois chegaram até a sala de comunicações e a mulher se apressou para abrir a pesada porta de metal, colocando seu terceiro olho no pequeno scanner vermelho. A porta se ergueu com um rangido terrível de metal, e os dois entraram.

A mulher correu até as estantes e começou a verificar alguns arquivos holográficos no desespero.

— Temos que avisar a alguém… alguma equipe, ou talvez pessoa? Isso nunca aconteceu antes na minha área…

— Eu não sei, mas é melhor você pensar em uma solução antes que seja tarde demais — disse Luke, como sempre, sem emoção. Continuou andando pela sala colorida pelas luzes diferentes.

A mulher parou para pensar um pouco, mas não tinha muito tempo. Tomou uma decisão precipitada quando ouviu mais uma das explosões vindo lá de cima.

— Temos que reatar os sistemas de comunicação!

— Quais sistemas? — Luke perguntou. Quando a mulher virou de costas, a espada do Luke estava cravada bem no painel de comunicações, absorvendo a energia elétrica daquela máquina. — Porque esses aqui vão precisar de manutenção.

No andar de cima, San e os outros dois se esforçavam para concluir o objetivo o mais rápido possível.

— O Luke conseguiu! Ele entrou lá dentro! — comemorou Zaha, assistindo tudo dos corrimões.

— Naquela hora eu até pensei que ele ia me cortar de verdade…

— Vamos, San! Você tem que incinerar aquela estrela! — exclamou Kha, apontando para uma das seis estrelas artificiais ao lado do grande lustre de árvore.

— Eu já sei! — gritou San, desesperado pois teria que fazer isso rápido demais. Acertar chicotadas com suas correntes naquela coisa não iria sequer causar efeito.

Mas então, se lembrou de um homem que sabia usar o fogo como ninguém…

Rugitus Regis!

O feitiço mais forte de Hifumi, consistia em…

— Espalhar e então lançar tudo no mesmo ponto… como um choque de energia…

O colar de coração de San ganhou um brilho bem forte, como se estivesse queimando. Seu corpo foi envolvido por uma camada furiosa de fogo, derretendo um pouco dos cristais em volta. Ele controlou essa aura de fogo, e fez tudo isso se juntar em uma pequena esfera de chamas em suas mãos. — Vai dar certo!

Na sala de comunicações, Luke retirou sua katana carregada da eletricidade do painel e se aproximou da mulher devagar, ameaçando-a.

— Existe uma pirâmide peculiar que precisamos encontrar. E acreditamos que você saiba a localização dessa coisa. Se você cooperar, talvez as coisas funcionem melhor entre nós.

— Sim… eu sei exatamente onde fica a pirâmide… mas não podemos falar sobre isso fora dessa sala. Tem risco de as explosões nos acertarem e…

— Nada vai nos alcançar nessa profundidade — afirmou Luke, perto o suficiente da mulher para cortá-la se necessário. — Se você não me dizer onde está, então não vamos poder negociar. Você vai morrer.

A mulher parecia muito inquieta. E foi então que Luke finalmente percebeu… ela ainda estava virada de costas, e havia pequenas ondas sonoras saindo de seu terceiro olho. As ondas sonoras eram quase totalmente visíveis no espaço. Era a mesma magia que Amélia usava para chamá–lo…

Luke partiu a cabeça da bela mulher. A cabeça rolou pelo chão, e o corpo caiu para trás. Mas quando Luke estava prestes a deixar a sala…

— TAKESHI!! — A cabeça gritou.

O feitiço foi concluído.

No andar de cima, San levou a bola de fogo que canalizou para perto do rosto e assoprou. O forte sopro liberou a Alquimia adiante, fazendo com que, como se fosse uma névoa, o fogo se espalhasse em forma de gás e se acumulasse em volta da pequena estrela. Ela estava ficando vermelha, mais quente…

San teve que parar de assoprar, pois estranhamente suas mãos estavam se queimando demais com aquela magia. Ele observou, incrédulo, o vapor saindo de suas palmas.

— Tá dando certo! — exclamou Zaha, eufórico. Porém, Kha não compartilhava da mesma euforia… percebeu algo vindo do céu.

— O que é… aquela coisa ali?

Antes que San pudesse olhar para cima para ver também, um braço gigantesco de gelo desceu destruindo todo o teto de cristal do globo. O braço de gelo colossal agarrou a estrela que pegava fogo, desconectou-a de dentro da estrutura e a jogou para longe, aos céus, como um cometa.

— Roubou nossa estrela! — exclamou San.

— Essa coisa é…

— O Takeshi?!

Zaha e Kha observaram pela parede transparente. Era um golem de gelo gigantesco, segurava um machado na outra mão e tinha olhos vermelhos. Ele tacou o braço colossal para dentro do globo de cristal de novo e saiu arrastando tudo com o seu braço, até dividir a estrutura pela metade. A gravidade alterada fazia os cacos de cristal flutuarem um pouco no ar.

— Fiquem atrás de mim! — berrou San, protegendo as duas crianças e canalizando a sua espada de fogo em mãos, preparado para enfrentar aquela coisa gigantesca.

— HI-RO-YU-KI!! — Takeshi rugiu, e deu um soco direto dentro do Las Stellarie, espatifando tudo o que restou. O lugar inteiro virou apenas cacos, e os três caíram pela cratera abaixo… Mas uma coisa era inesperada.

No fundo da cratera, havia uma pirâmide virada de cabeça para baixo, apenas sua entrada. A poeira e a terra em volta caía fundo na pirâmide, que parecia um túnel triangular sem fim.

De repente, quando a passagem para a pirâmide foi aberta, um tornado de vento apareceu sugando tudo para dentro dela. Todos os fragmentos de cristais, San, Zaha, Kha, o lustre de árvore, restando apenas o gigante de gelo.

Luke tentava resistir ao tornado, e conseguiu usar a corrente do vento para se jogar em cima do braço de Takeshi. Correu para alcançar a cabeça, lutando contra o vento. Para não cair enquanto corria cravou a katana no braço do gigante e saiu deixando um rastro de eletricidade por onde passava.

Takeshi tentou acertá-lo com o machado, mas Luke pulou, usou toda a eletricidade absorvida na espada e partiu o grande machado ao meio com um pequeno trovão. Foi tudo o que tinha, e a eletricidade da espada se extinguiu.

Chegando no topo, o gigante de gelo era lento demais, então Luke saltou, pronto para cravar a espada na testa daquela coisa. Porém, os ventos fortes do tornado da pirâmide se tornaram ventos de gelo, bem mais densos que o comum. Luke acabou sendo arrastado quando saltou, e sua katana caiu ao chão enquanto ele caia no buraco.

Enquanto caia, pôde ver a cratera sendo tampada por uma camada grossa de gelo, Takeshi queria prender os quatro ali dentro…

No fundo da pirâmide havia um grande redemoinho de areia, que era parecido com areia movediça. San pôde se segurar em uma estrutura de barro, e agarrou o braço de Kha que estava quase sendo soterrada no redemoinho.

— Peguei você!

— Não!

— Não o quê?!

— O Zaha!

Do nada, Zaha apareceu pulando nas costas de San, aumentando o peso dos dois.

— Vou salvar vocês! Espera!

Quando Zaha caiu nas costas de San, ele não aguentou se segurar por muito mais tempo. Os três caíram na areia e foram arrastados pelo redemoinho até as profundezas mais obscuras daquela pirâmide.

Luke parou em cima de uma pequena rocha, observando o grande redemoinho de areia lá embaixo. Deu uma olhada em cima também, para observar a camada de gelo que os prenderia naquele lugar. Sua espada ficou na superfície…

— O plano inicial era chamar atenção dos VIPs para o ataque dos Las Stellarie, e então chegar até a pirâmide usando aquela recepcionista de refém… Kha e Zaha disseram que eles eram obcecados com aquele globo de cristal. Mas quem diria que a tal pirâmide ficaria bem embaixo do Las Stellarie…

Na parede da pirâmide, entre as areias do redemoinho, era possível escutar o som dos ponteiros… Os ponteiros de um dos relógios de Millennia.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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